sexta-feira, 31 de maio de 2013

PARÁBOLA DA SEMENTE





PARÁBOLA DA SEMENTE

“O Reino de Deus é como se um homem lançasse a semente à terra, e dormisse, e se levantasse de noite e de dia e a semente germinasse e crescesse, sem ele saber como. A terra por si mesma produz frutos; primeiro a erva, depois a espiga e por último o grão cheio na espiga. Depois do fruto amadurecer, logo lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa.”
(Marcos, IV, 26-29.)

A terra é um prodígio de fecundidade dela que nos vem o alimento, e, portanto, o corpo; é dela que nos vem à roupa. Tudo vem da terra; ela produz a erva, faz brotar a espiga, faz nascer e amadurecer o fruto; e, lançada a semente à terra, germina e cresce sem se saber como!
É assim o Reino dos Céus; trazido a Terra pelo Grande Semeador, embora estivessem os homens alheios às coisas do Céu e presos à Terra, a Palavra de Jesus, que é a semente da árvore que dá frutos de Vida Eterna, atirada na obscuridade da Palestina, transformou-se, tornou-se um novo corpo cheio de fortaleza, deu a plântula, subterrânea mas perfeitamente organizada, cuja raiz se introduziu no coração de seus discípulos, e, fendida a terra produtiva, deixou sair a haste que vai crescendo viçosa, saudando a luz, aparecendo aos olhos de todos, com seus reflexos verdejantes da Esperança, que anuncia a produção do oxigênio espiritual indispensável à vida das almas! Com folhas já largamente abertas e flores perfumosas, mostra-se a árvore adulta e luxuriante, tal como fora previsto no Apocalipse pelo Cantor de Patmos; a árvore que serviria para a cura e vida dos Espíritos!
A força secreta que produz todas as transformações orgânicas, também produz as transformações psíquicas.
E de onde vem essa força, esse poder? De Deus! E, embora os homens descurem seus deveres, assim como a semente se transforma em árvore, a semente do Reino de Deus se transforma em reino de Deus pela força do progresso incoercível que domina todas as coisas!
Partindo do “germe”; a Palavra de Jesus ampliou-se, desenvolveu-se, e, por sua ação, fez desenvolver em seu seio, uma genealogia inteira de entes que, diferentes na forma e grandeza, vão constituindo e anunciando a todos o Reino de Deus!
É assim a Semente da Parábola, que tem passado por todos os processos: germinação, crescimento, floração e frutificação, sem que a Revelação deixasse um só instante de vivificá-la com suas benéficas inspirações.
A Revelação é o influxo divino que ergue e movimenta todos os seres, que os eleva aos cimos da Espiritualidade. O Reino de Deus, substituído até há pouco pelo Reino do Mundo, já está dando frutos de amor e de verdade, que permanecerão para sempre e transformarão o nosso planeta de um inferno hiante em estância feliz, onde as almas encontrarão os elementos de progresso para a sua ascensão à felicidade eterna.




Cairbar Schutel

Parábolas e Ensinos de Jesus










quarta-feira, 22 de maio de 2013

Por que se morre






Com Claude Bernard, temos constatado a originalidade de processos da matéria organizada para fabricação das substâncias necessárias ao funcionamento vital, atribuindo essas propriedades aos órgãos dotados de uma virtude especial, inencontrável nos corpos brutos. A existência de uma força animante do organismo torna-se, porém, mais evidente ainda, ao examinarmos a evolução de todos os seres vivos.
Tudo o que tem vida nasce, cresce e morre. É fato geral que quase não padece exceção.[i] Mas, por que morrer? Excetuando-se os casos de acidentes ou de enfermidades que destroem irremediavelmente os tecidos, como se dá que, mantendo constantes as mesmas condições gerais, indispensáveis ao entretenimento da vida, isto é, a água, o ar, o calor e os alimentos, o ser depereça até à dissociação total?
Dizer que os órgãos se gastam é indicar apenas uma fase da evolução, é demonstrar um fato. Neste caso, pergunta-se: mas por que se gastam os órgãos e por que se mantêm perfeitos na idade viril, do mesmo passo que aumentam de energia na juventude?
São interrogativas diante das quais a ciência materialista emudece. Sem embargo, uma explicação se oferece e nós vamos expô-la.
Desde que admitamos na célula fecundada uma certa quantidade de força vital, tudo se torna compreensível.
A vida total de um indivíduo é o resultado de um trabalho a completar-se, trabalho esse mensurável pelas incessantes reconstituições da matéria desgastada pela função vital, e a força para isso necessária pode considerar-se como uma função contínua, que aumenta, atinge um máximo e baixa a zero.
Se projetamos no ar uma pedra, comunicamos à pedra a força dos nossos músculos. A pedra eleva-se rápida, a despeito da atração centrípeta, até que as duas forças contrárias se equilibrem. Depois, a atração predomina, a pedra cai e, quando chega ao ponto de partida, toda a energia a ela comunicada tem desaparecido.
Pode conceber-se que algo de análogo se passe com os seres vivos. O reservatório de energia potencial, proveniente dos genitores, e que se encontra na célula original, transforma-se em energia natural, à medida que organiza a matéria. De começo, a ação é assaz enérgica, as assimilações, o agrupamento das moléculas, ultrapassam a desassimilação, o indivíduo cresce; a seguir, vem o equilíbrio de perdas e ganhos: é a maturidade, a estabilidade do corpo, até que, chegada a senectude, esgotada a força vital, não mais suficientemente alimentados os tecidos, a morte sobrevém, o organismo desagrega-se, a matéria retorna ao mundo inorgânico.
Assim, pois, acreditamos haja certa quantidade de força vital distribuída por toda criatura que surge na Terra; e, como a geração espontânea não existe em nossa época,[ii] é por filiação que se transmite essa força, aliás, só manifesta nos seres animados.
Mas, não só na matéria e no seu condicionamento residem as propriedades da vida orgânica. Há que lhe presumir, ainda, uma força vital renovadora, ou seja, refectiva das partes destruídas. Daí, o absoluto erro dos sábios, que imaginam surpreender o segredo da vida em promovendo a síntese da matéria orgânica. Suponhamos que, em consequência de manipulações químicas, tão sábias e complicadas quanto às possamos imaginar, e movimentando todos os agentes físicos – calor, eletricidade, pressão, etc. –, chegássemos a fabricar protoplasma artificial...
Mas... A vida? Tê-la-ia tal produto? Não, certo, porque o que caracteriza a vida é a nutrição reparadora do dispêndio.
Essa massa protoplásmica há de ser inerte, insensível às excitações exteriores, qual se não dá com a massa viva. Mas, ainda supondo que assim não fora, só pudéramos justificá-lo em detrimento da estrutura íntima, destruindo-se. Essa massa artificial poderia subsistir a título precário, mas, uma vez exausta, não haveria como reproduzir-se, não viveria mais.
Citamos o protoplasma porque ele representa a matéria simples por excelência; mas, se tomássemos uma célula, a complicação aumentaria, visto que a célula tem forma determinada e a Ciência é absolutamente incapaz de explicar essa forma, como veremos dentro em breve.
Aqui, importa definir precisamente o que pensamos, para que fique bem clara a nossa concepção.
Máquina delicada e complexa é o corpo humano; os tecidos que o formam originam-se de combinações químicas muito instáveis, devido aos seus componentes; e nós não ignoramos que as mesmas leis que regem o mundo inorgânico regem os seres organizados. Assim, sabemos que, num organismo vivo, o trabalho mecânico de um músculo pode traduzir-se em equivalente de calor; que a força despendida não é criada pelo ser, e lhe provém de uma fonte exterior, que o provê de alimentos, inclusive o oxigênio; e que o papel do corpo físico consiste em transformar a energia recebida, albergando-a em combinações instáveis que a emanciparão à menor excitação apropriada, isto é, sob ação volitiva, ou pelo jogo de irritantes especiais dos tecidos, ou de ações reflexas.
Até aí, nada de mais explicável pelas leis físico-químicas.
Mas, quando ocorre uma dessas ações, quando a substância do músculo operante se destrói, é, então, que a força vital intervém para reconstituir o tecido, refazendo as células servidas à manifestação vital. Nisso está, precisamente, o que diferencia da matéria bruta o ser animado.
Na planta mais ínfima existe alguma coisa mais que no mineral, e essa alguma coisa não repara o corpo sempre nas mesmas condições. Essa refecção varia com a idade: integral na juventude, incompleta na velhice. É uma força que tende a diminuir, até que se extingue.
Há, portanto, uma força vital, inteiramente outra que as de nós conhecidas, mas, força que também não deixa de ser uma modificação da energia universal, tal como a eletricidade, que se distingue do calor ou do magnetismo, posto que estas duas forças não passem também de modalidades da mesma energia. Por si só, essa força vital nada engendraria, não lhe estivera a inteligência associada, a partir das manifestações mais rudimentares, por culminar no mais elevado complexo – o homem. Todo ser vivente possui uma parcela de inteligência rudimentaríssima, quanto a possamos imaginar nas formas vitais primitivas, mas que aumenta e especifica-se à proporção que galga a cadeia dos seres, para abrolhar na humanidade.
Teremos ocasião de voltar a este assunto tão relevante, tão logo tenhamos fixado o papel do períspirito nos seres animados.
A força vital por si só não bastaria para explicar a forma característica de todos os indivíduos, e tampouco justificaria a hierarquia sistematizada de todos os órgãos, sua sinergia em função de um esforço comum, visto serem eles, simultaneamente, autônomos e solidários. Neste ponto é que incide o ascendente da intervenção do períspirito, ou seja, de um órgão que possua as leis organogênicas, mantenedoras da fixidez do organismo, através das constantes mutações moleculares.


[i]              Dizemos quase, porque organismos inferiores, como as moneras, que são uma simples célula, jamais se destroem, a não ser acidentalmente. De fato, o que sucede é que, depois de atingirem um certo volume, por efeito da nutrição, esses corpos de bipartem e os dois segmentos tornam-se dois seres distintos, a crescerem e se reproduzirem pelos mesmos processos. Nesse caso, não há morte, não se pode distinguir a geradora da gerada, nem saber em qual reside à individualidade. São, portanto, realmente imortais.
[ii]          As experiências de Pasteur demonstraram à saciedade que, presentemente, todo indivíduo provém de um semelhante. Nada prova, porém, que assim tenha sido originariamente e que, em épocas prístinas, as condições vitais não pudessem variar a tal ponto que a monera engendrasse, mediante evoluções gradativas e ascendentes, o homem atual.



Gabriel Delanne Livro: A Evolução Anímica