segunda-feira, 7 de maio de 2012

Alma e reencarnação





19 - Alma e reencarnação
Depois da morte
Efetivamente, logo após a morte física, sofre a alma culpada
minucioso processo de purgação, tanto mais produtivo quanto
mais se lhe exteriorize a dor do arrependimento, e, apenas depois
disso, consegue elevar-se a esferas de reconforto e reeducação.
Se a moléstia experimentada na veste somática foi longa e difícil,
abençoadas depurações terão sido feitas, pelo ensejo de autoexame,
no qual as aflições suportadas com paciência lhe alteraram
sensações e refundiram idéias.
Todavia, se essa operação natural não foi possível no círculo
carnal, mais se lhe agravam os remorsos, depois do túmulo, por
recalcados na consciência, a aflorarem, todos eles, através de
reflexão, renovando as imagens com que foram fixados na própria
alma.
Criminosos que mal ressarciram os débitos contraídos, instados
pelo próprio arrependimento, plasmam, em torno de si mesmos,
as cenas degradantes em que arruinaram a vida íntima, alimentando-
as à custa dos próprios pensamentos desgovernados.
Caluniadores que aniquilaram a felicidade alheia vivem pesadelos
espantosos, regravando nas telas da memória os padecimentos
das vítimas, como no dia em que as fizeram descer para o
abismo da angústia, algemados ao pelourinho de obsidentes recordações.
Tiranetes diversos volvem a sentir nos tecidos da própria alma
os golpes que desferiram nos outros, e os viciados de toda
sorte, quais os dipsômanos e morfinômanos, experimentam agoniada
insatisfação, qual ocorre também aos desequilibrados do sexo,
que acumulam na organização psicossomática as cargas magnéticas do instinto em desvario, pelas quais se localizam em plena
alienação.
As vítimas do remorso padecem, assim, por tempo correspondente
às necessidades de reajuste, larga internação em zonas
compatíveis com o estado espiritual que demonstram.
Conceito de inferno
O inferno das várias religiões, nesse aspecto, existe perfeitamente
como órgão controlador do equilíbrio moral nos reinos do
Espírito, assim como a penitenciária e o hospital se levantam na
Terra, como retortas de recuperação e de auxílio.
Além-túmulo, no entanto, o estabelecimento depurativo como
que reúne em si os órgãos de repressão e de cura, porquanto as
consciências empedernidas aí se congregam às consciências enfermas,
na comunhão dolorosa, mas necessária, em que o mal é
defrontado pelo próprio mal, a fim de que, em se examinando nos
semelhantes, esmoreça por si na faina destruidora em que se
desmanda.
É assim que as Inteligências ainda perversas se transformam
em instrumentos reeducativos daquelas que começam a despertar,
pela dor do arrependimento, para a imprescindível restauração.
O inferno, dessa maneira, no clima espiritual das várias nações
do Globo, pode ser tido na conta de imenso cárcere-hospital,
em que a diagnose terrestre encontrará realmente todas as doenças
catalogadas na patologia comum, inclusive outras muitas, desconhecidas
do homem, não propriamente oriundas ou sustentadas
pela fauna microbiana do ambiente carnal, mas nascidas de profundas
disfunções do corpo espiritual e, muitas vezes, nutridas
pelas formas-pensamentos em torturado desequilíbrio, classificáveis
por larvas mentais, de extremo poder corrosivo e alucinatório,
não obstante a fugaz duração com que se articulam, quando
não obedecem às idéias infelizes, longamente recapituladas no
tempo.
“Sementes de destino”
Nesses lugares de retificadoras inquietações, alija o Espírito
endividado a carga de superfície, exonerando-se dos elementos de
mais envolvente degradação que o aviltam; contudo, tão logo
revele os primeiros sinais de positiva renovação para o bem,
registra o auxílio das Esferas Superiores, que, por agentes inúmeros,
apóiam os serviços da Luz Divina onde a ignorância e a crueldade
se transviam na sombra.
Qual doente, agora acolhido em outros setores pela encorajadora
convalescença de que dá testemunho, o devedor desfruta
suficiente serenidade para rever os compromissos assumidos na
encarnação recentemente deixada, sopesando os males e sofrimentos
de que se fez responsável, acusando ainda a si próprio,
com a incapacidade evidente de perdoar-se, tanto maior quão
maiores lhe foram no mundo as oportunidades de elevação e a luz
do conhecimento.
Muita vez, ascendem a escolas beneméritas, nas quais recolhem
mais altas noções da vida, aprimoram-se na instrução, aperfeiçoam
impulsos e exercem preciosas atividades, melhorando os
próprios créditos; todavia, as lembranças dos erros voluntários,
ainda mesmo quando as suas vítimas tenham já superado todas as
seqüelas dos golpes sofridos, entranham-se-lhes no espírito por
“sementes de destino”, de vez que eles mesmos, em se reconhecendo
necessitados de promoção a níveis mais nobres, pedem
novas reencarnações com as provas de que carecem para se quitarem
consciencialmente consigo próprios.
Nesses casos, a escolha da experiência é mais que legítima,
porquanto, através da limpeza de limiar, efetuada nas regiões
retificadoras, e pelos títulos adquiridos nos trabalhos que abraça,
no plano extrafísico, merece a criatura os cuidados preparatórios
da nova tarefa em vista, a fim de que haja a conjugação de todos
os fatores para que reencontre os credores ou as circunstâncias
imprescindíveis, junto aos quais se redima perante a Lei.
Reencarnações especiais
Entretanto, reencarnações se processam, muita vez, sem qualquer
consulta aos que necessitam segregação em certas lutas no
plano físico, providências essas comparáveis às que assumimos no
mundo com enfermos e criminosos que, pela própria condição ou
conduta, perderam temporariamente a faculdade de resolver quanto
à sorte que lhes convêm no espaço de tempo em que se lhes
perdura a enfermidade ou em que se mantenham sob as determinações
da justiça.
São os problemas especiais, em que a individualidade renasce
de cérebro parcialmente inibido ou padecendo mutilações congênitas,
ao lado daqueles que lhe devem abnegação e carinho.
Incapazes de eleger o caminho de reajuste, pelo estado de
loucura ou de sofrimento que evidenciam, semelhantes enfermos
são decididamente internados na cela física como doentes isolados
sob assistência precisa.
Vemo-los, assim, repontando de lares faustosos ou paupérrimos,
contrariando, por vezes, até certo ponto, os estatutos que
regem a hereditariedade, por representarem dolorosas exceções no
caminho normal.
Reencarnação e evolução
Urge reparar, entretanto, em que a reencarnação não é mero
princípio regenerativo.
A evolução natural nela encontra firme apoio.
Criaturas que avultam na bondade, em muitas ocasiões requerem
conhecimento nobilitante e muitas que se agigantaram na
inteligência permanecem à míngua de virtude.
Outras inumeráveis, embora detendo preciosos valores, nos
domínios do coração e do cérebro, após longo estágio no plano
extrafísico, sentem fome de progresso renovador por inabilitadas,
ainda, a ascensões maiores e renunciam à tranqüilidade a que se
integram nos grupos afins, porque, no cadinho efervescente da
carne, analisam, de novo, as próprias imperfeições, testando-lhes
a amplitude nas rudes experiências da vida humana, obtendo mais
avançado ensejo de corrigenda e transformação.
Isso não significa que a consciência desencarnada deixe de
encontrar possibilidades de expansão nas cidades espirituais que
gravitam em torno da Terra. Outras modalidades de estudo e
trabalho aí lhe asseguram novos fatores de evolução; contudo,
escassa percentagem de criaturas humanas, além da morte, adquirem
acesso definitivo aos planos superiores.
A esmagadora maioria jaz ainda ligada às ideologias e raças,
pátrias e realizações, famílias e lares do mundo.
É por isso que artistas eméritos, ao notarem o curso diferente
das escolas que deixaram no Planeta, sentem-se irresistivelmente
atraídos para a reencarnação, a fim de preservar-lhes ou enriquecer-
lhes os patrimônios.
Cientistas eminentes, interessados na continuidade dos empreendimentos
redentores que largaram em mãos alheias, volvem
ao trabalho e à experimentação entre os homens, e, no mesmo
espírito missionário, religiosos e filósofos, professores e condutores,
homens e mulheres que se distinguem por nobres aspirações
retornam, voluntariamente à esfera física, em sagradas ações de
auxílio que lhes valem honrosos degraus de sublimação na escalada
para a Divina Luz.
Entendamos, assim, que tanto a regeneração quanto a evolução
não se verificam sem preço.
O progresso pode ser comparado a montanha que nos cabe
transpor, sofrendo-se naturalmente os problemas e as fadigas da
marcha, enquanto que a recuperação ou a expiação podem ser
consideradas como essa mesma subida, devidamente recapitulada,
através de embaraços e armadilhas, miragens e espinheiros que
nós mesmos criamos.
Se soubermos, porém, suar no trabalho honesto, não precisaremos
suar e chorar no resgate justo.
E não se diga que todos os infortúnios da marcha de hoje estejam
debitados a compromissos de ontem, porque, com a prudência
e a imprudência, com a preguiça e o trabalho, com o bem e o
mal, melhoramos ou agravamos a nossa situação, reconhecendo se
que todo dia, no exercício de nossa vontade, formamos novas
causas, refazendo o destino.
Particularidades da reencarnação
Perguntar-se-á razoavelmente, se existe uma técnica invariável
no serviço reencarnatório Seria o mesmo que indagar se a
morte na Terra é única em seus processos para todas as criaturas.
Cada entidade reencarnante apresenta particularidades essenciais
na recorporificação a que se entrega na esfera física, quanto
cada pessoa expõe característicos diferentes quando se rende ao
processo liberatório, não obstante o nascimento e a morte parecerem
iguais.
Os Espíritos categoricamente superiores, quase sempre, em
ligação sutil com a mente materna que lhes oferta guarida, podem
plasmar por si mesmos e, não raro, com a colaboração de instrutores
da Vida Maior, o corpo em que continuarão as futuras
 experiências, interferindo nas essências cromossômicas, com vistas às
tarefas que lhes cabem desempenhar.
Os Espíritos categoricamente inferiores, na maioria das ocasiões,
padecendo monoideísmo tiranizante, entram em simbiose
fluídica com as organizações femininas a que se agregam, experimentando
o definhamento do corpo espiritual ou o fenômeno de
“ovoidização”, sendo inelutavelmente atraídos ao vaso uterino,
em circunstâncias adequadas, para a reencarnação que lhes toca,
em moldes inteiramente dependentes da hereditariedade, como
acontece à semente, que, após desligar-se do fruto seco, germina
no solo, segundo os princípios organogênicos a que obedece, tão
logo encontre o favor ambiencial.
Entre ambas as classes, porém, contamos com milhões de Espíritos
medianos na evolução, portadores de créditos apreciáveis e
dívidas numerosas, cuja reencarnação exige cautela de preparo e
esmero de previsão.
Restringimento do corpo espiritual
Institutos de escultura anatômica funcionam, por isso, no Plano
Espiritual, brunindo formas diversas, de modo a orientar os
mapas ou prefigurações do serviço que aos reencarnantes competirá,
mais tarde atender.
Corpos, membros, órgãos, fibras e células são aí esboçados e
estudados, antes que se definam os primórdios da rematerialização
terrestre, porque, nesses casos, em que a alma oscila entre
méritos e deméritos, a reencarnação permanece sob os auspícios
de autoridades e servidores da Justiça Espiritual que administra
recursos a cada aprendiz da sublimação, de acordo com as obras
edificantes que lhes constem do currículo da existência.
Para isso, os candidatos à reencarnação, sem superioridade
suficiente de modo a supervisioná-la com o seu próprio critério e
distantes da inferioridade primitivista que deles faria escravos
absolutos da herança física, são admitidos a instituições-hospitais
em que magnetizadores desencarnados, bastante competentes pela
nobreza íntima, se incumbem de aplicar-lhes fluídos balsamizantes
que os adormeçam, por períodos variáveis, de conformidade
com a evolução moral que enunciem, a fim de que os princípios
psicossomáticos se adaptem a justo restringimento, em bases de
sonoterapia.
Desse modo, regressam ao berço humano nas condições precisas,
recolhidos a novo corpo, qual operário detentor de virtudes
e defeitos a quem se concede novo uniforme de trabalho e nova
oportunidade de realização.
Corpo físico
Paternidade e maternidade, raça e pátria, lar e sistema consangüíneo
são conjugados com previdente sabedoria para que não
faltem ao reencarnante todas as possibilidades necessárias ao
êxito no empreendimento que se inicia.
E senhor das experiências adquiridas que lhe despontam do
ser, em forma de tendências e impulsos, recebe o Espírito um
corpo físico inteiramente novo, em olvido temporário, mas não
absoluto, das experiências pregressas, corpo com o qual será
defrontado pelas circunstâncias favoráveis ou não do caminho que
deve percorrer, para prosseguir na obra digna em que se haja
empenhado ou para retificar as lições em que haja falido.
Nessas diretrizes, nem sempre estará integrado normalmente
na posição em que a vida mental e o campo somático se mostram
em sinergia ideal.
Às vezes, deve sofrer mutilações e enfermidades benéficas,
inibições e dificuldades orgânicas de caráter inevitável, porque,
de aprendizado a aprendizado e de tarefa a tarefa, quanto o aluno
de estágio a estágio para as grandes metas educativas, é que se
levantará, vitorioso, para a ascensão à Imortalidade Celeste.
Francisco Cândido Xavier - Evolução em Dois Mundos - pelo Espírito André Luiz

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