terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Zaqueu



                                                
Tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos, e era rico. Este procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, porque era de pequena estatura. Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro (figueira) para vê-lo, já que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima, e disse-lhe: Zaqueu desce depressa. Hoje me convém pousar em tua casa. Apressando-se, desceu e o recebeu com alegria. Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: Senhor olha, eu dou aos pobres metades de meus bens, e se em alguma coisa defraudei alguém, o restituo quadruplicado. Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, porque também este é filho de Abraão. Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que havia se perdido. Lucas 19:1-10. Aqueles eram tempos difíceis. As dificuldades íntimas refletiam na sociedade daquela época as mesmas angústias e temores que hoje caracterizam as massas humanas. Conflitos sociais ou conflitos psicológicos geravam as mesmas insatisfações que hoje perseguem o homem moderno. Soava pelas planícies da Judéia a voz suave e melodiosa da mensagem do Mestre, convidando a todos para os tempos de renovação. Mas também naqueles tempos reinava o desespero em muitos corações e, como reflexo das imperfeições humanas, o desconforto que o preconceito velado ou ostensivo trazia. Publicanos e fariseus, cobradores de impostos do templo ou representantes de César eram considerados por muitos como representantes de classes que deveriam ser evitadas. Os publicanos, naturalmente, devido a sua história envolta nas brumas das realizações inferiores, despertavam o desprezo e a discriminação geral. A história de Zaqueu não era diferente da história e dos dramas de muitos homens. Proveniente de um passado comprometido tanto com a lei divina quanto com a legislação humana, o publicano da história evangélica encontrava-se na encruzilhada da vida. Enriquecera-se ilicitamente com o comércio espúrio que realizava desde a mocidade. O matrimônio era campo de confronto constante, e a mulher demandava-lhe imensa cota de sacrifícios, a fim de corresponder-lhe às mais diversas expectativas. As exigências e obrigações sociais faziam-no desdobrar-se de tal maneira, consumindo-lhe a vitalidade orgânica, que ocasionaram seu envelhecimento precoce. Por certo que a família refletia as suas próprias angústias íntimas, e, assim, o desequilíbrio era marca sempre presente em sua vida doméstica. Intimamente, desejava mudar, mas era preciso que algo ou alguma força externa pudesse impulsioná-lo rumo à renovação tão necessária. Naquela tarde, tudo contribuiria para que o publicano encontrasse o caminho da renovação. Uma multidão acompanhava certo homem, alguém que se dizia rabi. Era um homem diferente. Não apenas falava a respeito de certo reino, mas vivia-o em sua vida, exemplificando nas experiências aquilo que era o objeto de suas pregações. De longe, Zaqueu, o publicano, resolveu observar mais detidamente. De estatura menor que a maioria de seus contemporâneos, recorreu ao extremo recurso a fim de poder, pelo menos, ver aquele que se apresentava como o filho de Deus. Desejava algo em seu íntimo, mas não saberia precisar exatamente o que queria. Subiu num sicômoro, árvore cuja presença era habitual naqueles sítios; de lá, poderia observar a presença daquele cujo amor e cujos feitos ganhavam repercussão por toda a Judéia e Samaria. O rabi andava no meio da multidão de almas desgarradas e esfaimadas. Seus caminhos não passavam pelos mesmos caminhos dos reis e soberanos terrestres. Preferia as estradas da vida onde mais se faziam necessárias as suas palavras e os seus exemplos de compaixão, sabedoria e amor. Assim é que usualmente se encontrava acompanhado das prostitutas e daquela gente considerada de má vida. Dos leprosos da alma aos sedentos de justiça, dos injustiçados e oprimidos aos infelizes da Terra, além de certos personagens conhecidos como antigos perseguidores do povo - essas eram as companhias do peregrino nazareno. Como hoje, o preconceito exercia intenso domínio nos corações humanos despreparados para a realidade da vida eterna. O Mestre deteve-se ante o sicômoro (figueira), cujos galhos sustentavam o corpo de Zaqueu, o publicano. Fixou longamente os olhos do homem infeliz e desejoso de renovação. Olhos nos olhos, o médico das almas penetrou profundamente naquela alma desgarrada do redil e então pronunciou as seguintes palavras: Zaqueu! - chamou o Mestre. - Hoje convém que eu esteja contigo em tua casa. Ante a oferta do Mestre de todos os mestres, Zaqueu não poderia titubear. Para todo homem, em algum momento, chega a hora da transformação. Surge na ampulheta do tempo a hora exata do encontro com a vida. Assim, para Zaqueu, também resplandecia o raiar de um novo dia. A Estrela Polar do Evangelho, Jesus, brilhava intensamente em sua vida, no céu de seu destino. Os seguidores do Nazareno observavam a atitude do Mestre com espanto, e também eles a recriminaram, pois não compreendiam que Ele, o médico divino, viera exatamente para aqueles que mais necessitavam. De médico só precisa quem se encontra enfermo; aquele que se sente sadio não necessita lançar mão dos recursos sejam da medicina terrestre como da espiritual. Mas quem poderá saber o que vai ao sentimento humano? Mesmo aqueles que se dizem apologistas da verdade ainda têm muito a aprender e muito ainda a reaprender no campo da vida universal. Jesus deixou-se conduzir pelo impulso do amor, do amor ágape. As dificuldades humanas levam os indivíduos a desenvolver a incompreensão, a intolerância e as demais características antagônicas à virtude, as quais imperam nos corações ainda distantes do bem e do amor. Jesus dirigiu-se à casa de Zaqueu como se dirige à casa mental de cada ser, assim que se apresente a necessidade de renovação interior. É preciso aguardar o momento certo em que o espírito amadureça para a vida, e há que se desenvolver sensibilidade para perceber tal ocasião. Da mesma forma como os publicanos inspiravam o preconceito naqueles de sua época, também hoje o preconceito ainda domina os corações humanos. Contudo, Jesus e os espíritos superiores não se submetem às convenções humanas. Se algo ou alguma situação não se sintoniza conosco ou com nossos conceitos da verdade, é bom que possamos nos observar mais detidamente. As coisas espirituais estão acima das questões humanas. O preconceito é filho do orgulho e irmão do egoísmo. Todo tipo de preconceito deve ser combatido com o exercício do amor incondicional. Os Zaqueus modernos são chamados a abrir as portas de seus corações para o encontro com a eternidade. Os preconceituosos são igualmente chamados para o encontro consigo mesmos. São chamados a estudar suas vidas, analisando-as de acordo com a ótica espiritual. Considerem-se como realmente o são: imperfeitos e ainda em fase de evolução. Todos estão no caminho do aprendizado e por isso não há lugar para preconceitos em nossas vidas. A lição do Evangelho é de pura fraternidade. A mensagem é de caridade e de amor...
Repassando...Muita paz no caminhar com nosso irmão Maior Jesus... 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Holocausto a Fé

A mensagem rutilante avançava gloriosa por quase todo o Império.
No Oriente, a palavra alcançara o Egito, Bizâncio, Cartago, Líbia e se ampliara imensamente em Israel, mesmo sob perseguições insanas... No Ocidente, galvanizava as vidas que se dedicavam a Jesus, pela imensidão da Espanha, das Gálias, da Península Itálica e, particularmente na Capital do Império, com incomparáveis demonstrações de fidelidade que culminava com o sacrifício da própria vida, abalando as estruturas hegemônicas das Legiões...
Depois das calamitosas perseguições que se prolongaram com mais ou menos vigor, Roma havia amenizado o cerco à doutrina do Crucificado, e embora não fosse aceita legalmente, conseguira erguer igrejas, difundir os ensinamentos, publicar as lições incomparáveis do Mestre, realizar reuniões...
Penetrando as classes dominantes, era praticada por comandantes de algumas tropas e seus soldados, por governantes de cidades e pelo povo...
Diocleciano, após muitas lutas sangrentas assumira a governança geral de todo o Império em 284, embora dividisse alguma regiões com outros guerreiros, logo percebendo o perigo que ameaçava a unidade de Roma, que se espalhava por, praticamente, todo o mundo conhecido, porquanto, não poucos generais e comandantes de legiões vinculados à fé cristã, recusavam-se a guerrear, não matando quem quer que fosse, e a impor as leis severas que se faziam necessárias para impedir as sedições e a fragmentação.
Advertido, mais de uma vez, por alguns generais pagãos que se opunham à fraternidade e à doutrina contrária aos deuses das suas tradições politeístas, encomendou o primeiro Édito, firmado no dia 23 de fevereiro de 303, data reservada à celebração da festa da Terminália, que se tratava de homenagear o deus Terminus, protetor das famílias e das fronteiras, coibindo a expansão da doutrina cristã, autorizando a queima dos documentos da fé nascente e a punição dos que se opunham a atender aos deveres do Estado...
A seguir, mandou preparar mais dois Éditos, que se transformaram em instrumento de perseguição sistemática e cruel, variando de acordo com a região em que eram aplicados, caracterizando o pior e mais perverso período enfrentado pelos novos cristãos.
As mais terríveis técnicas foram aplicadas para que abjurassem a fé e homenageassem os deuses.
Os holocaustos ficariam célebres pela rudeza da aplicação das penas, especialmente nos líderes das igrejas como em relação ao poviléu.
Propunha-se que abjurassem a crença e teriam a benevolência do Imperador. Mas quase todos, à exceção de um pequeno número de apóstatas, permaneceram fiéis e estoicamente enfrentaram os algozes perdoando-os como fizera Jesus.
Em Antioquia, como em Roma, alongando-se pelas províncias, mesmo as mais distantes da Capital, os cristãos eram queimados vivos em grelhas e postes, decapitados, empalados, atirados às feras, mandados ao trabalho forçado em minas perigosas de onde nunca poderiam sair com vida...
Um pouco antes, por volta do ano 286, Maximiano avançou com a Legião Tebana que fazia parte do seu exército, conseguindo a vitória almejada. Por ocasião do retorno a Agaunum, na Suíça, Maximiano, exultante, impôs que todo o exército deveria homenagear os deuses e fazer sacrifícios, coroando os atos com a proposta de execução de alguns cristãos que estavam aprisionados.
Ocorreu o inesperado, porque a Legião Tebana, comandada pelo capitão Maurício, negou-se a fazê-lo, já que era constituída de cristãos, não atendendo à imposição de celebrar os ritos impostos...
Contrariado, Maximiano impôs que a Legião fosse dizimada, isto é, um entre dez soldados fosse assassinado. Ninguém recuou, e o processo hediondo prosseguiu até a destruição da Legião, inclusive, com a morte do seu comandante, ampliando-se por outras partes do Império...
Diocleciano e os seus sequazes, logo após o primeiro Édito, destruíram igrejas, e somente não as incendiaram porque receavam o alastramento das chamas, tendo em vista, que as mesmas haviam sido construídas ao lado de grandes edifícios.
É nesse período de hediondez que desaparecem os preciosos documentos originais que narram a história do Evangelho e do suave Rabi, todos ou quase todos reduzidos a cinzas...
Essa página de hediondez histórica permaneceu em atividade perversa por dez anos, somente sendo modificada no dia 13 de junho de 313, quando Constantino e Licínio propuseram o Édito de Milão, iniciando-se uma nova era para a fé cristã.
A liberalidade do novo Imperador logo transformou o Cristianismo em doutrina do Estado, conspurcando a pureza do comportamento moral dos seus adeptos, ceifando a humildade e a simplicidade nascidas na Manjedoura de Belém, tornando-o poderoso e infiel.
Ao longo do tempo, a fim de manter a autoridade e o poder terrenos, face à perda dos valores morais, os seus escritores e copistas adulteraram os fatos, interpolaram as informações, falsificaram os ensinamentos, criaram dogmas ultrajantes, compatíveis com as formulações políticas e arbitrárias, dando lugar às lamentáveis perseguições aos herejes que eram todos aqueles que não compactuavam com os absurdos estabelecidos pelo Papa e pelo Colégio dos Cardeais, assim como pelos membros da organização em defesa da fé...
As inqualificáveis Cruzadas são as heranças absurdas da temeridade do poder dos Papas e Reis alucinados pelas glórias do mundo, mais tarde ampliadas pela Inquisição que se utilizou dos mesmos métodos que Diocleciano usara, aprimorados pela volúpia da loucura humana que se alastrava...
Foi transformada a mensagem em força de destruição contra os judeus e os mouros, contra os albigenses, que tinham também direito à vida, por serem as outras ovelhas que não eram do rebanho, conforme se referira Jesus.
O inevitável progresso, porém, através dos tempos futuros rompeu a densa treva da ignorância e da alucinação, libertando os asfixiados ideais humanos de liberdade, de fraternidade e de dignidade, ao tempo em que o ser humano alcançou e compreendeu as leis do Universo, relegando ao olvido a presunção e prepotência dogmáticas...
Novos tempos, novos conteúdos comportamentais e decadência da fé cristã, dividida, na atualidade, pelo fanatismo dos neopentecostalistas e dos indiferentes vinculados à tradição, deixando as massas sofredoras ao abandono e à desordem moral.
Nada obstante, graças ao advento de O Consolador, renasce a mensagem dúlcida e simples de Jesus, evocando o sublime Amigo, que prossegue convidando aqueles que O amam ao holocausto pela fé e à abnegação na tarefa do amor em todas as suas dimensões.
Os cristãos novos, sem dúvida, os mesmos que antes conspurcaram a nobre doutrina, encontram-se na liça, buscando restaurar a pulcritude do Evangelho, promovendo o ser humano e construindo a nova era, não estando indenes ao holocausto, certamente diverso daquele do passado, como forma de reabilitação em testemunho de fidelidade e de honradez.
Que se façam dignos da nova investidura libertadora, são os votos que formulamos todos aqueles que os antecipamos na experiência redentora e iluminativa!
Franco, Divaldo Pereira. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 21 de dezembro de 2011, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. Fonte: http://www.divaldofranco.com/. 
Repassando...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sou espírita; Alan Kardec: Depois da Morte

Sou espírita; Alan Kardec: Depois da Morte: Capítulo III Depois da Morte Depois da Morte é a primeira obra abrangente de Léon Denis. Como todas as outras, já foi traduzi...

Depois da Morte




Capítulo III

Depois da Morte
Depois da Morte é a primeira obra abrangente de Léon Denis. Como todas as outras, já foi traduzida em várias línguas.
No Congresso de 1889, Léon Denis foi nomeado Presidente da Comissão de Propaganda. Ele tomou como secretário, Henri Sausse; este lhe aconselhou fazer uma síntese do ensino espírita e um resumo da obra de Allan Kardec.
Léon Denis pensou no conselho e escreveu Depois da Morte, verdadeira obra-prima, tanto do ponto de vista literário puro como no que concerne à exposição de nossa Doutrina.
Publicada em 25 de dezembro de 1890, Depois da Morte foi bem acolhido pela crítica.
G. d’Hailly escreveu, na Revue des Livres Nouveaux:
“Entre as obras que li nesta semana, não encontrei uma com maior soma de condições morais que esta de Léon Denis: Depois da Morte.
Ainda não conhecia obra mais bem pensada, nem livro escrito em um estilo mais correto, mais elevado.
Talvez eu seja um pouco céptico em relação ao Espiritismo, embora haja razões que me inclinem a uma aceitação. Entretanto, não conheço doutrina mais consoladora, mais reconfortante, mais digna de respeito.
O belo livro de Léon Denis nos pretende dar a solução científica e racional dos problemas da vida e da morte, da natureza e do destino do ser humano e nos demonstra a existência e a razão das vidas sucessivas.
Li e reli seu livro, que encheu minha alma de alegria, e se as coisas são assim, só posso louvar a Providência Divina.”
Pode-se ler em Le Temps:
“Esse volume é realmente notável, possui todas as qualidades que lhe podem garantir o sucesso. Embora eminentemente clássico, profundo e sério, suas páginas brilham com uma luz viva e são impregnadas de uma ardorosa eloquência.
Como seu título indica, trata do formidável problema do destino humano, dando uma solução para essa questão bastante controvertida durante todos os tempos: o porquê da vida.
Problema árduo, em verdade, porém tratado com um tal encanto de estilo e de evolução que, em todo o livro, não se encontra uma página sequer com uma leitura fatigante ou desprovida de interesse.”
Dando, em Le Journal, sua apreciação sobre esse livro, Alex Hepp se exprimia assim, em 26 de janeiro de 1899:
“Há um homem que escreveu o mais belo, o mais nobre e o mais precioso livro que jamais li. Seu nome é Léon Denis e seu livro intitula-se Depois da Morte.
Leiam-no e uma grande piedade, porém, libertadora e fecunda, virá bruscamente de nossas manifestações de tristezas, de nosso medo da morte e de nosso grande pesar por aqueles que supomos perdidos.”
Em Depois da Morte, o leitor encontra, notadamente, a história das religiões, o estudo dos grandes problemas o do mundo invisível, a maneira pela qual, segundo as comunicações, podemos ter uma idéia da vida no Além, o reto caminho, etc.
Desejando fazer um resumo do Espiritismo, o autor estudou como os homens conheceram nossa doutrina e quais podem ser suas consequências: [i]
“Dessas buscas, desses estudos, dessas descobertas se destacam uma concepção do mundo e da vida, um conhecimento das leis superiores, uma afirmação da justiça e da ordem universais, bem-feitas para despertar no coração do homem, com uma fé mais segura e mais esclarecida do futuro, um sentimento profundo de seus deveres, um interesse real por seus semelhantes, capazes de transformar a face das sociedades.”
Esse livro, escrito sem nenhuma pretensão pessoal de sucesso, é destinado aos que estão cansados de viver na cegueira, aos filhos e às filhas do povo.
O único objetivo de Léon Denis é prestar serviço aos humildes e aos infelizes. Ele se revolta que ainda se possa, atualmente, morrer de frio e de miséria; e prova que as bases de nossa doutrina são unicamente o testemunho dos sentidos e a experiência da razão.
Para comprovar a antiguidade do Espiritismo, que apresenta uma nova aparição de fenômenos existentes desde o começo da Terra, ele faz um resumo bem nítido, rápido, porém completo, da história das religiões.
As religiões são muitas, em nosso globo, nas suas formas e aparências, mas, quando se vai ao fundo das coisas, percebe-se que seu esoterismo, isto é, a parte reservada só aos iniciados, comporta uma doutrina única, superior e imutável, sempre a mesma em todas as latitudes.
Léon Denis consagra à morte muitas páginas, esparsas em sua obra.
Que é, realmente, a morte? Na introdução, o autor já propõe a questão:
“Esse problema interessa a todos, pois todos estamos sujeitos à lei.
Importa-nos saber se, nessa hora, tudo acabou, se a morte é apenas um calmo repouso no aniquilamento ou, ao contrário, a entrada em uma outra esfera de sensações...
A morte é o ponto de interrogação, incessantemente posto diante de nós, a primeira das questões à qual se ligam inúmeras questões, cujo exame faz a preocupação, o desespero das idades, a razão de ser de uma multidão de sistemas filosóficos.”
Muitos não querem ouvir falar da morte.
Pode-se viver sem preocupações, quando se tem a chance aparente de ser rico, mas isso não basta para impedir que a morte venha, no momento certo.
Dizendo: “Todas essas questões são macabras, não quero me ocupar dessas coisas”, podemos nos distanciar de uma segunda chegada da morte? Se a morte é uma coisa terrível, não é melhor, entretanto, conhecê-la?
Quando o estado de saúde de uma criança é bastante mau, para necessitar, na aparência, de uma intervenção cirúrgica, a responsabilidade dos pais é tanto mais séria quanto o pequeno venha a sofrer com esta decisão, sem poder opinar; antes de aceitarem a operação, o pai e a mãe se encontram diante desta questão angustiante: “Qual resultado vamos obter? Convém ou não operar?”
Com efeito, a morte pode ser comparada a uma operação, porém uma operação que será obrigatória, num momento desconhecido.
É, portanto, indispensável conhecer, antes, o que é o destino de todos os humanos; convém, pois, estar sempre preparado para enfrentá-la, quando aparecer.
Diz-nos Léon Denis:[ii]
“A morte não é outra coisa que uma transformação necessária, uma renovação. Em realidade, nada morre. A morte é aparente. Somente a forma exterior muda; o princípio da vida, a alma, continua em sua unidade permanente, indestrutível. Ela se encontra no além-túmulo, ela e seu corpo fluídico, na plenitude de suas faculdades, com todas as aquisições; luzes, aspirações, virtudes, poderes de que se enriqueceu durante suas existências terrenas.
Eis os bens imperecíveis de que fala o Evangelho, quando diz: “Nem os vermes, nem a ferrugem os consumirão e nem os ladrões os roubarão.” São as únicas riquezas que podemos levar conosco, para utilizar na vida futura.
(...)
A morte é a grande reveladora. Nas horas de provações, quando escurece em nosso derredor, por vezes perguntamos: “Por que existo? Por que não permaneci na noite profunda, onde nada se sente, não se sofre, onde se dorme o sono eterno?”
E, nessas horas de dúvida, de agonia, de desânimo, uma voz subia até nós e dizia: Sofra para crescer e para resgatar! Saiba que o destino é grandioso.
Esta fria Terra não será o seu sepulcro. Os mundos que brilham no fundo dos céus são suas futuras moradas, a herança que Deus lhe reserva.
Você é, para sempre, cidadão do Universo, pertencendo aos séculos futuros como aos séculos passados e, no presente, prepara sua evolução. Suporte, pois, com calma os sofrimentos que você mesmo escolheu.
Semeie, na dor e nas lágrimas, o grão que brotará em suas próximas vidas; semeie também para os outros, como os outros semearam para você!
Espírito imortal, avance com passo firme para as alturas de onde o futuro lhe aparecerá sem véus.
A subida é rude e o suor inundará muitas vezes seu rosto, porém do alto verá despontar a grande luz, verá brilhar no horizonte o sol da verdade e da justiça!”
Os leitores da obra de Léon Denis conhecem, pois, exatamente, a morte; não mais temem as manifestações espontâneas dos fantasmas. Eles não se assemelharão ao herói de um conto de Guy de Maupassant, intitulado Apparition.[iii]
Eis a análise:
Cinquenta e seis anos após uma aventura contada por ele a alguns amigos, o Marquês de la Tour Samuel tremia ainda com a idéia do que se produziu uma só vez no curso de sua vida. Ele guardou desse acontecimento uma lembrança do medo e, todavia, como oficial de carreira, teve muitas vezes de demonstrar sua bravura.
Na guarnição de Rouen, ele havia encontrado um amigo de juventude e ficou surpreso com sua aparência envelhecida: demonstrava em seu rosto traços indeléveis de grande sofrimento causado pela morte de sua esposa. Tendo encontrado nela a felicidade perfeita, tivera a tristeza de perdê-la subitamente, e não podia consolar-se. Jamais tivera a coragem de retornar a uma propriedade onde vivera com a esposa, nas cercanias de Rouen.
Encantado em reencontrar um velho colega em quem depositava plena confiança, o desesperado lhe disse:
– Não posso mais voltar àquele lugar, isso me faz sofrer. Você quer ir lá? Não é longe. Você irá ao meu quarto, abrirá a secretária – aqui tem a chave – e apanhará os papéis de que tenho necessidade. Para você é um passeio a cavalo, de apenas alguns quilômetros. Pode me prestar esse favor?
O marquês aceitou e se dirigiu à propriedade de seu amigo; quando lá chegou, o caseiro ficou espantado com a decisão do marquês de entrar na peça designada. O oficial não atribuiu importância à admiração do vigia da propriedade, mas a verdade é que, quando penetrou no quarto, que exalava o odor característico dos lugares abandonados pelos vivos, sentiu uma emoção incompreensível.
Estando sentado diante da secretária para dali apanhar os papéis pedidos por seu amigo, teve a sensação de que andavam atrás dele; voltou-se e viu uma mulher, um fantasma. Apesar de sua bravura, tremeu. Tinha a impressão de que essa morta ia lhe falar, tocá-lo, lhe pedir alguma coisa. Teve forças para apanhar rapidamente os documentos, depois se livrou desse lugar mal-assombrado.[iv]
Para retornar a Rouen, galopou como um louco.
Diante do amigo, tomou consciência de si mesmo e tirou sua túnica de oficial, mas teve a surpresa de nela ver enrolados, em volta de um botão, alguns longos fios de cabelos.
Se o herói de Guy de Maupassant tivesse conhecido o Espiritismo, teria fugido? Não, pelo contrário, ele tentaria saber os motivos dessa manifestação e, sem dúvida alguma, teria podido prestar um bom serviço, porque o Espiritismo é maravilhoso. Não somente permite dar consolo aos vivos, mas ainda estende aos mortos benefícios numerosos.
No entanto, o Marquês de la Tour Samuel não conheceu nossa Doutrina. Assim, aos 82 anos, 56 anos após sua trágica aventura, apesar das provas dos cabelos enrolados num botão de seu uniforme, ele ainda considerava o fato como uma crise de loucura, um “segredo vergonhoso, uma lamentável fraqueza” que somente sua idade lhe permitia revelar a seus amigos.
Lendo Depois da Morte, aprendemos coisas bem importantes; citarei, por exemplo, o que é magnetismo, como podemos nos servir de seu fluido, quais os sábios e quais os grandes homens que aceitaram o Espiritismo; quais objeções são feitas e as respostas que permitem mostrar aos contraditores quanto eles estão errados.
Coisa interessante: todas as vezes que se trata de refutar objeções, Léon Denis emprega argumentos; jamais utiliza insultos.
Os franceses gostam de ler jornais que têm por objetivo fazer polêmica entre uns e outros. Quando se trata de choques de idéias, está certo; infelizmente, há com frequência choques de pessoas.
De minha parte, abandono sistematicamente todo artigo e toda obra nos quais alguém, para demonstrar a realidade de sua tese, insulta os que pensam diferente.
Quando se procura transmitir suas convicções aos outros, é bom ter à sua disposição argumentos, fatos e experiências, e não injúrias.
Em Depois da Morte a teoria da reencarnação só é esquematizada. Ela será estudada profundamente em outras obras, particularmente em O Problema do Ser e do Destino.
Lendo Depois da Morte, aprendemos igualmente como se pode adquirir vontade e dela se utilizar para sermos felizes neste mundo.
Léon Denis não receia atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos do Espiritismo, que, de resto, podem parecer um pouco bizarros, mas existem. A esse respeito, lembro-me de uma pequena história:
Certa vez, na sala de Geografia, numa reunião da Phalange, veio a mim um homem, aparentando uns 40 anos. Em lágrimas, ele me diz:
– Ah, se o senhor soubesse que desgraça; meu filho morreu! Desde sua morte, temos em mãos uma pequena brochura que trata de como fazer girar as mesas. Desde a morte de meu filho, minha mulher deseja estar certa de que ele não está verdadeiramente morto. Ela quis colocar as mãos sobre a mesa e conseguiu movimento, porém, depois pareceu louca. Não se pode deixá-la sozinha, porque quer se jogar pela janela, pois acha que escuta vozes que lhe ordenam se matar.
Eu vi, logo, de que se tratava: ou era auto-sugestão, ou um envolvimento, por obsessão de um mau espírito.
Pedi a esse homem para levar sua esposa à minha casa, sem preveni-la de que eu estava sabendo de seu estado. Isso me permitiu estudá-la à vontade. Pude diagnosticar bem claramente uma obsessão.
Esse homem tinha grande confiança em mim e me pediu para tentar curar sua esposa.[v]
Em três semanas consegui restituir àquela mulher toda a sua razão, e desembaraçá-la daquela obsessão.
Para obter esse resultado não usei gestos ou palavras rudes, porque é pela persuasão que se consegue esclarecer os espíritos obsessores sobre aquilo em que estão errados. É preciso também explicar aos obsidiados a necessidade de perdoar seus perseguidores invisíveis e pedir a proteção de seus guias. Este é um ponto bem delicado.
Os perigos da prática do Espiritismo são reais.
Leitores, se vocês tiverem a intenção de praticar em nossa doutrina, não se atrevam a fazer experiências sem terem antes estudado o Espiritismo.
Quando são discutidas essas questões, eu faço frequentemente uma comparação que me parece de natureza a bem impressionar a imaginação de meu interlocutor.
Primeiramente, levo-o a imaginar que ele teria obtido, em tempos passados, algumas vagas noções de Física e Química, esquecidas depois que as exigências da vida o afastaram dos estudos.
Em seguida eu o conduzo a ver comigo, pela imaginação, uma usina de explosivos. Essa usina é bem interessante e também curiosa: mistura-se um pouco de pólvora, um pouco de outro produto, coloca-se isso num pequeno tubo e, quando há um choque, obtém-se a explosão destruidora.
Meu interlocutor está cativado; ele decide experimentar fazer o mesmo. Antes de entrar em casa, vai a um droguista.
Sua memória lhe permite lembrar-se que é preciso colocar um pouco de tal produto, um pouco mais daquele outro, porém ele não se lembra mais de todas as medidas e é precisamente isto o essencial. Que arrisca ele realizando a experiência?
Ou não produzirá o explosivo e terá perdido seu tempo, ou então conseguirá um explosivo perigoso que não saberá controlar, com o qual poderá provocar uma catástrofe, matar seus vizinhos, semear a ruína e o pânico em seu derredor.
Sem dúvida, seria difícil encontrar uma criatura bastante imprudente para querer fazer um explosivo sem ter antes estudado a fundo essa matéria, porque aí há um perigo bem aparente. Infelizmente não acontece o mesmo com o Espiritismo.
Quantas pessoas tenho encontrado que me dizem:
– Ah, você se ocupa com essas coisas! Eu também me divirto fazendo as mesas girarem.
Tais divertimentos são perigosos; por ser invisível e desconhecido da maioria, o perigo da experimentação psíquica realizada sem preocupações não é menos real.
Aos olhos de Léon Denis, essa questão dos perigos do Espiritismo é muito séria. Ele julgou necessário, em sua primeira obra, indicá-los muito claramente, consagrando um capítulo especial a esse problema.[vi] Ele havia compreendido a necessidade absoluta de atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos de uma experimentação irresponsável.
Assinalo, igualmente, um possível inconveniente: as pesquisas nesse domínio são atraentes, mas é preciso não se entregar sem reservas à experimentação. Não se deve abandonar a vida normal, material, para se consagrar unicamente a questões que não devem ser um meio de ganho.
Portanto, não convém experimentar antes de se estar suficientemente preparado para fazê-lo sem imprudência.
Quando se experimenta, deve-se guardar todo o senso crítico. Nunca se deve aceitar um fenômeno como uma emanação do além, sem ter tentado encontrar uma explicação humana.
Para se entregar seriamente a pesquisas espíritas e psíquicas, é indispensável experimentar com perseverança, tenacidade e regularidade.
Se se quer constituir um grupo, é preciso que ele se reúna em dia e hora certos, no mesmo local, sempre com o mesmo número de pessoas, não se permitindo estranhos em suas reuniões.
Tenho dado frequentemente o conselho de Allan Kardec para a criação do que ele chama de grupo familiar.
Meu excelente amigo Marty, colega da Comissão da União Espírita Francesa, também pensa assim e temos ambos obtido notáveis resultados.
Dedico uma particular importância ao capítulo da provação.[vii] Constantemente ouço confidências de desesperados, aliás, são numerosas as pessoas acossadas pelos males físicos, materiais ou morais.
Sempre aconselhei meus interlocutores e meus correspondentes a lerem ou relerem as páginas consagradas por Léon Denis a explicar por que sofremos neste mundo.
Muitas são, em meus arquivos, as cartas daqueles para os quais essa medicina moral foi eficaz.
Em 23 de outubro de 1927, eu realizava, na Sala de Geografia, na União Espiritual, uma conferência sobre a obra de Léon Denis e aconselhava meus ouvintes a adquirirem logo Depois da Morte, dizendo-lhes finalmente:
“Meus amigos, desejo que todos sejam bem felizes, para não terem nunca necessidade da consolação pregada pelo Espiritismo.
Alguns de vocês estão de luto. Eu gostaria de ter podido, no momento da cruel separação física, oferecer-lhes uma valiosa consolação em nossa doutrina.
Se, atualmente, estão felizes, talvez não o estejam numa outra ocasião.
Pensem com Léon Denis, logo não deixem de ler Depois da Morte e aproveitar essa preciosidade.
Uma dona de casa previdente tem sempre em sua dispensa algumas conservas que lhe permitam improvisar uma refeição, se alguns amigos aparecerem de surpresa. Uma mulher prevenida tem sempre em sua farmácia doméstica os medicamentos que possibilitem os primeiros socorros, em caso de acidente ou de doença.
Imitem essas pessoas prudentes e tenham sempre ao alcance da mão esse livro que contém todas as possibilidades de torná-los felizes.”
Dois dias depois, eu recebia uma nova comprovação do poder dessa obra:
“As livrarias, ontem à noite, estavam fechadas, escreveram-me, e só na manhã seguinte pude seguir seu conselho. Li e reli a página 174 e as seguintes.
É bem verdade! Quando uma profunda tristeza e um sofrimento bem vivo nos tenham dominado, essas linhas sublimes nos devolvem o gosto de viver.”
Dificuldades de toda sorte não me têm poupado. Por vezes, a luta parece tornar-se impossível, com tudo sombrio em meu derredor, e fico tentado em me deixar abater. Então releio o capítulo que Léon Denis consagrou às provações e tudo volta ao normal.
Em 1923, eu acabara de sofrer um choque moral espantoso que me permitiu constatar, por mim mesmo, a eficácia dos remédios que aconselho aos outros. As exigências do jornalismo me haviam obrigado a ir ao Havre e, aproveitando uma hora de folga, fui me isolar numa praia, tendo comigo Depois da Morte e também Les Grands Initiés, de meu eminente amigo Edouard Schuré, que eu não tinha ainda a alegria de conhecer pessoalmente.
Eu estava realmente deprimido e lamentava não ter o direito de me destruir, como pensava quando era materialista.
Abatido ao extremo, não podia afastar meu pensamento do assunto de minha profunda depressão, envolvia-me na desgraça, tudo era sombrio em minha volta. Pressentia todas as catástrofes e a vida me parecia para sempre terminada. Todavia o hábito de cultivar minha vontade me ajudou a ter a necessária energia para retomar contato com Léon Denis e Edouard Schuré.
Quando pude livrar-me de minhas preocupações, seguindo o pensamento do autor espírita, estava salvo.
Recobrei confiança, senti o auxílio de meus amigos invisíveis e me lembrei de que o único meio de ser realmente feliz é esquecer-se de si mesmo para trabalhar pela felicidade dos outros.
Léon Denis se alegra em repetir que todas as suas obras foram inspiradas pelos espíritos:[viii]
“Uma única ambição nos anima: desejamos que, quando nosso corpo já gasto retornar à terra, nosso espírito imortal possa afirmar: minha passagem no mundo não foi estéril, se pude contribuir em pacificar uma única dor, em esclarecer uma única inteligência em busca da Verdade e em reconfortar uma alma cambaleante e triste.”
Quando traçava essas linhas, o defensor do Espiritismo teve a intuição da sua brilhante carreira de escritor?
Pouco importa se ele era bastante modesto para não se ocupar com essas contingências terrestres. Antes de tudo, ele queria o bem de seus leitores.
Seu desejo foi amplamente atendido e ele teve a imensa alegria, durante sua vida, de ter inúmeros testemunhos da feliz eficácia de suas obras.
Bem hábil seria o estatístico que conseguisse obter o número dos que, graças a Depois da Morte, puderam ser consolados.
O patriarca do Espiritismo retornou à espiritualidade e, durante sua longa trajetória, conheceu todas as provações, sem jamais se deixar abater.
Seus despojos, bem gastos por 81 anos de vida terrena, se decompuseram, lentamente, no solo de Tours, porém seu espírito [ix] plana nas altas esferas.
Denis deve continuar sua missão, pois, durante sua recente encarnação, se esmerou em provar que a morte é uma simples evolução e que continuamos nosso trabalho, qualquer que seja o lado em que nos encontremos.
Pouco tempo depois de sua morte, Léon Denis teria se manifestado em Rochefort-sur-Mer, no círculo Allan Kardec. Em Annales du Spiritisme,[x] o casal Luce, de Tours, amigos íntimos do mestre, e Claire Baumard, secretária, declararam, formalmente, ter reconhecido suas maneiras familiares, sua linguagem brilhante, impossível de imitar, mesmo que se decorassem certas passagens de suas obras.
Houve uma manifestação verdadeira? Nada sei, porém o casal Luce confirmou a sua autenticidade.
Conheço pessoalmente a Srta. Brasseaud, médium do Círculo Allan Kardec; em 1912, ela produziu a escrita direta em ardósia, sob minucioso controle.[xi]
Se a comunicação de Léon Denis é autêntica, tanto melhor, porque é uma prova formal de que o grande apóstolo não estava enganado em suas afirmativas; se não se trata de uma manifestação de Léon Denis, fato bem possível, tanto pior, porém isso não impede que nos arquivos mundiais do Espiritismo se encontrem muitos exemplos bem controlados de manifestações de mortos, na hora prevista por eles em vida e nas condições que haviam indicado.
Para ser conciliatório em relação àqueles que não participam de nossas idéias, eu aceitaria, a rigor, admitir que os espíritas estão errados.
Quando vemos o exemplo de Léon Denis, de Gabriel Delanne e de tantos outros, quando constatamos o bem que eles fizeram à humanidade, às numerosas criaturas que consolaram, temos o direito de pensar: se eles se enganaram, tanto pior; mais vale esse erro que o de outros teóricos, cujo ensino produz a dúvida e gera o sofrimento.
Nossa doutrina ajuda aqueles que têm a oportunidade de conhecê-la e de aplicar os seus ensinamentos, a viver bem. Isso não é o mais importante?
Léon Denis: Livro:  Depois da Morte
Fonte: www.autoresespiritasclassicos.com


[i]              Léon Denis – Depois da Morte, “Introdução”.
[ii]             Léon Denis – Depois da Morte, 2ª parte, “As provas e a morte”.
[iii]            Guy de Maupassant – Clair de Lune, Editora Flammarion.
[iv]            Esse fenômeno está bem estudado em O Livro dos Médiuns, capítulo IX, de Allan Kardec. (N.E.)
[v]             Todas as vezes em que me ocupo de tratamento psíquico, que se trata de sofrimentos físicos, de obsessões, de possessões, eu recuso qualquer retribuição; trato com total desinteresse.
[vi]            Léon Denis – Depois da Morte, 3ª parte, “Perigos do Espiritismo”.
[vii]           Léon Denis – Depois da Morte, 2ª parte, “As provas e a morte”.
[viii]         Léon Denis – Depois da Morte, “Introdução”.
[ix]            Em O Problema do Ser e do Destino, Léon Denis escreve: “Denominamos espírito a alma revestida de seu corpo sutil.” Emprego o termo espírito no mesmo sentido.
[x]             Ver Annales du Spiritisme, Rua Guesdon nº 32, Rochefort-sur-Mer, setembro de 1927.
[xi]            A escrita direta é um fenômeno bem comprovável. Eis uma das maneiras como pode produzir-se: – Duas ardósias, com molduras de madeira, são colocadas uma sobre a outra, pondo-se um lápis entre elas antes de lacrá-las. Sem qualquer contato humano, o médium impõe as mãos sobre as ardósias e, quando são abertas, nelas são encontradas frases escritas por um espírito ou pelo fantasma de um vivo.