quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Mensagem espírita "Regras de Saúde" André Luiz - Chico Xavier

O Grande Enigma


  Deus e oUniverso...

Há uma finalidade, há uma Lei no Universo? Ou esse Universo é apenas um abismo no qual o pensamento se perde por falta de ponto de apoio, em que gire sobre si mesmo, igual à folha morta ao influxo do vento?
Existe uma força, uma esperança, uma certeza que nos possa elevar acima de nós mesmos a um fim superior, a um princípio, a um Ser em que se identifiquem o bem, a verdade, a sabedoria? Ou terá havido em nós e em redor de nós apenas dúvida, incerteza e trevas?
O homem, o pensador, sonda com o olhar a vasta extensão; interroga as profundezas do céu; procura a solução desses grandes problemas: o problema do mundo, o problema da vida. Considera esse majestoso Universo, no qual se sente como que mergulhado; acompanha com os olhos a carreira dos gigantes do Espaço, sóis da noite, focos terríficos cuja luz percorre as imensidades taciturnas; interroga esses astros, esses mundos inumeráveis, mas estes passam mudos, prosseguindo em seu rumo, para um fim que ninguém conhece. Silêncio esmagador paira sobre o abismo, envolve o homem, torna esse Universo mais solene ainda.[i]
Duas coisas, no entanto, nos aparecem à primeira vista no Universo: a matéria e o movimento, a substância e a força. Os mundos são formados de matéria e essa matéria, inerte por si mesma, se move. Quem, pois, a faz mover-se? Qual é essa força que a anima? Primeiro problema. Mas o homem, do infinito, chama sobre si mesmo sua atenção. Essa matéria e essa força universais ele encontra em si mesmo e, com elas, um terceiro elemento, com o qual conheceu, viu e mediu os outros: a Inteligência.
Entretanto, a inteligência humana não é, por si só, sua própria causa. Se o homem fosse sua própria causa, poderia manter e conservar o poder da vida que está em si; mas, em verdade, esse poder, sujeito a variações, a desfalecimentos, excede à vontade humana.
* * *
Se a inteligência existe no homem, deve encontrar-se nesse Universo de que faz parte integrante. O que existe na parte deve encontrar-se no todo.
A matéria não é mais que a vestimenta, a forma sensível e mutável, revestida pela vida; um cadáver não pensa, nem se move. A força é um simples agente destinado a entreter as forças vitais. É, pois, a inteligência que governa os mundos.
Essa inteligência se manifesta por leis sábias e profundas, ordenadoras e conservadoras do Universo.
Todas as pesquisas, todos os trabalhos da ciência contemporânea, concorrem para demonstrar a ação das leis naturais, que uma Lei suprema liga, abraça, para constituir a universal harmonia. Por essa lei, uma Inteligência soberana se revela à razão mesma das coisas, Razão consciente, Unidade universal para onde convergem, ligando-se e fundindo-se, todas as relações, aonde todos os seres vêm haurir a força, a luz e a vida; Ser absoluto e perfeito, fundamente imutável e fonte eterna de toda a ciência, de toda a verdade, de toda a sabedoria, de todo o amor.
* * *
Algumas objeções são, no entanto, de prever. Pode-se dizer, por exemplo: as teorias sobre a matéria, sobre a força, sobre a inteligência, tais as que formulavam outrora as escolas científicas e filosóficas, tiveram o seu tempo. Novas concepções as substituem. A física atual nos demonstra que a matéria se dissocia pela análise, se resolve em centros de forças, e que a força se reabsorve no éter universal.
Sim, certamente, os sistemas envelhecem e passam; as fórmulas gastam-se; mas a idéia eterna reaparece sob formas cada vez mais novas e mais ricas. Materialismo e espiritualismo são aspectos transitórios do conhecimento. Nem a Matéria, nem o Espírito são o que deles pensavam as escolas de outrora, e talvez a matéria, o pensamento e a vida estejam ligados por laços estreitos, que começamos a entrever.
Certos fatos, no entanto, subsistem e outros problemas se impõem. A matéria e a força se reabsorvem no éter; mas, que é o éter? É, diz-nos, a matéria-prima, o substrato definitivo de todos os movimentos. O próprio éter é atravessado por movimentos inumeráveis: radiações luminosas e caloríficas, correntes de eletricidade e de magnetismo. Ora, é perfeitamente necessário que esses movimentos sejam regulados de certa maneira.
A força gera o movimento, mas a força não é a lei. Cega e sem guia, ela não poderia produzir a ordem e a harmonia no Universo. Estas são, no entanto, manifestas. No cimo da escala das forças aparece a energia mental, a vontade que constrói as fórmulas e fixa as leis.[ii]
A inércia, dir-nos-ão, ainda é relativa, visto que a matéria é energia concentrada. Na realidade, todas as partes constitutivas de um corpo se movem. Entretanto, a energia armazenada nesses corpos só pode entrar em potência de ação quando a matéria componente é dissociada. Não é o caso dos planetas, cujos elementos representam a matéria em seu último grau de concreção. Seus movimentos não se podem explicar por uma força interna, mas somente pela intervenção de uma energia exterior.
– “A inércia – diz G. Le Bon [iii] – é a resistência de causa desconhecida, que os corpos opõem ao movimento ou mudança de movimento. Ela é suscetível de medida que se define pelo termo massa. A massa é, pois, a medida da inércia da matéria, seu coeficiente de resistência ao movimento.”
Desde Pitágoras até Claude Bernard, todos os pensadores afirmam que a matéria é desprovida de espontaneidade. Toda tentativa de emprestar à substancia inerte uma espontaneidade – capaz de organizar e de explicar a força – tem sido em vão.
É preciso, pois, aceitar a necessidade de um primeiro motor transcendente para explicar o sistema do mundo. A mecânica celeste não se explica por si mesma, e a existência de um motor inicial se impõe. A nebulosa primitiva, mãe do Sol e dos planetas, era animada de um movimento giratório. Mas quem lhe imprimira esse movimento? Respondemos sem hesitar: Deus.[iv]
* * *
É somente a ciência contemporânea que nos revela Deus, o Ser Universal? O homem interroga a história da Terra; evoca a memória das multidões mortas, das gerações que repousam sob a poeira dos séculos; interroga a fé crédula dos simples e a fé raciocinada dos sábios; e, por toda parte, acima das opiniões contraditórias e das polêmicas das escolas, acima das rivalidades de casta, de interesses e de paixões, ele vê os transportes, as aspirações do pensamento humano para a Causa que vela, augusta e silenciosa, sob o véu misterioso das coisas.
Em todos os tempos e em todos os meios a queixa humana sobe para esse Espírito divino, para essa Alma do mundo que se honra sob nomes diversos, mas que, sob tantas denominações –  Providência, grande Arquiteto, Ser supremo, Pai celeste –, é sempre o Centro, a Lei, a Razão universal, em que o mundo se conhece, se possui, encontra sua consciência e seu eu.
E é assim que, acima desse incessante fluxo e refluxo de elementos passageiros e mutáveis, acima dessa variedade, dessa diversidade infinita dos seres e das coisas que constituem o domínio da Natureza e da Vida, o pensamento encontra no Universo esse princípio fixo, imutável, essa Unidade consciente em que se unem a essência e a substância, fonte primeira de todas as consciências e de todas as formas, visto que consciência e forma, essência e substância, não podem existir uma sem a outra. Elas se unem para constituir essa Unidade viva, esse Ser absoluto e necessário, fonte de todos os seres, ao qual chamamos Deus.
A linguagem humana é, entretanto, impotente para exprimir a idéia do Ser infinito. Desde que nos servimos de nomes e de termos, limitamos o que é sem limites. Todas as definições são insuficientes e, de certo modo, induzem o erro. Entretanto, o pensamento para se exprimir precisa de termo. O menos afastado da realidade é aquele pelo qual os padres do Egito designavam Deus: Eu sou, isto é, eu sou o Ser por excelência, absoluto, eterno, e do qual emanam todos os seres.
* * *
Um mal-entendido secular divide as escolas filosóficas quanto a estas questões. O materialismo via no Universo somente a substância e a força. Parecia ignorar os estados quintessenciados, as transformações infinitas da matéria. O espiritualismo vê em Deus só o princípio espiritual e não considera imaterial tudo o que não cai sob os nossos sentidos. Ambos se enganam. O mal-entendido que os separa cessará quando os materialistas virem em seu princípio e os espiritualistas em seu Deus a fonte dos três elementos: substância, força, inteligência, cuja união constitui a vida universal.
Por isso, basta compreender duas coisas: se se admite que a substância esteja fora de Deus, Deus não é infinito, e, pois que a consciência existe no mundo atual, é preciso evidentemente que ela se encontre naquilo que tem sido o Princípio do mundo.
Mas a Ciência, depois de se haver retardado durante meio século nos desertos do materialismo e do positivismo, depois de ter reconhecido a esterilidade deles, a ciência atual modificou a sua orientação. Em todos os domínios: física, química, biologia, psicologia, ela se encaminha hoje, a passo decidido, para essa grande unidade que se entrevê no fundo de tudo. Por toda parte ela reconhece a unidade de forças, a unidade de leis. Atrás de toda substância em movimento encontra-se a força, e a força não é senão a projeção do pensamento, da vontade na substância. A eterna criação, a eterna renovação dos seres e das coisas é tão-somente a projeção constante do pensamento divino no Universo.
Pouco a pouco, o véu se levanta; o homem começa a entrever a evolução grandiosa da vida na superfície dos mundos. Ele vê a correlação das forças e a adaptação das formas e dos órgãos em todos os meios; sabe que a vida se desenvolve, se transforma e se apura à medida que percorre sua espiral imensa; compreende que tudo está regulado visando a um fim, que é o aperfeiçoamento contínuo do ser e o crescimento nele da soma do bem e do belo. Mesmo neste mundo, ele pode seguir essa lei majestosa do progresso, através de todo o lento trabalho da Natureza, desde as formas ínfimas do ser, desde a célula verde flutuando no seio das águas, até o homem consciente no qual a unidade da vida se afirma, e acima dele, de grau em grau, até o infinito. E essa ascensão só se compreende, só se explica pela existência de um princípio universal, de uma energia incessante, eterna, que penetra toda a Natureza; é ela quem regula e estimula essa evolução colossal dos seres e dos mundos para o melhor, para o bem.
Deus, tal qual o concebemos, não é, pois, o Deus do panteísmo oriental, que se confunde com o Universo, nem o Deus antropomorfo, monarca do céu, exterior ao mundo, de que nos falam as religiões do Ocidente. Deus é manifestado pelo Universo – do qual é a representação sensível –, mas não se confunde com este. De igual maneira que em nós a unidade consciente, a Alma, o eu, persiste no meio das modificações incessantes da matéria corporal, assim, no meio das transformações do Universo e da incessante renovação de suas partes, subsiste o Ser que é a Alma, a consciência, o eu que o anima e lhe comunica o movimento e a vida.
E esse grande Ser, absoluto, eterno, que conhece as nossas necessidades, ouve o nosso apelo, nossas preces, que é sensível às nossas dores, é qual o imenso foco em que todos os seres, pela comunhão do pensamento e do sentimento, vêm haurir forças, o socorro, as inspirações necessárias para guiá-los na senda do destino, sustê-los em suas lutas, consolá-los em suas misérias, levantá-los em seus desfalecimentos e em suas quedas.
* * *
Não procures Deus nos templos de pedra e de mármore, ó homem que o queres conhecer, e sim no templo eterno da Natureza, no espetáculo dos mundos a percorrer o Infinito, nos esplendores da vida que se expande em sua superfície, na vista dos horizontes variados: planícies, vales, montanhas e mares que a tua morada terrestre te oferece. Por toda parte, à luz brilhante do dia ou sob o manto constelado das noites, à margem dos oceanos tumultuosos, e assim na solidão das florestas, se te sabes recolher, ouvirás as vozes da Natureza e os sutis ensinamentos que murmuram ao ouvido daqueles que freqüentam suas solidões e estudam seus mistérios.
A Terra voga sem ruído na extensão. Essa massa de dez mil léguas de circuito desliza sobre as ondas do éter qual um pássaro no Espaço, qual um mosquito na luz. Nada denuncia sua marcha imponente. Nenhum ranger de rodas, nenhum murmúrio de vagas sob seus flancos. Silenciosa, ela passa, rola entre suas irmãs do céu. Toda a potente máquina do Universo se agita; os milhões de sóis e de mundos que a compõem, mundos perto dos qual o nosso vale por uma criança, todos se deslocam, se entrecruzam, prosseguem suas evoluções com velocidades aterradoras, sem que som algum ou qualquer choque venha trair a ação desse gigantesco aparelho. O Universo continua calmo. É o equilíbrio absoluto; é a majestade de um poder misterioso, de uma Inteligência que não se impõe, que se esconde no seio das coisas, e cuja presença se revela ao pensamento e ao coração, e que atrai o pesquisador qual a vertigem do abismo.
Se a Terra evolucionasse com estrondo, se o mecanismo do mundo se regulasse com fracasso, os homens, aterrorizados, curvar-se-iam e creriam. Mas, não! A obra formidável se executa sem esforço. Globos e sóis flutuam no Infinito, tão livres quanto plumas sob a brisa. Avante, sempre avante! O rondar das esferas se efetua guiado por uma potência invisível.
A vontade que dirige o Universo se disfarça a todos os olhares. As coisas estão dispostas de maneira que ninguém é obrigado a lhes dar crédito. Se a ordem e a harmonia do Cosmos não bastam para convencer o homem, este é livre no conjeturar. Nada constrange o céptico para ir a Deus.
O mesmo acontece às coisas morais. Nossas existências se desenrolam e os acontecimentos se sucedem sem ligação aparente; mas, a imanente justiça domina ao alto e regula nossos destinos segundo um princípio imutável, pelo qual tudo se encadeia em uma série de causas e de efeitos. Seu conjunto constitui uma harmonia que o espírito emancipado de preconceitos, iluminado por um raio da Sabedoria, descobre e admira. Que nós sabemos do Universo? Nossa vista só percebe um conjunto restrito do império das coisas. Somente os corpos materiais, à nossa semelhança, a afetam. A matéria sutil e difusa nos escapa.[v] Vemos o que há de mais grosseiro, em tudo que nos cerca. Todos os mundos fluídicos, todos os círculos onde a vida superior se agita, a vida radiosa, se eclipsam aos olhos humanos. Distinguimos apenas os mundos opacos e pesados que se movem nos céus. O Espaço que os separa nos parece vazio. Por toda parte, profundos abismos parecem abrir-se. Erro! O Universo está cheio. Entre essas moradas materiais, no intervalo desses mundos planetários, prisões ou presídios flutuam no Espaço, outros domínios da Vida se estendem, vida espiritual, vida gloriosa, que nossos sentidos espessos não podem perceber porque, sob suas radiações, quebraria qual se rompe o vidro ao choque de uma pedra.
A sábia Natureza limitou nossas percepções e nossas sensações. É degrau a degrau que ela nos conduz no caminho do saber. É lentamente, trecho por trecho, vidas depois de vidas, que ela nos leva ao conhecimento do Universo, seja visível, seja oculto. O ser sobe, um a um, os degraus da escadaria gigantesca que conduz a Deus. E cada um desses degraus representa para o ser uma longa série de séculos.
Se os mundos celestes nos aparecessem de repente, sem véus, em toda a sua glória, ficaríamos aturdidos, cegos. Mas, nossos sentidos exteriores foram medidos e limitados. Eles avultam e se apuram à medida que o ser se eleva na escala da existência e dos aperfeiçoamentos. O mesmo se dá com o conhecimento, a possessão das leis morais. O Universo se desvenda aos nossos olhos à proporção que a nossa capacidade de compreender as suas leis se desenvolve e engrandece. Lenta é a incubação das Almas sob a luz divina.
* * *
É a ti, ó Potência Suprema! Qualquer que seja o nome que te dêem e por mais imperfeitamente que sejas compreendida; é a ti, fonte eterna da vida, da beleza, da harmonia, que se elevam nossas aspirações, nossa confiança, nosso amor.
Onde estás, em que céus profundos, misteriosos, tu te escondes? Quantas Almas acreditaram que bastaria, para te encontrar, o deixar a Terra! Mas tu te conservas invisível no mundo espiritual, quanto no mundo terrestre, invisível para aqueles que não adquiriram ainda a pureza suficiente para refletir teus divinos raios.
Tudo revela e manifesta, no entanto, tua presença. Tudo quanto na Natureza e na Humanidade canta e celebra o amor, a beleza, a perfeição, tudo que vive e respira é mensagem de Deus. As forças grandiosas que animam o Universo proclamam a realidade da Inteligência divina; ao lado delas, a majestade de Deus se manifesta na História, pela ação das grandes Almas que, semelhantes a vagas imensas, trazem às plagas terrestres todas as potências da obra de sabedoria e de amor.
E Deus está, assim, em cada um de nós, no templo vivo da consciência. É aquele o lugar sagrado, o santuário em que se encontra a divina centelha.
Homens! Aprendei a imergir em vós mesmos, a esquadrinhar os mais íntimos recônditos do vosso ser; interrogai-vos no silêncio e no retiro. E aprendereis a reconhecer-vos, a conhecer o poder escondido em vós. É ele que leva e faz resplandecer no fundo de vossas consciências as santas imagens do bem, da verdade, da justiça, e é honrando essas imagens divinas, rendendo-lhes um culto diário, que essa consciência, ainda obscura, se purifica e se ilumina.
Pouco a pouco, a luz se engrandece em nós outros. De igual modo que gradualmente, de maneira insensível, as sombras dão lugar à luz do dia, assim a Alma se ilumina das irradiações desse foco que reside nela e faz desabrochar, em nosso pensamento e em nosso coração, formas sempre novas, sempre inesgotáveis de verdade e de beleza. E essa luz é também harmonia penetrante, voz que canta na alma do poeta, do escritor, do profeta, e os inspira e lhes dita as grandes e fortes obras, nas quais eles trabalham para elevação da Humanidade. Mas, sentem essas coisas apenas aqueles que, tendo dominado a matéria, se tornaram dignos dessa comunhão sublime, por esforços seculares, aqueles cujo senso íntimo se abriu às impressões profundas e conhece o sopro potente que atiça os clarões do gênio, sopro que passa pelas frontes pensativas e faz estremecer os envoltórios humanos.
Léon Denis: O Grande Enigma



[i]    Esse silêncio é relativo e provém unicamente da imperfeição dos nossos sentidos.
[ii]    G. Le Bon, apesar de suas reticências (A Evolução da matéria, p. 275), é obrigado a reconhecê-lo: “Todas estas operações tão precisas, tão admiravelmente adaptadas a um fim, são dirigidas por forças que se conduzem exatamente como se possuíssem uma clarividência muito superior à razão. O que elas executam a cada instante está muito acima de tudo quanto a ciência mais adiantada pode realizar.”
[iii]   Revue Scientifique, 17 de outubro de 1903.
[iv]   Vide nota complementar nº 1, no fim do livro.
[v]    Atualmente não conhecemos, nem podemos conhecer, em sua essência, nem o Espírito nem a Matéria.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ESTUDE E VIVA


                                              




 


ESTUDE E VIVA
Valorizamos o ágape comum, em que se debatem assuntos corriqueiros de vivência
humana.
Como desinteressar-nos dos encontros espíritas, nos quais se ventilam questões
fundamentais da vida eterna?
A reunião espírita não é um culto estanque de crença embalsamada em legendas
tradicionalistas. Define-se como sendo assembléia de fraternidade ativa, procurando na fé
raciocinada a explicação lógica aos problemas da vida, do ser e do destino.
Todos somos chamados a participar dela.
Falar e ouvir.
Ensinar e aprender
***
Estamos defrontados no Espiritismo por uma tarefa urgente: desentranhar o
pensamento vivo de Allan Kardec dos princípios que lhe constituem a codificação
doutrinária, tanto quanto ele, Kardec, buscou desentranhar o pensamento vivo do Cristo
dos ensinamentos contidos no Evangelho.
***
Capacitemo-nos de que o estudo reclama esforço de equipe. E a vida em equipe é
disciplina produtiva, com esquecimento de nós mesmos, em favor de todos.
Destacar a obra e olvidar-nos.
Compreender que a realização e educação solicitam entendimento e apoio mútuo.
Associarmo-nos sem a pretensão de comando.
Aceitar as opiniões claramente melhores que as nossas; resignarmo-nos a não ser
pessoa providencial.
Em hipótese alguma, admitir-nos num conjunto de heróis e sim num agrupamento
de criaturas humanas,em que a experiências difíceis podem ocorrer a qualquer momento.
Nunca menosprezar os outros, por maiores as complicações que apresentem. Por outro
lado, aceitar com sinceridade e bom-humor as críticas que outros nos enderecem.
Esquecer as velhas teclas da maldição aos perversos, da sociedade corrompida, da
humanidade a caminho do abismo ou do tudo deve ser feito como os guias determinaram.
Não subestimar o perigo do mal, todavia, procurar o bem acima de tudo e favorecer-lhe a
influência; não ignorar os erros da coletividade terrestre, mas identificar-lhe o benefícios e
auxiliá-la no aperfeiçoamento preciso; não cerrar os olhos aos enganos da Humanidade,
contudo, reconhecer que o progresso é lei e colaborar com o progresso, em todas as
circunstâncias; não fugir ao agradecimento devido aos benfeitores e amigos
desencarnados, entretanto, não abdicar do raciocínio próprio e nem desertar da
responsabilidade pessoal a pretexto de humildade e gratidão para com eles.
***
Somos trazidos à escola espírita, a fim de auxiliarmos e sermos auxiliado, na
permuta de experiências e aquisição de conhecimento.
Este livro é uma demonstração disso. Encontro informal entre companheiros
encarnados e desencarnados, em torno da obra libertadora de Allan Kardec.
Explanações, definições, idéias e comentários. Em suma, convite sintético ao estudo.
Estudar para aprender. Aprender para trabalhar. Trabalhar para servir sempre mais.
Estude e viva.
Pense no valor de sua cooperação na melhoria e no engrandecimento da equipe de
que participa, esteja ela constituída no templo doutrinário ou em seu culto doméstico de
elevação espiritual.
Não esquecer que o seu auxílio ao grupo deve ser tão substancial e tão importante
quanto o auxílio que o grupo está prestando a você.
André Luiz
Uberaba, 11 de fevereiro de 1965.
(Página recebida pelo médium Waldo Vieira.)
O consolador...
Fonte: www.autoresespiritasclassicos.com
Caro amigo.:
Se você gostou do livro e tem condições de comprá-lo faça-o pois assim estarás
ajudando a diversas instituições de caridade, que é para onde são destinados os
direitos autorais desta obra...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

COMO ACABARÁ O MUNDO?





 Apresentação do Site:

O Site vem Homenagear este Grande Paladino do Espiritismo mostrando a sua faceta do grande Astrônomo e do grande Cientista. Trazendo uma obra rara de 1897 sobre questões de Astronomia. E que ainda suas teses são aceitas na Comunidade Científica.



Camille Flammarion

O Explorador e Revelador dos Céus

Nascido em Montigny- Le-Roy, França, no dia 26 de fevereiro de 1842, e desencarnado em Juvisy no mesmo país, a 4 de junho de 1925.

Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século XIX. Ele era o mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde muito jovem se revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava- se constantemente que o tempo não lhe deixava fazer um décimo daquilo que planejava. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de gramática e aritmética.







Introdução

Pode desde já se anunciar o fim do mundo com tanta segurança como se este acontecimento se realizasse na atualidade, perante os nossos olhos. E não falamos somente do fim do mundo que nós habitamos, da ruína da humanidade terrestre com todas as suas obras, mas também do fim de todos os mundos do nosso sistema celeste e do próprio Sol, fonte da luz e da vida, do movimento e do calor.
Um dia virá em que esse Sol brilhante se a de apagar; em que a vida terrestre dormira o sono eterno; em que o nosso globo, escuro e gelado, cemitério silencioso e solitário, girará na noite estrelada em torno do seu antigo Sol, convertido em astro invisível; em que todos os planetas darão voltas como se fossem imensas esferas negras em redor de outra esfera também negra.
Então, todas as grandezas humanas, tudo o que faz agora palpitar os corações e excitar o entusiasmo dos mortais, o amor, a gloria, a investigação da verdade, o sentimento religioso, o culto da pátria, a fortuna, todas as vaidades, tudo, enfim, terá desaparecido da terra, fria e escura.
A sensação de viver é agradável, e basta, ás vezes, para nos permitir dominar as provas mais cruéis do infortúnio. Deixar de viver parece-nos a mais sombria das perspectivas, e nenhum ser que pense pode encará-lo de frente sem sentir um vácuo profundo, experimentando a vertigem do abismo e do nada. E, no entanto, todos os dias, quando dormimos, deixamos de viver. Perdemos a noção do mundo exterior e a consciência de nós mesmos, e essa deliciosa sensação de viver, tão doce e querida para nós, desaparece com o sono, mas, quando a ele nos entregamos, é contando com o despertar...
Quando o nosso planeta adormeça, quando a humanidade feche os olhos, será para sempre essa noite não será seguida de uma aurora.
Como e quando chegará o fim do nosso mundo?
Tal e a questão.

I


A Terra, semelhantemente a todos nós, pode morrer de acidente, de enfermidade ou de velhice.
Tudo sucede no infinito sideral.
O dever do pensador é estudar as causas, tentar um diagnóstico  baseado na análise completa das condições da vida terrestre e concluir segundo o cálculo das probabilidades.
Ponhamos, pois, os conhecimentos científicos atuais ao serviço da nossa imaginação, para passar em revista os diversos destinos que a natureza pode reservar ao planeta que habitamos.
Pode, sem dúvida, suceder que, depois de termos julgados comparar todas as causas de morte e de nos havermos decidido pela mais provável, tenhamos pensado em tudo, menos no que realmente sucederá o caso idêntico ao do médico que vai pedir noticias de um doente em convalescença, e que, ao saber da sua morte, declara que ele morreu curado. Mas não podemos proceder de outro modo? Teremos a pretensão de adivinhar tudo? Isso seria incorrer em notória necessidade. Por outro lado, o estarmos certos da insuficiência do nosso saber, é uma razão para que renunciemos a procurar e para que apoiemos tranqüilamente a cabeça na almofada da indiferença? Esta é, contudo, a opinião de muitos homens sérios da nossa época, que se julgam excessivamente inteligentes.
Restam, no entanto, curiosos, e não poucos. Nós somos desse número, e por isso propomos o problema, ainda que mais não seja pelo prazer de discutir.
Sim: como morrerá a Terra? E, antes de tudo, morrerá ela?
A Terra é nova, muito nova. A sua humanidade não tem ainda a idade da razão. Esta raça, que se sente destinada a converter-se um dia em raciocinada, não é ainda mais do que raciocinadora, e apenas isso. A primeira educação que dá a seus filhos é que se fuzilem mutuamente, entre musicas. O emprego que dá aos seus recursos é distraí-los de todo o trabalho positivo para os aplicar á destruição da própria humanidade. Os princípios mais avançados do progresso social consistem em afirmar que os homens são iguais e que Ravachol e Caserio valem tanto como Newton e Vicente de Paula. E para provar que tem razão, os que tal afirmam, nada encontraram ainda melhor nem mais eloqüente do que um sôco. Os habitantes de Marte não tem, sem dúvida, semelhantes idéias. Oh! sim, a nossa humanidade é muito nova ainda: um garoto de quatro anos, mal educado, de um arrabalde de sistema solar. E que arrabalde! Mas, enfim, a humanidade, por causa da sua extrema juventude, não pede mais que viver, sabe que crescerá, e, adornada com a sua espessa e inculta cabeleira encaracolada, não pensa em que um dia terá os seus cabelos brancos e esquecerá os entretenimentos ferozes e uma idade irresponsável e impiedosa, depois de haver vivido séculos e séculos na gloria das obras intelectuais, e que depois de ter percorrido o longo ciclo dos seus destinos, descerá lentamente os degraus do seu tumulo.
Não tem cem mil anos e pode viver muito milhões deles, como vamos ver. Mas poderá também morrer de acidente ...
Sob o ponto de vista astronômico, apenas, o nosso planeta está exposto a mais de um perigo. A crença que nasce neste mundo para se transformar em homem ou mulher, pode ser comparada com um individuo colocado á entrada de uma rua estreita, uma dessas ruas pitoresca do século XVI, flanqueadas de casas, em cada uma de cuja janela estivesse um bom caçador armado de uma magnífica espingarda do último modelo. Trata-se de que esse individuo percorra a rua em todo o seu comprimento, sem que lhe toquem os tiros disparados contra ele quase á queima-roupa.
Todas as doenças nos estão ameaçando e assediando: a dentição, as convulsões, o garrotilho, a meningite, o sarampo, a varíola, a febre tifóide, o aneurisma, a pneumonia, a enterite, a febre cerebral, o cólera, a tísica, etc., etc. E omitimos ainda mais de uma, que os nossos leitores e leitoras acrescentariam sem trabalho a esta lista das que primeiro nos ocorreram. Chegará são e salvo o nosso homem ao fim da rua? Se chega, será para morrer, depois, de qualquer modo.
O nosso planeta percorre assim a rua solitária com uma velocidade de mais de cem mil quilômetros por hora, e o sol arrasta ao mesmo tempo, com todos os planetas, para a constelação de Hércules. A Terra pode encontrar no seu caminho um globo invisível, muito maior do que ela e cujo choque bastaria para a reduzir a vapor. Pode encontrar um sol que a consumiria instantaneamente, como se fosse uma maça metida em um forno de fundição. Pode encontrar um enxame de aerólitos, que lhe produziriam o efeito de uma carga de chumbo em uma perdiz ou em uma cotovia.
Pode encontrar um planeta vinte vezes maior do que ela, carregado de gases deletérios, que envenenariam a nossa atmosfera respirável. Pode ser colhida por um sistema de forças elétrica que exerceriam a ação de um freio sobre os seus doze movimentos e a fundiriam ou a fariam arder como se fosse um fio de platina sujeito á ação de uma dupla corrente.
Pode perder o oxigênio que nos faz viver.
Pode estalar coma se fora um grande vulcão.
Pode desmoronar-se em um imenso terremoto. Pode submergir a sua superfície nas águas e sofrer um novo dilúvio mais universal do que o já conhecido. Pode ser atraída pela passagem de um corpo celeste que a subtraia ao sol e a arraste para os abismos gelados do espaço.
Pode perder, não só o resto do calor interno, que já não tem ação sobre a sua superfície, mas também o invólucro protetor que mamem a sua temperatura vital. Pode, quando menos se pense, deixar de ser alumiada, aquecida e fecundada pelo Sol, obscurecido e frio. Pode, pelo contrário, ser carbonizada por se haver duplicado repentinamente o calor solar, como se observou nas estrelas temporais; sem contar muitas outras causas de acidentes ou de enfermidade mortal, cuja fácil enumeração deixamos aos geólogos, paleontólogos, meteorogistas, físicos, químicos, biólogos, médicos, botânicos, e até aos veterinários, pois que uma epidemia bem propagada, ou a chegada invisível e um novo exercito de micróbios convenientemente e mórbidos, seriam o bastante para destruir á humanidade e as principais espécies de animais ou vegetais, sem produzir a menor alteração astronômica ao planeta propriamente dito.
Mas qual é, entre todas as causas de acidentes possíveis, conhecidas ou concebíveis, a que mais se pode recear? Qual é a que pode preocupar-nos, como sendo uma ameaça suspensa sobre o curso regular da Terra, tão tranqüila e tão imperturbável na sua aparecia?
 O globo terrestre é tão pequeno na imensidade, o seu curso é tão rápido, a sua marcha tão segura, a organização da sua vida astral tão completa, que sem dúvida não sucedera nenhuma das catástrofes que deixamos enumeradas. Contudo impõe-se á nossa atenção uma primeira possibilidade a do encontro com os cometas.
Observemos, desde já, que o espaço é sulcado por cometas que voam em todas as direções em redor do Sol, como se fossem borboletas em torno da luz, e que a terra, ao girar em volta do astro central, está exposta a encontrar mais de um. E' verdade que, em geral, esses eflúvios vagabundos e vaporosos não oferecem perigo algum, e que o globo terrestre pode atravessa-os como se fosse uma bala de canhão atravessando uma nuvem de mosquitos. E é isto o que tem sucedido. O cometa de Biela, por exemplo, é um dos que cruzam a órbita terrestre, e a sua proximidade, em 1832, chegou a causar certo pânico. O cálculo anunciava que este cometa devia atravessar a órbita terrestre no dia 19 de outubro desse ano, um pouco antes da meia noite.
Anunciou-se o cálculo nos jornais, sem o compreender bem, naturalmente, e falou-se dos perigos de tal encontro, capaz de ocasionar o fim do mundo.
Mas o que é a órbita da Terra? O caminho que ela percorre em roda do Sol. Se disparar um tiro atravessando um caminho, não é de recear um choque, salvo o caso de passarmos justamente no momento em que à bala o atravessa. Ora, bem; o nosso planeta não devia chegar a ponto da sua órbita atravessado pelo cometa, senão em 30 de novembro seguinte, ou seja mais de um mês depois, e a um momento ainda recordamos que a Terra percorre o espaço com uma velocidade de mais de cem mil quilômetros por hora. Não havia, pois, motivo para ter a menor sombra de receio. Os jornalistas tinham confundido a trajetória de uma bala com a própria bala.
Que teria sucedido, se o encontro se houvesse verificado? Então, era difícil prever; hoje, começamos a adivinhar-o, pois que esse mesmo cometa de Biela, cujo giro em volta do Sol não é, ou antes, não era de mais que seis anos e sete meses, encontrou verdadeiramente a Terra em 27 de novembro de 1872. Mas este cometa, se alguma vez foi perigoso, já o não é, porque está meio morto, partido em pedaços e desagregado em milhões de pequenas estrelas errantes.
Primeiro, em 1846, viu-se que ele se partiu em dois, e estas duas nebulosas continuaram caminhando pelo espaço, como se fossem duas irmãs gêmeas, mas afastando-se lentamente uma da outra. Depois, desapareceram pouco a pouco e não se tornou a vêlas.
Que foi feito delas? E' provável que o cometa se tenha desagregado em fragmentos diminutos, em pó cósmico, porque, em 27 de novembro de 1872, data em que devia encontrar a Terra, observou-se uma verdadeira chuva de estrelas cadentes, cujo número se calculou em cento e sessenta mil.
Esse enxame prodigioso sabia de um ponto do espaço, que correspondia ao que deveria ocupar, não a cabeça do cometa, que, se existisse, teria passado por esse ponto da órbita terrestre doze semanas antes, mas a sua cauda, ou melhor, uma fração das suas partes desagregadas, as quais se dispersaram ao longo da sua órbita depois da segmentação de 1846.
Não pode existir dúvida alguma sobre a identidade desse enxame de estrelas cadentes com o cometa de Biela, pois se verificou um novo encontro análogo ao primeiro, mas menos numeroso, em 27 de novembro de 1855.
Como se vê, não foi o foco do cometa que encontrou a Terra, mas somente os restos da sua desagregação. Em 30 de junho de 1861 parece que ocorreu um fenômeno da mesma natureza, ainda que sensivelmente distinto. Segundo os cálculos, estivemos submersos,
 na manhã desse dia, no extremo vaporoso do grande cometa. O fenômeno passou quase despercebido, sem se notar.mais do que um resplendor estranho, parecido com o de uma aurora boreal, e que se observou em diversos pontos da Inglaterra.
Nestes dois casos trata-se, não do foco do cometa, mas de apêndices afastados e inofensivos. Outro cometa, o de Lexell, encontrou no seu caminho, em 1770, o sistema de Júpiter. Ignoramos que efeito pode produzir esse encontro na vida que esses satélites possuam, mas não causou perturbação alguma no seu movimento, e, pelo contrário, foi o cometa que variou de curso, pela influência perturbadora de Júpiter, cuja massa colossal lançou o intruso em uma órbita diferente da primeira.
Assim, pois, os cometas podem encontrar a Terra e os outros planetas. As harmonias do sistema do mundo não se opõem a isso, assim como não se opõem ás inundações, erupções vulcânicas, terremotos e epidemias. E devemos até admirar-nos de que esses encontros não sejam mais freqüentes, pois o número dos cometas não é insignificante. Kepler dizia que a tantos cometas no universo como peixes a no mar.
Descobrem-se, termo médio, uns trinta por ano, á simples vista, bastante grandes e bastante próximos da Terra, para reinarem, durante algum tempo, como soberanos no céu estrelado. Alem destes, descobrem-se mais, com o auxílio do telescópio, cinco ou seis por armo. Desde a dois mil anos tem passado uns cem mil cometas pela vizinhança da órbita terrestre. Se tivermos em conta a extensão do sistema solar, mesmo limitando-se á órbita de Netuno, concluiremos que devem circular nesse espaço mais de vinte milhões de cometas.
Os cometas diferem entre si pelo tamanho, pela forma, pela massa e pela constituição física e química. Uns são completamente transparentes, até no seu núcleo, e a luz dos astros não demente quando eles lhes passam pela frente. Outros apresentam focos que parecem mesclados de concreções maciças como se fossem enxames de uranolitos de diversos volumes. Estes focos brilham em parte com luz própria, e, em parte, com luz reflexa do Sol. A análise da sua luz descobriu neles a presença dos compostos de carbono, hidrogênio carbonato, oxido de carbono e acido carbônico. Estes corpos celestes defiram uns dos outros.
As conseqüências de um encontro com a Terra, defeririam igualmente, segundo a natureza do cometa, segundo a velocidade e segundo a direção do choque. E  certo que a velocidade é sempre a mesma no espaço entre a Terra e o Sol, e igual á do nosso planeta multiplicada por 1414, isto é, 41.660 metros por segundo. Mas, vê-se facilmente que, se o cometa nos alcançasse por traz, quer dizer, na direção do nosso movimento principal, velocidade do choque seria mínima, enquanto que se o encontrássemos de frente, essa velocidade seria máxima, ou seja 72.000 metros por segundo.
Semelhante choque seria terrível se o centro do cometa fosse maciço ou mesmo simplesmente composto de corpos sólidos, de volumes diversos e mais ou menos consideráveis. Descreveu-o Laplace em termos dramáticos, pois, segundo ele, o choque de um cometa podia e devia produzir o seguinte:
O eixo da Terra e o seu movimento de rotação trocarem os mares, abandonando a sua posição, precipitarem para o novo equador; grande parte dos homens e dás animais ficariam afogados nesse dilúvio universal outros seriam destruídos por esse abalo violento imprimido ao globo terrestre; espécies inteiras ficariam aniquiladas; todos os monumentos da industria humana seriam derrubados.
Tais são os desastres que o ilustre geometra considera como possíveis, se chocarmos com um planeta cujo foco tenha uma considerável massa.
Trata-se, pois, de alguma coisa mais grave do que os fogos artificiais de estrelas, de que a pouco falamos; mas devemos apressar-nos . a dizer que é muito menos provável, porque, segundo todas as observações feitas até hoje, as massas dos cometas parecem, em geral, muito pouco importantes.
Contudo, não é menos certo que um foco sólido de alguns quilômetros apenas, ou uma porção de focos desse gênero, que nos chocassem, com uma velocidade cem vezes superior á de uma bala de canhão, estariam longe de ser inofensivos, e poderiam fundir um continente, deslocar um pedaço de globo, esmagar alguns milhões de homens e modificar mais ou menos a geografia das regiões atingidas.
Mas, o maior perigo que poderia oferecer  o encontro de um cometa, sob o ponto de vista que nos ocupa, seria, sem dúvida, a transformação do movimento em calor e a mistura dos seus gases com a nossa atmosfera.
Não a dúvida de que os cometas são essencialmente gasosos e os seus gases são  compostos de carbono. Além disso, aparecem, com freqüência, incandescentes. semelhante encontro constituiria certamente um perigo, que poderia ser muito grave e que, até em casos em que nos é impossível prever produziria fatalmente o fim do mundo.

Bom Livro para ser ler...
Sumário
Introdução
1 PARTE
I / 04
II / 12
III / 18
IV / 23
V / 31
VI / 38
2 PARTE
Uma viagem prodigiosa
I - A Noventa e seis mil léguas da Terra / 48
II - A quinze milhões de léguas da Terra / 50
III - A trezentos milhões de léguas / 53
IV - A mil milhões de léguas da Terra / 56
V - A oito mil bilhões de léguas / 62
VI - A cem milhões de bilhões de léguas / 67
VII - No Infinito / 72
O Universo Interior / 80

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mundos inferiores e mundos superiores




8. A qualificação de mundos inferiores e mundos superiores nada tem de absoluta; é, antes, muito relativa. Tal mundo é inferior ou superior com referência aos que lhe estão acima ou abaixo, na escala progressiva.
Tomada a Terra por termo de comparação, pode-se fazer idéia do estado de um mundo inferior, supondo os seus habitantes na condição das raças selvagens ou das nações bárbaras que ainda entre nós se encontram restos do estado primitivo do nosso orbe. Nos mais atrasados, são de certo modo rudimentares os seres que os habitam.
Revestem a forma humana, mas sem nenhuma beleza. Seus instintos não têm a abrandá-los qualquer sentimento de delicadeza ou de benevolência, nem as noções do justo e do injusto.
A força bruta é, entre eles, a única lei. Carentes de indústrias e de invenções passam a vida na conquista de alimentos. Deus, entretanto, a nenhuma de suas criaturas abandona; no fundo das trevas da inteligência jaz, latente, a vaga intuição, mais ou menos desenvolvida, de um
Ente supremo. Esse instinto basta para torná-los superiores uns aos outros e para lhes preparar a ascensão a uma vida mais completa, porquanto eles não são seres degradados, mas crianças que estão a crescer.
Entre os degraus inferiores e os mais elevados, inúmeros outros há, e difícil é reconhecer-se nos Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, os que foram esses seres primitivos, do mesmo modo que no homem adulto se custa a reconhecer o embrião.
9. Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e material são muitíssimo diversas das da vida na Terra. Como por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a humana, mas embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem da materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos. Os homens conservam o seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou auréola dos santos.
A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos já muito adiantados torna rápido o desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância. Isenta de cuidados e angústias, a vida é proporcionalmente muito mais longa do que na Terra. Em princípio, a longevidade guarda proporção com o grau de adiantamento dos mundos. A morte de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta, expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente de emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento.
10. Nesses mundos venturosos, as relações, sempre amistosas entre os povos, jamais são perturbadas pela ambição, da parte de qualquer deles, de escravizar o seu vizinho, nem pela guerra que daí decorre. Não há senhores, nem escravos, nem privilegiados pelo nascimento; só a superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia. A autoridade merece o respeito de todos, porque somente ao mérito é conferida e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse desejo, porem, uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para igualá-lo. Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza humana se acham engrandecidos e purificados; desconhecem-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças da inveja; um laço de amor e fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre por lhe faltar o necessário, uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos, não existe.
11. No vosso, precisais do mal para sentir o bem; da noite, para admirardes a luz;da doença, para apreciardes a saúde. Naqueles outros não há necessidade desses contrastes. A eterna luz, a eterna beleza e a eterna serenidade da alma proporcionam uma alegria eterna, livre de ser perturbada pelas angústias da vida material, ou pelo contacto dos maus, que lá não têm acesso. Isso o que o espírito humano maior dificuldade encontra para compreender. Ele foi bastante engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas nunca pôde imaginar as alegrias do céu. Por quê? Porque, sendo inferior, só há experimentado dores e misérias, jamais entreviu as claridades celestes; não pode, pois, falar do que não conhece. A medida, porém, que se eleva e depura o horizonte se lhe dilata e ele compreende o bem que está diante de si, como compreendeu o mal que lhe está atrás.
12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a eles conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade. (Resumo do ensino de todos os Espíritos superiores.)
Mundos de expiações e de provas
13. Que vos direi dos mundos de expiações que já não saibais, pois basta observeis o em que habitais? A superioridade da inteligência, em grande número dos seus habitantes, indica que a Terra não é um mundo primitivo, destinado à encarnação dos Espíritos que acabaram de sair das mãos do Criador. As qualidades inatas que eles trazem consigo constituem a prova de que já viveram e realizaram certo progresso. Mas, também, os numerosos vícios a que se mostram propensos constituem o índice de grande imperfeição moral. Por isso os colocou Deus num mundo ingrato, para expiarem aí suas faltas, mediante penoso trabalho e misérias da vida, até que hajam merecido ascender a um planeta mais ditoso.
14. Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para aí em expiação. As raças a que chamais selvagens são formadas de Espíritos que apenas saíram da infância e que na Terra se acham, por assim dizer, em curso de educação, para se desenvolverem pelo contacto com Espíritos mais adiantados. Vêm depois as raças Semi-civilizadas, constituídas desses mesmos os Espíritos em via de progresso. São elas, de certo modo, raças indígenas da Terra, que aí se elevaram pouco a pouco em longos períodos seculares, algumas das quais hão podido chegar ao aperfeiçoamento intelectual dos povos mais esclarecidos.
Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa forma, são exóticos, na
Terra; já tiveram noutros mundos, donde foram excluídos em conseqüência da sua obstinação no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de perturbação para os bons.
Tiveram de ser degradados, por algum tempo, para o meio de Espíritos mais atrasados, com a missão de fazer que estes últimos avançassem, pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen dos conhecimentos que adquiriram. Daí vem que os Espíritos em punição se encontram no seio das raças mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que de mais amargor se revestem OS infortúnios da vida. E que há nelas mais sensibilidade, sendo, portanto, mais provadas pelas contrariedades e desgostos do que as raças primitivas, cujo senso moral se acha mais embotado.
15. A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. E assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito. - Santo Agostinho. Paris(1862.)
Mundos Regeneradores
16. Entre as estrelas que cintilam na abóbada azul do firmamento, quantos mundos não haverá como o vosso destinados pelo Senhor à expiação e à provação! Mas, também os há mais miseráveis e melhores, como os há de transição, que se podem denominar de regeneradores. Cada turbilhão planetário, a deslocar-se no espaço em torno de um centro comum, arrasta consigo seus mundos primitivos, de exílio, de provas, de regeneração e de felicidade. Já se vos há falado de mundos onde a alma recém-nascida é colocada, quando ainda ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus, senhora de si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de que amplas faculdades é dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! Há as que sucumbem, e Deus, que não as quer aniquiladas, lhes permite irem para esses mundos onde, de encarnação em encarnação, elas se depuram, regeneram e voltam dignas da glória que lhes fora destinada.
17. Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes. A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se.
Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a
Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que são escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.
Nesses mundos, todavia, ainda não existe a felicidade perfeita, mas a aurora da felicidade. O homem lá é ainda de carne e, por isso, sujeito às vicissitudes de que libertos só se acham os seres completamente desmaterializados. Ainda tem de suportar provas, porém, sem as pungentes angústias da expiação. Comparados a Terra, esses mundos são bastante ditosos e muitos dentre vós se alegrariam de habitá-los, pois que eles representam à calma após a tempestade, a convalescença após a moléstia cruel. Contudo, menos absorvido pelas coisas materiais, o homem divisa, melhor do que vós, o futuro; compreende a existência de outros gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se mostrem dignos, quando a morte lhes houver de novo ceifado os corpos, a fim de lhes outorgar a verdadeira vida. Então, liberta, a alma pairará acima de todos os horizontes. Não mais sentidos materiais e grosseiros; somente os sentidos de um perispírito puro e celeste, a aspirar as emanações do próprio Deus, nos aromas de amor e de caridade que do seu seio emanam.
18. Mas, ah! Nesses mundos, ainda falível é o homem e o Espírito do mal não há perdido completamente o seu império. Não avançar é recuar, e, se o homem não se houver firmado bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então, novas e mais terríveis provas o aguardam.
Contemplai, pois, à noite, à hora do repouso e da prece, a abóbada azulada e, das inúmeras esferas que brilham sobre as vossas cabeças, indaguem de vós mesmos quais as que conduzem a Deus e pedi-lhe que uni mundo regenerador vos abra seu seio, após a expiação na Terra. - Santo Agostinho. (Paris, 1862.)

19. O progresso é lei da Natureza. A essa lei todos os seres da Criação, animados e inanimados, foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que aos homens parece o termo final de todas as coisas, é apenas uni meio de se chegar, pela transformação, a um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada sofre o aniquilamento. Ao mesmo tempo em que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles habitam. Quem pudesse acompanhar um mundo em suas diferentes fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos destinados e constituí-lo, vê-lo-ia a percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas de degraus imperceptíveis para cada geração, e a oferecer aos seus habitantes uma morada cada vez mais agradável, à medida que eles próprios avançam na senda do progresso. Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário. Quão grandiosa é essa idéia e digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é mesquinha e indigna do seu poder a que concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia, que é a Terra, e restringe a Humanidade aos poucos homens que a habitam!
Segundo aquela lei, este mundo esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau mais elevado. Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de
Deus. - Santo Agostinho. (Paris, 1862.)
Evangelho Segundo Espiritismo: Alan Kardec

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A virtude

                                            



A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, é qualidades do homem virtuoso. Infelizmente, quase sempre as acompanham pequenas enfermidades morais que as desonram e atenuam. Não é virtuoso aquele que faz ostentação da sua virtude, verdadeiramente digna desse nome, não gosta de estadear-se. Adivinham-na; ela, porém, se oculta na obscuridade e foge á admiração das massas. S. Vicente de Paulo era virtuoso; eram virtuosos o Digno cura d´Ars e muitos outros desconhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses homens de bem ignoravam que fossem virtuosos; deixavam-se ir ao sabor de suas santas inspirações e praticavam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos.
A virtude assim compreendida e praticada é que vos convido meus filhos; a essa virtude verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita é que vos concito a consagrar-vos. Afastai, porém, de vossos corações tudo o que seja orgulho, vaidade, amor próprio, que desadornam as mais belas qualidades. Não imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia, ele próprio, suas qualidades.  A virtude que assim se ostenta muitas vezes uma imensidade de pequenas torpezas e de odiosas covardias.
Em princípio, o homem que se exalta que ergue uma estátua á sua própria virtude, anula, por esse simples fato, todo mérito real que possa ter Entretanto, que direi daquele cujo único valor consiste em parecer o que não é? Admito de boa mente que o homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas, desde que tal satisfação se exterioze, para colher elogios degenera em amor próprio.
Ó vós todos os quem a fé espírita aqueceu com seus raios, e que sabeis quão longe da perfeição está o homem, jamais esbarreis em semelhante escolho. A virtude é uma graça que desejo a todos os espíritas sinceros. Contudo, dir-lhes-ei: Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita com orgulho. Pelo orgulho é que as Humanidades sucessivamente se hão perdido; pela humildade é que um dia elas se hão redimir:
François Nicolas Madeleine (Paris, 1863) cap.XVII
Evangelho Segundo Espiritismo: Alan Kardec