quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Ação de Deus no Mundo e na História
Deus, foco de inteligência e de amor, é tão indispensável à vida interior quanto o Sol à vida física!
Deus é o sol das almas. É Dele que emana essa força, às
vezes energia, pensamento, luz, que anima e vivifica todos os seres. Quando se
pretende que a idéia de Deus é inútil, indiferente, tanto valeria dizer que o
Sol é inútil, indiferente à Natureza e à vida.
Pela comunhão de pensamento, pela elevação da Alma a
Deus, produz-se uma penetração contínua, uma fecundação moral do ser, uma
expressão gradual das potências Nele encerradas, porque essas potências,
pensamento e sentimento, não podem revelar-se e crescer senão por altas
aspirações, pelos transportes do nosso coração. Fora disso, todas essas forças
latentes dormitam em nosso íntimo, conservam-se inertes, adormecidas!
Falamos da prece. Expliquemo-nos ainda a respeito desta
palavra. A prece é a forma, a expressão mais potente da comunhão universal. Ela
não é o que tantas pessoas supõem: uma recitação frívola, exercício monótono e
muitas vezes repetido. Não! Pela verdadeira prece, a prece improvisada, aquela
que não comporta fórmulas, a Alma se transporta às regiões superiores; aí haure
forças, luzes; aí encontra apoio que não podem conhecer nem compreender aqueles
que desconhecem Deus. Orar é voltar-se para o Ser eterno, é expor-lhe nossos
pensamentos e nossas ações, para submetê-los à sua Lei e fazer da sua vontade a
regra de nossa vida; é achar, por esse meio, a paz do coração, a satisfação da
consciência, em uma palavra, esse bem interior que é o maior, o mais imperecível
de todos os bens!
Diremos, pois, que desconhecer, desprezar a crença em
Deus e a comunhão do pensamento que a Ele se liga, a comunhão com a Alma do
Universo, com esse foco de onde irradiam para sempre a inteligência e o amor,
seria, ao mesmo tempo, desconhecer o que há de maior e desprezar as potências
interiores que fazem a nossa verdadeira riqueza. Seria calcar aos pés nossa
própria felicidade, tudo que pode fazer nossa elevação, nossa glória, nossa
ventura.
O homem que desconhece Deus e não quer saber que
forças, que recursos, que socorros Dele promanam, esse é comparável a um
indigente que habita ao lado de palácios, cheios de tesouros, e se arrisca a
morrer de miséria diante da porta que lhe está aberta e pela qual tudo o
convida a entrar.
Ouvem-se freqüentemente certos profanos que dizem: “Não
tenho necessidade de Deus!” Palavra triste, deplorável, palavra orgulhosa dos
que, sem Deus, nada seriam, não teriam existido. Oh!, cegueira do espírito
humano, cem vezes pior que a do corpo! Ouvistes algumas vezes a flor dizer: não
tenho necessidade de sol? Pois bem, nós o sabemos, Deus não é somente a luz das
Almas; é também o amor! E o amor é a força das forças. O amor triunfa de todas
as potências brutais. Lembremo-nos de que se a idéia cristã venceu o mundo
antigo, se venceu o poder romano, a força dos exércitos, o gládio dos Césares,
foi pelo amor! Venceu por estas palavras: “Felizes os que têm a doçura, porque
possuirão a Terra!”.
E, com efeito, não há homem, por mais duro, por mais
cruel, que não se sinta desarmado contra vós, se estiver convencido de que
quereis seu bem, sua felicidade e de que tal desejais de modo real e
desinteressado.
O amor é todo-poderoso; é o calor que faz fundir os
gelos do cepticismo, do ódio, da fúria, o calor que vivifica as almas embotadas,
porém, prestes a desabrochar e a dilatar ao bafejo desse raio de amor.
Notai bem: são as forças sutis e invisíveis as rainhas
do mundo, as senhoras da Natureza. Vede a eletricidade! Nada pesa e não parece
coisa alguma; entretanto, a eletricidade é uma força maravilhosa; volatiliza os
metais e decompõe todos os corpos. O mesmo se dá com o magnetismo, que pode
paralisar o braço de um gigante. De igual modo o amor pode dominar a força e
reduzi-la; pode transformar a alma humana, princípio da vida em cada um, sede
das forças do pensamento. Eis a razão por que Deus, sendo o foco universal, é
também o poder supremo. Se compreendêssemos a que alturas, a que grande e nobre
tarefa nosso Espírito pode chegar pela compreensão profunda da obra divina,
pela penetração do pensamento de Deus em cada ser, seríamos transportados de
admiração.
Há homens convencidos de que, prosseguindo nossa
ascensão espiritual, acabaremos por perder a existência, para nos aniquilar no
Ser supremo. É isso grave erro: porque, ao contrário, se conforme a razão o
indica e o confirmam todos os grandes Espíritos, quanto mais nos desenvolvemos
em inteligência e em moral, mais a nossa personalidade se afirma. O ser pode
estender-se e irradiar; pode crescer em percepções, em sensações, em sabedoria,
em amor, sem por isso cessar de ser ele próprio. Não percebemos que os
Espíritos elevados são personalidades poderosas? E nós próprios não sentimos
que, quanto mais amamos, mais nos tornamos suscetíveis de amar; que quanto
melhor compreendemos mais nos sentimos capazes de compreender?
Estar unido a Deus é sentir, é realizar o pensamento de
Deus. Mas o poder de sentir essa possibilidade de ação do Espírito não o
destrói. Só pode engrandecê-lo. E quando chega a certo grau de ascensão, a Alma
se torna, por sua vez, uma das potências, uma das forças ativas do universo;
ela se transforma num dos agentes de Deus na obra eterna, porque sua colaboração
se estende sem cessar. Seu papel é transmitir as vontades divinas aos seres que
estão abaixo dela, atrair a ela, em sua luz, em seu amor, tudo que se agita,
luta e sofre nos mundos inferiores. Não se contenta mesmo com uma ação oculta.
Muitas vezes encarna, toma um corpo e se torna um missionário, desses que
passam quais meteoros na noite dos séculos.
Há outras teorias que consistem em crer que, quando em
conseqüência de suas peregrinações, a Alma chega à perfeição absoluta, a Deus,
depois de longa permanência no meio das beatitudes celestes, torna a descer ao
abismo material, ao mundo da forma, ao mais baixo grau da escala dos seres,
para recomeçar a lenta, dolorosa e penosa ascensão que acaba de conseguir.
Tal teoria não é mais admissível que a outra; para
aceitá-la seria necessário fazer abstração da noção do Infinito. Ora, essa
noção se impõe embora escape à nossa análise. Basta refletir um pouco para
compreender que a Alma pode prosseguir a sua marcha ascendente e aproximar-se
sem cessar do apogeu, sem jamais atingi-lo. Deus é o Infinito! É o Absoluto! E
nunca seremos, em relação a Ele, apesar do nosso progresso, senão seres
finitos, relativos, limitados.
O ser pode, pois, evoluir, crescer sem cessar, sem
nunca realizar a perfeição absoluta. Isto parece difícil de compreender e,
entretanto, que há de mais simples? Deixai-nos escolher um exemplo ao alcance
de todos, um exemplo matemático. Tomai uma unidade – e a unidade é um
pouco a imagem do ser – e ajuntai-lhe a maior fração que encontrardes.
Aproximar-vos-eis do algarismo 2, mas nunca o atingireis. Nós, homens, encerrados
na carne, temos grande dificuldade em fazer idéia do papel do Espírito, que
contém em si todas as potências, todas as forças do Universo, todas as belezas
e esplendores da vida celeste e os faz irradiar sobre o mundo. Mas o que
podemos e devemos compreender é que esses Espíritos potentes, esses
missionários, esses agentes de Deus, foram, tal qual ora somos, homens de
carne, cheios de fraquezas e misérias; atingiram essas alturas por suas
pesquisas e seus estudos, pela adaptação de todos os seus atos à lei divina.
Ora, o que fizeram todos podemos fazer também. Todos têm os germens de um poder
e de uma grandeza iguais ao seu poder e à sua grandeza. Todos têm o mesmo
futuro grandioso, e só de nós outros mesmos dependem o desenvolvimento desses
germens através de nossas inúmeras existências.
Graças aos estudos psíquicos, aos fenômenos
telepáticos, estamos mais ou menos aptos para compreender, desde já, que nossas
faculdades não se limitam a nossos sentidos. Nosso Espírito pode irradiar além
do corpo, pode receber as influências dos mundos superiores, as impressões do
pensamento divino. O apelo do pensamento humano é ouvido; a Alma, quebrando as
fatalidades da carne, pode transportar-se a esse mundo espiritual, que é sua herança,
seu domínio por vir. Eis por que é necessário que cada qual se torne seu
próprio médium, aprenda a se comunicar com o mundo superior do Espírito.
Esse poder tem sido até aqui o privilégio de alguns
iniciados. Hoje, é necessário que todos o adquiram e que todo homem chegue a
apreender, a compreender as manifestações do pensamento superior. Ele pode
chegar aí por uma vida pura e sem mácula e pelo exercício gradual de suas
faculdades.
* * *
A ação de Deus se desvela no Universo, tanto no mundo
físico quanto no mundo moral; não há um único ser que não seja objeto de sua
solicitude. Nós a vimos manifestar-se nessa majestosa lei do progresso que
preside à evolução dos seres e das coisas, levando-os a um estado sempre mais perfeito.
Essa ação se mostra igualmente na história dos povos. Pode-se seguir, através
dos tempos, essa marcha grandiosa, esse impulso da Humanidade para o bem, para
o melhor. Sem dúvida, há nessas marchas seculares muitos desfalecimentos e
recuos, muitas horas tristes e sombrias; não se deve, porém, esquecer que o
homem é livre em suas ações. Seus males são quase sempre a conseqüência de
erros, de seus estados de inferioridade.
Não é uma escolha providencial que designa os homens
destinados a produzir as grandes inovações, os descobrimentos que contribuem
para o desenvolvimento da obra civilizadora? Esses descobrimentos se encadeiam;
aparecem, uns depois dos outros, de maneira metódica, regular, à medida que
podem enxertar-se com êxito aos progressos anteriores.
O que demonstra, de modo brilhante, a intervenção de
Deus na História é o aparecimento, no tempo próprio, nas horas solenes, desses
grandes missionários, que vêm estender a mão aos homens e os repor na senda
perdida, ensinando-lhes a lei moral, a fraternidade, o amor de seus
semelhantes, dando-lhes o grande exemplo do sacrifício de si pela causa de
todos.
Haverá algo mais imponente do que essa missão dos Enviados
divinos? Eles vêm e marcham no meio dos povos. Em vão os sarcasmos e o ridículo
chovem sobre eles. Em vão o desprezo e o sofrimento os atingem. Eles marcham
sempre! Em vão se levantam ao redor deles os patíbulos, os cadafalsos.
As fogueiras se acendem. Mas eles seguem, com a fronte
altiva, a alma serena. Qual é, pois, o segredo de sua força? Quem os impele
assim para frente?
Acima das sombras da matéria e das vulgaridades da
vida, mais alto que a Terra, mais alto que a Humanidade, eles vêem resplandecer
esse foco eterno, um raio do qual os ilumina e lhes dá a coragem de afrontar
todas as dores, todos os suplícios.
Contemplaram a Verdade sem véus e, daí em diante, não
têm outro cuidado que difundir, pôr ao alcance das multidões, o conhecimento
das grandes leis que regem as almas e os mundos!
Todos esses Espíritos potentes têm declarado que vêm em
nome de Deus e para executar a sua vontade. Jesus o afirma várias vezes: “É meu
Pai, diz ele, que me envia.” E Joana d'Arc não é menos precisa: “Venho da parte
de Deus, para livrar a França dos ingleses.”
No meio da noite temerosa do décimo quinto século,
nesse abismo de misérias e de dores em que soçobravam a vida e a honra de uma
grande nação, que trazia Joana à França traída, subjugada, agonizante? Era
algum socorro material, soldados, um exército? Não, o que ela trazia era a fé,
a fé em si mesma, a fé no futuro da França, a fé em Deus!
“Eu venho da parte do Rei do Céu – dizia ela – e
trago-vos os socorros do Céu.” E com essa fé a França se ergueu, escapou à destruição
e à morte!
O mesmo aconteceu de 1914 a 1918. Só houve um remédio,
quer para esse cepticismo aparatoso, quer para essa indiferença cega que
caracterizava o espírito francês antes da guerra. Só houve um remédio a essa
apatia do pensamento e da consciência nacionais que nos dissimulavam a extensão
do perigo. Esse remédio foi a fé em nós mesmos, nos grandes destinos da Pátria,
a fé nessa Potência Suprema que salvou de novo a França nos dias do Marne e de
Verdun.
Mas os dias de perigo e de glória passaram; a união
sagrada não sobreviveu ao drama sanguinolento. O pessimismo, o desencorajamento
e a discórdia retomaram sua ação mórbida; a anarquia e a ruína batem às nossas
portas.
O único meio de salvar a sociedade em perigo é elevar
os pensamentos e os corações, todas as aspirações da alma humana para a
Potência Infinita – que é Deus; é unir nossa vontade à sua e nos
compenetrarmos da sua Lei: aí está o segredo de toda a força, de toda a
elevação!
E ficaremos surpreendidos e maravilhados, avançando
nesta senda esquecida, de reconhecer, de descobrir que Deus não é abstração
metafísica, vago ideal perdido nas profundezas do sonho, ideal que não existe,
conforme o dizem Vacherot e Renan, senão quando nele pensamos. Não; Deus é um
ser vivo, sensível, consciente. Deus é uma realidade ativa. Deus é nosso pai,
nosso guia, nosso condutor, nosso melhor amigo; por pouco que lhe dirijamos
nossos apelos e que lhe abramos nosso coração, Ele nos esclarecerá com a sua
luz, nos aquecerá no seu amor, expandirá sobre nós sua Alma imensa, sua Alma
rica de todas as perfeições; por Ele e Nele somente nos sentiremos felizes e
verdadeiramente irmãos; fora Dele só encontraremos obscuridade, incerteza,
decepção, dor e miséria moral. Eis o socorro que Joana trazia à França, o
socorro que o Espiritualismo moderno traz à Humanidade!
Pode-se dizer que o pensamento de Deus irradia sobre a
História e sobre o mundo; Ele tem inspirado as gerações em sua marcha, tem
sustentado, levantado milhões de almas desoladas. Tem sido a força, a esperança
suprema, o último apoio dos aflitos, dos espoliados, dos sacrificados, de quase
todos aqueles que, através dos tempos, têm sofrido a injustiça, a maldade dos
homens, os golpes da adversidade!
Se evocardes a memória das gerações que se têm sucedido
sobre a Terra, por toda parte, vereis os olhares dos homens voltados para essa
luz, que nada poderá extinguir, nem diminuir!
É essa a razão pela qual vos dizemos: Meus irmãos, recolhei-vos
no silêncio das vossas moradas; elevai freqüentemente a Deus os transportes de
vossos pensamentos e dos vossos corações, expondo-lhe vossas necessidades,
vossas fraquezas, vossas misérias, e, nas horas difíceis, nos momentos solenes
de vossa vida, dirigi-lhe o apelo supremo. Então, no mais íntimo do vosso ser,
ouvireis como que uma voz vos responder, consolar, socorrer.
Essa voz vos penetrará de uma emoção profunda; fará talvez
brotar vossas lágrimas, mas levantar-vos-eis fortalecidos, reconfortados.
Aprendei a orar do mais profundo de vossa alma, e não
mais da ponta dos lábios; aprendei a entrar em comunhão com vosso Pai; a
receber seus ensinamentos misteriosos, reservados, não aos sábios e poderosos,
mas às almas puras, aos corações sinceros.
Quando quiserdes achar refúgio contra as tristezas e as
decepções da Terra, lembrai-vos de que há somente um meio: elevar o pensamento
a essas puras regiões da luz divina, onde não penetram influências grosseiras
do nosso mundo. Os rumores das paixões, o conflito dos interesses não vão até
lá. Chegando a essas regiões, o Espírito se desprende de preocupações
inferiores, de todas as coisas mesquinhas de nossas existências; paira acima da
tempestade humana, mais alto que os ruídos discordantes da luta pela vida,
pelas riquezas e honras vãs; mais alto que todas essas coisas efêmeras e
mutáveis que nos ligam aos mundos materiais. Lá em cima, o Espírito se
esclarece, inebria-se dos esplendores da verdade e da luz. Ele vê e compreende
as leis do seu destino.
Diante das largas perspectivas da imortalidade, perante
o espetáculo dos progressos e das ascensões que nos esperam na escala dos
mundos, que se tornam para nós as misérias da vida atual, as vicissitudes do
tempo presente?
Aquele que tem em seu pensamento e em seu coração essa
fé ardente, essa confiança absoluta no futuro, essa certeza que o eleva, esse
está encouraçado contra a dor. Ficará invulnerável no meio das provas. Está aí
o segredo de todas as forças, de todo o valor, o segredo dos inovadores, dos
mártires, de todos aqueles que, através dos séculos, oferecem sua vida por uma
grande causa; de todos aqueles que, no meio das torturas, sob a mão do algoz,
enquanto seus ossos e sua carne, esmagados pela roda ou pelo cavalete, não eram
mais do que lama sanguinolenta, achavam ainda a força suficiente para dominar
seus sofrimentos e afirmar a Divina Justiça; daqueles que, sobre o cadafalso, e
assim sobre a lenha das fogueiras, viviam, já por antecipação, da vida
apreciável e gloriosa do Espírito
.
www.autoresespiritasclassicos.com
Léon Denis
O Grande Enigma
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Reflexões Espíritas
Legião do Mal
"E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? - Ao que ele respondeu: Legião é o meu nome, porque somos muitos." - (MARCOS, capítulo 5, versículo 9.)
O Mestre legou inolvidável lição aos discípulos nesta passagem dos Evangelhos.
Dispensador do bem e da paz, aproxima-se Jesus do Espírito perverso que o recebe em desesperação.
O Cristo não se impacienta e indaga carinhosamente de seu nome, respondendo-lhe o interpelado:
"Chamo-me Legião, porque somos muitos."
Os aprendizes que o seguiam não souberam interpretar a cena, em toda a sua expressão simbólica.
E até hoje pergunta-se pelo conteúdo da ocorrência com justificável estranheza.
É que o Senhor desejava transmitir imortal ensinamento aos companheiros de tarefa redentora.
A frente do Espírito delinqüente e perturbado, Ele era
apenas um; o interlocutor, entretanto, denominava-se "Legião",
representava maioria esmagadora, personificava a massa vastíssima das
intenções inferiores e criminosas. Revelava o Mestre que, por
indeterminado tempo, o bem estaria em proporção diminuta comparado ao
mal em aludes arrasadores.
Se te encontras, pois, a serviço do Cristo na Terra, não
te esqueças de perseverar no bem, dentro de todas as horas da vida,
convicto de que o mal se faz sentir em derredor, à maneira de legião
ameaçadora, exigindo funda serenidade e grande confiança no Cristo, com
trabalho e vigilância, até à vitória final.
XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28.ed. Brasília: FEB, 2009. Capítulo 143.
domingo, 25 de novembro de 2012
Sou espírita
Sou
Espírita com muito amor a Doutrina, por ter resposta para todos os problemas,
que ocorre com os seres em evolução...
Doutrina
Espírita, não tem pai de santo, não tem dogmas, não têm rituais, é nem
desmancha casamento, nem promete riqueza, só ensina a melhor maneira de
conviver com todos os seres da criação baseado no ensino do nosso irmão maior
Jesus...
Codificação de Allan Kardec
1:O
Livro dos Espíritos publicado em 18 de abril 1857
2:O
Livro dos Médiuns publicado em Janeiro de1861
3:O
Evangelho Segundo o Espiritismo publicado em abril 1864
4:O
Céu e o Inferno publicado em agosto de 1865
5:A
Gênese publicado em Janeiro de 1868
6:Obras
Póstumas publicado em1890 Este livro foi publicado somente 21 anos após a
desencarnação de Allan Kardec.
Em
seu túmulo no cemitério de père lachaise(Paris) uma inscrição sintetiza a
concepção evolucionista da Doutrina espírita “Nascer, Morrer, Renascer ainda e
progredir sem cessar, tal é a lei''
A maior “caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua
divulgação: Emmanuel: Chico Xavier...
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
O Espiritismo e as Religiões
Fevereiro de 1917
O Espiritismo não é
inimigo das religiões; ao contrário, fornece-lhe poderosos elementos de valor e
de regeneração.
Os conhecimentos que ele
nos proporciona sobre a vida no Além e as condições em que se desenvolve a
existência após a morte, a certeza de leis justas e equitativas regendo o mundo
invisível, formam outros tantos meios de análise e exame crítico, permitindo
separar, nas religiões, o que é artificial e ilusório do que é real e imperecível.
Não há dúvida de que os
fenômenos do Espiritismo se encontram na origem de todas as religiões, porém
estas lhes emprestam um caráter sobrenatural e milagroso, transferindo-os para
um passado remoto e fazendo-os perder toda a importância sobre a vida moral e
social.
O intercâmbio com o
invisível era apenas hipótese, uma vaga esperança; com o Espiritismo, torna-se
certo e permanente.
Estamos vivendo uma das
maiores épocas de transição da História. Os fatos que se estão desenrolando, as
cruentas lutas dos povos e as subversões sociais são o começo, a preparação de
uma nova ordem de coisas.
Quando terminar a
guerra, a mente humana analisará todos os seus aspectos e procederá a um exame
profundo de todas as forças que agiram no decorrer desses trágicos anos. Então
comprovaremos que são as ideias que conduzem o mundo. O patriotismo, ao unir os
corações dos franceses, conteve a invasão, limitando seus estragos.
O amor pela terra natal
acordou o heroísmo que, apoiado pelos auxílios poderosos do mundo oculto,
salvou a França.
Por isso a ideia de
pátria terá que ocupar um lugar especial no ensino da educação popular.
Entretanto, isso não será o bastante: para terminar com nossas desavenças,
nossas rivalidades, lutas de classes e de interesses é preciso, antes de tudo,
unir inteligências e consciências, pois sem a harmonia das almas não poderá
haver a harmonia social.
Todavia, como se poderá
preparar tal união? Trabalhe-se com ardor, com espírito de tolerância e concórdia,
para aproximar os objetivos, as aspirações e as crenças. Dois poderosos meios
se apresentam: A ciência e a fé.
Antagônicos na
aparência, essas tendências se conciliam e se completam mutuamente, como
veremos no decurso deste livro. Elas podem fornecer facilmente uma concepção da
vida e do destino, uma noção das leis superiores e uma base moral, coisas estas
que são indispensáveis à nossa perturbada sociedade e sem as quais a existência
seria vazia de sentido, sem finalidade e sem sanção.
*
Dentro de toda alma
humana há um retiro, um ponto secreto, onde se instala a centelha divina, a
parte do Infinito que garante a cada um de nós a indestrutibilidade do seu eu. Ali dormitam as forças invisíveis,
os recursos psíquicos cujo desenvolvimento fará, mais tarde, do ser mesquinho,
frágil e ignorante que somos no princípio de nossa evolução, um gênio preparado
para as grandes empresas e capaz de desempenhar um papel notável no Universo.
A verdadeira religião
consiste am utilizar esses recursos ocultos e valorizá-los. Ela tem que nos
ensinar a colocar o ser interior em comunhão com o divino, expandindo-o,
libertando-o de influências inferiores, fazendo-o adquirir a plenitude de sua
irradiação.
Conseguido esse estado
espiritual, a alma humana poderá realizar suas mais árduas missões e aceitar
com alegria as provações mais duras. Saberá conservar nos dias mais difíceis um
otimismo e uma confiança inquebrantáveis.
Esse estado de espírito
pode ser encontrado em todas as religiões, bem como fora delas. Atendo-se às
práticas rituais da liturgia e aos diversos dogmas existentes dentro dos
limites em que comumente se encontra a ideia religiosa, com frequência
esquece-se da fé independente que paira acima de todos os cultos e não se
sujeita a “credo” de nenhuma igreja.
Essa religião, pessoal e
livre, talvez conte com maior número de membros do que as religiões reconhecidas,
porém o número exato de seus adeptos foge a todo cálculo.
As descobertas
científicas nos deram uma concepção do Universo vasta e grandiosa, mas
diferente daquela possuída na Idade Média e na antiguidade.
A experimentação
psíquica e o estudo do mundo invisível abriram perspectivas ilimitadas para a
vida e para o destino do ser; o homem se sentiu ligado a todos os que pensam,
amam e sofrem, na imensidão dos espaços.
Os modelos das religiões
caducas se romperam com o impulso triunfante do espírito, sequioso para conquistar
sua legítima parte de verdade e de luz. Quase não existem intelectuais que não
tenham criado uma crença inspirada na observação direta da natureza, isenta das
rotinas seculares, baseada na ciência e na razão.
Os partidários dos
dogmas não pretendem ver nesse sentimento senão o que denominam ironicamente de
“religiosidade”. Realmente, ele possui em gérmen os elementos dessa religião
universal, simples e natural que haverá, um dia, de reunir todos os povos do
planeta e fundir as igrejas particulares, assim como os rios se fundem no
oceano.
Os atuais acontecimentos
repercutirão profundamente em todas as formas da atividade social e, assim que
a paz reinar novamente no mundo, haverá uma revisão de todas as causas que
contribuem para o progresso humano, não escapando as religiões a uma análise
crítica e rigorosa.
Os terríveis fatos que
estão acontecendo darão a medida que permitirá calcular o poder ou a fraqueza
moral das religiões.
Verificar-se-á, não sem
certo espanto, que a educação religiosa de povos que se intitulam cristãos,
como a Alemanha e a Áustria, nada conseguiu fazer para impedir os mais
condenáveis crimes que fazem a civilização se envergonhar.
Ver-se-á com tristeza
que, nessas horas cruéis, a Igreja Romana quase sempre colocou seus interesses
políticos acima das recomendações do Evangelho e dos sagrados direitos da
consciência. Não foram melhores os adeptos do Islamismo e foi mais clara do que
nunca a falência das religiões.
No início da guerra a
França foi sacudida por um grande movimento religioso e, após nossas primeiras
derrotas, as aspirações que moram no fundo de sua natureza lhe despertaram uma
necessidade de crença, de saber que a morte não equivale ao nada e que, acima
de tudo, existe um poder soberano, uma força inteligente e consciente, capaz de
nos amparar e socorrer na provação e fazer prevalecer a justiça em um mundo de
paixões descontroláveis.
Se tal sentimento
houvesse podido alcançar o ideal sonhado, seria o começo de uma renovação
nacional, todavia as soluções apresentadas pelas igrejas, as poucas consolações
que elas ofereciam aos corações dilacerados, as práticas ritualísticas impostas
aos seus fiéis já não satisfaziam às necessidades do tempo e do meio. Foram
julgadas insuficientes e assim, pouco a pouco, o movimento religioso se
enfraqueceu.
Todavia, o pensamento
segue firme, voltado para o Além. Diante do perigo e do dilúvio de sofrimentos
que nos ameaçam, no meio das ruínas e das mortes que se acumulam, a alma
francesa procura sempre uma base sólida, uma certeza onde apoiar a sua fé e só
as encontrará no moderno espiritualismo, o que equivale dizer no Espiritismo.
A religião do futuro se
apoiará na prova científica da sobrevivência, nas demonstrações experimentais e
no testemunho dos sábios que estudaram os problemas da vida invisível.
No decorrer desta
guerra, o antropomorfismo das religiões se apresentou em seu aspecto mais
monstruoso e o velho deus alemão não é mais do que uma evocação dos bárbaros
deuses do paganismo germânico. Sob a máscara cristã mal ajustada, Odin, que
comanda as cenas de carnificina, deixa entrever suas feições.
Essa noção da divindade
é muito próxima do mais baixo materialismo e repugna às almas delicadas e aos
espíritos refinados. Não se trata apenas das ações de um monarca ávido em dominar
o mundo e dos chefes militares que o rodeiam; essa concepção é também
encontrada nas obras dos pensadores alemães; professores, pastores e escritores
a proclamam abertamente em discursos e publicações.
Semelhante ao Jeová, do Antigo Testamento, o velho deus alemão
protege somente uma raça, vendo nas outras apenas um rebanho de povos vis e
corruptos, destinados à ruína e à morte.
Essa feroz mentalidade
faz dos alemães os pretensos instrumentos da vingança divina, impelindo-os a
uma obra de destruição que eles continuam metodicamente.
Essa grosseira mística
aproxima-se das teorias de Nietzsche, relativas ao super-homem, tão difundidas
na Alemanha, e podemos medir as funestas consequências de uma falsa religião
unida a uma não menos falsa filosofia.
É bom, sem dúvida, desenvolver
a vontade de poder, segundo a
expressão de Nietzsche, porém com a condição de se desenvolverem, ao mesmo
tempo, a consciência e as outras faculdades do espírito e do coração: a piedade
e a bondade, o respeito à verdade, ao direito e à justiça. Sem isto se rompe
todo o equilíbrio moral no ser humano e só se logrará produzir homens orgulhosos,
déspotas, monstros que, para triunfarem, não vacilarão no emprego de todos os
meios, mesmo os mais criminosos e odiosos.
Daí essa terrível luta
que se desenvolve em nossa volta, onde a Alemanha, em razão de seu feroz
egoísmo, se desacredita e se desonra aos olhos do mundo e da História.
2
Março de 1917
A ideia de Deus, em
nossa pátria obscurecida e alterada pelas religiões, apagou-se em muitas almas.
Já fazia muito tempo que
se formara na França uma corrente de incredulidade que minava, secretamente, os
alicerces da religião e até de toda a ordem social.
As horas trágicas
chegaram e, sob uma devastadora tempestade de ferro e de fogo, a França
conheceu a necessidade de um ideal nobre e de uma força moral que torne
possível olhar a morte frente a frente, suportando, sem vacilações, todos os
golpes da adversidade. A proximidade do perigo impôs mesmo para os mais
frívolos, uma gravidade concentrada e muitos pensamentos se voltaram para o
Além.
Tudo isso parecia ser
outros tantos indícios de renovação espiritual. Do fundo do abismo de sofrimentos
em que caímos, um grito de súplica se eleva para o céu; aspirações ascendem
para as formas religiosas mais altas e mais puras, proporcionando ao homem
meios eficientes, capazes de desenvolver nele o que existe de imortal e divino.
As ideias do passado
poderão influir para essa recuperação, porém, já o afirmamos, na nova ciência,
enaltecida e espiritualizada, é que se encontrará a religião do futuro, os
princípios de sua crença e os elementos de convicção, porque a religião e a
ciência não são antagônicas, exceto quando as consideramos em seus aspectos
inferiores. Elas se identificam e se fundem em sua diretriz fundamental, em seu
objetivo maior, que são o conhecimento do Universo e a comunhão íntima com a
causa de todas as coisas: Deus!
Talvez, em sua evolução,
a religião enfraqueça em seu caráter coletivo, mas se fortalecerá em cada um de
nós pelo desenvolvimento do conhecimento e da consciência individuais.
É bastante dirigirmos um
olhar de conjunto ao Universo, para nos encontrarmos em presença de leis majestosas,
que dominam os seres e as coisas sob a ação de um soberano poder. Ora, não
existe lei alguma sem uma mente que a crie e sem uma vontade que zele pelo seu
cumprimento.
Nas silenciosas
vastidões do abismo da vida onde gravitam os mundos uma Inteligência preside à
ascensão das almas e a eterna harmonia do cosmo.[i]
As anomalias e as
contradições que muitos creem descobrir no estudo do Universo nascem
simplesmente da pobreza de suas observações. Nossos grosseiros sentidos, mesmo
ajudados pelos instrumentos que a tecnologia nos oferta, não nos podem dar
senão uma pálida ideia do conjunto das coisas.
Nossa ignorância sobre o
mundo invisível ainda ajuda a enfraquecer nossos julgamentos e somente a revelação
dos espíritos vem, oportunamente, preencher as principais lacunas do nosso
entendimento, mostrando-nos, por exemplo, que as leis morais e as leis físicas
se inter-relacionam e se fundem em um todo harmônico, o mesmo ocorrendo com a ideia
de Deus que se aperfeiçoa e se engrandece.
Para o espírito que
abandona as formas materiais e os limites dos cultos, Deus já não é um ser
antropomórfico, isto é, o homem divinizado de que nos falam os livros sagrados
e as crenças de idades antigas.
Não! Deus é pura
essência, é um princípio e uma meta, uma causa e um fim.
Os espíritos bastante
evoluídos para o poderem contemplar (e, neste caso, só conheço um), descrevem-no
como um imenso foco de luz, cujo brilho e esplendor quase não se pode suportar
e de onde partem as vibrações poderosas que animam o Universo inteiro.
Dele resulta uma
impressão majestosa, mesclada por eflúvios de amor que penetram e comovem a quantos
se aproximem dele.
Com as asas do
pensamento e da oração, no recolhimento dos sentidos, qualquer alma pode comunicar-se
com esse foco eterno e sentir suas irradiações. Todos os impulsos do pensamento
religioso se permutam em contemplação e em êxtase, quando chegam a tais
alturas.
Realmente, em seu começo
e em seu nobre fim, todas as crenças estão irmanadas e convergem para um único
ponto.
Assim como a fonte
límpida e o regato murmurante vão, finalmente, reunir-se no mar imenso, também
o Bramanismo, o Budismo, o Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo e seus
derivados, em suas mais nobres e puras formas, poderiam fundir-se numa vasta
síntese e suas orações, unindo-se às harmonias do mundo, se transformariam em
um hino universal de adoração e de amor!
Inspirado nesse
sentimento de ecletismo espiritualista, muitas vezes me aconteceu juntar-me às
orações de irmãos de outras religiões, sem me agarrar às fórmulas usadas em
semelhantes meios, podendo orar com fervor, tanto nas grandes catedrais
góticas, como nos templos protestantes, nas sinagogas ou mesmo nas mesquitas.
No entanto, minha oração
consegue maior impulso e ardor à beira do mar, quando o embala o ritmo das
ondas, assim como nos altos cumes, ante o panorama das planícies e dos montes,
ou sob o domo imponente das florestas ou, à noite, sob a abóbada estrelada do
firmamento, porque a natureza é o único templo verdadeiramente digno do Eterno.
*
A necessidade, existente
em cada um de nós, de criar-se um meio interior onde a alma possa encontrar
refúgio contra as preocupações exteriores, contra os cuidados materiais, fortalecendo-se
e voltando a tomar contato com a pura essência de onde ela provém, é uma das
condições indispensáveis da vida moral.
No momento em que a
idade e as doenças me privam dos grandes espetáculos da natureza, construí, por
minha vontade, um templo interior onde meu pensamento se alegra em ficar, nos
momentos de calma e de isolamento, para render culto aos nobres espíritos cujo
gênio revelador aclarou, com sua luz, os caminhos da humanidade.
Nesse templo interior,
por um esforço de minha imaginação, erigi as estátuas ideais, as imagens
augustas dos messias, dos profetas e dos filósofos mais merecedores de respeito
e admiração.
No meio do santuário
brilha o símbolo sagrado da Divindade, a quem, em primeiro lugar, minhas
adorações se dirigem. À sua direita, me aparece a grande figura do Cristo, meu
venerável mestre, e à esquerda os mestres asiáticos: Krishna, Buda, Lao-Tse e
Zoroastro, aos quais sucedem as estátuas dos filósofos gregos, desde Pitágoras
a Platão. Diante deles me alegro, recitando os maravilhosos versos da sabedoria
antiga.
Detrás do Cristo
aparecem os mais autorizados representantes da doutrina cristã e, junto deles,
repito para mim próprio o Sermão do Monte, que é o resumo e a essência do
próprio Cristianismo: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”,
assim como os conceitos evangélicos reconhecidos como autênticos. Muito longe
fiquei de me esquecer do grupo dos druidas e dos bardos. À frente deles se
ergue a alta silhueta, a imponente figura de Taliésin e diante dele recito, com
muita alegria, As Tríades, que são um
maravilhoso monumento das tradições celtas, cuja ciência se iguala à profunda
sabedoria do Oriente.
Por último, após ele,
vem Allan Kardec, a quem considero continuador e renovador das grandes
tradições de nossa raça.
Suplico ao leitor que me
desculpe, prendendo-o com coisas tão pessoais, porém só lhe quis dar um exemplo
de que pode conseguir ensinamentos úteis e inspirações salutares. Realmente, em
minhas visitas costumeiras a esses grandes espíritos, nos exercícios que a
recordação deles provoca, isto é, no fato de recitar trechos de suas mais
célebres obras, sempre encontrei a serenidade e o reconforto para o espírito.
Não vejam, na
diversidade de suas concepções, qualquer contradição, porque sob suas formas
variadas, em cada uma delas encontramos o mesmo impulso, a mesma aspiração para
o bem e para a suprema beleza, que são outros tantos atributos de Deus, uma
irradiação divina.
De todo o conjunto se
desprende uma síntese magnífica que resume o pensamento de todo um mundo no que
ele possui de mais nobre e puro; síntese que narra, precisa e fecundamente, o
moderno espiritualismo, numa comunhão universal que um dia ligará todas as
consciências e todos os corações.
*
Lançando um olhar panorâmico
sobre a história dos tempos modernos, parece que uma das missões da França é
criar correntes de ideias pelo mundo.
Após dezoito séculos da
vinda do Cristo, a França despertou a noção de fraternidade que dormitava no
fundo das almas. Nenhuma outra nação trabalhou mais ardentemente para libertar
o pensamento dos grilhões seculares e assegurar os direitos da consciência. Ela
comunicou a chama de seu gênio a várias teorias humanitárias e sociais.
Na atual luta, o papel
da França cresceu mais ainda, porque arrisca sua liberdade e sua própria
existência para salvar a Europa de sua volta à barbárie. Assim obteve a
simpatia e a admiração dos neutros, e até mesmo a consideração de seus
inimigos. Antes da guerra, acreditavam e afirmavam que se encontrava em franca
decomposição, porém ela se sublimou, com um verdadeiro holocausto.
Assim que acabar o
sangrento drama a que assistimos, outra missão caberá à nossa pátria e essa
concórdia, que une todos os seus filhos na hora do perigo, será mantida e
garantida por outros meios, isto é, por novos processos de ensino e educação.
A França deve ensinar ao
mundo as regras da religião do futuro, dessa religião ampla e tolerante que
terá por base a ciência dos fatos e por coroamento as mais altas e mais puras
aspirações do ideal espiritualista.
Nessa religião, a fé e a
ciência encontrarão um campo comum, uma possibilidade de comunhão de todos os
espíritos e corações. Essa obra haverá de ser, entre todas, a mais preciosa
para a humanidade, porque fará desaparecer a maior parte dos motivos de
separação e de ódio, unindo os pensamentos e as vontades para esse “caminho
real da alma”, do qual nos falou Platão, visando o fim elevado da alma, conforme
a Doutrina dos Espíritos nos revela.
Tal iniciativa
garantiria que a França completasse a vitória das armas com uma vitória
intelectual e moral mais bela e ainda mais frutífera. Dessa forma, nosso país
se elevaria à primeira classe das nações, merecendo o reconhecimento de todos
os séculos futuros.
Os tempos nunca foram
mais favoráveis que agora para uma renovação religiosa, que excluiria qualquer
espírito de sectarismo e de reação. Da presente luta, assim esperamos,
aparecerá uma nova sociedade, doutrinada pela provação, fortalecida pelo
infortúnio e mais unida, disciplinada, consciente de seus deveres e responsabilidades.
Parece que um progresso
já se produz nos espíritos e que os homens compreenderam a natureza precária
das coisas deste mundo, encarando com mais agrado o problema dos destinos.
Já faz três anos que a
morte tem batido em tantas portas, tem visitado tantas casas que até os mais
indiferentes a encararam, indagando a si mesmos, quem era esse misterioso
hóspede e, pelas reflexões que sua presença ditou, abriu-se nesses seres um
caminho para o Infinito, para o Divino.
No calor dos sofrimentos,
a alma humana tornou-se mais apta para receber e compreender as verdades
superiores e, de agora em diante, as futilidades e a sensualidade de outrora e
as obras decadentes não poderiam mais satisfazê-la. Ela exige alimentos mais
substanciosos e mais fortes.
Os estudos psíquicos, os
testemunhos dos sábios com relação à sobrevivência da alma, lhe oferecerão
condições mais sólidas para erguer um edifício mais digno dela e de seus objetivos.
A filosofia se aclarará
com novas luzes, tiradas da doutrina de Allan Kardec. Em certas escolas já se
compreende e se admite que a personalidade humana não se formou de um só golpe,
porém lentamente e através dos séculos. A concepção apressada e insuficiente de
uma única vida é trocada, paulatinamente, pela da evolução da alma através de
existências sucessivas no infinito do tempo.
Nosso destino não é
determinado por um favor particular ou pelo sacrifício de um salvador, mas por
nós próprios. O ser consciente se constrói a si mesmo, tal como o escultor
aperfeiçoa sua estátua: a sua forma representativa só tem como valor a soma de
seus esforços e cuidados. Ele se ilumina ou se obscurece conforme a natureza de
seus pensamentos e de seus atos: a fonte das alegrias, das penas ou das
recompensas reside nele, em suas faculdades, em suas percepções, aumentadas ou
diminuídas.
O destino não é senão o
resultado de nossas obras boas ou más e recai sobre nós em forma de raios ou de
chuva. Todo sofrimento que se suporta com paciência é qual um golpe do cinzel
do escultor que colabora para aperfeiçoar sua obra.
O resultado de nosso
progresso é um desfrutar crescente de tudo que é grande, de tudo que é beleza,
esplendor, luz e harmonia. É uma progressiva participação na vida universal,
uma cooperação à obra soberana, sob a forma de tarefas e missões que aumentam,
gradualmente, de importância e extensão. Finalmente, é a plenitude da
felicidade em suas três formas importantes: virtude, gênio e amor...
Nossa meta principal deve
ser nos aproximarmos do foco supremo, deixando-nos penetrar pelas irradiações
do pensamento divino, tornando cada vez mais estreita e mais profunda a
comunhão com Deus, e, assim, atingirmos o conhecimento de todas as coisas,
porque tudo se resume nele e vive nele.
Tal é, em sua essência,
o ensino que decorre da revelação dos grandes espíritos e que é bem conhecido
dos que viveram em sua intimidade e deles receberam o pão da vida. Só participa
desse ensino, por enquanto, um pequeno número de pessoas, mas ele deve ser
estendido com profusão, para que as inteligências se aclarem, os caracteres se
aperfeiçoem e as almas se elevem.
Aí está por que, depois
da guerra, os espíritos deverão divulgar essas verdades a mãos cheias, porque o
terreno já estará admiravelmente bem preparado para a semeadura e eles não
estarão sós em seu trabalho, porque a multidão imensa dos invisíveis os ampara
e alenta.
Sobre nós pairam,
espiritualmente, os que deram sua vida em sacrifício pela França e tombaram
mortos na defesa da causa e do direito.
Eles nos inspiram e nos
exortam a não esquecermos de seu nobre exemplo e, por nossa vez, trabalharmos,
de outras formas, para salvação e fortalecimento da pátria.
Eles se debruçam sobre
os corações angustiados e as almas enlutadas, a fim de lançar nelas o bálsamo
das consolações e das esperanças; asseguram-lhe que sua afeição não se
extinguiu e que sua atividade não decresceu, mas que, pelo contrário, seus
sentimentos e sua vida são mais intensos, mais reais e mais poderosos que os
nossos.
De todas as partes se
levanta a voz dos espíritos para nos afirmar que sobre a atmosfera de ódio,
vingança e pavor que pesa sobre nosso infeliz planeta há um mundo superior onde
reina a eterna justiça, onde os que lutaram e penaram na Terra recolhem os
frutos dos males que suportaram; um mundo no qual nos reuniremos algum dia para
juntos comungarmos na paz serena e na divina harmonia!
Léon Denis
O Mundo Invisível e a Guerra
[i] Nossos telescópios captam mais de cem
milhões de estrelas que, como sabemos, são outros tantos sóis, a maior parte
dos quais superam o nosso em poder e brilho, arrastando, cada um deles, um maravilhoso
cortejo de mundos.
Qual é a
força que sustenta esses milhares de astros e planetas no vazio dos espaços,
dirigindo sua marcha interminável? É a mesma que regula o agrupamento dos
átomos e as afinidades químicas, isto é, a lei da atração. Pois bem, essa lei
pertence ao domínio do invisível.
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