segunda-feira, 28 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
sábado, 5 de abril de 2014
A Vontade e os Fluidos
A Vontade e os Fluidos
Os ensinos que dos Espíritos recebemos a respeito de suas
condições depois da morte fazem-nos melhor compreender as regras segundo as
quais se transforma e progride o períspirito ou corpo fluídico.
Assim, como já em outra parte indicamos,[i] a mesma força que leva o
ser, em sua evolução através dos séculos, a criar, para as suas necessidades e
tendências, os órgãos precisos ao seu desenvolvimento, por uma ação análoga e
paralela, também o incita a aperfeiçoar suas faculdades, a criar para si novos
meios de manifestar-se, apropriados a seu estado fluídico, intelectual e moral.
O invólucro fluídico do ser depura-se, ilumina-se ou
obscurece-se, segundo a natureza elevada ou grosseira dos pensamentos em si
refletidos. Qualquer ato, qualquer pensamento repercute e grava-se no períspirito.
Daí as consequências inevitáveis para a situação da própria alma, embora esta
seja sempre senhora de modificar o seu estado pela ação contínua que exerce
sobre seu invólucro.
A vontade é a faculdade soberana da alma, a força
espiritual por excelência, e pode mesmo dizer-se que é a essência da sua
personalidade. Seu poder sobre os fluidos é acrescido com a elevação do
Espírito. No meio terrestre, seus efeitos sobre a matéria são limitados, porque
o homem se ignora e não sabe utilizar-se das forças que estão em si; porém, nos
mundos mais adiantados, o ser humano, que já tem aprendido a querer, impera
sobre a natureza inteira, dirige facilmente os fluidos, produz fenômenos,
metamorfoses que vão até ao prodígio. No espaço e nesses mundos a matéria
apresenta-se sob estados fluídicos de que apenas podemos ter uma ideia vaga.
Assim como na Terra certas combinações químicas se produzem unicamente sob a
influência da luz, assim também, nesses meios, os fluidos não se unem nem se
ligam senão por um ato da vontade dos seres superiores.
Entretanto, a ação da vontade sobre a matéria entrou no
domínio da experiência científica graças ao estudo dos fenômenos magnéticos,
feito por numerosos fisiologistas sob as denominações de hipnotismo e de
sugestão mental. Já se têm visto experimentadores, por um ato direto da
vontade, fazerem aparecer chagas e estigmas sobre o corpo de certos indivíduos,
fazerem daí correr sangue ou humores e, em seguida, operarem o curativo por uma
volição contrária. Assim, a vontade humana destrói e repara a bel-prazer os
tecidos vivos; pode também modificar as substâncias materiais a ponto de
comunicar-lhes propriedades novas, provocando a ebriedade com água simples,
etc. Atua mesmo sobre os fluidos e cria objetos, corpos, que os hipnotizados veem,
sentem e tocam e que, para eles, têm uma existência positiva e obedecem a todas
as leis da óptica. É isso o que resulta das pesquisas e dos trabalhos dos Drs.
Charcot, Dumontpeilier, Liébault, Bernheim, dos professores Liégeois,
Delbffiuf, etc., cujas demonstrações podem ser lidas em todas as revistas
médicas.
Ora, se a vontade exerce tal influência sobre a matéria
bruta e sobre os fluidos rudimentares, tanto melhor se compreenderá seu império
sobre o períspirito e os progressos ou as desordens que nele determina, segundo
a natureza de sua ação, tanto no curso da vida como após a desencarnação.
Todo ato da vontade, já o dissemos, reveste uma forma, uma
aparência fluídica, que se grava no invólucro períspirito. Torna-se evidente
que, se esses atos fossem inspirados por paixões materiais, sua forma seria
material e grosseira. As moléculas Perispirituais, impregnadas, saturadas
dessas formas, dessas imagens, materializam-se a seu contato, espessam-se cada
vez mais, aproximam-se, condensam-se. Desde que as mesmas causas se reproduzam,
os mesmos efeitos acumulam-se, a condensação acelera-se, os sentidos
enfraquecem-se e atrofiam-se, as vibrações diminuem de força e reduzem-se. Por
ocasião da morte acha-se o Espírito envolvido por fluidos opacos e pesados que
não mais deixam passar as impressões do mundo exterior e tornam-se para a alma
uma prisão e um túmulo. Esse é o castigo preparado pelo próprio Espírito; essa
situação é obra sua e somente cessa quando aspirações mais elevadas, o
arrependimento e a vontade de melhorar, vêm romper a cadeia material que o
enjaula.
Efetivamente, se as paixões baixas e materiais perturbam,
obscurecem o organismo fluídico, os pensamentos generosos, em um sentido
oposto, as ações nobres apuram e dilatam as moléculas perispiríticas. Sabemos
que as propriedades da matéria aumentam com seu grau de pureza. As experiências
de William Crookes demonstraram que a rarefação dos átomos produz o estado
radiante. A matéria, sob esse aspecto sutil, inflama-se, torna-se luminosa,
imponderável. O mesmo sucede com a substância perispiritual, pois esta é ainda
matéria, porém em grau mais quintessenciado. Rarefazendo-se, ganha sutileza e
sensibilidade; seu poder de irradiação e sua energia aumentam proporcionalmente
e permitem-lhe que escape às atrações terrestres. O Espírito adquire, então,
sentidos novos, com cujo auxílio poderá penetrar em meios mais puros,
comunicar-se com seres mais etéreos. Essas faculdades, esses sentidos, que
franqueiam o acesso das regiões felizes, podem ser conquistados e desenvolvidos
por qualquer alma humana, visto todas possuírem os seus germes imperecíveis. As
nossas vidas sucessivas, cheias de trabalhos e de esforços, têm por alvo fazer
desabrochar em nós essas faculdades. Já neste mundo as vemos despontar em
certos indivíduos que, por seu intermédio, entram em relações com o mundo
oculto. Os médiuns em geral estão neste caso. Sem dúvida, o seu número
aumentará com o progresso moral e a difusão da verdade. Pode-se prever que, um
dia, a grande maioria dos entes humanos será apta a receber diretamente os
ensinos desses seres invisíveis cuja existência ainda ontem negava.
Essa evolução paralela entre a matéria e o Espírito, pela
qual o ser conquista seus órgãos e suas faculdades, pela qual se constrói a si
mesmo e se aperfeiçoa sem cessar, mostra-nos ainda a solidariedade que liga as
forças universais, o mundo das almas e o mundo dos corpos. Mostra-nos
principalmente riquezas, inesgotáveis recursos que o ser pode criar por um uso
metódico e perseverante da vontade, pois esta é a força suprema, é a própria
alma exercendo seu império sobre as potências inferiores.
Para regular o nosso adiantamento, preparar o nosso
futuro, fortificarmo-nos ou nos rebaixarmos, é bastante fazer uso da vontade.
Não há acaso nem fatalidade, mas, sim, forças e leis. Utilizar, governar umas,
observar outras, eis o segredo de toda a grandeza e elevação. Os resultados
produzidos entre nós pela vontade perturbam a imaginação dos mundanos e
provocam a admiração dos sábios.[ii] Tudo isso é, entretanto,
pouca coisa ao lado dos efeitos obtidos nesses meios superiores em que, por
determinação do Espírito, todas as forças se combinam e entram em ação. E se,
nessa ordem de ideias, elevássemos ainda mais o nosso pensamento, não
chegaríamos, por analogia, a entrever como a vontade divina, atuando sobre a
matéria cósmica, pode formar sóis, traçar as órbitas do mundo, criar os
universos?
Sim, tudo pode a vontade exercida no sentido do bem e de acordo
com as leis naturais. Muito também pode para o mal. Nossos maus pensamentos,
nossos desejos impuros e nossos atos culpáveis corrompem, por neles se refletirem
os fluidos que nos rodeiam, e o contato destes produz mal-estar e impressões
desagradáveis nas pessoas que de nós se aproximam, pois todo organismo sofre a
influência dos fluidos ambientes. Do mesmo modo, sentimentos de ordem elevada,
pensamentos de amor e exortações calorosas vão penetrar os seres que nos
cercam, sustentá-los e vivificá-los. Assim se explica o império exercido sobre
as multidões pelos grandes missionários e pelas almas eminentes. Embora os maus
também assim possam exercer a sua influência funesta, podemos sempre conjurar
esta última por volições em sentido inverso e através de resistência enérgica
da nossa vontade.
Um conhecimento mais completo das potências da alma e da
sua aplicação deverá modificar totalmente as nossas tendências e os nossos
atos. Sabendo que todos os fatos da nossa vida se inscrevem conosco,
testemunham pró ou contra nós, dirigiremos a cada um deles uma atenção mais
escrupulosa. Esforçar-nos-emos, desde então, por desenvolver os nossos recursos
latentes e por agir por nosso intermédio sobre os fluidos espalhados no espaço,
de modo a depurá-los, transformá-los para o bem de todos e criar em torno de
nós uma atmosfera límpida e pura, inacessível aos fluidos viciados. O Espírito
que não age, que se deixa levar pelas influências materiais, fica débil e
incapaz de perceber as sensações delicadas da vida espiritual. Acha-se em uma
inércia completa depois da morte; as perspectivas do espaço não oferecem a seus
sentidos velados senão a obscuridade e o vácuo. O Espírito ativo, preocupado em
exercer suas faculdades por um uso constante, adquire forças novas; sua vista
abrange horizontes mais vastos e o círculo de suas relações alarga-se
gradualmente.
O pensamento, utilizado como força magnética, poderia reparar
inúmeras desordens, destruir muitas chagas sociais. Projetando, resoluta e
freqüentemente, nossa vontade sobre os perversos, sobre os desgarrados,
poderíamos consolar, convencer, aliviar e curar. Por esse exercício
obter-se-iam não só resultados extraordinários para o melhoramento da espécie,
mas também se poderia dar ao pensamento uma acuidade, uma força de penetração
incalculáveis.
Graças a uma combinação íntima dos bons fluidos, sorvidos
no reservatório ilimitado da Natureza, consegue-se, com a assistência dos
Espíritos invisíveis, restabelecer a saúde comprometida, restituir a esperança
e a energia dos desesperados. Pode-se mesmo, por um impulso regular e
perseverante da vontade, agir a distância sobre os incrédulos, sobre os céticos e sobre os maus, abalar a sua obstinação, atenuar seu ódio, fazer
penetrar um raio de verdade no entendimento dos mais hostis. Eis aí uma forma
ignorada da sugestão mental, dessa potência invisível de que se servem a torto
e a direito, mas que, utilizada no sentido do bem, transformaria o estado moral
das sociedades.
A vontade, exercendo-se fluidicamente, desafia toda
vigilância e todas as opressões. Opera na sombra e no silêncio, franqueia todos
os obstáculos, penetra todos os meios. Mas, para que produza efeitos totais, é
mister uma ação enérgica, poderosos impulsos, uma paciência que não esmoreça.
Assim como uma gota d'água cava lentamente a mais dura pedra, assim também um
pensamento incessante e generoso acaba por se insinuar no espírito mais refratário.
A vontade insulada pode muito para o bem dos homens, mas
que não seria de esperar de uma associação de pensamentos elevados, de um
agrupamento de todas as vontades livres? As forças intelectuais, hoje
divergentes, esterilizam-se e anulam-se reciprocamente. Daí vêm a perturbação e
a incoerência das ideias modernas; mas, desde que o Espírito humano,
reconhecendo sua força, agrupe as vontades esparsas em um feixe comum a fim de
convergi-las para o Bem, o Belo e o Verdadeiro, nesse dia a Humanidade avançará
ousadamente para as culminâncias eternas, e a face do mundo será renovada!
Repassando
Léon Denis
Depois da Morte
Traduzido do Francês
Léon Denis - Après la
Mort
Assinar:
Postagens (Atom)