Toda transformação ocasiona uma
perturbação; uma simples mudança, seja de uma cidade para outra, seja unicamente
de residência, não deixa de causar uma desorganização psíquica que só cessa com
a adaptação ao novo meio.
A personalidade não mudou, nada perdeu,
continua a ser a mesma, mas sofreu a sua desagregação do meio em que se achava
e lutou para se acostumar e poder agir no meio para onde se transferiu.
Naturalmente, nesses trâmites por que
passou a pessoa teve contrariedades e sofreu.
Pensemos agora na transição provocada
pela morte e façamos uma ideia em relação incomparavelmente superior às
insignificantes mudanças - seja de residência, seja de cidade ou de país.
Acrescente-se ainda a desagregação do corpo físico e poder-se-á ter uma idéia
do que seja a perturbação da morte:
1. ° - mudança de meio;
2. ° - mudança de condições de vida;
3. ° - mudança de meio de ação.
Entretanto, apesar de todas essas
mudanças, a individualidade permanece, como permaneceu a mesma individualidade
durante todas as mudanças que fez - de casa em casa; de cidade em cidade; de um
para outro país. O homem é imperecível nas trocas que faz de residência, nas suas
transferências de um país para outro; o Espírito, que é a individualidade
permanente, é imortal na sua transformação e passamento para o Outro Mundo,
tendo unicamente o trabalho de se adaptar a uma vida nova, muito diferente daquela
vivida na Terra e ainda com o acréscimo de não mais possuir um corpo denso,
material, que "não podia" dispensar para agir neste mundo, e lhe
servia de instrumento para desempenhar a tarefa que veio realizar, ou exercício
do cargo que veio desempenhar.
Ora, todos sabem, perfeitamente, como é
difícil abandonar hábitos enraizados, e a morte vem suprimir, de uma hora para
outra, os hábitos costumeiros, dando lugar à aquisição de outros costumes,
visto serem diferentes as condições do meio para o qual somos trasladados. Está
claro que tudo é relativo, e o progresso, em todas as coisas, age
gradativamente, sem saltos bruscos, de modo que, na outra esfera da vida,
teremos um complemento de vida, como meio de transição para um estado melhor,
assim como certamente haverá uma esfera de seguimento à fase física do
indivíduo, para que ele se adapte à Vida Superior sem uma transição brusca.
E isto que nos dizem os Espíritos,
cônscios do seu estado, e que já passaram pelos trâmites que se seguem à morte
e chegaram à Imortalidade.
Por isso, o Mundo Espiritual é provido
de meios que fornecem à vida de além-túmulo as condições indispensáveis para a
transição. Por exemplo, dizem as entidades do Espaço que lá existem hospitais
onde são tratados aqueles que passam por longa enfermidade, e os quais, por
suas condições de atraso, não percebem o Mundo dos Espíritos em sua realidade.
Aí são curados, e, depois, instruídos sobre a nova situação até que se adaptem
ao meio em que se acham.
Os Espíritos dos que morrem quando
crianças são acolhidas carinhosamente por missionários, que se dedicam a essa
tarefa, e são igualmente instruídos até que se lhes desponte a consciência
integral? Desapareça deles o traço infantil gravado na "consciência
pessoal".
Assim também sucede com a alimentação.
Aos entes muito materializados, que chegam ao Mundo Espiritual sem compreenderem
a transformação porque passaram, e têm ainda sensação de fome e sede, lhes são
ministrados alimentos em instalações especiais, até que, adaptados ao meio em
que iniciaram a nova vida, compreendam que não têm mais necessidades desses
alimentos, que julgavam precisos para sua manutenção. Naturalmente, os
alimentos assemelham-se muito aos que lhes eram usuais na Terra, mas são feitos
de matéria peculiar ao Mundo dos Espíritos e de acordo com o corpo fluídico, ou
seja, o organismo perispiritual de cada um.
Não podíamos deixar de narrar todas
essas particularidades do Mundo Espiritual, que não deixam de ser lógica, de
acordo com a lei da evolução, que não admite bruscas transições e que
proporciona, sempre, períodos intermediários para suavizar as mudanças que ocasionam
grande abalo, e maior perturbação ainda ocasionariam, se fossem excluídos os
meios precisos para essas transições.
Isto tudo demonstra que o Mundo
Espiritual não é uma concepção abstrata, uma miragem, um vácuo inconcebível, sem
sanção da inteligência, mas, sim, um meio concreto, onde se encontram as
condições indispensáveis para as adaptações e o progresso do Espírito.
Já havíamos recebido essas revelações
há muitos anos; contudo, tínhamo-las conservado como lição de caráter puramente
familiar, e sujeita, portanto, à observação: é sabido que as revelações da
Verdade têm caráter coletivo; se, de fato, a nossa procedesse dessa fonte,
outros também recebê-la-iam em todo o mundo. Se isso acontecesse, julgaríamos
essas revelações transcendentais realmente dignas de atenção e até de
experimentações novas, com outros médiuns, para sua melhor confirmação.
Com efeito, em diversas obras inglesas,
norte-americanas é francesas, vemos, hoje, a reprodução detalhada dessas mensagens!
O Plano Espiritual desenterra o oculto e concorre para que conheçamos o futuro
que nos espera, assim como nos dá a conhecer, desde já, em que consiste a outra
vida e quais os meios facultados, nessas regiões, aos entes que nos são caros,
para a aquisição de uma felicidade duradoura e de um progresso crescente para a
Luz e a
Verdade.
E, com estes dados, mal apanhados pela
imperfeição dos nossos sentidos, dados fornecidos pelos Espíritos que habitam o
Além e passaram, mais ou menos, por essas peripécias, podemos, hoje, fazer uma ideia
mais aproximada das condições desse Outro Mundo e em que consiste a perturbação
da morte e os meios aplicados para suavizá-la.
Com a leitura das obras espíritas,
especialmente O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, e A Crise da Morte, de
Ernesto
Bozzano, muito se aprende sobre a
perturbação que ocasiona à passagem de uma a outra vida.
www.autoresespiritasclassicos.com
Caibar Schutel: 1932: Livro: A
vida no outro mundo
Willian Turner
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