terça-feira, 29 de outubro de 2013
sábado, 26 de outubro de 2013
A VERDADEIRA PROPRIEDADE
9- O
homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo.
Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece.
Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse
real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que
é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimento,
as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva contigo, o que ninguém lhe
pode arrebatar; o que será de muita utilidade no outro mundo do que neste,
como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando
alguém vai a um pais distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis
nesse pais: não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do
mesmo modo com relação a vida futura; aprovisionai-vos de tudo o que lá vos
possais servir.
Ao
viajante que chega a um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A
outro, de parcos recursos, toca um menos agradável. Quanto ao que nada tenha de
seu, vai dormir numa enxerga. O mesmo sucede ao homem, a sua chegada no mundo
dos Espíritos: depende dos seus haveres o lugar para onde vá. Não será,
todavia, com o seu ouro que ele pagará. Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas
na Terra? Que posição ocupava? Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: Que
trazes contigo? Não se lhe avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das
virtudes que possua. Ora, sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do
que o príncipe. Em vão alegará que antes de partir da Terra pagou o peso de
ouro a sua entrada no outro mundo. Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se
compram: conquistam-se por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás
podido comprar campos, casas, palácios; aqui, tudo se paga com qualidades da
alma. És rico dessas qualidades? Sê bem- vindo e vai para um dos lugares da
primeira categoria, onde te esperam todas as venturas. És pode delas? Vai para
um dos da última, onde serás tratado de acordo com os teus haveres.- Pascal.
(Genebra, 1860)
10-
Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o
homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente
desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que
Deus frequentemente anula todas as previsões e a riqueza foge aquele que se
julga com melhores títulos para possuí-la. Direis, porventura, que isso se
compreende no tocante aos bens hereditários, porém, não relativamente aos que
são adquiridos pelo trabalho. Sem dúvida alguma, se há riquezas legitimas, são
estas últimas, quando honestamente conseguidas, porquanto uma propriedade só é
legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não resulta dano para
ninguém. Contas serão pedidas até mesmo de um único ceitil mau ganho, Isto é,
com prejuízo de outrem. Mas, do fato de um homem dever a si próprio a riqueza
que possua, seguir-se-á que, ao desencarnar, alguma vantagem lhe advenha desse
fato? Não são amiúdes inúteis as precauções que ele toma para transmiti-la a
seus descendentes: Decerto, porquanto, se Deus não quiser que ela lhes vá ter
ás mãos, nada prevalecerá contra a sua vontade. Poderá o homem usar e abusar de
seus haveres durante a vida, sem ter de prestar contas? Não. Permitindo-lhe que
a adquirisse, é possível haja Deus tido em vista recompensar-lhe, no curso da
existência atual, os esforços, a coragem, a perseverança. Se, porém, ele
somente os utilizou na satisfação dos seus sentidos ou do seu orgulho; se tais
haveres se lhe tomaram causa de falência, melhor fora não os ter possuído,
visto que perde o que ganhou do outro anulando o mérito de seu trabalho. Quando
deixar a Terra, Deus dirá que já recebeu a sua recompensa. -M. Espírito
protetor [Bruxelas, 1861] Tirado do Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo
Capítulo XVI FEB: Allan Kardec
Repassando...
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Desenvolvimento da Ciência Espírita
É cada vez maior o número de pessoas que recorrem às
instituições espíritas suplicando ajuda para si mesmas ou para parentes e amigos
que se entregam a viciações e perversões de toda espécie. Na sua humildade
muitas vezes simplória, alimentada racionalmente pelos princípios doutrinários,
os dirigentes de centros e grupos espíritas fazem o que podem, servindo-se dos
recursos naturais da prece, do passe e das sessões mediúnicas. Dos resultados
positivos obtidos no passado, não obstante as campanhas difamatórias,
perseguições e processos criminais movidos contra os médiuns, nasceram os
Hospitais Psiquiátricos Espíritas, hoje em grande número em nosso país e
geralmente bem aparelhados e dotados de assistência médica especializada. Só no
Estado de São Paulo funcionam atualmente mais de trinta hospitais espíritas
reunidos numa Federação Hospitalar de que o Governo do Estado se serviu para aliviar
o Juqueri, Hospital Franco da Rocha, numa das suas crises mais ameaçadoras. Os
espíritas sentem-se na obrigação de atender a esses casos, sempre que possível,
por considerarem que eles são mais espirituais do que materiais, de maneira que
o tratamento médico é geralmente insuficiente para curá-los. Fiéis aos
princípios de caridade e fraternidade da Doutrina, esforçam-se por dar a sua
ajuda desinteressada em favor dos sofredores.
Essa intenção piedosa, humanitária, foi constantemente
denegrida por médicos e clérigos desconhecedores do problema. A luta foi sempre
árdua e até mesmo desesperadora para os espíritas, num país em que a maioria da
população é pobre e desprovida de cultura, prevalecendo sempre as opiniões dos
doutores e dos sacerdotes, os primeiros apoiados em sua formação científica e
acadêmica, e os segundos em sua falível cultura religiosa, mais de sacristia do
que se seminário. Essas duas classes gozavam amplamente da autoridade de
saberetas num meio social de analfabetos e bacharéis em direito. Os espíritas
que mais se destacavam por seus conhecimentos doutrinários não haviam sequer
compreendido os fundamentos científicos do Espiritismo e os encaravam
misteriosa e até mesmo cabalisticamente. Os adversários não encontravam
dificuldades para misturá-los, aos olhos do público, com possíveis
remanescentes da Goécia ou magia-negra medieval. Padres, bacharéis e juristas
pintaram o chamado demonismo-espírita à moda do tempo, com rabo, chifres e a
foice e o martelo do ateísmo pendurados no pescoço.
Quando os espíritas de Amparo resolveram fundar naquela
cidade um Sanatório Espírita para doentes mentais, ilustre, jovem e fogoso
médico e intelectual paulista explicou pelos jornais da época, nos anos 40, que
os espíritas fundavam esses hospitais por dor de consciência, pois fabricavam
loucos e depois queriam reabilitá-los. Foi necessário que um jornalista
espírita o revidasse, mostrando que o motivo não era esse, mas o fato evidente
da falência da medicina que, no desconhecimento do problema, enchia diariamente
os caldeirões do diabo no Juqueri com pobres criaturas desprotegidas da ciência
e da religião. O mestre implume, não podendo voar mais alto, teve de calar o
bico. Logo mais, o médium Arigó, que por sinal ainda era católico e fazia milagres ao invés de produzir fenômenos,
foi atacado brutalmente por uma série de artigos publicados em jornal de grande
circulação por um médico que não chegara a ver o médium e diagnosticava à distância
a sua loucura, e por famoso professor universitário que o apoiava, alegando que
Arigó operava sob a ação alucinatória do café, que bebia em excesso. Os
cientistas norte-americanos salvaram o médium já então condenado à prisão,
vindo a São Paulo e expondo, no auditório do Museu de Arte Moderna, perante
convidados ilustres, os motivos científicos de seu interesse pelo médium.
Apesar disso, Arigó acabou sendo preso e só foi libertado por uma decisão do
Supremo Tribunal, ante o prestígio dos nomes dos cientistas, pertencentes a
famosas Universidades dos Estados Unidos, cujos pareceres foram divulgados nos Diários Associados e em todo o Brasil.
Mas isso não impediu que o Padre Quevedo prosseguisse com suas arruaças contra
o médium e o Espiritismo, no bom estilo de toureiro que, de capa e espada,
desafiava as aspas da verdade na imprensa e na televisão com rendosa propaganda
gratuita de seus cursos de pseudoparapsicologia made in Madri.
A moda pegou e o Brasil se encheu de pseudoparapsicólogos
que brotavam do chão como as heresias no tempo de Tertuliano. Ainda hoje
continua a floração desses cogumelos por todo o país. Cursos e escolas semeiam
diplomas da Ciência de Rhine e McDougal à margem da lei e das áreas
educacionais oficialmente autorizadas. Esse panorama surrealista é responsável
pelo atraso em que nos defrontamos no campo dos estudos e das pesquisas dos
fenômenos paranormais no Brasil. O Instituto Paulista de Parapsicologia,
fundado por Cientistas, Médicos, Psicólogos, estudantes de Medicina (atualmente
já médicos famosos) não vingou, ante a avalanche de aproveitadores que o
invadiram, levando seus diretores a fechá-lo, por esse motivo e pelo total
desinteresse das nossas Universidades, temerosas do pandemônio que se
avolumava. Tivemos de voltar à estaca-zero. Ninguém, nem mesmo os governos,
tiveram coragem de pôr a mão na cumbuca, proporcionando recursos ao Instituto
para a montagem de seu laboratório. Nas vésperas da Era Cósmica, preferimos o
gesto cômico, supinamente burlesco, de lavar as mãos na bacia de Pilatos e
deixar o problema no campo da charlatanice.
Os espíritas continuam, num clima de maiores esperanças
mundiais nesse terreno, com o avanço espantoso das pesquisas parapsicológicas
nos Estados Unidos e na URSS, a socorrer no Brasil as vítimas de perturbações
mentais e psíquicas, em seus centros de trabalho permanente e gratuito. A
eficácia de seus métodos simples, desprovidos dos recursos tecnológicos da
atualidade, são evidentes, mas não constam de comprovações estatísticas. Não há
recursos nem tempo para o luxo das avaliações estatísticas. Mas a verdade salta
aos olhos, brilha nos lares beneficiados por dedicações anônimas. Já é tempo de
acordarmos para a constatação desse fato. O Brasil avançou culturalmente entre
os anos 30 e 60, com a descentralização do ensino superior e a criação de
Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras por toda a sua extensão. Nem mesmo o
interregno das agitações políticas e militares conseguiu perturbar esse desenvolvimento.
Demos a prova decisiva da nossa preferência pela paz, a ordem e o progresso.
Mas o meio espírita, infenso às agitações e inquietações políticas, deixou-se
embalar pelas canções de ninar das mensagens mediúnicas piedosas, dos relatos
curiosos da vida após a morte, nas pregações mediúnicas incessantes sobre a
caridade, a humildade, o amor ao próximo, a moral evangélica, a preparação de
todos para a migração a mundos superiores e assim por diante. Desenvolveu-se um
curioso processo de alienação religiosa que nem mesmo nas sacristias se
processava. Surgiram, além das fascinações do tipo roustainguista
(intencionalmente retrógradas) correntes pseudo-espíritas de mentalismo e
esoterismo pretensiosos, agrupamentos de fiéis acarneirados em torno de
pseudomestres dotados de sabedoria infusa e arrogante, como a dos teólogos das
igrejas, resquícios assustadores de pretensões divinistas e divinatórias,
correntes alienantes de um formalismo beócio, pregando o aperfeiçoamento formal
das atitudes e do comportamento humanos, com processos de impostação da voz e
de gesticulações pré-fabricadas, e até mesmo (Deus nos acuda) tentativas de criação
do celibato espírita e imposição da abstinência sexual aos casados.
Toda essa floração de cogumelos venenosos, vinda
evidentemente das raízes da Patrística, redundava na volta ao farisaísmo e às
suas consequências no meio patrístico da era pós-apostólica, que tanto
enfurecia o Apóstolo Paulo. Pouco faltava para que a proposta de Tertuliano, de
recorrer-se à figura jurídica do usucapião,
fosse aplicada ao Evangelho. Formava-se e ainda se tenta formar, no meio
espírita, uma estrutura totalitária de poder e arbítrio, com uma disciplina
legal asfixiando a liberdade espírita. Ao mesmo tempo, a terapia espírita,
nascida humildemente da prece e da imposição das mãos aos doentes, segundo o
ensino e o exemplo de Jesus, era transformada em ritos complicados e pretensiosos,
aplicados por médiuns diplomados pelas Federações. Até mesmo as práticas do
confessionário foram estabelecidas em várias instituições, a partir do
manda-chuva, que agia com rigorosa disciplina paramilitar. O escândalo da
adulteração das obras fundamentais da doutrina, declaradamente inspiradas pelo
sucesso das adulterações da Bíblia pelas igrejas cristãs, produziu felizmente o
estouro do tumor. Alguém tivera a coragem de usar o bisturi na hora precisa,
mostrando a profundidade do processo infeccioso, definindo e localizando os
focos da infecção na corroída e orgulhosa estrutura do movimento espírita.
Restabelecia-se a verdade e reanimava-se o corpo doente e
minado pelas trevas. As áreas não contaminadas pela infecção reagiam de todos
os lados e os vencidos pela fascinação começavam a sentir os primeiros abalos
da consciência. Encerrava-se o ciclo perigoso das infiltrações malignas e os
que não haviam cedido ao autoritarismo dos falsos mestres e mentores experimentavam
a alegria da volta ao bom-senso kardeciano.
A terapia espírita começava lentamente a recuperar-se em
sua simplicidade e pureza. O prestígio do passe espírita, desprovido de
encenações espúrias e pretensiosas, restabelecia-se nos grupos não
contaminados. Jesus aplacara o temporal como num gesto de piedade. O farisaísmo
tem suas raízes nas entranhas animais do homem, de onde brotam os instintos
primitivos, perturbando a mente e envenenando o coração. Os cristãos primitivos
foram levados à loucura de se julgarem puros e santos, como vemos nas epístolas
ardentes de Paulo, reprimindo os núcleos desvairados. No meio espírita
domesticado por incessantes mensagens padrescas, algumas instituições
doutrinárias chegaram a proclamar-se donas exclusivas da verdade. Um enviado
dos anjos fez-se oráculo dos novos tempos (por conta própria) e a autodenominada Casa-Máter do Espiritismo
no Brasil ampliou a sua orgulhosa e falsa pretensão, cortando do seu título
autoconcedido a expressão “do Brasil”, tornando-se, com essa simples operação,
a Casa-Máter do Espiritismo no Mundo. Com essa manobra as trevas cortavam a
possibilidade de uma estruturação mundial do movimento espírita[i].
O movimento brasileiro fechava-se a si mesmo e poderia restabelecer entre nós o
Templo de Jerusalém com seu rabinato exclusivista. A reação de André Dumas, na
França, da Confederação Espírita Pan-americana da Argentina, da própria
Federação Argentina, da Venezuela e de intelectuais espíritas como Humberto
Mariotti, Robert Fourcade e outros mostrou o alcance dessa manobra. Que esse
triste exemplo dos descaminhos a que o farisaísmo pode levar-nos sirva para
acordar o bom-senso dos desprevenidos. A terapia espírita não terá eficácia se
não pudermos aplicá-la a nós mesmos e ao nosso movimento doutrinário. Sem uma
base de convicção firme e de fidelidade à obra de Kardec não poderemos
curar-nos a nós mesmos, quanto mais aos outros.
Repassando...
Herculano Pires
Ciência Espírita e
suas implicações terapêuticas
[i]
Ocorreram alterações no cenário internacional. Em 1992, com efetivo apoio da
Federação Espírita Brasileira, foi fundado o Conselho Espírita Internacional.
(Nota da Editora.)
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