segunda-feira, 24 de março de 2014

Como Orientar a Própria Vida

INTRODUÇÃO - ORIENTAÇÃO


A finalidade deste livro é oferecer, sobretudo aos jovens, um modo de orientar-se na vida, auto-dirigindo-se depois de ter enten­dido seu funcionamento. Procuramos estabelecer um diálogo baseado na inteligência, sinceridade e boa vontade.
Usamos este método, aconselhando-o ao leitor, por que é de seu interesse usá-lo. Cremos seja vantajoso para todos eliminar o velho, fatigante e contraproducente sistema dos atritos entre con­trários. Não nos fazemos de preceptor que exige obediência, nem de distribuidor de sabedoria para menores ignorantes que nada sabem fazer, senão aceitar as sugestões. Aqui não existe autoridade im­posta e por isso nada a contestar.
Aqui se procura apenas explicar, a quem interessa com­preender, como realmente funciona a vida, a fim de que cada um, se o quiser, comporte-se de um modo mais racional, portanto mais vantajoso menos ilógico e de menor dano. Explica-se, ainda, que ninguém pode constranger outrem a fazer isso ou aquilo, e que se deve respeitar a sua liberdade. Explica-se, também, que não se podem impedir as consequências das boas ou más ações praticadas por ele. Em suma, deve-se compreender que existe uma realidade inevitável, pela qual, quando não se vive em estado de ordem e dis­ciplina, devem-se sofrer os consequentes danos, porque esta é a lei da vida que subsiste, mesmo depois de destruída toda autoridade humana. Explicaremos, assim, que se deve ser honesto e prudente, não pelo fato de que esta ou aquela autoridade humana o impõe e pelo medo de sanções punitivas com que ela nos ameaça.
Este é o velho sistema. O novo, que aqui seguimos não se baseia na imposição forçada, mas na livre aceitação derivada da convicção. E esta convicção é exatamente a que nos propomos alcançar com a demonstração racional e positiva, baseada em fatos. É por isto que nos pomos em posição de diálogo, isto é, de parida­de perante o leitor. Como se vê, o problema é solucionado por um princípio completamente diverso do passado, exatamente aquele que as jovens estão hoje inaugurando e que corresponde às suas condições de vida modificadas, devidas à maturidade que a homem está para atingir.
       A vida é uma série de problemas a serem resolvidos. Como resolvê-los? Antigamente vigorava o método do comando, adaptado à fase infantil da humanidade. Devia-se obedecer cega­mente. Por que? Parque assim tinha Deus falado. Aqui a mente humana estacava, porque era incapaz de avançar sozinha. Hoje ela sabe andar um pouco mais à frente e pergunta: mas por que fa­lou Deus assim? O adulto discute a autoridade, mas reconhece-lhe a valor se ela serve à vida: obedece se está convencido de que seja útil e justa. Não basta comandar, é necessário justificar o próprio direito ao comando.
O leitor dirá: mas eu não creio em Deus! Não tem impor­tância. Pedimos apenas observar os fatos que nos mostram como fun­ciona a vida. É pueril pensar que o crer ou não crer em nossas filoso­fias ou religiões possa modificar tal realidade. Ora, esse funcionamen­to contínuo, concreto, experimentalmente controlável, mostra-nos de forma racional a presença de conceitos diretivas sem os quais o fato positiva de tal funcionamento não se pode realizar. Eis que cada um pode verificar essa presença de principias e que eles são antepostos à manutenção de uma ordem. Quem ama, crê, verá neles Deus; quem é ateu, deverá admitir que a presença deles, ainda que negando Deus. Diga-se que, na prática, afirmar ou negar sua presença não altera nada, porque todos obedecem àquelas leis, sejam de qualquer religião, ou não.
Não entramos na teoria geral de tal funcionamento da vida, o que nos levaria muita longe, e disso tratamos amplamente alhures. Aqui queremos ser fáceis e práticos; permanecemos, por­tanto, ligadas à realidade exterior, aquela que mais tocamos com as mãos. Quem quiser aprofundar o conhecimento de tais proble­mas, enfrentando-os em seus aspectos mais vastas e longínquas e analisando-os em seus pormenores, poderá encontrar tudo isso nas demais livras já publicados.
Entremos na matéria.
De nossa forma mental e estrutura da personalidade, de nossa escolha e conduta depende o modo pelo qual cada um cons­trói a própria vida e o seu própria destino. Primeira semeamos e depois colhemos. A relação causa-efeito é evidente. A vida é um laboratório onde encontramos os mais variados instrumentos e in­gredientes. Nós os escolhemos e depois os manipulamos, como me­lhor nos parece, cada um a seu modo.
Grande parte deste trabalho é preestabelecido e automá­tico: o nascimento, o desenvolvimento físico, a velhice, a morte, a reprodução, o funcionamento orgânico, os impulsos dos instintos e a formação de outros novos, pela assimilação no subconsciente das experiências vividas. Todos podem verificar que nossa vida se desenvolve ao longo de uma rota estabelecida da qual ninguém pode sair.
Podemos, porém, permitir-nos oscilações, mas mesmo es­tas permanecem limitadas e corrigidas par uma lei sua, que tende a canalizá-las na ordem, tão logo esta seja violada. Mesmo se, aparentemente, parece que dominam a nossa liberdade e o caos indivi­dualista, em substância, além destas aparências, todos os nossos movimentos permanecem regulados por leis cuja função é reconstruir o equilíbrio e sanar o mal que fazemos. Sem a presença dessa for­ça íntima reguladora, o nosso mundo, abandonado a si mesma, des­moronaria dentro em pouco, enquanto, pelo contrário, vemos que ele se está construindo, porque evolui sempre para o alto.
A vida é um impulso de crescimento, é um anseio em di­reção à perfeição e à felicidade. A grande aspiração é subir, mes­mo se cada um o faz a seu nível. Nisso manifesta-se a lei de evolução. Devemos evoluir e para isso a vida é aquele laboratório que mencionamos, isto é, uma escola de experimentação para aprender. A primeira coisa que é necessário compreender, sobretudo os jovens construtores da vida, é que este é um trabalho de construção de si mesmo através de provas variadas, cada um sujeito àquelas mais adaptadas ao seu desenvolvimento.
A vida é uma coisa séria, a ser percorrida com consciência e responsabilidade, sabendo a que dores podem levar-nos os nossos erros. É necessário então saber como é construída a Lei, pa­ra evitar tais erros e as dores que se seguem. Esta lei pode ser cha­mada a Lei de Deus, parque exprime o Seu pensamento, pensa­mento que dirige cada fenômeno, em todos os níveis de evolução e planos de existência.
É necessário ter compreendido que o homem se move dentro dessa Lei como um peixe no mar. A finalidade de nossos movimentos é a experimentação, e a finalidade da vida é aprender. Estamos cheios de desejos, sobretudo os jovens, e de impulsos que nos lançam a provar o que serve para construir-nos. Os efeitos des­se trabalho ficam registrados e são acrescentados à nossa persona­lidade, que se enriquece de conhecimento, constituindo a nossa pró­pria evolução. Par aí se compreende a importância do saber viver. Assim, ao fim da vida, seremos ricos se soubermos adquirir novas e melhores qualidades; e seremos pobres se nada fizemos e, portan­to, nada aprendemos de bom. Isso, independentemente de todos os triunfos, conquistas e bens terrenos, que só valem como miragens que nos induzem a fazer a trabalho de experimentação e de aqui­sição de qualidades.
Trata-se de um novo modo de conceber a vida, em função de outros pontos de referência, para conquistar outros valores. An­tigamente relegava-se isso ao plano espiritual em bases emotivas de fé e sentimento. Hoje, fazemo-la baseando-nos na lógica, observa­ções dos fatos e controle experimental. Já é um progresso, parque daí nasce um tipo de moral positivamente científica e universal, aquela que os novos tempos de espírito crítico exigem. Progresso necessário, parque, quanto mais se avança, tanto mais os problemas a resolver, de que é feita a vida, se fazem mais numerosos e di­fíceis. Os instrumentos de experimentação que encontramos no seu laboratório e que devemos adotar para aprender fazem-se sempre mais complexos e de difícil uso. Para nossos ancestrais bastava uma ética elementar para resolver os seus problemas. Faz-se neces­sário, agora, uma ética sempre mais complexa e exata para resolver os novos problemas que surgem, quando se sabe a um nível evolu­tivo mais elevado. Para dirigir uma carroça ou um automóvel é necessário grau diverso de perícia e precisão.
A nossa sociedade atual não possui escolas que eduquem a fundo, ensinando a viver. A velha moral era exterior, baseada muito nas aparências, em velhos enganos, nos quais hoje não mais se crê. Antigamente bastava não dar escândalo e que o pecado não fosse visto. A verdadeira ciência da vida consistia em escon­der os próprios defeitos, não em corrigi-los. E os adultos que possuíam aquela ciência guardavam-se bem de ensiná-la em prejuízo próprio. Usavam, em vez, a autoridade e puras noções. Tais mé­todos estão hoje se desmantelando. A liberdade individual cresceu e o pecado social adquiriu importância, porque prejudica o próxi­mo. Hoje a vida faz-se sempre mais coletiva e exige um maior senso de responsabilidade.
Ora, quem entendeu tem o dever de mostrar como tudo funciona àqueles que podem e querem compreender.  Com estes apontamentos buscamos preencher o vácuo de conhecimento que se verifica nas diretivas fundamentais de nossa vida, em nosso pen­samento e nossos atos. Antigamente isso era deixado aos instintos, aos impulsos do subconsciente. E este era um terreno inexplorado e a psicanálise era inexistente. As motivações eram secretas. O in­divíduo não as estudava, não as dirigia; lançava assim ao acaso a semente do futuro desenvolvimento de seu destino. Os jovens en­frentavam a vida, tomando as mais graves decisões, em estado de completa ignorância dos problemas que deviam enfrentar e das suas soluções. Procedia-se por tentativas, ao acaso, seguindo miragens. Nada de planificações racionais da vida, nenhum conhecimento das consequências. Disso pode-se deduzir quão despreparado esta­va o indivíduo para resolver as seus problemas com inteligência.
Aquilo que buscamos adquirir neste livro, é a consciên­cia de nós mesmos, o conhecimento do significado, valor e consequências de cada ata nosso, de modo que tudo se desenvolva bene­ficamente, de maneira satisfatória para o indivíduo. Desejamos en­siná-lo a ser forte, resistente, positivo, construtivo. Chegou a hora de dar um salto à frente, em direção a um novo tipo de seleção biológica, não mais aquela feroz do passado que exaltava como campeão o vencedor violento, assaltante, hoje tornado um perigo social. Trata-se de um tipo de seleção mais aperfeiçoado, que deseja produzir o homem inteligente, trabalhador, espiritualmente forte, coletivamente organizado. Trata-se de construir o homem conscien­te, que sabe pensar por si, independente do juízo alheio, um res­ponsável porque conhece a Lei de Deus e, segundo ela, sabe viver.
Tal conhecimento e o fato de saber viver de tal modo, com a consciência de encontrar-se dentro da Lei, em harmonia com ela, devem dar a esse homem resistência na adversidade, que só pode possuir quem sabe encontrar-se de acordo com a Lei, portan­to em posição de justo equilíbrio no seio da ordem universal. Que podem fazer as acusações alheias, quando o indivíduo é honesto e com consciência pode proclamar perante Deus a sua honestidade? A verdadeira força não está nos poderes humanos, mas no estado de retidão. Quem compreendeu como tudo isso funciona, sabe que estas não são apenas palavras. Ele sabe que a Lei não é uma abstração, mas unia força viva, operante, inflexível, positiva, saneadora, ho­nesta; sabe que a sua justiça termina por vencer todas as injustiças humanas e que, portanto, o vencedor final é o justo e não o prepotente sobre a Terra. A Lei, imparcial e universal, paga a cada um o que for merecido.
Neste trabalha não apresentamos produtos emocionais ou fideísticos. Através da observação e da experimentação chegamos à conclusão que existem no campo moral e espiritual leis interrogáveis como as existentes no campo da matéria e da energia. Todos os fenômenos, de cada tipo, são regidas por leis exatas que não são senão ramificações de uma lei central que contém os princípios que regulam o funcionamento de todo o universo.
Buscaremos, a seguir, mostrar quais metas mais altas e preciosas pode ter a vida, que lhe dão um significado novo e vão além daquelas comuns do sucesso material. Procuraremos mostrar que, para conquistar, com outros valores também se pode lutar e vencer. E o fazemos não baseados em abstrações filosóficas ou misticismos, mas no real funcionamento da vida.
Com estes esclarecimentos, fechamos estas notas prelimi­nares de orientação geral, com as quais quisemos definir o presente trabalho e suas bases.
Pensamentos; Autor: Pietro Ubaldi
Tradução: Vasco de Castro Ferraz











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