quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Discurso pronunciado para Alan Kardec após morte

(Revista Espírita, maio de 1869).
Discurso pronunciado sobre o túmulo de Allan Kardec
POR CAMILLE FLAMMARION
Senhores,
Aquiescendo com deferência ao convite simpático dos amigos
do pensador laborioso, cujo corpo terrestre jaz agora aos
nossos pés, lembro-me de um dia sombrio do mês de
dezembro de 1865. Eu pronunciava, então, supremas
palavras de adeus sobre a tumba do fundador da Librairie
Académique, do honorável Didier, que foi, como editor, o
colaborador convicto de Allan Kardec na publicação das obras
fundamentais de uma doutrina que lhe era cara, e que morreu
subitamente também, como se o céu quisesse poupar, a
esses dois Espíritos íntegros, o embaraço filosófico de sair
desta vida por um caminho diferente do caminho comumente
recebido. . A mesma reflexão se aplica à morte de nosso
antigo colega Jobard, de Bruxelas.
Hoje, a minha tarefa é maior ainda, porque gostaria de poder
representar, ao pensamento daqueles que me ouvem, e
àqueles milhões de homens que no novo mundo estão
ocupados com o problema ainda misterioso dos fenômenos
denominados espíritas; . eu gostaria, disse eu, de poder
representar-lhes o interesse científico e o futuro filosófico do
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estudo desses fenômenos (ao qual se entregaram, como
ninguém ignora, homens eminentes entre os nossos
contemporâneos). Gostaria de lhes fazer entrever quais
horizontes desconhecidos ao pensamento humano verá se
abrir diante deles, à medida que estenda o seu conhecimento
positivo das forças naturais em ação ao nosso redor; mostrarlhes
que tais constatações são o antídoto mais eficaz da lepra
do ateísmo, que parece atacar particularmente a nossa época
de transição; e testemunhar, enfim, publicamente, aqui, do
eminente serviço que o autor de
à filosofia,
até então, pertenciam ao domínio mórbido e funesto das
superstições religiosas.
Seria, com efeito, um ato importante estabelecer aqui, diante
desta tumba eloqüente, que o exame metódico dos
fenômenos espíritas, chamados erradamente de sobrenaturais,
longe de renovar o espírito supersticioso e enfraquecer a
energia da razão, ao contrário, afasta os erros e as ilusões da
ignorância, e
ilegítima daqueles que não querem, de nenhum modo, dar-se
ao trabalho de ver.
Mas não é aqui o lugar de abrir uma arena à discussão
desrespeitosa. Deixemos somente descer, de nossos
pensamentos, sobre a face impassível do homem deitado
diante de nós, testemunhos de afeição e sentimentos de
pesar, que restam ao redor dele em seu túmulo, como um
embalsamamento do coração! E uma vez que sabemos que a
sua alma eterna sobrevive a este despojo mortal, como lhe
preexistiu; uma vez que sabemos que laços indestrutíveis
ligam o nosso mundo visível ao mundo invisível; uma vez que
esta alma existe hoje, tão bem como há três dias, e que não
é impossível que ela não se encontre atualmente aqui diante
de mim; dizemos-lhe que não quisemos ver se desvanecer a
sua imagem corpórea e encerrá-la em seu sepulcro, sem
honrar unanimemente os seus trabalhos e a sua memória,
O Livro dos Espíritos prestouchamando a atenção e a discussão sobre fatos que,serve melhor ao progresso do que a negação
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sem pagar um tributo de reconhecimento à sua encarnação
terrestre, tão utilmente e tão dignamente cumprida.
Eu exporei primeiro, num esboço rápido, as linhas principais
de sua carreira literária.
Morto com a idade de 65 anos, Allan Kardec consagrara a
primeira parte de sua vida a escrever obras clássicas,
elementares, destinadas sobretudo ao uso de professores
primários e da juventude. Quando, por volta de 1855, as
manifestações, em aparência novas, das mesas girantes, das
pancadas sem causa ostensiva, dos movimentos insólitos dos
objetos e dos móveis, começaram a atrair a atenção pública e
determinaram mesmo, nas imaginações aventurosas, uma
espécie de febre devida à novidade das experiências, Allan
Kardec, estudando ao mesmo tempo o magnetismo e os
efeitos estranhos, seguiu com a maior paciência e uma
judiciosa clarividência as experiências e as tentativas tão
numerosas feitas então em Paris. Ele recolheu e pôs em
ordem os resultados obtidos por essa longa observação, e
com isso compôs o corpo de doutrina publicado, em 1857, na
primeira edição de
sucesso acolheu essa obra, na França e no estrangeiro.
Chegada hoje à sua 15ª edição, difundiu em todas as classes
esse corpo de doutrina elementar, que não era, de nenhum
modo, novo em sua essência, uma vez que a escola de
Pitágoras, na Grécia, e a dos druidas, em nossa pobre Gália
dela, ensinavam os princípios, mas que revestiam uma forma
da atualidade pela correspondência com os fenômenos.
Depois dessa primeira obra, apareceram, sucessivamente,
Livro dos Médiuns ou Espiritismo experimental; . O que é o
Espiritismo?
respostas; .
Inferno; . A Gênese;
momento em que, em sua atividade infatigável, trabalhava
numa obra sobre as relações do magnetismo e do Espiritismo.
O Livro dos Espíritos. Sabeis todos queOou resumo sob a forma de perguntas e deO Evangelho Segundo o Espiritismo; . O Céu e o. e a morte veio surpreendê-lo no
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Pela
presidente, se constituíra, de alguma sorte, o centro para
onde tudo tendia, o traço de união de todos os
experimentadores. Há alguns meses, sentindo o seu fim
próximo, preparou as condições de vitalidade desses mesmos
estudos depois de sua morte, e estabeleceu a Comissão
central que lhe sucede.
Ele levantou rivalidades; fez escola sob uma forma um pouco
pessoal; há ainda alguma divisão entre os "espiritualistas" e
os "espíritas". Doravante, Senhores, (tal é pelo menos o voto
dos amigos da verdade), deveremos estar todos reunidos por
uma solidariedade confraternal, pelos mesmos esforços para a
elucidação do problema, pelo desejo geral e impessoal do
verdadeiro e do bem.
Objetou-se, Senhores, ao nosso digno amigo, a quem
rendemos hoje os derradeiros deveres, se lhe objetou de não
ser, de nenhum modo, o que se chama
sido, primeiro, físico, naturalista ou astrônomo, e de ter
preferido constituir um corpo de doutrina moral antes de
haver aplicado a discussão científica à realidade e à natureza
dos fenômenos.
Talvez, Senhores, seja preferível que as coisas hajam
começado assim. Não é necessário rejeitar sempre o valor do
sentimento. Quantos corações foram consolados primeiro por
esta crença religiosa! Quantas lágrimas foram secadas!
Quantas consciências abertas ao raio da beleza espiritual!
Nem todos são felizes neste mundo. Muitas afeições foram
dilaceradas! Muitas almas foram entorpecidas pelo ceticismo.
Não é, pois, nada senão de haver conduzido ao espiritualismo
tantos seres que flutuavam na dúvida e que não amavam
mais a vida, nem a física, nem a intelectual?
Allan Kardec fora homem de ciência, e, sem dúvida, não teria
podido prestar este primeiro serviço e difundi-lo, assim, ao
longe, como um convite a todos os corações.
Revista Espírita e a Sociedade de Paris, da qual eraum sábio, de não ter
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Mas era o que eu chamarei simplesmente "o bom senso
encarnado". Razão direita e judiciosa, aplicava sem
esquecimento, à sua obra permanente, as indicações íntimas
do senso comum. Não estava aí uma menor qualidade na
ordem das coisas que nos ocupa. Era, pode-se afirmá-lo, a
primeira de todas e a mais preciosa, sem a qual a obra não
poderia se tornar popular, nem lançar as suas imensas raízes
no mundo. A maioria daqueles que se entregaram a esses
estudos, lembram-se de ter sido, em sua juventude, ou em
certas circunstâncias especiais, testemunhas, eles mesmos,
das manifestações inexplicadas; há poucas famílias que não
hajam observado, em sua história, testemunhos dessa ordem.
O primeiro ponto era aplicar-lhes a razão firme do simples
bom senso e examiná-las segundo os princípios do método
positivo.
Como organizador desse estudo lento e difícil, ele mesmo
previu-o, esse complexo estudo deve entrar agora em seu
período científico. Os fenômenos físicos sobre os quais não se
insistiu de início, devem se tornar o objeto da crítica
experimental, à qual devemos a glória do progresso moderno,
e as maravilhas da eletricidade e do vapor; esse método deve
tomar os fenômenos de ordem ainda misteriosa, aos quais
assistimos, dissecá-los, medi-los, e defini-los.
Porque, Senhores, o Espiritismo não é uma religião, mas é
uma ciência, ciência da qual conhecemos apenas o
tempo dos dogmas acabou. A Natureza abarca o Universo, e,
o próprio Deus, que se fez outrora à imagem do homem, não
pode ser considerado pela metafísica moderna senão como
a b c. O
um Espírito na Natureza
manifestações obtidas por intermédio dos médiuns, como as
do magnetismo e do sonambulismo,
devem ser severamente submetidas ao controle da
experiência. Não há mais milagres. Assistimos à aurora de
uma ciência desconhecida. Quem poderia prever a quais
conseqüências conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo
positivo dessa psicologia nova?
. O sobrenatural não existe mais. Assão de ordem natural, e
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Doravante, a ciência rege o mundo; e, Senhores, não será
estranho a este discurso fúnebre anotar a sua obra atual e as
induções novas que ela nos descobre, precisamente do ponto
de vista de nossas pesquisas.
Em nenhuma época da história, a ciência desenvolveu, diante
do olhar admirado do homem, horizontes tão grandiosos.
Sabemos agora que a
atual se cumpre no céu
elementos que queimam no Sol e nas estrelas, a milhões, a
trilhões de léguas de nosso observatório terrestre. Pelo
cálculo, possuímos a história do céu e da Terra em seu
passado distante, como em seu futuro, que não existem pelas
leis imutáveis. Pela observação, pesamos as terras celestes
que gravitam na amplidão. O globo onde estamos se tornou
um átomo estelar voando no espaço, em meio das
profundezas infinitas, e a nossa própria existência, sobre este
globo, tornou-se uma fração infinitesimal de nossa vida
eterna. Mas o que pode, a justo título, nos ferir mais
vivamente ainda, é esse espantoso resultado dos trabalhos
físicos operados nestes últimos anos: que
de um mundo invisível
Sim, Senhores, aí está, para nós, uma revelação imensa.
Contemplai, por exemplo, a luz derramada nesta hora na
atmosfera por esse brilhante Sol, contemplai esse azul tão
suave da abóboda celeste, notai esses eflúvios de ar tíbio que
vem acariciar os nossos rostos, olhai esses monumentos e
esta terra: pois bem! apesar dos nossos grandes olhos
abertos, não vemos o que se passa aqui! Sobre cem raios
emanados do Sol, só um terço é acessível à nossa visão, seja
diretamente, seja refletido por todos os corpos; os dois terços
existem e agem ao nosso redor, mas de maneira invisível,
embora real. São quentes, sem serem luminosos para nós e
são, entretanto, mais ativos do que aqueles que nos ferem,
porque são eles que atraem as flores para o lado do Sol, que
produzem todas as ações químicas (1), e são eles também
que elevam, sob uma forma igualmente invisível, o vapor
d’água na atmosfera para formar as nuvens; . exercendo
Terra é um astro, e que nossa vida. Pela análise da luz, conhecemos osvivemos em meio, agindo sem cessar ao nosso redor.
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assim, incessantemente, ao nosso redor, de maneira oculta e
silenciosa, uma força colossal, mecanicamente avaliável ao
trabalho de bilhões de cavalos!
(1) A nossa retina é insensível a esses raios; mas outras
substâncias os
Fotografou-se o espectro solar químico, que o nosso olho não
vê. A placa do fotógrafo não oferece, de resto, jamais,
nenhuma imagem visível ao sair da câmara escura, embora
ela a
aparecer.
Se os raios caloríficos e os raios químicos que agem
constantemente na Natureza são invisíveis para nós, é porque
os primeiros não ferem com bastante rapidez a nossa retina,
e porque os segundos a ferem muito rápido. O nosso olho não
vê as coisas senão entre dois limites, aquém e além dos quais
não vê mais. O nosso organismo terrestre pode ser
comparado a uma harpa de duas cordas, que são o nervo
óptico e o nervo auditivo. Uma certa espécie de movimento
coloca em vibração o primeiro e uma outra espécie de
movimentos coloca em vibração o segundo: aí está
sensação humana
vivos, de certos insetos, por exemplo, nos quais essas
mesmas cordas, da visão e do ouvido, são mais delicadas.
Ora, existem, em realidade, na Natureza não dois, mas dez,
cem, mil espécies de movimentos. A ciência física nos ensina,
portanto, que vivemos assim no meio de um mundo invisível
para nós, e que não é impossível que seres (invisíveis
igualmente para nós) vivam igualmente sobre a Terra, numa
ordem de sensações absolutamente diferentes da nossa, e
sem que possamos apreciar a sua presença, a menos que não
se manifestem a nós por fatos entrando na nossa ordem de
sensações.
Diante de tais verdades, que não fazem ainda senão
entreabrir, quanto a negação
valor! Quando se compara o pouco que sabemos, e a
vêem, por exemplo, o iodo e os sais de prata.possua, uma vez que uma operação a química faztoda a, mais restrita aqui do que a de certos seresa priori parece absurda e sem
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exigüidade da nossa esfera de percepção à quantidade do que
existe, não se pode impedir de concluir que não sabemos
nada e que tudo nos resta a saber. Com que direito
pronunciaremos, pois, a palavra "impossível" diante dos fatos
que constatamos sem poder descobrir-lhes a causa única?
A ciência nos abre visões, tão autorizadas quanto as
precedentes, sobre os fenômenos da vida e da morte e sobre
a força que nos anima. Basta-nos observar a circulação das
existências.
Tudo não é senão metamorfose. Transportados em seu curso
eterno, os átomos constitutivos da matéria passam, sem
cessar, de um corpo a outro, do animal à planta, da planta à
atmosfera, da atmosfera ao homem, e nosso próprio corpo,
durante a duração inteira de nosso vida, muda
incessantemente de substância constitutiva, como a chama
não brilha senão pelos elementos renovados sem cessar; e
quando a alma se evola, esse mesmo corpo, tantas vezes
transportado já durante a vida, devolve definitivamente à
Natureza todas as moléculas para não mais retomá-las. Ao
dogma inadmissível da ressurreição da carne substituiu-se a
alta doutrina da transmigração das almas.
Eis o sol de abril que irradia nos céus e nos inunda com o seu
primeiro orvalho calorescente. Já os campos despertam, já os
primeiros botões se entreabrem, já a primavera floresce, o
azul celeste sorri, e a ressurreição se opera; e, todavia, esta
vida nova não está formada senão pela morte e não recobre
senão ruínas! De onde vem a seiva dessas árvores que
reverdecem no campo dos mortos? De onde vem essa
umidade que nutre as raízes? De onde vêm todos os
elementos que vão fazer aparecer, sob as carícias de maio, as
pequenas flores silenciosas e os pássaros cantores? . Da
morte?... Senhores..., desses cadáveres sepultados na noite
sinistra dos túmulos!... Lei suprema da Natureza, o corpo não
é senão um conjunto transitório de partículas que não lhe
pertencem de nenhum modo, e que a alma agrupou segundo
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o seu próprio tipo, para se criarem órgãos pondo-a em
relação com o nosso mundo físico. E, ao passo que o nosso
corpo se renova assim, peça por peça, pela mudança
perpétua das matérias, ao passo que um dia cai, massa inerte,
para não mais se levantar, o nosso Espírito, ser pessoal,
guardou constantemente a sua
reinou soberanamente sobre a matéria da qual estava
revestido, estabelecendo assim, por esse fato constante e
universal, a sua personalidade independente, a sua essência
espiritual não submissa ao império do espaço e do tempo, sua
grandeza individual,
Em que consiste o mistério da vida? Por que laços a alma está
ligada ao organismo? Por qual solução ela dele se escapa?
Sob qual forma, e em quais condições, ela existe depois da
morte? . Estão aí, Senhores, tantos problemas que estão
longe de serem resolvidos, e cujo conjunto constituirá a
ciência psicológica do futuro. Certos homens podem negar a
própria existência da alma, como a de Deus, afirmarem que a
verdade moral não existe, que não há, de nenhum modo, leis
inteligentes na Natureza, e que nós, espiritualistas, somos
vítimas de uma imensa ilusão. Outros podem, opondo-se-lhes,
declarar que conhecem, por um privilégio especial, a essência
da alma humana, a forma do Ser supremo, o estado da vida
futura, e nos tratar de ateus, porque a nossa razão se recusa
à sua fé. Uns e outros, Senhores, não impedirão que
estejamos aqui, em face dos maiores problemas, que não nos
interessemos por essas coisas (que estão longe de nós serem
estranhas), e que não tenhamos o direito de aplicar o método
experimental, da ciência contemporânea, na pesquisa da
verdade.
É pelo estudo positivo dos efeitos que se remonta à
apreciação das causas. Na ordem dos estudos reunidos sob a
denominação genérica de "Espiritismo",
ninguém conhece o seu modo de produção. Eles existem, tão
bem quanto os fenômenos elétricos, luminosos, caloríficos;
mas, Senhores, não conhecemos nem a biologia e nem a
identidade indestrutível,a sua imortalidade.os fatos existem. Mas
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fisiologia. O que é o corpo humano? O que é o cérebro? Qual
é a ação absoluta da alma? Nós o ignoramos. Ignoramos
igualmente a essência da eletricidade, a essência da luz; é,
pois, sábio observar, sem tomar partido, todos esses fatos, e
tentar determinar-lhes as causas, que são, talvez, espécies
diversas e mais numerosas do que não o supusemos até aqui.
Que aqueles cuja visão está limitada pelo orgulho, ou pelos
preconceitos, não compreendem de nenhum modo esses
ansiosos desejos dos nossos pensamentos ávidos de
conhecerem; que lancem sobre esse gênero de estudo, o
sarcasmo ou o anátema; elevamos mais alto as nossas
contemplações!... Tu foste o primeiro, ó mestre e amigo! tu
foste o primeiro que, desde o início da minha carreira
astronômica, testemunhou uma viva simpatia pelas minhas
deduções relativas à existência de humanidades celestes;
porque, tendo na mão o livro da
habitados
doutrinário que sonhavas. Muito freqüentemente, nos
entretemos juntos dessa vida celeste tão misteriosa; agora, ó
alma! sabes por uma visão direta, em que consiste essa vida
espiritual, à qual retornaremos todos, e que nos esquecemos
durante esta existência.
Agora retornastes a esse mundo de onde viemos, e recolhes
os frutos dos teus estudos terrestres. O teu envoltório dorme
aos nossos pés, teu cérebro está aniquilado, os teus olhos
estão fechados para não mais se abrirem, a tua palavra não
se fará mais ouvir... Sabemos que todos nós chegaremos a
esse mesmo último sonho, à mesma inércia, ao mesmo pó.
Mas não é nesse envoltório que colocamos a nossa glória e a
nossa esperança. O corpo cai, a alma permanece e retorna ao
espaço. Encontrar-nos-emos, nesse mundo melhor, e no céu
imenso onde se exercerão as nossas faculdades, as mais
poderosas, continuaremos os estudos que não tinham sobre a
Terra senão um teatro muito estreito para contê-los.
Pluralidade dos mundos, o colocaste em seguida na base do edifício
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Gostamos mais de saber esta verdade do que crer que tudo
jaz inteiramente nesse cadáver, e que a tua alma haja sido
destruída pela cessação do funcionamento de um órgão. A
imortalidade é a luz da vida, como esse brilhante Sol é a luz
da Natureza.
Até breve meu caro Allan Kardec, até breve.

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