quinta-feira, 18 de maio de 2017

Depois da Morte


Capítulo III


Depois da Morte é a primeira obra abrangente de Léon Denis. Como todas as outras, já foi traduzida em várias línguas.
No Congresso de 1889, Léon Denis foi nomeado Presidente da Comissão de Propaganda. Ele tomou como secretário, Henri Sausse; este lhe aconselhou fazer uma síntese do ensino espírita e um resumo da obra de Allan Kardec.
Léon Denis pensou no conselho e escreveu Depois da Morte, verdadeira obra-prima, tanto do ponto de vista literário puro como no que concerne à exposição de nossa Doutrina.
Publicada em 25 de dezembro de 1890, Depois da Morte foi bem acolhido pela crítica.
G. d’Hailly escreveu, na Revue des Livres Nouveaux:
“Entre as obras que li nesta semana, não encontrei uma com maior soma de condições morais que esta de Léon Denis: Depois da Morte.
Ainda não conhecia obra mais bem pensada, nem livro escrito em um estilo mais correto, mais elevado.
Talvez eu seja um pouco céptico em relação ao Espiritismo, embora haja razões que me inclinem a uma aceitação. Entretanto, não conheço doutrina mais consoladora, mais reconfortante, mais digna de respeito.
O belo livro de Léon Denis nos pretende dar a solução científica e racional dos problemas da vida e da morte, da natureza e do destino do ser humano e nos demonstra a existência e a razão das vidas sucessivas.
Li e reli seu livro, que encheu minha alma de alegria, e se as coisas são assim, só posso louvar a Providência Divina.”
Pode-se ler em Le Temps:
“Esse volume é realmente notável, possui todas as qualidades que lhe podem garantir o sucesso. Embora eminentemente clássico, profundo e sério, suas páginas brilham com uma luz viva e são impregnadas de uma ardorosa eloquência.
Como seu título indica, trata do formidável problema do destino humano, dando uma solução para essa questão bastante controvertida durante todos os tempos: o porquê da vida.
Problema árduo, em verdade, porém tratado com um tal encanto de estilo e de evolução que, em todo o livro, não se encontra uma página sequer com uma leitura fatigante ou desprovida de interesse.”
Dando, em Le Journal, sua apreciação sobre esse livro, Alex Hepp se exprimia assim, em 26 de janeiro de 1899:
“Há um homem que escreveu o mais belo, o mais nobre e o mais precioso livro que jamais li. Seu nome é Léon Denis e seu livro intitula-se Depois da Morte.
Leiam-no e uma grande piedade, porém, libertadora e fecunda, virá bruscamente de nossas manifestações de tristezas, de nosso medo da morte e de nosso grande pesar por aqueles que supomos perdidos.”
Em Depois da Morte, o leitor encontra, notadamente, a história das religiões, o estudo dos grandes problemas o do mundo invisível, a maneira pela qual, segundo as comunicações, podemos ter uma ideia da vida no Além, o reto caminho, etc.
Desejando fazer um resumo do Espiritismo, o autor estudou como os homens conheceram nossa doutrina e quais podem ser suas consequências:
“Dessas buscas, desses estudos, dessas descobertas se destacam uma concepção do mundo e da vida, um conhecimento das leis superiores, uma afirmação da justiça e da ordem universais, bem-feitas para despertar no coração do homem, com uma fé mais segura e mais esclarecida do futuro, um sentimento profundo de seus deveres, um interesse real por seus semelhantes, capazes de transformar a face das sociedades.”
Esse livro, escrito sem nenhuma pretensão pessoal de sucesso, é destinado aos que estão cansados de viver na cegueira, aos filhos e às filhas do povo.
O único objetivo de Léon Denis é prestar serviço aos humildes e aos infelizes. Ele se revolta que ainda se possa, atualmente, morrer de frio e de miséria; e prova que as bases de nossa doutrina são unicamente o testemunho dos sentidos e a experiência da razão.
Para comprovar a antiguidade do Espiritismo, que apresenta uma nova aparição de fenômenos existentes desde o começo da Terra, ele faz um resumo bem nítido, rápido, porém completo, da história das religiões.
As religiões são muitas, em nosso globo, nas suas formas e aparências, mas, quando se vai ao fundo das coisas, percebe-se que seu esoterismo, isto é, a parte reservada só aos iniciados, comporta uma doutrina única, superior e imutável, sempre a mesma em todas as latitudes.
Léon Denis consagra à morte muitas páginas, esparsas em sua obra.
Que é, realmente, a morte? Na introdução, o autor já propõe a questão:
“Esse problema interessa a todos, pois todos estamos sujeitos à lei.
Importa-nos saber se, nessa hora, tudo acabou, se a morte é apenas um calmo repouso no aniquilamento ou, ao contrário, a entrada em uma outra esfera de sensações...
A morte é o ponto de interrogação, incessantemente posto diante de nós, a primeira das questões à qual se ligam inúmeras questões, cujo exame faz a preocupação, o desespero das idades, a razão de ser de uma multidão de sistemas filosóficos. ”
Muitos não querem ouvir falar da morte.
Pode-se viver sem preocupações, quando se tem a chance aparente de ser rico, mas isso não basta para impedir que a morte venha, no momento certo.
Dizendo: “Todas essas questões são macabras, não quero me ocupar dessas coisas”, podemos nos distanciar de uma segunda chegada da morte? Se a morte é uma coisa terrível, não é melhor, entretanto, conhecê-la?
Quando o estado de saúde de uma criança é bastante mau, para necessitar, na aparência, de uma intervenção cirúrgica, a responsabilidade dos pais é tanto mais séria quanto o pequeno venha a sofrer com esta decisão, sem poder opinar; antes de aceitarem a operação, o pai e a mãe se encontram diante desta questão angustiante: “Qual resultado vamos obter? Convém ou não operar?”
Com efeito, a morte pode ser comparada a uma operação, porém uma operação que será obrigatória, num momento desconhecido.
É, portanto, indispensável conhecer, antes, o que é o destino de todos os humanos; convém, pois, estar sempre preparado para enfrentá-la, quando aparecer.
Diz-nos Léon Denis:
“A morte não é outra coisa que uma transformação necessária, uma renovação. Em realidade, nada morre. A morte é aparente. Somente a forma exterior muda; o princípio da vida, a alma, continua em sua unidade permanente, indestrutível. Ela se encontra no além-túmulo, ela e seu corpo fluídico, na plenitude de suas faculdades, com todas as aquisições; luzes, aspirações, virtudes, poderes de que se enriqueceu durante suas existências terrenas.
Eis os bens imperecíveis de que fala o Evangelho, quando diz: “Nem os vermes, nem a ferrugem os consumirão e nem os ladrões os roubarão.” São as únicas riquezas que podemos levar conosco, para utilizar na vida futura.

A morte é a grande reveladora. Nas horas de provações, quando escurece em nosso derredor, por vezes perguntamos: “Por que existo? Por que não permaneci na noite profunda, onde nada se sente, não se sofre, onde se dorme o sono eterno? ”
E, nessas horas de dúvida, de agonia, de desânimo, uma voz subia até nós e dizia: Sofra para crescer e para resgatar! Saiba que o destino é grandioso.
Esta fria Terra não será o seu sepulcro. Os mundos que brilham no fundo dos céus são suas futuras moradas, a herança que Deus lhe reserva.
Você é, para sempre, cidadão do Universo, pertencendo aos séculos futuros como aos séculos passados e, no presente, prepara sua evolução. Suporte, pois, com calma os sofrimentos que você mesmo escolheu.
Semeie, na dor e nas lágrimas, o grão que brotará em suas próximas vidas; semeie também para os outros, como os outros semearam para você!
Espírito imortal, avance com passo firme para as alturas de onde o futuro lhe aparecerá sem véus.
A subida é rude e o suor inundará muitas vezes seu rosto, porém do alto verá despontar a grande luz, verá brilhar no horizonte o sol da verdade e da justiça! ”
Os leitores da obra de Léon Denis conhecem, pois, exatamente, a morte; não mais temem as manifestações espontâneas dos fantasmas. Eles não se assemelharão ao herói de um conto de Guy de Maupassant, intitulado Apparition.
Eis a análise:
Cinquenta e seis anos após uma aventura contada por ele a alguns amigos, o Marquês de la Tour Samuel tremia ainda com a ideia do que se produziu uma só vez no curso de sua vida. Ele guardou desse acontecimento uma lembrança do medo e, todavia, como oficial de carreira, teve muitas vezes de demonstrar sua bravura.
Na guarnição de Rouen, ele havia encontrado um amigo de juventude e ficou surpreso com sua aparência envelhecida: demonstrava em seu rosto traços indeléveis de grande sofrimento causado pela morte de sua esposa. Tendo encontrado nela a felicidade perfeita, tivera a tristeza de perdê-la subitamente, e não podia consolar-se. Jamais tivera a coragem de retornar a uma propriedade onde vivera com a esposa, nas cercanias de Rouen.
Encantado em reencontrar um velho colega em quem depositava plena confiança, o desesperado lhe disse:
– Não posso mais voltar àquele lugar, isso me faz sofrer. Você quer ir lá? Não é longe. Você irá ao meu quarto, abrirá a secretária – aqui tem a chave – e apanhará os papéis de que tenho necessidade. Para você é um passeio a cavalo, de apenas alguns quilômetros. Pode me prestar esse favor?
O marquês aceitou e se dirigiu à propriedade de seu amigo; quando lá chegou, o caseiro ficou espantado com a decisão do marquês de entrar na peça designada. O oficial não atribuiu importância à admiração do vigia da propriedade, mas a verdade é que, quando penetrou no quarto, que exalava o odor característico dos lugares abandonados pelos vivos, sentiu uma emoção incompreensível.
Estando sentado diante da secretária para dali apanhar os papéis pedidos por seu amigo, teve a sensação de que andavam atrás dele; voltou-se e viu uma mulher, um fantasma. Apesar de sua bravura, tremeu. Tinha a impressão de que essa morta ia lhe falar, tocá-lo, lhe pedir alguma coisa. Teve forças para apanhar rapidamente os documentos, depois se livrou desse lugar mal-assombrado.
Para retornar a Rouen, galopou como um louco.
Diante do amigo, tomou consciência de si mesmo e tirou sua túnica de oficial, mas teve a surpresa de nela ver enrolados, em volta de um botão, alguns longos fios de cabelos.
Se o herói de Guy de Maupassant tivesse conhecido o Espiritismo, teria fugido? Não, pelo contrário, ele tentaria saber os motivos dessa manifestação e, sem dúvida alguma, teria podido prestar um bom serviço, porque o Espiritismo é maravilhoso. Não somente permite dar consolo aos vivos, mas ainda estende aos mortos benefícios numerosos.
No entanto, o Marquês de la Tour Samuel não conheceu nossa Doutrina. Assim, aos 82 anos, 56 anos após sua trágica aventura, apesar das provas dos cabelos enrolados num botão de seu uniforme, ele ainda considerava o fato como uma crise de loucura, um “segredo vergonhoso, uma lamentável fraqueza” que somente sua idade lhe permitia revelar a seus amigos.
Lendo Depois da Morte, aprendemos coisas bem importantes; citarei, por exemplo, o que é magnetismo, como podemos nos servir de seu fluido, quais os sábios e quais os grandes homens que aceitaram o Espiritismo; quais objeções são feitas e as respostas que permitem mostrar aos contraditores quanto eles estão errados.
Coisa interessante: todas as vezes que se trata de refutar objeções, Léon Denis emprega argumentos; jamais utiliza insultos.
Os franceses gostam de ler jornais que têm por objetivo fazer polêmica entre uns e outros. Quando se trata de choques de ideias, está certo; infelizmente, há com frequência choques de pessoas.
De minha parte, abandono sistematicamente todo artigo e toda obra nos quais alguém, para demonstrar a realidade de sua tese, insulta os que pensam diferente.
Quando se procura transmitir suas convicções aos outros, é bom ter à sua disposição argumentos, fatos e experiências, e não injúrias.
Em Depois da Morte a teoria da reencarnação só é esquematizada. Ela será estudada profundamente em outras obras, particularmente em O Problema do Ser e do Destino.
Lendo Depois da Morte, aprendemos igualmente como se pode adquirir vontade e dela se utilizar para sermos felizes neste mundo.
Léon Denis não receia atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos do Espiritismo, que, de resto, podem parecer um pouco bizarros, mas existem. A esse respeito, lembro-me de uma pequena história:
Certa vez, na sala de Geografia, numa reunião da Phalange, veio a mim um homem, aparentando uns 40 anos. Em lágrimas, ele me diz:
– Ah, se o senhor soubesse que desgraça; meu filho morreu! Desde sua morte, temos em mãos uma pequena brochura que trata de como fazer girar as mesas. Desde a morte de meu filho, minha mulher deseja estar certa de que ele não está verdadeiramente morto. Ela quis colocar as mãos sobre a mesa e conseguiu movimento, porém, depois pareceu louca. Não se pode deixá-la sozinha, porque quer se jogar pela janela, pois acha que escuta vozes que lhe ordenam se matar.
Eu vi, logo, de que se tratava: ou era auto-sugestão, ou um envolvimento, por obsessão de um mau espírito.
Pedi a esse homem para levar sua esposa à minha casa, sem preveni-la de que eu estava sabendo de seu estado. Isso me permitiu estudá-la à vontade. Pude diagnosticar bem claramente uma obsessão.
Esse homem tinha grande confiança em mim e me pediu para tentar curar sua esposa.
Em três semanas consegui restituir àquela mulher toda a sua razão, e desembaraçá-la daquela obsessão.
Para obter esse resultado não usei gestos ou palavras rudes, porque é pela persuasão que se consegue esclarecer os espíritos obsessores sobre aquilo em que estão errados. É preciso também explicar aos obsidiados a necessidade de perdoar seus perseguidores invisíveis e pedir a proteção de seus guias. Este é um ponto bem delicado.
Os perigos da prática do Espiritismo são reais.
Leitores, se vocês tiverem a intenção de praticar em nossa doutrina, não se atrevam a fazer experiências sem terem antes estudado o Espiritismo.
Quando são discutidas essas questões, eu faço frequentemente uma comparação que me parece de natureza a bem impressionar a imaginação de meu interlocutor.
Primeiramente, levo-o a imaginar que ele teria obtido, em tempos passados, algumas vagas noções de Física e Química, esquecidas depois que as exigências da vida o afastaram dos estudos.
Em seguida eu o conduzo a ver comigo, pela imaginação, uma usina de explosivos. Essa usina é bem interessante e também curiosa: mistura-se um pouco de pólvora, um pouco de outro produto, coloca-se isso num pequeno tubo e, quando há um choque, obtém-se a explosão destruidora.
Meu interlocutor está cativado; ele decide experimentar fazer o mesmo. Antes de entrar em casa, vai a um droguista.
Sua memória lhe permite lembrar-se que é preciso colocar um pouco de tal produto, um pouco mais daquele outro, porém ele não se lembra mais de todas as medidas e é precisamente isto o essencial. Que arrisca ele realizando a experiência?
Ou não produzirá o explosivo e terá perdido seu tempo, ou então conseguirá um explosivo perigoso que não saberá controlar, com o qual poderá provocar uma catástrofe, matar seus vizinhos, semear a ruína e o pânico em seu derredor.
Sem dúvida, seria difícil encontrar uma criatura bastante imprudente para querer fazer um explosivo sem ter antes estudado a fundo essa matéria, porque aí há um perigo bem aparente. Infelizmente não acontece o mesmo com o Espiritismo.
Quantas pessoas tenho encontrado que me dizem:
– Ah, você se ocupa com essas coisas! Eu também me divirto fazendo as mesas girarem.
Tais divertimentos são perigosos; por ser invisível e desconhecido da maioria, o perigo da experimentação psíquica realizada sem preocupações não é menos real.
Aos olhos de Léon Denis, essa questão dos perigos do Espiritismo é muito séria. Ele julgou necessário, em sua primeira obra, indicá-los muito claramente, consagrando um capítulo especial a esse problema. Ele havia compreendido a necessidade absoluta de atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos de uma experimentação irresponsável.
Assinalo, igualmente, um possível inconveniente: as pesquisas nesse domínio são atraentes, mas é preciso não se entregar sem reservas à experimentação. Não se deve abandonar a vida normal, material, para se consagrar unicamente a questões que não devem ser um meio de ganho.
Portanto, não convém experimentar antes de se estar suficientemente preparado para fazê-lo sem imprudência.
Quando se experimenta, deve-se guardar todo o senso crítico. Nunca se deve aceitar um fenômeno como uma emanação do além, sem ter tentado encontrar uma explicação humana.
Para se entregar seriamente a pesquisas espíritas e psíquicas, é indispensável experimentar com perseverança, tenacidade e regularidade.
Se se quer constituir um grupo, é preciso que ele se reúna em dia e hora certos, no mesmo local, sempre com o mesmo número de pessoas, não se permitindo estranhos em suas reuniões.
Tenho dado frequentemente o conselho de Allan Kardec para a criação do que ele chama de grupo familiar.
Meu excelente amigo Marty, colega da Comissão da União Espírita Francesa, também pensa assim e temos ambos obtido notáveis resultados.
Dedico uma particular importância ao capítulo da provação. Constantemente ouço confidências de desesperados, aliás, são numerosas as pessoas acossadas pelos males físicos, materiais ou morais.
Sempre aconselhei meus interlocutores e meus correspondentes a lerem ou relerem as páginas consagradas por Léon Denis a explicar por que sofremos neste mundo.
Muitas são, em meus arquivos, as cartas daqueles para os quais essa medicina moral foi eficaz.
Em 23 de outubro de 1927, eu realizava, na Sala de Geografia, na União Espiritual, uma conferência sobre a obra de Léon Denis e aconselhava meus ouvintes a adquirirem logo Depois da Morte, dizendo-lhes finalmente:
“Meus amigos, desejo que todos sejam bem felizes, para não terem nunca necessidade da consolação pregada pelo Espiritismo.
Alguns de vocês estão de luto. Eu gostaria de ter podido, no momento da cruel separação física, oferecer-lhes uma valiosa consolação em nossa doutrina.
Se, atualmente, estão felizes, talvez não o estejam numa outra ocasião.
Pensem com Léon Denis, logo não deixem de ler Depois da Morte e aproveitar essa preciosidade.
Uma dona de casa previdente tem sempre em sua dispensa algumas conservas que lhe permitam improvisar uma refeição, se alguns amigos aparecerem de surpresa. Uma mulher prevenida tem sempre em sua farmácia doméstica os medicamentos que possibilitem os primeiros socorros, em caso de acidente ou de doença.
Imitem essas pessoas prudentes e tenham sempre ao alcance da mão esse livro que contém todas as possibilidades de torná-los felizes. ”
Dois dias depois, eu recebia uma nova comprovação do poder dessa obra:
“As livrarias, ontem à noite, estavam fechadas, escreveram-me, e só na manhã seguinte pude seguir seu conselho. Li e reli a página 174 e as seguintes.
É bem verdade! Quando uma profunda tristeza e um sofrimento bem vivo nos tenham dominado, essas linhas sublimes nos devolvem o gosto de viver.”
Dificuldades de toda sorte não me têm poupado. Por vezes, a luta parece tornar-se impossível, com tudo sombrio em meu derredor, e fico tentado em me deixar abater. Então releio o capítulo que Léon Denis consagrou às provações e tudo volta ao normal.
Em 1923, eu acabara de sofrer um choque moral espantoso que me permitiu constatar, por mim mesmo, a eficácia dos remédios que aconselho aos outros. As exigências do jornalismo me haviam obrigado a ir ao Havre e, aproveitando uma hora de folga, fui me isolar numa praia, tendo comigo Depois da Morte e também Les Grands Initiés, de meu eminente amigo Edouard Schuré, que eu não tinha ainda a alegria de conhecer pessoalmente.
Eu estava realmente deprimido e lamentava não ter o direito de me destruir, como pensava quando era materialista.
Abatido ao extremo, não podia afastar meu pensamento do assunto de minha profunda depressão, envolvia-me na desgraça, tudo era sombrio em minha volta. Pressentia todas as catástrofes e a vida me parecia para sempre terminada. Todavia o hábito de cultivar minha vontade me ajudou a ter a necessária energia para retomar contato com Léon Denis e Edouard Schuré.
Quando pude livrar-me de minhas preocupações, seguindo o pensamento do autor espírita, estava salvo.
Recobrei confiança, senti o auxílio de meus amigos invisíveis e me lembrei de que o único meio de ser realmente feliz é esquecer-se de si mesmo para trabalhar pela felicidade dos outros.
Léon Denis se alegra em repetir que todas as suas obras foram inspiradas pelos espíritos:
“Uma única ambição nos anima: desejamos que, quando nosso corpo já gasto retornar à terra, nosso espírito imortal possa afirmar: minha passagem no mundo não foi estéril, se pude contribuir em pacificar uma única dor, em esclarecer uma única inteligência em busca da Verdade e em reconfortar uma alma cambaleante e triste. ”
Quando traçava essas linhas, o defensor do Espiritismo teve a intuição da sua brilhante carreira de escritor?
Pouco importa se ele era bastante modesto para não se ocupar com essas contingências terrestres. Antes de tudo, ele queria o bem de seus leitores.
Seu desejo foi amplamente atendido e ele teve a imensa alegria, durante sua vida, de ter inúmeros testemunhos da feliz eficácia de suas obras.
Bem hábil seria o estatístico que conseguisse obter o número dos que, graças a Depois da Morte, puderam ser consolados.
O patriarca do Espiritismo retornou à espiritualidade e, durante sua longa trajetória, conheceu todas as provações, sem jamais se deixar abater.
Seus despojos, bem gastos por 81 anos de vida terrena, se decompuseram, lentamente, no solo de Tours, porém seu espírito plana nas altas esferas.
Denis deve continuar sua missão, pois, durante sua recente encarnação, se esmerou em provar que a morte é uma simples evolução e que continuamos nosso trabalho, qualquer que seja o lado em que nos encontremos.
Pouco tempo depois de sua morte, Léon Denis teria se manifestado em Rochefort-sur-Mer, no círculo Allan Kardec. Em Annales du Spiritisme,o casal Luce, de Tours, amigos íntimos do mestre, e Claire Baumard, secretária, declararam, formalmente, ter reconhecido suas maneiras familiares, sua linguagem brilhante, impossível de imitar, mesmo que se decorassem certas passagens de suas obras.
Houve uma manifestação verdadeira? Nada sei, porém o casal Luce confirmou a sua autenticidade.
Conheço pessoalmente a Srta. Brasseaud, médium do Círculo Allan Kardec; em 1912, ela produziu a escrita direta em ardósia, sob minucioso controle.
Se a comunicação de Léon Denis é autêntica, tanto melhor, porque é uma prova formal de que o grande apóstolo não estava enganado em suas afirmativas; se não se trata de uma manifestação de Léon Denis, fato bem possível, tanto pior, porém isso não impede que nos arquivos mundiais do Espiritismo se encontrem muitos exemplos bem controlados de manifestações de mortos, na hora prevista por eles em vida e nas condições que haviam indicado.
Para ser conciliatório em relação àqueles que não participam de nossas ideias, eu aceitaria, a rigor, admitir que os espíritas estão errados.
Quando vemos o exemplo de Léon Denis, de Gabriel Delanne e de tantos outros, quando constatamos o bem que eles fizeram à humanidade, às numerosas criaturas que consolaram, temos o direito de pensar: se eles se enganaram, tanto pior; mais vale esse erro que o de outros teóricos, cujo ensino produz a dúvida e gera o sofrimento.
Nossa doutrina ajuda aqueles que têm a oportunidade de conhecê-la e de aplicar os seus ensinamentos, a viver bem. Isso não é o mais importante?

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