sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Princípios espíritas

ALVORADA ESPIRITUAL

Princípios espíritas


Graças ao Espiritismo, Revelação que Deus nos envia pelos Espíritos Superiores, já começa o homem a viver não só de pão, mas também dos conhecimentos que vai adquirindo e com os quais se vai engrandecendo para a conquista do Ideal.
A luta pela vida já não impede ao homem o estudo da Criação; o brilho do ouro já não lhe ofusca as vistas com a mesma intensidade, e a Natureza, com toda a sua magnificência atrai-lhe a alma para o Bem e para o Belo, que se desdobram por todo o infinito.
A vida, em luta de séculos contra a morte, começa a ver o seu triunfo, e, daqui a pouco tempo, a morte, na memorável frase do Doutor dos Gentios, será tragada na vitória, marcando uma nova era de luz e de verdade para toda a Humanidade.
A Filosofia dos Espíritos, que tem por ponto de apoio a alma, com os fatos irrefragáveis por ela provocados e constatados em todos os pontos do globo, não podia descurar a solução do problema anímico, ansiosamente esperada pelos homens livres de preconceito, e tão malfadada pelo espírito de seita, esse terrível inimigo das grandes idéias que nos vem libertar da ignorância.
Na verdade, o assunto é tão relevante, digno de tanta consideração, que logo no primeiro livro, O Livro dos Espíritos, as inteligências do Alto resolveram abordá-lo com pena de mestre, deixando claro, patente, que: "os animais não são simples máquinas; que, se o instinto domina a maior parte deles, outros operam por vontade determinada, com inteligência; que eles têm uma linguagem para se advertirem e exprimirem as sensações que experimentam; que, embora limitada, eles têm liberdade de ação; que a alma dos animais sobrevive à morte do corpo; que ela segue uma lei progressiva, como a alma humana; que o principio inteligente de que são dotados, tiram-no, como o homem, do elemento inteligente universal; finalmente, que esses animais passarão um dia, do reino animal, para o reino hominal, porque a alma do homem, no seu início, na sua infância, teve por origem uma série de existências que precedem o período que chamamos Humanidade".
No cap. XI, 592 a 610, o leitor encontrará explicado o problema que, sem solução, atravessou tantas gerações!
É que da sua solução dependia o estudo claro e sucinto do Por que da Vida, também atirado aos báratros do mistério, pelos cegos condutores de cegos de que falava Jesus no seu ensino parabólico: Caibar Schutel: Livro Gênese da Alma


sábado, 24 de dezembro de 2011

Perante Jesus

Perante Jesus

Em todos os instantes, reconhecer-se na presença invisível de Jesus, que nos ampara nas obras do Bem Eterno.
Aceitou-nos o Cristo de Deus desde os primórdios da Terra.
Nos menores cometimentos, identificar a Vontade Superior, promovendo em toda parte a segurança e a felicidade das criaturas.
Cada coração humano é uma peça de luz potencial e Jesus é o Sublime Artífice.
Lembrar-se de que o Senhor trabalha por nós sem descanso.
Repouso indébito, deserção do dever.
Sem exclusão de hora ou local, precaver-se contra o reproche e a irreverência para com a Divina Orientação.
O acatamento é prece silenciosa.
Negar-se a interpretar o Eterno Amigo por vulgar revolucionário terreno.
Reconheçamo-lo como a Luz do Mundo.
Renunciar às comemorações natalinas que traduzam excessos de qualquer ordem, preferindo a alegria da ajuda fraterna aos irmãos menos felizes, como louvor ideal ao Sublime Natalício.
Os verdadeiros amigos do Cristo reverenciam-no em Espírito.
Identificar a posição que lhe cabe em relação a Jesus, o Emissário de Deus, evitando confrontos inaceitáveis.
O homem que exige seja o Cristo igual a ele, pretende, vaidosamente, nivelar-se com o Cristo.
Em todas as circunstâncias, eleger, no Senhor Jesus, o Mestre invariável de cada dia.
Somos o rebanho, Jesus é o Divino Pastor.
"E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens" - Paulo. (COLOSSENSES, 3:23.)
Vieira, Waldo. Da obra: Conduta Espírita. Ditado pelo Espírito André Luiz. Livro eletrônico gratuito em http://www.febnet.org.br. Rio de Janeiro, RJ: FEB.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

As harmonias do Espaço

Léon Denis

O Grande Enigma

Traduzido do Francês
La Grande Énigme
1911 


John Constable
O Estudo das Nuvens




Conteúdo resumido

                                                  IV
                          As harmonias do Espaço

Uma das impressões que nos causa, à noite, a observação dos céus, é a de majestoso silêncio; mas esse silêncio é apenas aparente; resulta da impotência dos nossos órgãos.
Para seres mais bem aquinhoados, portadores de sentidos abertos aos ruídos sutis do Infinito, todos os mundos vibram, cantam, palpitam, e suas vibrações, combinadas, formam um imenso concerto.
Esta lei das grandes harmonias celestes podemos observar em nossa própria família solar.
Sabe-se que a ordem de sucessão dos planetas no Espaço é regulada por uma lei de progressão, chamada lei de Bode.[i] As distâncias dobram, de planeta a planeta, a partir do Sol. Cada grupo de satélites obedece à mesma lei.
Ora, esse modo de progressão tem um princípio e um sentido. Esse princípio se liga ao mesmo tempo às leis do número e da medida, às matemáticas e à harmonia.[ii]
As distâncias planetárias são reguladas segundo a ordem moral da progressão harmônica; exprimem a própria ordem das vibrações desses planetas e as harmonias planetárias; calculadas segundo estas regras, resultam em perfeito acordo. Poder-se-ia comparar o sistema solar a uma harpa imensa, da qual os planetas representam as cordas. Seria possível, diz Azbel, “reduzindo a cordas sonoras à progressão das distâncias planetárias, construir um instrumento completo e absolutamente afinado”.[iii]
No fundo (e nisso reside a maravilha), a lei que rege as relações do som, da luz e do calor é a mesma que rege o movimento, a formação e o equilíbrio das esferas, de igual maneira que lhes regula as distâncias. Essa lei é, ao mesmo tempo, a dos números, das formas e das idéias. É a lei da harmonia por excelência: é o pensamento, é a ação divina vislumbrada!
A palavra humana é muito pobre, insuficiente, para exprimir os mistérios adoráveis da harmonia eterna. A escrita musical somente pode fornecer a sua síntese, comunicar a sua impressão estética. A música, idioma divino, exprime o ritmo dos números, das linhas, das formas, dos movimentos. É por ela que as profundezas se animam e vivem. Ela enche com suas ondas o edifício colossal do Universo, templo augusto onde retine o hino da vida infinita. Pitágoras e Platão acreditavam já perceber “a música das esferas”.
No sonho de Cipião, narrado por Cícero em uma das suas belas páginas, que nos legou a Antigüidade, o sonhador entretém-se com a Alma de seu pai, Paulo Emílio, e a de seu avô, Cipião, o africano; contempla com elas as maravilhas celestes e o diálogo seguinte se estabelece:
– ”Que harmonia é essa, tão poderosa e tão doce que me penetra?” – pergunta Cipião.
Responde-lhe o avô:
– ”É a harmonia que, formada de intervalos desiguais, mas combinados, de acordo com justa proporção, resulta do impulso e do movimento das esferas; fundidos os tons graves e os tons agudos em um acorde comum, faz de todas essas notas, tão variadas, um melodioso concerto. Tão grandes movimentos não se podem executar em silêncio.”.
Quase todos os compositores de gênio que ilustraram a arte musical, assim os Bach, os Beethoven, os Mozart, etc., declararam que percebiam harmonias muito superiores a tudo que se pode imaginar, harmonias impossíveis de serem descritas. Beethoven, enquanto compunha, ficava fora de si, arrebatado numa espécie de êxtase, e escrevia febrilmente, ensaiando em vão reproduzir essa música celeste que o deslumbrava.
É preciso uma faculdade psíquica notável para possuir a tal ponto o dom da receptividade. Os raros humanos que a possuem afirmam que, quantos já surpreenderam o sentido musical do Universo, encontraram a forma superior, a expressão ideal da beleza e da harmonia eternas. As mais elevadas concepções do gênero humano são, apenas, um eco longínquo, uma vibração enfraquecida da grande sinfonia dos mundos.
É a fonte dos mais puros gozos do Espírito, o segredo da vida superior, cuja potência e intensidade os nossos sentidos grosseiros nos impedem, ainda, de compreender e sentir.
Para aquele que os pode gozar plenamente, o tempo não tem medida e a série dos dias inumeráveis não parece mais que um dia.
Mas essas alegrias, ainda ignoradas, no-las dará a evolução, à medida que nos formos elevando na escala das existências e dos mundos.
Já conhecemos médiuns que percebem, em estado de transe, suaves melodias. As lágrimas abundantes que vertem testemunham não serem ilusórias suas sensações.
Voltemos ao estudo dos movimentos das esferas e notemos que não há, até mesmo tratando-se das próprias exceções à regra universal de harmonia e dos desvios aparentes dos planetas, nada há que não se explique e não seja assunto de admiração. Esses movimentos constituem espécies de “diálogos de vibrações tão aproximados quanto possível do uníssono” e apresentam um encanto estético a mais nesse prodígio de beleza que é o Universo.
Um exemplo, dos mais incisivos, é o dos pequenos planetas, chamados telescópicos, que evolvem entre Marte e Júpiter, em número de cerca de 520, ocupando um espaço de oitava inteiro, dividido em outros tantos graus; de onde a probabilidade de que esse conjunto de mundículos não constitua, como se tem acreditado, um universo de destroços, mas o laboratório de muitos mundos em formação, mundos dos quais o estudo do céu nos dirá a gênese futura.
As grandes relações harmônicas que regulam a situação respectiva dos planetas de nosso sistema solar são em número de quatro e encontram sua aplicação:
Em primeiro lugar: do Sol a Mercúrio; neste ponto também as forças harmônicas estão em trabalho; planetas novos se esboçam.
Depois, de Mercúrio a Marte. É a região dos pequenos planetas, em que se move a nossa Terra, representando o papel de dominante local, com tendência a afastar-se do Sol para se aproximar das harmonias planetárias superiores. Marte, componente desse grupo e do qual podemos distinguir, ao telescópio, os continentes, os mares, os canais gigantes, todo o aparelho de uma civilização anterior à nossa, embora menor, é mais bem equilibrado que a nossa morada.
Os 500 planetas telescópicos constituem, em seguida, um intervalo de transição; formam uma espécie de colar de pérolas celestes ligando o grupo de planetas inferiores à imponente cadeia dos grandes planetas, de Júpiter a Netuno, e além. Tal cadeia forma a quarta relação harmônica, de notas decrescentes qual o volume das esferas gigantescas que a compõem. Nesse grupo, Júpiter tem o papel de dominante; os dois mundos, maior e menor, nele se combinam.
“Semelhantemente à inversão harmônica do som – diz Azbel [iv] –, é por uma progressão constante que o grupo antigo de Netuno e Júpiter afirma a formação de seus volumes. O caos de corpúsculos telescópicos que segue fez estacar bruscamente essa progressão. Júpiter lá ficou qual um segundo sol, no limiar dos dois sistemas. Dos registros de oitava e de segunda dominante, passou ao de tônica secundária e relativa, para exprimir o caráter de registro especial, evidentemente menor e relativo, em paralelo ao do Sol, que ia preencher, enquanto formações mais novas se dispunham aquém, afastando-o, pouco a pouco, e aos mundos seus tutelados, do astro de que é o mais robusto filho.”
Robusto, com efeito, e bem imponente em seu curso, esse colossal Júpiter, que gosto de contemplar na calma das noites de verão, mil e duzentas vezes maior que o nosso globo, escoltado por seus cinco satélites, dos quais um, Ganimedes, tem o volume de um planeta. Ereto sobre o plano de sua órbita, de maneira a gozar de igualdade perpétua de temperatura sob todas as latitudes, com dias e noites sempre uniformes em sua duração, é, além disso, composto de elementos de densidade quatro vezes menor que os de nossa maciça morada, o que permite entrever, para os seres que habitam ou terão de habitar Júpiter, facilidades de deslocamento, possibilidades de vida aérea que devem fazer dele uma vivenda de predileção. Que teatro magnífico da vida! Que cena de encanto e de sonho esse astro gigante!
Mais estranho, mais maravilhoso ainda é Saturno, cujo aspecto se faz tão impressionante ao telescópio; Saturno é igual a oitocentos globos terrestres amontoados, com seu imenso diadema, em forma de anel, e seus oito satélites, entre os quais Titã, igual em dimensões ao próprio Marte.
Saturno, com o cortejo rico que o acompanha em sua lenta revolução através do Espaço, constitui, por si só, um verdadeiro universo, imagem reduzida do sistema solar. É um mundo de trabalho e de pensamento, de ciência e de arte, onde as manifestações da inteligência e da vida se desenvolvem sob formas de variedade e riqueza inimagináveis. Sua estética é sábia e complicada; o sentimento do belo tornou-se ali mais sutil e mais profundo pelos movimentos alternantes, pelos eclipses dos satélites e dos anéis, por todos os jogos de sombra, de luz, de cores, em que as nuanças se fundem em gradações desconhecidas à vista dos habitantes da Terra, e também por acordes harmônicos, bem comoventes em suas conclusões analógicas com os do universo solar por inteiro!
Vêm depois, nas fronteiras do império do Sol, Urano e Netuno, planetas misteriosos e magníficos, cujo volume é igual a quase uma centena de globos terrestres reunidos. A nota harmônica de Netuno seria “a culminante do acorde geral, o cimo do acorde maior de todo o sistema”. Depois, são outros planetas longínquos, sentinelas perdidas do nosso agrupamento celeste, ainda despercebidos, mas pressentidos e até calculados, segundo as influências que exercem nos confins do nosso sistema, longa cadeia que nos liga a outras famílias de mundos.
Mais longe se desenvolve o imenso oceano estelar, pélago de luz e de harmonia, cujas vagas melodiosas por toda parte envolvem, a embalá-lo, nosso universo solar, esse universo para nós tão vasto e tão mesquinho em relação ao Além. É a região do desconhecido, do mistério, que atrai sem cessar o nosso pensamento, sendo este impotente para medir, para definir seus milhões de sóis de todas as grandezas, de todas as potências, seus astros múltiplos, coloridos, focos terríficos que iluminam as profundezas, vertendo em ondas a luz, o calor, a energia, transportados na imensidão com velocidades formidáveis, com seus cortejos de mundos, terras do céu, invisíveis, mas suspeitadas, e as famílias humanas que os habitam, os povos e as cidades, as civilizações grandiosas de que são teatro.
Por toda parte as maravilhas sucedem às maravilhas: grupos de sóis animados de colorações estranhas, arquipélagos de astros, cometas desgrenhados, errando na noite de seu afélio, focos moribundos que se acendem de repente e fulgem no fundo do abismo, pálidas nebulosas de forma fantástica, fantasmas luminosos cujas irradiações – diz Herschel – levam 20.000 séculos para chegar até nossa Terra, formidáveis gêneses de universos, berços e túmulos da vida universal, vozes do passado, promessas do futuro, esplendores do Infinito!
E todos esses mundos unem suas vibrações em uma poderosa melodia... A alma livre dos raios terrestres, chegada a essas alturas, ouve a voz profunda dos céus eternos!
* * *
As relações harmônicas que regem a situação dos planetas no Espaço representam, como o estabeleceu Azbel,[v] a extensão do nosso teclado sonoro e se acham conforme a lei das distâncias e dos movimentos. Nosso sistema solar representa uma espécie de edifício de oito andares, isto é, oito oitavas, com uma escadaria formada de 320 degraus ou ondas harmônicas, sobre a qual os planetas estão colocados, ocupando “patamares indicados pela harmonia de um acorde perfeito e múltiplo”.
As dissonâncias são apenas aparentes ou transitórias. O acorde encontra-se no fundo de tudo. As regras da nossa harmonia musical parecem ser apenas conseqüência, aplicação muito imperfeita da lei da harmonia soberana que preside à marcha dos mundos. Podemos, pois, crer, logicamente, que a melodia das esferas seria inteligível para o nosso Espírito, se nossos sentidos pudessem perceber as ondas sonoras que enchem o Espaço.[vi]
A regra geral, embora absoluta, não é, entretanto, estreita e rígida. Em certos casos, no de Netuno, a harmonia relativa parece afastar-se do princípio; nunca, entretanto, de maneira a sair dele. O estudo dos movimentos planetários fornece a demonstração evidente desse fato.
Nessa ordem de estudos, mais do que em qualquer outra, vemos manifestar-se, em sua imponente grandeza, a lei do Belo que rege o Universo. Mal nossa atenção é dirigida para as imensidades siderais, a sensação estética torna-se intensa. Essa sensação vai engrandecer-se agora e crescer, à medida que se precisarem as regras da harmonia universal, à proporção que se levantar para nós o véu que nos oculta os esplendores celestes.
Por toda parte encontraremos essa concordância que encanta e comove; nesse domínio, nenhuma dessas discordâncias, dessas decepções, tão freqüentes no seio da Humanidade.
Por toda parte se desdobra essa potência de beleza que leva ao infinito suas combinações, abrangendo em igual unidade todas as leis, em todos os sentidos: aritmética, geométrica, estética.
O Universo é um poema sublime do qual começamos a soletrar o primeiro canto. Apenas discernimos algumas notas, alguns murmúrios longínquos e enfraquecidos! Já essas primeiras letras do maravilhoso alfabeto musical nos enchem de entusiasmo. Que será quando, tornados mais dignos de interpretar a divina linguagem, percebermos, compreendermos as grandes harmonias do Espaço, o acorde infinito na variedade infinita, o canto modulado por esses milhões de astros que, na diversidade prodigiosa de seus volumes e de seus movimentos, afinam suas vibrações por uma simpatia eterna?
Perguntar-se-á, porém: Que diz essa música celeste, essa voz dos céus profundos?
Essa linguagem ritmada é o Verbo por excelência, aquele pelo qual todos os mundos e todos os seres superiores se comunicam entre si, chamam-se através das distâncias; pelo qual nos comunicaremos um dia com as outras famílias humanas que povoam o Espaço estrelado.
É o princípio mesmo das vibrações que servem para traduzir o pensamento, a telegrafia universal, veículo da idéia em todas as regiões do Universo, linguagem das almas elevadas, entretendo-se de um astro a outro com suas obras comuns, com o fim a atingir, com os progressos a realizar.
É ainda um hino que os mundos cantam a Deus, ora cântico de alegria, de adoração, ora de lamentações e de prece; é a grande voz da coisas, o grito de amor que sobe eternamente para a Inteligência ordenadora dos universos.
* * *
Quando, pois, saberemos destacar nossos pensamentos e elevá-los para os cimos? Quando saberemos penetrar esses mistérios do céu e compreender que cada descobrimento realizado, cada conquista prosseguida nessa senda da luz e de beleza, contribui para enobrecer nosso espírito e para engrandecer nossa vida moral e nos proporciona alegrias superiores a toda as da matéria?
Quando, pois, compreenderemos que é lá, nesse esplêndido Universo, que nosso próprio destino se desenvolve, e estudá-lo é estudar o próprio meio onde somos chamados a reviver, a evolver sem cessar, penetrando-nos cada vez mais das harmonias que o enchem? Que em toda parte a vida se expande em florescências de Almas? Que o Espaço é povoado de sociedades sem-número; às quais o ser humano está ligado pelas leis de sua natureza e de seu futuro?
Ah! Quanto são de lamentar aqueles que desviam seus olhares desses espetáculos e seu Espírito desses problemas! Não há estudo mais impressionante, mais comovente, revelação mais alta da ciência e da arte, mais sublime lição!
Não: o segredo da nossa felicidade, de nosso poder, de nosso futuro, não está nas coisas efêmeras deste mundo; reside nos ensinamentos do Alto, do Além. E os educadores da Humanidade são muito inconscientes ou muito culpados, porque não cuidam de elevar as Almas para os cimos onde resplandece a verdadeira luz.
Se a dúvida ou a incerteza nos assediam; se a vida nos parece pesada; se tateamos na noite à procura do fim; se pessimismo e tristeza nos invadem; acusemos a nós próprios, porque o grande livro do Infinito está aberto aos nossos olhos, com suas páginas magníficas, das quais cada palavra é um grupo de astros, cada letra um sol – o grande livro onde devemos aprender a ler o sublime ensinamento. A Verdade ali está escrita em letras de ouro e de fogo; chama solícita nossos olhos – Verdade –, realidade mais bela que todas as lendas e todas as ficções.
E ela quem nos conta a vida imperecível da Alma, suas vidas renascentes na espiral dos mundos, as estações inumeráveis no trajeto radioso, o prosseguimento do eterno bem, a conquista da plena consciência, a alegria de sempre viver para sempre amar, sempre subir, sempre adquirir novas potências, virtudes mais altas, percepções mais vastas. E, acima da possessão da eterna Beleza, a felicidade de penetrar as leis, de associar-se mais estreitamente à obra divina e à evolução das Humanidades.
Desses magníficos estudos, a idéia de Deus se expande mais majestosa, mais serena. A ciência das harmonias celestes vale um pedestal grandioso sobre o qual se erige a augusta figura – Beleza soberana cujo brilho, muito ofuscante para os nossos fracos olhos, fica ainda velado, mas irradia docemente através da obscuridade que a envolve.
Idéia de Deus – centro inefável para onde verguem e se fundem, em síntese sem limites, todas as ciências, todas as artes, todas as verdades superiores –, tu és a primeira e a última palavra das coisas presentes ou passadas, próximas ou longínquas; tu és a própria Lei, a causa única de todas as coisas, a união absoluta, fundamental, do Bem e do Belo, que reclama o pensamento, que exige a consciência e na qual a Alma humana acha a sua razão de ser e a fonte inesgotável de suas forças, de suas luzes, de suas inspirações.





[i]    Tohann Elert Bode, astrônomo alemão (1747-1826).
[ii]    Vide Azbel, Harmonia dos Mundos.
[iii]   Vide Azbel, Harmonia dos Mundos, pág. 29.
[iv]   Azbel, Harmonia dos Mundos, pág. 13.
[v]    Azbel, Harmonia dos Mundos, pág. 10.
[vi]   “O Sr. Emílio Chizat, diz Azbel (A música no espaço), verifica que o jogo de órgão, chamado “vozes celestes”, é a aplicação musical intuitiva do papel importante das “idéias de estrela”. É provável que manifestações sinfônicas sejam feitas ulteriormente, a esse respeito, que poderão reservar ao público impressões inesperadas. Que possam elas levar nossos músicos “terrestres”, que se extraviam, a noções um pouco mais altas e reais do sacerdócio da harmonia, que deveriam preencher entre nós.”

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ofendido e Ofensor-- Seus Destinos


O problema da justiça e do perdão. Apa­rentes contradições. O perdão não é injustiça. O método de pagamento de ti­po S a cargo da Lei. As vantagens do perdão: para o ofendido e para o ofen­sor. Involuído e evoluído. Duas verda­des e respectivos métodos de vida. A evolução sana a contradição. Recons­truir. A retidão, método de defesa con­forme o Evangelho.



Abordemos agora o problema da justiça e do perdão. Contra uma ofensa o mundo faz justiça com o método da reação e punição; o Evangelho com o do perdão. O primeiro é o sistema da luta, vigorante nos planos evolutivos mais baixos, os do AS, segun­do o principio separatista ali imperante. O segundo é o sistema da coordenação, o que vigora nos planos evolutivos mais altos (os do S) conforme o principio unificador ali imperante. Esta diferença se faz tanto mais evidente quanto mais se desce, de um lado, e quanto mais se sobe, do outro.
Diz o Evangelho: "Vós ouvistes que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu, pelo contrário, vos digo que não deveis fazer resistência ao malva­do (....). Ouvistes que foi dito: amarás o teu próxi­mo e odiarás o teu inimigo. Pelo contrário vos digo: amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam (... ). Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros (....). Bem-aventurados os mansos (....). Bem-aventurados os misericordiosos (....). Bem-aventurados os pacíficos" (....).
O mesmo Evangelho põe em evidencia a contraposição entre os dois métodos de fazer justiça: o da sanção imposta contra o violador e o do perdão. Perguntemo-nos, agora: como resolver conforme justiça o método do perdão? Trata-se de dois conceitos absolutamente antitéticos. O perdão altera a relação e rompe o equilíbrio entre culpa e pagamento, entre erro e correção, assim ele paralisa a função saneado­ra da Lei. O perdão representa uma evasão das sanções, ou seja violação da Lei, fato que, conforme esta, deveria ser punido.
Eis os termos do problema:
1º — Há uma culpa, que é uma violação da ordem. Ela redunda num desequilíbrio que deve ser compensado num desvio, o qual por sua vez deve ser neutralizado e reconduzido à posição de equilíbrio.
2º — Há a justiça que exige e realiza este pagamento e, com o método da sanção primitiva, restabelece a ordem.
— O perdão, pelo contrário, é semelhante ao pagamento de uma dívida, mas não o realiza. Ele tão somente deixa ficar sem solução o problema do restabelecimento da ordem, como também aceita e confirma a violação da Lei.
Existe, portanto, uma inconciliabilidade en­tre justiça e perdão. Se a justiça consiste no não­-perdão, então o Evangelho que defende o perdão, pareceria propor a injustiça. Isto porque a Lei de Deus se baseia num fundamental princípio de equi­líbrio que no plano moral significa justiça. É por este princípio que se deve reconstruir a ordem violada, pelo qual o mal feito se deve pagar, o erro deve ser corrigido com a dor, o que foi deslocado ao negativo deve ser recolocado na sua justa posição ao positivo Ora, quando o ofendido perdoa, com isso ele induz o ofensor a violar tal equilíbrio, porque o mal feito des­te último não é pago e seu erro não é corrigido, pe­lo fato de, com o perdão, escapar à  sanção punitiva. E então, como se restabelece o equilíbrio da justiça, se o cômputo do dar e haver é alterado pelo perdão? Quando Cristo se encontrou diante do Pai, Ele se co­locou na posição de pagador perante a justiça da Lei e não pediu perdão. Ao contrário daquilo que faz o homem — que pleiteia o perdão para si sem conce­dê-lo aos outros — Cristo praticou em relação aos ou­tros, mas para si antepôs ao perdão a justiça. E com efeito Ele mostrou que os débitos se devem pagar.
Mas há mais. O próprio Deus se comporta conforme a sua Lei de justiça que exige o pagamento. Ele não usa o método do perdão quando, pelas ofensas recebidas, exige do homem um pagamento e, para que este seja executado, manda à Terra o Seu “Filho Unigênito”. Eis então que o Evangelho pregando o método do perdão em vez do justo paga­mento, parece ter-se colocado em contradição com o Filho e com o Pai. Mas será que o Evangelho ignora a Lei e se coloca contra ela? Afinal, qual das duas vias se deve seguir? A do pagamento obrigatório im­posto pelo Pai e praticado pelo Filho, ou a do perdão pregado pelo Evangelho?
Um caso de contradição não poderia ser vis­to também no fato pelo qual Moisés que havia descido do Sinai com o mandamento de não matar, es­crito sobre a Tábua, mandou matar três mil idólatras? Foram estas as palavras de Moisés: “Assim disse o Senhor, o Deus de Israel: Cada um tome a sua espa­da e passe de porta em porta, e cada um mate o seu irmão, cada um o seu amigo, cada um o seu próxi­mo. E assim foi feito conforme a palavra de Moisés, e naquele dia tombaram do povo, três mil homens”.
Não nos abalam estas contradições. O fato é que enquanto a Lei nos oferece princípios do S, o subconsciente humano propõe princípios do AS. Ve­mos uma tal evasão do pagamento com o perdão, encontrar confirmação também alhures, por exem­plo, no caso de São 'Tomás de Aquino, quando assim se exprime: "Beati in Regno Coelesti videbunt poe­nas damnatorum ut beatitudo illis magis compla­ceat". ("Os bem-aventurados, no Reino dos Céus ve­rão as penas dos danados, para que seja mais inten­sa sua própria bem-aventurança»).
É compreensível que tais sentimentos de egoísmo possam naturalmente aflorar do subconsciente humano em quantos se sentem imunes diante das desgraças dos outros. E compreende-se como o con­trole mental, bem mais reduzido no passado, deixas­se ingenuamente escapar confissões desta espécie. Mas que estes sentimentos — entre os comuns mor­tais — pudessem atribuir-se também aos eleitos do Céu, isso não é mais concebível hoje em dia. Seriam eles tão malvados a ponto de gozarem com os tor­mentos dos seus semelhantes? Como admitir que a perspectiva de tão iníqua alegria pudesse servir de encorajamento a fazer o esforço necessário no a con­quista do Paraíso? Os gozos celestiais consistiam por­tanto em violar o fundamental princípio do Evange­lho: "Ama a teu próximo como a ti mesmo"? O per­dão só serviria então para adiar a vingança ao além que ficaria provisoriamente incubada até a interven­ção de Deus, que ao cumpri-la viria a satisfazer à  nossa mesquinhez evitando-nos, com o esforço de persegui-la, o risco da reação por parte do ofensor.
Tais contradições nascem do fato de os prin­cípios que regem a religião e a moral como teórica norma de conduta, serem de tipo diverso dos que funcionam na realidade concreta. Mas como se justifica que os moralistas ignorem tal contradição e porque deveria haver antagonismo entre os dois mé­todos de vida? A situação é aquela tão freqüentemente registrada no mundo, que consiste em dizer uma coisa e fazer outra. De um lado temos a afirma­ção de altos ideais, do outro lado, uma realidade mes­quinha presente e imperante na vida de cada dia. Belas e luminosas nuvens que voam no céu, enquan­to na Terra se caminha sobre ásperas pedras. Belos os sonhos do espírito, mas quase sempre contraditos pelas imperiosas e massacrantes necessidades da vi­da. No alto resplandece a bondade e o amor, mas em baixo, no mundo, triunfa o mal e geme a dor. Quem vive feliz no Paraíso não sabe porventura que existe também o inferno e que nele se massacram seres vivos? Como podem os idealistas ignorar que a vida se baseia sobre a rivalidade e sobre o contí­nuo esforço da luta, e que em tal ambiente as suas teorias permanecem como inaplicáveis utopias? En­tão, se o perdão existe, o que significa e como se jus­tifica esta sua estranha economia tão contrastante com as leis da vida? Se esta se comporta tão diversamente, deve existir uma razão para tal. E a realida­de destas leis impõe que o mal feito seja pago, con­forme justiça.
Observemos como funciona o fenômeno. Em nosso mundo aquele pagamento pode-se obter tanto com o método do macho que reage como pessoa com as suas próprias forças sem pedir a ajuda de nin­guém, quanto com o método da fêmea, que, carente de forças, pede ajuda confiando a mesma sanção à  justiça de Deus. O primeiro é o método ativo, de rea­ção positiva ou da vingança; o segundo é um método negativo, passivo; mas ambos tendem ao mesmo resultado final, que é o de fazer pagar ao réu a sua culpa. No primeiro caso temos uma reação direta e imediata, no segundo uma reação indireta, reenvia­da no tempo, por delegação, a outros. Diversa é a forma, a substância é a mesma: a necessidade de pa­gar. Assim o perdão evangélico, na realidade, cor­responde à mesma necessidade de defesa, consegui­da, porém, com um método de tipo feminino, mais condizente com os fracos incapazes de se defende­rem sozinhos.
Depois disto, o Evangelho é espontaneamen­te aplicado pelo tipo feminino, ao qual portanto Cris­to não tinha necessidade de dirigir-se para ser obe­decido Dirigiu-se, pelo contrario, de preferência, ao tipo macho, aquele que mais repele o Evangelho, porque sabe defender-se por si, embora sendo ele quem do mesmo mais necessita para corrigir-se de sua tendência a se fazer justiça por si próprio — co­mo anárquico egoísta que é — em vez de obedecer a Lei. Mas, ao mesmo tempo, Cristo quis ajudar os débeis, os oprimidos e atribulados — que confiam a Deus sua própria defesa — mostrando-lhes que exis­te todavia uma justiça, também para eles, na qual podem confiar. É assim que vemos como a religião, mais que pelo tipo macho, seja seguida pelo tipo fê­mea, que nela encontra a proteção de que tem neces­sidade. Em primeiro lugar a defesa para a sobrevi­vência.
Esta é a realidade da vida, cuja economia esta bem longe daquela do perdão. Tal realidade é um fato. Para superá-lo não adianta ignorá-lo ou desprezá-lo, como se não existisse. Ele na prática constitui o que é norma neste mundo. E se o Evan­gelho afirma o contrario, significa isso porventura que aquela regra esta errada ou que é má? Mas co­mo pode a vida ser tal se ela é regulada por leis que coincidem com a própria vontade de Deus?
Procuremos compreender. A contradição nas­ce do mal-entendido pelo qual se acredita que, se com o perdão desaparece uma sanção visível e ime­diata, não exista por isso pagamento, e, portanto, de tal modo se cumpra a injustiça do não-pagamento. As referidas objeções nascem da opinião pela qual o perdão signifique subtrair-se à justiça com o não­-pagar, enquanto se trata de um diverso e mais per­feito modo de pagar, pelo qual se permanece sempre dentro da ordem da justiça, permanecendo sem­pre inviolada. Eis então que o método do perdão não representa mais um ato contra a justiça, mas um acordo com ela para que funcione de um modo ain­da melhor. Fiquem tranqüilos os que vêm no perdão uma impunidade do ofensor e com isso um evadir-se à justiça da Lei. Isso não pode acontecer, pois ela é inviolável. Então nos perguntamos: qual é a técni­ca segundo a qual se verifica este fenômeno?
A função de fazer justiça da maneira mais segura, adequada e completa, implica a presença de outros elementos, que não são apenas os usados pa­ra executá-la em forma simplista pelo único método da sanção punitiva. Além desta finalidade a Lei quer alcançar outras paralelas. O trabalho é com­plexo, o que exige uma sapiência que o sujeito nor­mal não possui. Daí a necessidade, em primeiro lugar, de tirar-lhe das mãos a função de justiceiro. Que ele portanto se ponha de lado e deixe traba­lhar a Lei. Então esta só lhe pede perdoar e colo­car-se fora do fenômeno, cuja direção de desenvol­vimento só pode ser confiada à  Lei. E quem compre­endeu como esta funciona, bem sabe o que ela pode fazê-lo.
Observemos primeiro aquilo que se dá com o indivíduo ofendido. Com o perdão este confia a rea­ção à justiça da Lei e assim se liberta de qualquer vínculo com o ofensor, que deste momento em diante fica entregue à lei. Este não se vai embora, como pode parecer, livre de sanções, sem pagar, pois en­tra na engrenagem das conseqüências dos atos que praticou. O ofendido, pelo contrário, com o perdão, retraindo-se da luta, logo encerrou a conta e não en­tra nesta engrenagem de pagamentos. O caso para ele esta liquidado. Na balança da justiça da Lei ele colocou o seu perdão, isto é, um crédito à sua van­tagem. Relembremos que a Lei funciona para todos os indivíduos seja onde for, onde quer que se en­contrem
Eis então que o poder do indivíduo não de­pende da sua potência terrena perante o ofensor, mas da sua posição perante a justiça da Lei. Trata-se de uma técnica de defesa completamente diferente daquela que o mundo segue. A conta individual entre ofensor e ofendido substitui-se a conta entre o indivíduo e a Lei de Deus. O primeiro é o método do AS, separatista, caótico, no qual o ser esta sozinho, con­tra todos e não tem em sua defesa senão suas forças, numa posição de contínua violação, injustiça e en­dividamento perante a Lei. O outro é o método do S: orgânico, feito de ordem, no qual o sujeito unificou-se com as forças da Lei que ele portanto possui para sua defesa.
Em tal posição o indivíduo se torna parte de um todo no qual ele se completa e se potencializa, dado que as forças da Lei, atraídas por afinidade, acorrem em proteção de quem se move em sintonia com elas. Isto porque a Lei se defende a si própria quando defende quem, obedecendo-lhe, se fundiu com ela e dela se tornou um elemento constitutivo.
Eis a vantagem do método do perdão: o de colocar-nos na ordem do S, em vez de na desordem do AS, com todas as conseqüências que daí derivam. Eis o significado e o grande valor utilitário da atitude que nos é proposta pelo Evangelho, que nos quer conceder uma posição de inocência, e portanto, de segurança na ordem, coisa que o desequilibrado sis­tema de luta no qual se baseia o AS jamais poderia garantir. É evidente que as forças do indivíduo, por mais potente que ele seja, não poderão nunca sustentá-lo e protegê-lo como podem, pelo contrário, as do grande organismo quando ele consiga integrar-se nele. Tudo isto é verdadeiro, grande, belo, mas é di­fícil fazê-lo compreender a quantos não tenham ainda construído olhos capazes de ver em profundidade.
Os dois termos do problema são ofendido e ofensor. Estamos observando os destinos de cada um dos dois. A preocupação do Evangelho é a de libertar o ofendido das conseqüências de uma sua reação pessoal que o ligue ao ofensor, iniciando com ele o cômputo do dar e do haver. Via de regra se tem pressa em fazer justiça por si, porque ao julgar o fenômeno, o homem míope se engana vendo apenas os efeitos imediatos ou a curto prazo, enquanto não vê os efeitos longínquos a longo prazo nos quais a justiça se cumpre. Acontece, com efeito, que a ime­diata reação pessoal provoca uma contra-reação, e assim sucessivamente ao infinito. Dá-se o mesmo com as guerras, todas projetadas para chegar a uma vitória definitiva, enquanto na realidade não se alcan­ça senão um perpétuo estado de guerra, em que ca­da uma delas não acaba nunca de castigar a injus­tiça da outra. O Evangelho tenciona resolver este problema quebrando ao seu início a cadeia de ações e reações, que imediatamente se estabelece quando se usa o método da força.
Naturalmente o Evangelho — como já vimos — fala aos fortes, levados a usar tal método e não aos fracos que não precisam receber conselhos de moderação porque não têm força para reagir. Mas, se estes forem justos, a Lei defenderá neles o próprio princípio da justiça. Quando o ofendido se encontra nestas condições, o ofensor não se acha mais apenas perante um homem, mas também perante a Lei que exige justiça. Isso implica uma grande disparidade de condições entre o ofensor e o ofendido, mesmo se o primeiro — quando forte e astuto — pode subtrair­-se à reação do ofendido; quando, porém este último perdoa e entrega sua proteção e defesa à Lei, para o ofensor não há mais salvação.
Mas também para este constitui uma vanta­gem o cair — mesmo que seja à força — em poder da Lei. A reação desta é diferente da do ofendido. Este só desabafa a sua raiva, obedecendo ao impul­so da defesa ou da vingança, o que não vence o mal mas o aumenta, porque à violência do ofensor se acrescenta à do ofendido, aumentando, assim, a de­sordem em vez de elimina-la. O escopo da Lei, pelo contrario, é o de reconstruir a ordem, e de fazer jus­tiça, de educar e salvar o ofensor, mediante a sua correção, constrangendo-o a reingressar no justo ca­minho.
Ora um semelhante trabalho não pode ser confiado ao homem, mas só à Lei que possui a sapiência necessária para podê-lo executar. Aqui fala­mos da Lei como de uma coisa viva, porque ela representa a onipresença de Deus. O método de vida em nosso mundo é completamente diverso do propos­to pelo Evangelho. O primeiro é de tipo AS e o se­gundo de tipo S. Isto significa que eles estão nos an­típodas. Eis que um trabalho de ordem e justiça não pode ser confiado aos cidadãos do AS, mas só a quem adere ao S, mesmo no caso em que tal traba­lho deva ser realizado no seio do AS. As reações des­te não sabem ser corretivas para o bem do ofendido, ao ponto de reconduzi-lo na ordem sobre a qual se apoia o S; pois são imbuídas de egoísmo e vingança, maléficos filhos da desordem, sobre a qual se apoia o AS. Logo, a função de cumprir uma verdadeira justiça não pode ser confiada ao homem, que não pode possuir todos os elementos para julgar, como só Deus pode, o único que pela sua superioridade tem para tanto a capacidade e o direito. E tanto me­nos tal função pode ser confiada ao ofendido, pois sendo parte em causa, não pode deixar de colocar a si mesmo no prato da balança em seu próprio favor. Assim, propondo-lhe o perdão, o Evangelho quer preservá-lo do pecado da injustiça do seu julgamen­to parcial.
Temos, então, uma forma de justiça por dele­gação, pela qual o homem não a exercita mas a con­fia à  Lei. Outra maneira não há se quisermos uma verdadeira justiça. Para quem vive no AS, não há outra salvação, a não ser apoiar-se no S, deste apli­cando os métodos. Isto é o que Cristo quis fazer, pregando a aplicação da Lei do Pai neste mundo.
Vimos o significado da contradição entre o Evangelho e a realidade da vida. Trata-se de duas verdades, cada uma relativa a um diferente nível evolutivo. Relativamente a seu próprio ponto de referência cada uma delas é verdadeira, mas o ponto de referência do Evangelho é a Lei, o mais alto termo do conhecimento, aquilo que para Cristo é o Pai e para todos é o S. Pelo contrario, o ponto de referência do homem é o seu mundo, situado muito mais em baixo, no AS. É natural que de tudo isto derivem dois opostos métodos de vida.
Estas duas verdades e os respectivos méto­dos de vida podem ver-se representados na Terra por dois tipos opostos, cada um expressando a sua ver­dade parcial em contradição com a do outro. O pri­meiro é o verdadeiro involuído movido pelos instin­tos mais baixos de nível animal. Ele é um imaturo que se encontra atrasado em relação ao grau de evo­lução alcançado pela atual sociedade humana, ape­sar de se encontrar em seu lugar em relação à socie­dade mais selvagem dos séculos passados. O segun­do é o evoluído, honesto, compreensivo, pacífico. Ele é mais que maduro, e assim se encontra antecipa­damente deslocado para a frente em relação ao grau de evolução alcançado pela nossa sociedade, mas com certeza ele se encontrara no seu devido lugar numa sociedade mais civilizada, nos séculos futuros.
Trata-se de dois extremos — ambos fora de série — um por defeito, o outro por excesso de adian­tamento. As massas, situadas à metade do caminho, formam o grosso do exército, em marcha ascensio­nal. Situados num tal ambiente de nível médio, am­bos os tipos são marginalizados. O primeiro deles acaba na prisão. O segundo é encurralado como so­nhador utopista, fora da realidade. Com efeito, ele é assim em relação ao tipo do mundo em que vive.
Mas diversa é a sua posição perante a Lei. En­quanto o primeiro é por ela canalizado à força pela du­ra mas salutar estrada do ressarcimento e, embora à força, é impelido para a frente com a técnica trifásica que explicamos no volume: A Técnica Funcional da Lei de Deus; o segundo, ao contrario, é secunda­do no seu esforço ascensional, pela Lei que o ajuda quando — apesar de querer — mais não sabe nem pode fazer.
Eis que compreendemos agora a razão que explica a aparente contradição entre as opostas verdades, problema que outrora nos parecia insolúvel. Porém tal contradição não só é explicável, mas tam­bém sanável. Isto é compreensível pelo fato de as nossas verdades humanas, assim como as nossas posições religiosas e morais, serem fases de transição, que sé colocam ao longo do caminho da evolução. Elas fa­zem parte de um processo de transformação cuja função é a de tornar sempre mais verdadeiro e atual na Terra, o ideal que no presente soa utopia. É com tal orientação que se compreende a verdade do Evan­gelho. Ele é uma ponte lançada pela vida em dire­ção ao futuro, ainda hoje em fase de tentativa de realização, contra o qual ainda resistem as leis bio­lógicas, num nível mais involuído, mas em relação ao qual, apesar de lentamente, vão cedendo, já in­troduzindo e assimilando o novo em suas entranhas. É por isso que as duas opostas verdades — a do Evangelho e a do mundo — poderão um dia coinci­dir. Eis aqui racionalmente reconhecida a função biológica de Cristo e da sua doutrina.
O nosso momento histórico esta todo empe­nhado no trabalho de destruir o velho. Mas sempre que se execute tal operação cirúrgica se corre o ris­co de matar o doente, enquanto o escopo dela deve ser o de curá-lo e fazê-lo viver ainda, pelo menos, o de salvar o salvável. A operação empreendida pela ciência materialista ficou pela metade parando na fase destrutiva. Mas ela há de ser levada a termo até o fundo, isto é, até a fase reconstrutiva, pois é esta a sua verdadeira finalidade.
Esta segunda parte que ainda não vemos realizada é aquela que tentamos, aqui, levar a cabo. E seu resultado final não será a demolição do Evan­gelho, mas a sua própria confirmação, não apenas em termos fideísticos como no passado, mas de ma­neira racional e positiva, como exige a mente moder­na se quisermos que do mesmo ela aceite a doutri­na. Tínhamos um Evangelho velho, não compreen­dido, cheio de superestruturas; um Cristo retórico e mitológico, fora da realidade, situado num mundo em que foi sumariamente liquidado e condenado sem se lhe compreenderem as leis e a função. Quisemos fa­zer do Evangelho algo atual, assimilado, um Cristo vivo, presente entre nós, situado na realidade de nosso mundo para levar o mesmo à frente e redimi-lo na forma necessária à  mente moderna e ao atual momento histórico.

*   *   *
Antes de abandonarmos este assunto quere­mos insistir no esclarecimento de um ponto que, pa­ra o homem habituado a um regime de luta, parece-nos o mais difícil de compreender. Trata-se de nos explicar como o perdão possa constituir uma técnica de defesa em vista da qual o indivíduo, que com este recurso aplica o Evangelho, não fique abandonado, como parece, nas mãos do ofensor. O ofendido, por sua vez, se pergunta: qual será, então, no sistema da Lei a minha arma de defesa? Respondemos que —embora possa isto parecer estranho — esta arma não é a força ou a astúcia, mas a retidão. Tratemos de compreender de que modo possa ser verdadeira tão estranha afirmação.
O universo, desde o plano físico ao espiritual, é um sistema orgânico, dirigido por um princípio de ordem que sempre melhor realizamos, quanto mais evoluímos. O evoluído — sendo mais avançado —se enxerta no aspecto orgânico do todo, deste seguin­do o princípio ordenador. Funciona, assim, dentro dele, conforme as normas da Lei, nesta inserido como o disciplinado elemento de um organismo. O involuído — sendo mais atrasado — se enxerta, pelo con­trário, no aspecto caótico do todo, seguindo o próprio impulso individual separatista, que representa o princípio oposto feito de revolta e de desordem. Assim, dentro do todo organicamente dirigido, funciona ele em posição anti-Lei (de independência e rebeldia), qual indisciplinado fomentador de desordem
Decorre disso que a posição do indivíduo no seio do mesmo universo é diferente conforme o nível em que vive, isto é, o do evoluído ou o do involuído. O primeiro existe em função do centro em torno ao qual gravita; o segundo se faz periférico, pretenden­do, contudo, ser o próprio centro. O primeiro é feito de harmonia, o segundo de contrastes, o primeiro é afirmativo, o segundo, contestador; o primeiro perso­nifica a aplicação da Lei, enquanto o segundo pre­tende sub-roga-la pelo seu próprio eu.
Da diversidade destas duas posições depen­de todo o resto, isto é, o método de vida, a técnica de defesa, o instrumento de que nos servimos. Na pri­meira posição o sujeito vive num campo de forças que se somam, porque convergem para a mesma di­reção; na segunda posição vive o mesmo num cam­po de forças que se elidem porque contrarias e se dispersam porque divergem em cada direção. Eis então que a arma que o involuído usa para se defen­der — sendo ele um rebelde anti-ordem — fica cir­cunscrita, e não vai além de seu âmbito pessoal. Não se colocou ele contra a Lei, negando-a? Pois bem, a Lei colocar-se-á contra ele, renegando-o. As­sim ela o repele, deixando-o só. O evoluído, pelo con­trario, aderiu à Lei. É lógico então que esta vá ao seu encontro. Assim ela o incorpora e o torna comparticipe de seus próprios recursos. Nem poderia ser de outro modo. Assim, quem segue o princípio do caos, em contraste com o próprio princípio de ordem, só poderá ser repelido e ficar isolado, abandonado a si próprio, no caos.
Eis porque é necessária a retidão, porque pode a mesma constituir uma arma de defesa para o hu­manamente indefeso que aplica o Evangelho e o princípio do perdão. Quem faz isto se insere na organicidade do todo e nela encontra a sua força e de­fesa. Só quem vive em sentido orgânico pode fruir de tais benefícios, os quais decorrem precisamente do fato de se observar uma justa regra de conduta, condição fundamental para poder pertencer àquele Organismo. Está aqui explicado porque o enqua­drar-se na ordem, pode constituir uma arma de defe­sa para sobreviver e para avançar. É esta uma arma muito mais poderosa do que as humanas, porque ela faz parte do organismo do Todo, do qual não pode dispor quem segue apenas a economia do mundo.
É necessário compreender que o homem evan­gélico, mesmo quando materialmente situado no AS, vive conforme o S, isto é, não em posição egocêntrica ou separatista, mas organicamente em função de todos os elementos do seu tipo, isto é, espiritualmente liga­do a uma coletividade de mais alto nível evolutivo, da qual ele faz parte. Nasce deste fato para o evo­luído uma condição de reciprocidade com a Lei, que, se o carrega de deveres que o involuído repele, en­che-o de direitos de que este último não goza. O ho­mem evangélico não vive isolado, mas em função do todo, e com isso ele é também um momento do todo, fato que a vida tem em conta. Assim ele goza da de­fesa que encontra quem pertence a uma coletivida­de, mesmo se, em troca, deve assumir desta os respec­tivos deveres.
Viver na organicidade do todo, tendo disso consciência, numa rede de intercâmbios sem atrito, compreender-se e fundir-se em comunhão com todos ou outros elementos para com eles colaborar, signifi­ca tornarem-se grandes e fortes como todo o organismo que assim se ajuda a construir e do qual se faz par­te. Então a nossa vida se dilata e se torna imensa porque ela é a do Todo e a do Todo é a nossa. Todas as barreiras do separatismo egocêntrico caíram, todos os canais de comunicação estão abertos e neles flui triunfante a vida. Tudo é luminoso, livre, lógico, convincente. Tal abertura é dada pelo amor que conduz à unificante colaboração. Então nenhu­ma criatura esta só, e sempre que haja necessidade, todas as outras, que com ela formam um só corpo acorrem para ajuda-la. Ninguém acorre, pelo con­trário, para ajudar o involuído anti-Lei, porque ele esta isolado e — devido ao seu egocentrismo — não existe amor, os canais estão fechados e não há cola­boração. O Evangelho defende a vida com o diver­so sistema do amor e do perdão, abatendo as barrei­ras e abrindo os canais.
Há uma forte razão para a Lei proteger o ho­mem evangélico que vive conforme a justiça. A von­tade que prevalece no funcionamento do universo e a de evoluir, e isso significa regressar a Deus, saindo do AS para entrar no S. A Lei personifica esta vonta­de e estimula para que ela se realize. Dirige-se en­tão para o involuído tratando-o com o chicote da dor e fazendo-lhe pagar seus próprios erros, para que aprenda e assim evolua. Dirige-se ao mesmo tempo para o evoluído ajudando-o a superar as dificulda­des, encorajando-o, assim, a subir mediante seus pró­prios esforços. A finalidade é sempre evoluir. No pri­meiro caso o estímulo é ao negativo, como reação e pressão, no segundo caso o estímulo se converte em convite e atração. Dessa forma, o involuído vê-se fa­talmente constrangido pela sua conduta anti-Lei, a precipitar-se na engrenagem dos ressarcimentos, san­ção da qual esta isento quem segue o sistema da re­tidão. O evoluído, pelo contrario, graças à  sua con­duta conforme a Lei, fica por esta secundado porque ele a ajuda no seu impulso fundamental que é de fa­zer evoluir.
O resultado pratico dessa técnica funcional da Lei está no fato de que, para a defesa e o bem do indivíduo, o fator retidão é importantíssimo, mesmo se em nosso mundo, lhe é atribuído um valor relativo apesar dela ser exaltada com palavras. Esta é a rea­lidade: quem se afirma mediante o sistema anti-Lei na conquista de bens materiais (poder, glória, praze­res etc.) trabalha em perda. Com efeito, enquanto julga estar tendo vantagem, faz o seu dano, enquanto julga estar ganhando se endivida perante a Lei pa­ra depois ter de responder perante a sua justiça. Al­cançar tais triunfos ao negativo porque não mereci­dos, significa ter de expiar depois, porque eles for­mam a base para destinos de sofrimento. Ao contrá­rio encontra-se em posição vantajosa — como credor perante a justiça — o indivíduo que, apesar de per­der os valores do mundo (riqueza, glória, prazeres etc.) trabalha conforme a Lei, mesmo que se por esse fato é incompreendido e desprezado.
Se o escopo fundamental do existir é evoluir, eis que tudo vale em relação a este fim supremo. Mas evoluir significa sair do separatismo do AS para voltar ao S, isto é, a Deus, mas em posição oposta à  do AS, isto é, em posição unificante. Trata-se de re­construir a unidade do Todo, pulverizado com a Queda, e de reconstruí-lo através da unificação dos ele­mentos dispersos no Caos, uma unidade após a outra, mas sempre maior. E a unificação é também or­ganização. Trata-se então de reconstruir toda a organicidade do S, por meio da construção de sistemas sempre mais complexos e mais vastos, até a perfei­ção do S. Trata-se, assim, de reconstruir — em con­traposição a todos os elementos anti-Lei feitos de de­sordem — a ordem total da Lei e isto por sucessivas etapas de reorganização, sempre mais profundas e extensas, até aquela perfeita que caracteriza a Lei.
Tudo isto já o divisamos, podendo reconhe­cer suas diversas fases de realização. Assim à fase caótica das formações galácticas vemos seguir-se a fase mais orgânica dos sistemas planetários. Na vi­da há um instinto de unificação que leva a organi­zar-se na ordem proporcionalmente ao maior grau de evolução. Alguns animais se unem em verdadeiras sociedades. O homem saiu da unidade familiar à do grupo, do castelo, da cidade, do partido político e re­ligioso, da nação, do povo, da raça, da humanida­de. Quanto mais se sabe, tanto mais estas unidades com o seu ampliar-se perdem consistência, porque são em formação: uma tentativa de construção ao longo do caminho da evolução. Mas se caminha pa­ra uma unificação sempre mais vasta, o que implica um ordenamento orgânico constitutivo de um siste­ma sempre mais complexo e completo, até ao máximo, o único, o perfeito: o S. Esta é a estrada da evo­lução, o caminho que leva a Deus. É sobre este ca­minho que nos coloca a economia do Evangelho.



Livro: Cristo: Pietro Ubaldi: tradutores Manoel Emygdio da Silva e Romano Galeffi


revista espírita histórica e filosófica: Revista Espírita Histórica e Filosófica nº 16

revista espírita histórica e filosófica: Revista Espírita Histórica e Filosófica nº 16: Olá, amigo leitor! Recolhemos mais um artigo do filósofo Humberto Schubert Coelho, agora tratando da relação entr...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Mensagem nº 16 de Natal - José Medrado e Severino Celestino

Revelação e Ciência

O homem poderá pelas investigações da ciência penetrar
alguns segredos da natureza?
- A ciência lhe foi dada para o seu adiantamento em todos os sentidos, mas ela
não pode ultrapassar os limites fixados por Deus.
(“O livro dos Espíritos”, questão nº10)
Sob a Terra, o homem vive em condições limitadas – Falta-lhe
ainda longo percurso para que, inclusive, utilize melhor a sua
condição cerebral.
O aperfeiçoamento do seu veículo de manifestação – O corpo
físico – Não lhe antecipará o aperfeiçoamento da personalidade.
Embora aparentemente adiante, o progresso tecnológico
permanece atrelado às luzes do espírito. Caso assim não fosse o
Homem já teria pelos artefatos bélicos, destruído a Terra um cem
número de vezes.
A procura da verdade é que induz o homem a caminhar; as suas
aflitivas inquirições concernentes à vida é o que o impulsiona na
caminhada, ambicionando a luz...
Não é tarefa da religião substituir o uso da ciência: Religião
induz a intuir, mas cabe à ciência definir... O místico, em êxtase,
aponta caminhos, no entanto o cientista deverá delineá-los...
Enquanto o homem não se pacificar, exercitando na tarefa da
introspecção, não terá os olhos para a verdade exterior. Desde que o
mundo é mundo a lei da gravitação é uma lei atraindo os corpos
para o centro gravitacional da Terra, todavia, num dado instante,
Isaac Newton a surpreendeu e a formulou teoricamente...
Nada está oculto; tudo salta aos olhos e à percepção de quem se
predispõe a sair do lugar comum e rastrear, propriamente a
verdade, a qual se espalha, homogênea, por todo o universo, como
se espalha as águas dos oceanos.
Os grandes investigadores – aqueles que descortinaram caminhos
à ciência, eram, sobretudo, místicos, - os filósofos pré-socráticos,
Pitágoras, Platão...
Infelizmente, na atualidade, a vida imediatista do homem não
lhe permite desviar os olhos das lentes de um microscópio para
dentro de si, onde a luz da sabedoria Divina se reflete.
Recomendou o Cristo que, em primeiro lugar, procurássemos o
reino de Deus e sua justiça, que as demais coisas nos seriam dadas
por acréscimo. Entendamos acréscimo por conseqüência natural...
A evolução obedece a um encadeamento – escala em espiral que
nos compete escalar em todos os estágios.
Cogitemos da nossa própria verdade interior, conhecendo-nos
com maior segurança, e, com certeza, a Verdade última sobre todas
as coisas não nos parecerá assim tão distante.
Sobretudo, para as revelações de caráter mais transcendente,
saibamos que o vocabulário humano ainda é demasiadamente
pobre. Não existirão, por longo e longo tempo, em todos os idiomas,
termos que exprimem com clareza o que se passa nos domínios da
intuição e do sentimento.
Se sequer possuímos palavras suficientes para com as quais
possamos nos entender acerca da verdade, como, por agora,
cogitarmos de unidade de pensamento.
 Livro: Se teus olhos forem bons
Espírito: Irmão José: Médium Carlos A Baccelli
Repassando...