Capítulo III
Depois da Morte é a primeira obra abrangente de Léon Denis. Como todas as
outras, já foi traduzida em várias línguas.
No Congresso de 1889, Léon Denis
foi nomeado Presidente da Comissão de Propaganda. Ele tomou como secretário,
Henri Sausse; este lhe aconselhou fazer uma síntese do ensino espírita e um
resumo da obra de Allan Kardec.
Léon Denis pensou no conselho e
escreveu Depois da Morte, verdadeira
obra-prima, tanto do ponto de vista literário puro como no que concerne à
exposição de nossa Doutrina.
Publicada em 25 de dezembro de
1890, Depois da Morte foi bem
acolhido pela crítica.
G. d’Hailly escreveu, na Revue des Livres Nouveaux:
“Entre as obras que li nesta
semana, não encontrei uma com maior soma de condições morais que esta de Léon
Denis: Depois da Morte.
Ainda não conhecia obra mais bem
pensada, nem livro escrito em um estilo mais correto, mais elevado.
Talvez eu seja um pouco céptico
em relação ao Espiritismo, embora haja razões que me inclinem a uma aceitação.
Entretanto, não conheço doutrina mais consoladora, mais reconfortante, mais
digna de respeito.
O belo livro de Léon Denis nos
pretende dar a solução científica e racional dos problemas da vida e da morte,
da natureza e do destino do ser humano e nos demonstra a existência e a razão
das vidas sucessivas.
Li e reli seu livro, que encheu
minha alma de alegria, e se as coisas são assim, só posso louvar a Providência
Divina.”
Pode-se ler em Le Temps:
“Esse volume é realmente notável,
possui todas as qualidades que lhe podem garantir o sucesso. Embora
eminentemente clássico, profundo e sério, suas páginas brilham com uma luz viva
e são impregnadas de uma ardorosa eloquência.
Como seu título indica, trata do
formidável problema do destino humano, dando uma solução para essa questão
bastante controvertida durante todos os tempos: o porquê da vida.
Problema árduo, em verdade, porém
tratado com um tal encanto de estilo e de evolução que, em todo o livro, não se
encontra uma página sequer com uma leitura fatigante ou desprovida de
interesse.”
Dando, em Le Journal, sua apreciação sobre esse livro, Alex Hepp se exprimia
assim, em 26 de janeiro de 1899:
“Há um homem que escreveu o mais
belo, o mais nobre e o mais precioso livro que jamais li. Seu nome é Léon Denis
e seu livro intitula-se Depois da Morte.
Leiam-no e uma grande piedade,
porém, libertadora e fecunda, virá bruscamente de nossas manifestações de
tristezas, de nosso medo da morte e de nosso grande pesar por aqueles que
supomos perdidos.”
Em Depois da Morte, o leitor encontra, notadamente, a história das religiões,
o estudo dos grandes problemas o do mundo invisível, a maneira pela qual,
segundo as comunicações, podemos ter uma ideia da vida no Além, o reto caminho,
etc.
Desejando fazer um resumo do
Espiritismo, o autor estudou como os homens conheceram nossa doutrina e quais
podem ser suas consequências:
“Dessas buscas, desses estudos,
dessas descobertas se destacam uma concepção do mundo e da vida, um
conhecimento das leis superiores, uma afirmação da justiça e da ordem
universais, bem-feitas para despertar no coração do homem, com uma fé mais
segura e mais esclarecida do futuro, um sentimento profundo de seus deveres, um
interesse real por seus semelhantes, capazes de transformar a face das
sociedades.”
Esse livro, escrito sem nenhuma
pretensão pessoal de sucesso, é destinado aos que estão cansados de viver na
cegueira, aos filhos e às filhas do povo.
O único objetivo de Léon Denis é
prestar serviço aos humildes e aos infelizes. Ele se revolta que ainda se
possa, atualmente, morrer de frio e de miséria; e prova que as bases de nossa
doutrina são unicamente o testemunho dos sentidos e a experiência da razão.
Para comprovar a antiguidade do
Espiritismo, que apresenta uma nova aparição de fenômenos existentes desde o
começo da Terra, ele faz um resumo bem nítido, rápido, porém completo, da
história das religiões.
As religiões são muitas, em nosso
globo, nas suas formas e aparências, mas, quando se vai ao fundo das coisas,
percebe-se que seu esoterismo, isto é, a parte reservada só aos iniciados,
comporta uma doutrina única, superior e imutável, sempre a mesma em todas as
latitudes.
Léon Denis consagra à morte
muitas páginas, esparsas em sua obra.
Que é, realmente, a morte? Na
introdução, o autor já propõe a questão:
“Esse problema interessa a todos,
pois todos estamos sujeitos à lei.
Importa-nos saber se, nessa hora,
tudo acabou, se a morte é apenas um calmo repouso no aniquilamento ou, ao
contrário, a entrada em uma outra esfera de sensações...
A morte é o ponto de
interrogação, incessantemente posto diante de nós, a primeira das questões à
qual se ligam inúmeras questões, cujo exame faz a preocupação, o desespero das
idades, a razão de ser de uma multidão de sistemas filosóficos. ”
Muitos não querem ouvir falar da
morte.
Pode-se viver sem preocupações,
quando se tem a chance aparente de
ser rico, mas isso não basta para impedir que a morte venha, no momento certo.
Dizendo: “Todas essas questões
são macabras, não quero me ocupar dessas coisas”, podemos nos distanciar de uma
segunda chegada da morte? Se a morte é uma coisa terrível, não é melhor,
entretanto, conhecê-la?
Quando o estado de saúde de uma
criança é bastante mau, para necessitar, na aparência, de uma intervenção
cirúrgica, a responsabilidade dos pais é tanto mais séria quanto o pequeno
venha a sofrer com esta decisão, sem poder opinar; antes de aceitarem a
operação, o pai e a mãe se encontram diante desta questão angustiante: “Qual
resultado vamos obter? Convém ou não operar?”
Com efeito, a morte pode ser
comparada a uma operação, porém uma operação que será obrigatória, num momento
desconhecido.
É, portanto, indispensável
conhecer, antes, o que é o destino de todos os humanos; convém, pois, estar
sempre preparado para enfrentá-la, quando aparecer.
“A morte não é outra coisa que
uma transformação necessária, uma renovação. Em realidade, nada morre. A morte
é aparente. Somente a forma exterior muda; o princípio da vida, a alma,
continua em sua unidade permanente, indestrutível. Ela se encontra no
além-túmulo, ela e seu corpo fluídico, na plenitude de suas faculdades, com
todas as aquisições; luzes, aspirações, virtudes, poderes de que se enriqueceu
durante suas existências terrenas.
Eis os bens imperecíveis de que
fala o Evangelho, quando diz: “Nem os vermes, nem a ferrugem os consumirão e
nem os ladrões os roubarão.” São as únicas riquezas que podemos levar conosco,
para utilizar na vida futura.
A morte é a grande reveladora.
Nas horas de provações, quando escurece em nosso derredor, por vezes
perguntamos: “Por que existo? Por que não permaneci na noite profunda, onde
nada se sente, não se sofre, onde se dorme o sono eterno? ”
E, nessas horas de dúvida, de
agonia, de desânimo, uma voz subia até nós e dizia: Sofra para crescer e para
resgatar! Saiba que o destino é grandioso.
Esta fria Terra não será o seu
sepulcro. Os mundos que brilham no fundo dos céus são suas futuras moradas, a
herança que Deus lhe reserva.
Você é, para sempre, cidadão do
Universo, pertencendo aos séculos futuros como aos séculos passados e, no
presente, prepara sua evolução. Suporte, pois, com calma os sofrimentos que
você mesmo escolheu.
Semeie, na dor e nas lágrimas, o
grão que brotará em suas próximas vidas; semeie também para os outros, como os
outros semearam para você!
Espírito imortal, avance com
passo firme para as alturas de onde o futuro lhe aparecerá sem véus.
A subida é rude e o suor inundará
muitas vezes seu rosto, porém do alto verá despontar a grande luz, verá brilhar
no horizonte o sol da verdade e da justiça! ”
Os leitores da obra de Léon Denis
conhecem, pois, exatamente, a morte; não mais temem as manifestações
espontâneas dos fantasmas. Eles não se assemelharão ao herói de um conto de Guy
de Maupassant, intitulado Apparition.
Eis a análise:
Cinquenta e seis anos após uma
aventura contada por ele a alguns amigos, o Marquês de la Tour Samuel tremia
ainda com a ideia do que se produziu uma só vez no curso de sua vida. Ele
guardou desse acontecimento uma lembrança do medo e, todavia, como oficial de
carreira, teve muitas vezes de demonstrar sua bravura.
Na guarnição de Rouen, ele havia
encontrado um amigo de juventude e ficou surpreso com sua aparência
envelhecida: demonstrava em seu rosto traços indeléveis de grande sofrimento
causado pela morte de sua esposa. Tendo encontrado nela a felicidade perfeita,
tivera a tristeza de perdê-la subitamente, e não podia consolar-se. Jamais
tivera a coragem de retornar a uma propriedade onde vivera com a esposa, nas
cercanias de Rouen.
Encantado em reencontrar um velho
colega em quem depositava plena confiança, o desesperado lhe disse:
– Não posso mais voltar àquele
lugar, isso me faz sofrer. Você quer ir lá? Não é longe. Você irá ao meu
quarto, abrirá a secretária – aqui tem a chave – e apanhará os papéis de que
tenho necessidade. Para você é um passeio a cavalo, de apenas alguns
quilômetros. Pode me prestar esse favor?
O marquês aceitou e se dirigiu à
propriedade de seu amigo; quando lá chegou, o caseiro ficou espantado com a
decisão do marquês de entrar na peça designada. O oficial não atribuiu
importância à admiração do vigia da propriedade, mas a verdade é que, quando
penetrou no quarto, que exalava o odor característico dos lugares abandonados
pelos vivos, sentiu uma emoção incompreensível.
Estando sentado diante da
secretária para dali apanhar os papéis pedidos por seu amigo, teve a sensação
de que andavam atrás dele; voltou-se e viu uma mulher, um fantasma. Apesar de
sua bravura, tremeu. Tinha a impressão de que essa morta ia lhe falar, tocá-lo,
lhe pedir alguma coisa. Teve forças para apanhar rapidamente os documentos,
depois se livrou desse lugar mal-assombrado.
Para retornar a Rouen, galopou
como um louco.
Diante do amigo, tomou
consciência de si mesmo e tirou sua túnica de oficial, mas teve a surpresa de
nela ver enrolados, em volta de um botão, alguns longos fios de cabelos.
Se o herói de Guy de Maupassant
tivesse conhecido o Espiritismo, teria fugido? Não, pelo contrário, ele
tentaria saber os motivos dessa manifestação e, sem dúvida alguma, teria podido
prestar um bom serviço, porque o Espiritismo é maravilhoso. Não somente permite
dar consolo aos vivos, mas ainda estende aos mortos benefícios numerosos.
No entanto, o Marquês de la Tour
Samuel não conheceu nossa Doutrina. Assim, aos 82 anos, 56 anos após sua
trágica aventura, apesar das provas dos cabelos enrolados num botão de seu
uniforme, ele ainda considerava o fato como uma crise de loucura, um “segredo
vergonhoso, uma lamentável fraqueza” que somente sua idade lhe permitia revelar
a seus amigos.
Lendo Depois da Morte, aprendemos coisas bem importantes; citarei, por
exemplo, o que é magnetismo, como podemos nos servir de seu fluido, quais os
sábios e quais os grandes homens que aceitaram o Espiritismo; quais objeções
são feitas e as respostas que permitem mostrar aos contraditores quanto eles
estão errados.
Coisa interessante: todas as
vezes que se trata de refutar objeções, Léon Denis emprega argumentos; jamais
utiliza insultos.
Os franceses gostam de ler
jornais que têm por objetivo fazer polêmica entre uns e outros. Quando se trata
de choques de ideias, está certo; infelizmente, há com frequência choques de
pessoas.
De minha parte, abandono
sistematicamente todo artigo e toda obra nos quais alguém, para demonstrar a
realidade de sua tese, insulta os que pensam diferente.
Quando se procura transmitir suas
convicções aos outros, é bom ter à sua disposição argumentos, fatos e
experiências, e não injúrias.
Em Depois da Morte a teoria da reencarnação só é esquematizada. Ela
será estudada profundamente em outras obras, particularmente em O Problema do Ser e do Destino.
Lendo Depois da Morte, aprendemos igualmente como se pode adquirir
vontade e dela se utilizar para sermos felizes neste mundo.
Léon Denis não receia atrair a
atenção de seus leitores sobre os perigos do Espiritismo, que, de resto, podem
parecer um pouco bizarros, mas existem. A esse respeito, lembro-me de uma
pequena história:
Certa vez, na sala de Geografia,
numa reunião da Phalange, veio a mim
um homem, aparentando uns 40 anos. Em lágrimas, ele me diz:
– Ah, se o senhor soubesse que
desgraça; meu filho morreu! Desde sua morte, temos em mãos uma pequena brochura
que trata de como fazer girar as mesas. Desde a morte de meu filho, minha
mulher deseja estar certa de que ele não está verdadeiramente morto. Ela quis
colocar as mãos sobre a mesa e conseguiu movimento, porém, depois pareceu
louca. Não se pode deixá-la sozinha, porque quer se jogar pela janela, pois
acha que escuta vozes que lhe ordenam se matar.
Eu vi, logo, de que se tratava:
ou era auto-sugestão, ou um envolvimento, por obsessão de um mau espírito.
Pedi a esse homem para levar sua
esposa à minha casa, sem preveni-la de que eu estava sabendo de seu estado.
Isso me permitiu estudá-la à vontade. Pude diagnosticar bem claramente uma
obsessão.
Em três semanas consegui
restituir àquela mulher toda a sua razão, e desembaraçá-la daquela obsessão.
Para obter esse resultado não
usei gestos ou palavras rudes, porque é pela persuasão que se consegue
esclarecer os espíritos obsessores sobre aquilo em que estão errados. É preciso
também explicar aos obsidiados a necessidade de perdoar seus perseguidores
invisíveis e pedir a proteção de seus guias. Este é um ponto bem delicado.
Os perigos da prática do
Espiritismo são reais.
Leitores, se vocês tiverem a
intenção de praticar em nossa doutrina, não se atrevam a fazer experiências sem
terem antes estudado o Espiritismo.
Quando são discutidas essas
questões, eu faço frequentemente uma comparação que me parece de natureza a bem
impressionar a imaginação de meu interlocutor.
Primeiramente, levo-o a imaginar
que ele teria obtido, em tempos passados, algumas vagas noções de Física e
Química, esquecidas depois que as exigências da vida o afastaram dos estudos.
Em seguida eu o conduzo a ver
comigo, pela imaginação, uma usina de explosivos. Essa usina é bem interessante
e também curiosa: mistura-se um pouco de pólvora, um pouco de outro produto,
coloca-se isso num pequeno tubo e, quando há um choque, obtém-se a explosão
destruidora.
Meu interlocutor está cativado;
ele decide experimentar fazer o mesmo. Antes de entrar em casa, vai a um
droguista.
Sua memória lhe permite
lembrar-se que é preciso colocar um pouco de tal produto, um pouco mais daquele
outro, porém ele não se lembra mais de todas as medidas e é precisamente isto o
essencial. Que arrisca ele realizando a experiência?
Ou não produzirá o explosivo e
terá perdido seu tempo, ou então conseguirá um explosivo perigoso que não
saberá controlar, com o qual poderá provocar uma catástrofe, matar seus
vizinhos, semear a ruína e o pânico em seu derredor.
Sem dúvida, seria difícil
encontrar uma criatura bastante imprudente para querer fazer um explosivo sem
ter antes estudado a fundo essa matéria, porque aí há um perigo bem aparente.
Infelizmente não acontece o mesmo com o Espiritismo.
Quantas pessoas tenho encontrado
que me dizem:
– Ah, você se ocupa com essas
coisas! Eu também me divirto fazendo as mesas girarem.
Tais divertimentos são perigosos;
por ser invisível e desconhecido da maioria, o perigo da experimentação
psíquica realizada sem preocupações não é menos real.
Aos olhos de Léon Denis, essa
questão dos perigos do Espiritismo é muito séria. Ele julgou necessário, em sua
primeira obra, indicá-los muito claramente, consagrando um capítulo especial a
esse problema. Ele havia compreendido a necessidade absoluta de atrair a atenção de
seus leitores sobre os perigos de uma experimentação irresponsável.
Assinalo, igualmente, um possível
inconveniente: as pesquisas nesse domínio são atraentes, mas é preciso não se
entregar sem reservas à experimentação. Não se deve abandonar a vida normal,
material, para se consagrar unicamente a questões que não devem ser um meio de
ganho.
Portanto, não convém experimentar
antes de se estar suficientemente preparado para fazê-lo sem imprudência.
Quando se experimenta, deve-se
guardar todo o senso crítico. Nunca se deve aceitar um fenômeno como uma
emanação do além, sem ter tentado encontrar uma explicação humana.
Para se entregar seriamente a
pesquisas espíritas e psíquicas, é indispensável experimentar com perseverança,
tenacidade e regularidade.
Se se quer constituir um grupo, é
preciso que ele se reúna em dia e hora certos, no mesmo local, sempre com o
mesmo número de pessoas, não se permitindo estranhos em suas reuniões.
Tenho dado frequentemente o
conselho de Allan Kardec para a criação do que ele chama de grupo familiar.
Meu excelente amigo Marty, colega
da Comissão da União Espírita Francesa, também pensa assim e temos ambos obtido
notáveis resultados.
Dedico uma particular importância
ao capítulo da provação. Constantemente ouço confidências de desesperados, aliás, são numerosas
as pessoas acossadas pelos males físicos, materiais ou morais.
Sempre aconselhei meus
interlocutores e meus correspondentes a lerem ou relerem as páginas consagradas
por Léon Denis a explicar por que sofremos neste mundo.
Muitas são, em meus arquivos, as
cartas daqueles para os quais essa medicina moral foi eficaz.
Em 23 de outubro de 1927, eu
realizava, na Sala de Geografia, na União Espiritual, uma conferência sobre a
obra de Léon Denis e aconselhava meus ouvintes a adquirirem logo Depois da Morte, dizendo-lhes
finalmente:
“Meus amigos, desejo que todos
sejam bem felizes, para não terem nunca necessidade da consolação pregada pelo
Espiritismo.
Alguns de vocês estão de luto. Eu
gostaria de ter podido, no momento da cruel separação física, oferecer-lhes uma
valiosa consolação em nossa doutrina.
Se, atualmente, estão felizes,
talvez não o estejam numa outra ocasião.
Pensem com Léon Denis, logo não
deixem de ler Depois da Morte e
aproveitar essa preciosidade.
Uma dona de casa previdente tem
sempre em sua dispensa algumas conservas que lhe permitam improvisar uma
refeição, se alguns amigos aparecerem de surpresa. Uma mulher prevenida tem
sempre em sua farmácia doméstica os medicamentos que possibilitem os primeiros
socorros, em caso de acidente ou de doença.
Imitem essas pessoas prudentes e
tenham sempre ao alcance da mão esse livro que contém todas as possibilidades
de torná-los felizes. ”
Dois dias depois, eu recebia uma
nova comprovação do poder dessa obra:
“As livrarias, ontem à noite,
estavam fechadas, escreveram-me, e só na manhã seguinte pude seguir seu
conselho. Li e reli a página 174 e as seguintes.
É bem verdade! Quando uma
profunda tristeza e um sofrimento bem vivo nos tenham dominado, essas linhas
sublimes nos devolvem o gosto de viver.”
Dificuldades de toda sorte não me
têm poupado. Por vezes, a luta parece tornar-se impossível, com tudo sombrio em
meu derredor, e fico tentado em me deixar abater. Então releio o capítulo que
Léon Denis consagrou às provações e tudo volta ao normal.
Em 1923, eu acabara de sofrer um
choque moral espantoso que me permitiu constatar, por mim mesmo, a eficácia dos
remédios que aconselho aos outros. As exigências do jornalismo me haviam
obrigado a ir ao Havre e, aproveitando uma hora de folga, fui me isolar numa
praia, tendo comigo Depois da Morte e
também Les Grands Initiés, de meu
eminente amigo Edouard Schuré, que eu não tinha ainda a alegria de conhecer
pessoalmente.
Eu estava realmente deprimido e
lamentava não ter o direito de me destruir, como pensava quando era
materialista.
Abatido ao extremo, não podia
afastar meu pensamento do assunto de minha profunda depressão, envolvia-me na
desgraça, tudo era sombrio em minha volta. Pressentia todas as catástrofes e a
vida me parecia para sempre terminada. Todavia o hábito de cultivar minha
vontade me ajudou a ter a necessária energia para retomar contato com Léon
Denis e Edouard Schuré.
Quando pude livrar-me de minhas
preocupações, seguindo o pensamento do autor espírita, estava salvo.
Recobrei confiança, senti o
auxílio de meus amigos invisíveis e me lembrei de que o único meio de ser
realmente feliz é esquecer-se de si mesmo para trabalhar pela felicidade dos
outros.
Léon Denis se alegra em repetir
que todas as suas obras foram inspiradas pelos espíritos:
“Uma única ambição nos anima:
desejamos que, quando nosso corpo já gasto retornar à terra, nosso espírito
imortal possa afirmar: minha passagem no mundo não foi estéril, se pude
contribuir em pacificar uma única dor, em esclarecer uma única inteligência em
busca da Verdade e em reconfortar uma alma cambaleante e triste. ”
Quando traçava essas linhas, o
defensor do Espiritismo teve a intuição da sua brilhante carreira de escritor?
Pouco importa se ele era bastante
modesto para não se ocupar com essas contingências terrestres. Antes de tudo,
ele queria o bem de seus leitores.
Seu desejo foi amplamente
atendido e ele teve a imensa alegria, durante sua vida, de ter inúmeros
testemunhos da feliz eficácia de suas obras.
Bem hábil seria o estatístico que
conseguisse obter o número dos que, graças a Depois da Morte, puderam ser consolados.
O patriarca do Espiritismo
retornou à espiritualidade e, durante sua longa trajetória, conheceu todas as
provações, sem jamais se deixar abater.
Seus despojos, bem gastos por 81
anos de vida terrena, se decompuseram, lentamente, no solo de Tours, porém seu
espírito plana nas altas esferas.
Denis deve continuar sua missão,
pois, durante sua recente encarnação, se esmerou em provar que a morte é uma
simples evolução e que continuamos nosso trabalho, qualquer que seja o lado em
que nos encontremos.
Pouco tempo depois de sua morte,
Léon Denis teria se manifestado em Rochefort-sur-Mer, no círculo Allan Kardec.
Em Annales du Spiritisme,o casal Luce, de Tours, amigos íntimos do mestre, e Claire Baumard,
secretária, declararam, formalmente, ter reconhecido suas maneiras familiares,
sua linguagem brilhante, impossível de imitar, mesmo que se decorassem certas
passagens de suas obras.
Houve uma manifestação
verdadeira? Nada sei, porém o casal Luce confirmou a sua autenticidade.
Conheço pessoalmente a Srta.
Brasseaud, médium do Círculo Allan Kardec; em 1912, ela produziu a escrita
direta em ardósia, sob minucioso controle.
Se a comunicação de Léon Denis é
autêntica, tanto melhor, porque é uma prova formal de que o grande apóstolo não
estava enganado em suas afirmativas; se não se trata de uma manifestação de
Léon Denis, fato bem possível, tanto pior, porém isso não impede que nos
arquivos mundiais do Espiritismo se encontrem muitos exemplos bem controlados
de manifestações de mortos, na hora prevista por eles em vida e nas condições
que haviam indicado.
Para ser conciliatório em relação
àqueles que não participam de nossas ideias, eu aceitaria, a rigor, admitir que
os espíritas estão errados.
Quando vemos o exemplo de Léon
Denis, de Gabriel Delanne e de tantos outros, quando constatamos o bem que eles
fizeram à humanidade, às numerosas criaturas que consolaram, temos o direito de
pensar: se eles se enganaram, tanto pior; mais vale esse erro que o de outros
teóricos, cujo ensino produz a dúvida e gera o sofrimento.
Nossa doutrina ajuda aqueles que
têm a oportunidade de conhecê-la e de aplicar os seus ensinamentos, a viver
bem. Isso não é o mais importante?
Copiado
e Repassando...