A
finalidade deste livro é oferecer, sobretudo aos jovens, um modo de orientar-se
na vida, auto-dirigindo-se depois de ter entendido seu funcionamento.
Procuramos estabelecer um diálogo baseado na inteligência, sinceridade e boa
vontade.
Usamos
este método, aconselhando-o ao leitor, por que é de seu interesse usá-lo.
Cremos seja vantajoso para todos eliminar o velho, fatigante e contraproducente
sistema dos atritos entre contrários. Não nos fazemos de preceptor que exige
obediência, nem de distribuidor de sabedoria para menores ignorantes que nada
sabem fazer, senão aceitar as sugestões. Aqui não existe autoridade imposta e
por isso nada a contestar.
Aqui
se procura apenas explicar, a quem interessa compreender, como realmente
funciona a vida, a fim de que cada um, se o quiser, comporte-se de um modo mais
racional, portanto mais vantajoso menos ilógico e de menor dano. Explica-se,
ainda, que ninguém pode constranger outrem a fazer isso ou aquilo, e que se
deve respeitar a sua liberdade. Explica-se, também, que não se podem impedir as consequências das boas ou más ações praticadas por ele. Em suma, deve-se
compreender que existe uma realidade inevitável, pela qual, quando não se vive
em estado de ordem e disciplina, devem-se sofrer os consequentes danos, porque
esta é a lei da vida que subsiste, mesmo depois de destruída toda autoridade
humana. Explicaremos, assim, que se deve ser honesto e prudente, não pelo fato
de que esta ou aquela autoridade humana o impõe e pelo medo de sanções
punitivas com que ela nos ameaça.
Este
é o velho sistema. O novo, que aqui seguimos não se baseia na imposição
forçada, mas na livre aceitação derivada da convicção. E esta convicção é
exatamente a que nos propomos alcançar com a demonstração racional e positiva,
baseada em fatos. É por isto que nos pomos em posição de diálogo, isto é, de
paridade perante o leitor. Como se vê, o problema é solucionado por um
princípio completamente diverso do passado, exatamente aquele que as jovens
estão hoje inaugurando e que corresponde às suas condições de vida modificadas,
devidas à maturidade que a homem está para atingir.
A vida é uma série de problemas a
serem resolvidos. Como resolvê-los? Antigamente vigorava o método do comando,
adaptado à fase infantil da humanidade. Devia-se obedecer cegamente. Por que?
Parque assim tinha Deus falado. Aqui a mente humana estacava, porque era
incapaz de avançar sozinha. Hoje ela sabe andar um pouco mais à frente e
pergunta: mas por que falou Deus assim? O adulto discute a autoridade, mas
reconhece-lhe a valor se ela serve à vida: obedece se está convencido de que
seja útil e justa. Não basta comandar, é necessário justificar o próprio
direito ao comando.
O
leitor dirá: mas eu não creio em Deus! Não tem importância. Pedimos apenas
observar os fatos que nos mostram como funciona a vida. É pueril pensar que o
crer ou não crer em nossas filosofias ou religiões possa modificar tal
realidade. Ora, esse funcionamento contínuo, concreto, experimentalmente
controlável, mostra-nos de forma racional a presença de conceitos diretivas sem
os quais o fato positiva de tal funcionamento não se pode realizar. Eis que
cada um pode verificar essa presença de principias e que eles são antepostos à
manutenção de uma ordem. Quem ama, crê, verá neles Deus; quem é ateu, deverá
admitir que a presença deles, ainda que negando Deus. Diga-se que, na prática,
afirmar ou negar sua presença não altera nada, porque todos obedecem àquelas
leis, sejam de qualquer religião, ou não.
Não
entramos na teoria geral de tal funcionamento da vida, o que nos levaria muita
longe, e disso tratamos amplamente alhures. Aqui queremos ser fáceis e
práticos; permanecemos, portanto, ligadas à realidade exterior, aquela que
mais tocamos com as mãos. Quem quiser aprofundar o conhecimento de tais problemas,
enfrentando-os em seus aspectos mais vastas e longínquas e analisando-os em
seus pormenores, poderá encontrar tudo isso nas demais livras já publicados.
Entremos
na matéria.
De
nossa forma mental e estrutura da personalidade, de nossa escolha e conduta
depende o modo pelo qual cada um constrói a própria vida e o seu própria
destino. Primeira semeamos e depois colhemos. A relação causa-efeito é
evidente. A vida é um laboratório onde encontramos os mais variados
instrumentos e ingredientes. Nós os escolhemos e depois os manipulamos, como
melhor nos parece, cada um a seu modo.
Grande
parte deste trabalho é preestabelecido e automático: o nascimento, o
desenvolvimento físico, a velhice, a morte, a reprodução, o funcionamento
orgânico, os impulsos dos instintos e a formação de outros novos, pela
assimilação no subconsciente das experiências vividas. Todos podem verificar
que nossa vida se desenvolve ao longo de uma rota estabelecida da qual ninguém
pode sair.
Podemos,
porém, permitir-nos oscilações, mas mesmo estas permanecem limitadas e
corrigidas par uma lei sua, que tende a canalizá-las na ordem, tão logo esta
seja violada. Mesmo se, aparentemente, parece que dominam a nossa liberdade e o
caos individualista, em substância, além destas aparências, todos os nossos
movimentos permanecem regulados por leis cuja função é reconstruir o equilíbrio
e sanar o mal que fazemos. Sem a presença dessa força íntima reguladora, o
nosso mundo, abandonado a si mesma, desmoronaria dentro em pouco, enquanto,
pelo contrário, vemos que ele se está construindo, porque evolui sempre para o
alto.
A
vida é um impulso de crescimento, é um anseio em direção à perfeição e à
felicidade. A grande aspiração é subir, mesmo se cada um o faz a seu nível.
Nisso manifesta-se a lei de evolução. Devemos evoluir e para isso a vida é
aquele laboratório que mencionamos, isto é, uma escola de experimentação para
aprender. A primeira coisa que é necessário compreender, sobretudo os jovens
construtores da vida, é que este é um trabalho de construção de si mesmo
através de provas variadas, cada um sujeito àquelas mais adaptadas ao seu
desenvolvimento.
A
vida é uma coisa séria, a ser percorrida com consciência e responsabilidade,
sabendo a que dores podem levar-nos os nossos erros. É necessário então saber
como é construída a Lei, para evitar tais erros e as dores que se seguem. Esta
lei pode ser chamada a Lei de Deus, parque exprime o Seu pensamento, pensamento
que dirige cada fenômeno, em todos os níveis de evolução e planos de
existência.
É
necessário ter compreendido que o homem se move dentro dessa Lei como um peixe
no mar. A finalidade de nossos movimentos é a experimentação, e a finalidade da
vida é aprender. Estamos cheios de desejos, sobretudo os jovens, e de impulsos
que nos lançam a provar o que serve para construir-nos. Os efeitos desse
trabalho ficam registrados e são acrescentados à nossa personalidade, que se
enriquece de conhecimento, constituindo a nossa própria evolução. Par aí se
compreende a importância do saber viver. Assim, ao fim da vida, seremos ricos
se soubermos adquirir novas e melhores qualidades; e seremos pobres se nada
fizemos e, portanto, nada aprendemos de bom. Isso, independentemente de todos
os triunfos, conquistas e bens terrenos, que só valem como miragens que nos
induzem a fazer a trabalho de experimentação e de aquisição de qualidades.
Trata-se
de um novo modo de conceber a vida, em função de outros pontos de referência,
para conquistar outros valores. Antigamente relegava-se isso ao plano
espiritual em bases emotivas de fé e sentimento. Hoje, fazemo-la baseando-nos
na lógica, observações dos fatos e controle experimental. Já é um progresso,
parque daí nasce um tipo de moral positivamente científica e universal, aquela
que os novos tempos de espírito crítico exigem. Progresso necessário, parque,
quanto mais se avança, tanto mais os problemas a resolver, de que é feita a
vida, se fazem mais numerosos e difíceis. Os instrumentos de experimentação
que encontramos no seu laboratório e que devemos adotar para aprender fazem-se
sempre mais complexos e de difícil uso. Para nossos ancestrais bastava uma
ética elementar para resolver os seus problemas. Faz-se necessário, agora, uma
ética sempre mais complexa e exata para resolver os novos problemas que surgem,
quando se sabe a um nível evolutivo mais elevado. Para dirigir uma carroça ou
um automóvel é necessário grau diverso de perícia e precisão.
A
nossa sociedade atual não possui escolas que eduquem a fundo, ensinando a
viver. A velha moral era exterior, baseada muito nas aparências, em velhos
enganos, nos quais hoje não mais se crê. Antigamente bastava não dar escândalo
e que o pecado não fosse visto. A verdadeira ciência da vida consistia em esconder
os próprios defeitos, não em corrigi-los. E os adultos que possuíam aquela
ciência guardavam-se bem de ensiná-la em prejuízo próprio. Usavam, em vez, a
autoridade e puras noções. Tais métodos estão hoje se desmantelando. A
liberdade individual cresceu e o pecado social adquiriu importância, porque
prejudica o próximo. Hoje a
vida faz-se sempre mais coletiva e exige um maior senso de responsabilidade.
Ora,
quem entendeu tem o dever de mostrar como tudo funciona àqueles que podem e
querem compreender. Com estes
apontamentos buscamos preencher o vácuo de conhecimento que se verifica nas
diretivas fundamentais de nossa vida, em nosso pensamento e nossos atos.
Antigamente isso era deixado aos instintos, aos impulsos do subconsciente. E
este era um terreno inexplorado e a psicanálise era inexistente. As motivações
eram secretas. O indivíduo não as estudava, não as dirigia; lançava assim ao
acaso a semente do futuro desenvolvimento de seu destino. Os jovens enfrentavam
a vida, tomando as mais graves decisões, em estado de completa ignorância dos
problemas que deviam enfrentar e das suas soluções. Procedia-se por tentativas,
ao acaso, seguindo miragens. Nada de planificações racionais da vida, nenhum
conhecimento das consequências. Disso pode-se deduzir quão despreparado estava
o indivíduo para resolver as seus problemas com inteligência.
Aquilo
que buscamos adquirir neste livro, é a consciência de nós mesmos, o
conhecimento do significado, valor e consequências de cada ata nosso, de modo
que tudo se desenvolva beneficamente, de maneira satisfatória para o
indivíduo. Desejamos ensiná-lo a ser forte, resistente, positivo, construtivo.
Chegou a hora de dar um salto à frente, em direção a um novo tipo de seleção
biológica, não mais aquela feroz do passado que exaltava como campeão o
vencedor violento, assaltante, hoje tornado um perigo social. Trata-se de um
tipo de seleção mais aperfeiçoado, que deseja produzir o homem inteligente,
trabalhador, espiritualmente forte, coletivamente organizado. Trata-se de
construir o homem consciente, que sabe pensar por si, independente do juízo
alheio, um responsável porque conhece a Lei de Deus e, segundo ela, sabe
viver.
Tal
conhecimento e o fato de saber viver de tal modo, com a consciência de
encontrar-se dentro da Lei, em harmonia com ela, devem dar a esse homem
resistência na adversidade, que só pode possuir quem sabe encontrar-se de
acordo com a Lei, portanto em posição de justo equilíbrio no seio da ordem
universal. Que podem fazer as acusações alheias, quando o indivíduo é honesto e
com consciência pode proclamar perante Deus a sua honestidade? A verdadeira
força não está nos poderes humanos, mas no estado de retidão. Quem compreendeu
como tudo isso funciona, sabe que estas não são apenas palavras. Ele sabe que a
Lei não é uma abstração, mas unia força viva, operante, inflexível, positiva,
saneadora, honesta; sabe que a sua justiça termina por vencer todas as
injustiças humanas e que, portanto, o vencedor final é o justo e não o
prepotente sobre a Terra. A Lei, imparcial e universal, paga a cada um o que
for merecido.
Neste
trabalha não apresentamos produtos emocionais ou fideísticos. Através da
observação e da experimentação chegamos à conclusão que existem no campo moral
e espiritual leis interrogáveis como as existentes no campo da matéria e da
energia. Todos os fenômenos, de cada tipo, são regidas por leis exatas que não são senão ramificações de uma lei
central que contém os princípios que regulam o funcionamento de todo o
universo.
Buscaremos,
a seguir, mostrar quais metas mais altas e preciosas pode ter a vida, que lhe
dão um significado novo e vão além daquelas comuns do sucesso material.
Procuraremos mostrar que, para conquistar, com outros valores também se pode
lutar e vencer. E o fazemos não baseados em abstrações filosóficas ou
misticismos, mas no real funcionamento da vida.
Com
estes esclarecimentos, fechamos estas notas preliminares de orientação geral,
com as quais quisemos definir o presente trabalho e suas bases.
Pensamentos; Autor: Pietro
Ubaldi
Tradução:
Vasco de Castro Ferraz