CAPÍTULO
XX
PRISÃO
DE SATANÁS POR MIL ANOS E SUA LIBERTAÇÃO POR POUCO TEMPO...
A
LIBERDADE DOS MÁRTIRES ...
Este
capítulo se acha em admirável concordância com o capítulo XII e, para nós, ele
não é senão a explicação e o complemento do outro.
O
exegeta bíblico ao rebuscar, nas páginas do livro santo, o espírito que
vivifica, a fé que ilumina a alma, não deve e não pode separar trechos ou
capítulos para, a seu talante, interpretar a obra que lhe foi oferecida, mas,
pelo estudo criterioso de todo o livro, esforçar-se para erguer o véu que cobre
a alma da profecia. É isso que temos procurado fazer. Livre dos dogmas das
igrejas que cerceiam o pensamento, sem outro escopo senão o de apresentar aos
olhos de toda a Verdade tal como é deixamos de lado as interpretações infantis
abstivemo-nos de dissertações inúteis, que levam confusão ao entendimento, e
quebrando a casca do mistério, que vedava aos homens a compreensão do
Apocalipse, oferecemo-lo a todos em sua mais simples expressão. O reino
milenário do Cristo e dos Santos representa um longo período mais ou menos de
mil anos.
A
primeira ressurreição, que dura unicamente mil anos, corresponde exatamente à
prisão de SATANÁS por mil anos; e, no capítulo XII, já fizemos referência aos
quarenta e dois meses, tempo predito, pelo evangelista, do poder da BESTA na
Terra.
A
palavra RESSURREIÇÃO, que se encontra no texto, ao lado do REINADO DO CRISTO
com os santos e os mártires por mil anos, deixa ver claramente que este reino
milenário deu-se no Espaço e não na Terra.
No
capítulo XII demos sucintas explicações sobre a MULHER e o DRAGÃO; agora,
achamo-nos em face do DIABO, SATANÁS, que, no dizer do evangelista, é o mesmo
DRAGÃO. (1).
(1)
- Apocalipse, XX, 3.
A
PRISÃO DE SATAN não é outra cousa senão a ENCARNAÇÃO FORÇADA dos Espíritos
representantes do mundo bárbaro e pagão (Gogue e Magogue) (2) que dominavam do
ESPAÇO como Espíritos desencarnados, e que, presos à terra, cometeram toda a
sorte de arbitrariedades que a história registra e ao Vidente de Patmos foram
reveladas com grande antecedência. Pelo menos é o que se depreende do trecho.
(2)
- Gogue e Magogue: Na Casa da Câmara (Gu Tolhal) de Londres, existem duas
estátuas colossais, de pedra, a que chamam de Gogue e Magogue, e que, segundo a
tradição, representam a vitória de um gigante saxônio sobre um gigante
Cornualler.
"Vi,
também, tronos, e se assentaram sobre eles e lhes foi dado poder de julgar, e
vi as ALMAS daqueles que tinham sido DECAPITADOS por amor do testemunho de
Jesus e da sua Palavra, e os que NÃO ADORARAM A BESTA, nem a sua IMAGEM, e não
receberam a MARCA na testa nem na mão, e eles VIVERAM E REINARAM COM O CRISTO
MIL ANOS".
Livre
a atmosfera terrestre das POTESTADES MALÉFICAS DOMINADORAS, os Espíritos Bons,
os Cristãos, puderam gozar por um milênio do Santo Ideal do Cristo.
Precisamos
compreender que a VIDA, o MOVIMENTO, o TRABALHO, o ESTUDO não estão limitados à
forma visível e exterior; fora do Mundo, que nós vemos, existe um Mundo
Invisível, que nos rodeia e de onde nos vem tudo.
As
interpretações carnalistas não cabem no Apocalipse, que não é um livro
material, pois nos desvenda a IGREJA INVISÍVEL, a JERUSALÉM CELESTIAL, de que
nos teremos de ocupar no capítulo seguinte.
Prosseguindo,
diz o evangelista que, "VENCIDO O MILÊNIO, SATAN deveria ser solto POR UM
POUCO, e seduziria as nações que estão nos quatro cantos da terra, a Gogue e
Magogue, a fim de reuni-las para a GUERRA, cujo número é como a areia do
mar" (1).
(1)
- Apocalipse, XX, 7 e 8.
Este
trecho, que deve ser posto em concordância com os capítulos XXIV de S. Mateus e
XXI de S. Lucas, é muito significativo no momento que atravessamos. As nações
dos quatro cantos da terra estão todas reunidas em GUERRA, e os combatentes,
pode-se dizer, são contados como a areia do mar! Na ocasião em que traçamos
estas linhas, poucos, raros são os países que não tomam parte ativa na GUERRA,
mas já se preparam para entrar nessa hecatombe mundial, profetizada pelo autor
do Apocalipse.
Não
seria também enunciar uma proposição falsa, se afirmássemos o encerramento do
MILÊNIO DO REINO DOS MÁRTIRES E DOS SANTOS coincidindo com a QUEDA DO PODER
TEMPORAL DE ROMA e a soltura de SATANÁS no decurso desse pequeno período
histórico.
Gogue
e Magogue não agem só no plano visível, mas também no plano invisível. Vencido
o tempo do PODER, que tinham na terra, vencido, também, o tempo da sua PRISÃO,
volveriam à LIBERDADE, ao ESPAÇO, onde inutilizariam o REINADO DOS SANTOS,
visto como, "tomando estes parte na primeira RESSURREIÇÃO, o seu REINADO
seria também de UM MILÊNIO".
DA
QUEDA DO PODER TEMPORAL resultaria, irrevogavelmente, a proclamação do LIVRE
PENSAMENTO, da LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, movimento esse que provocaria, sem
dúvida, a VINDA DOS ESPÍRITOS SUPERIORES (a queda das Estrelas, a vinda das
potestades dos céus que seriam abaladas, (1) a fim de nos lembrarem a PALAVRA
DO CRISTO.
(l)
- S. Lucas XXL, 26; S. Mateus XXIV, 29.
Como
se compreende, só por essa forma é que poderia realizar-se a luta decisiva, o
combate da luz contra as trevas, e SATAN, que é a personificação ou a união de
todos os ESPÍRITOS MALÉFICOS, ser subjugado para sempre.
Depois
de todos esses acontecimentos, que se vão desenrolando aos nossos olhos, raiará
para o mundo uma nova aurora de Paz, mas não dessa paz que o mundo dá, e sim da
verdadeira Paz dos céus, porque só os Espíritos impregnados da MORAL CRISTÃ
ficarão habitando a TERRA, planeta, nessa ocasião, elevado a uma categoria superior;
os demais serão internados em mundos inferiores, planetas em formação (logo, de
fogo e enxofre) como diz claramente o texto: "aquele que não foi achado no
LIVRO DA VIDA, foi lançado no lago de fogo"; (1) onde haverá choro e
ranger de dentes, porque, como diz o versículo 13: "CADA UM FOI JULGADO
SEGUNDO AS SUAS OBRAS".
(1)
- Apocalipse, XX, 7 e 8.
Não
se conclua daí que os condenados sofrerão "suplício eterno", porque o
"Pai não quer a morte do ímpio, mas sim que o ímpio se arrependa e se
salve," (2) e pago o último ceitil, livres de suas paixões e de seus
vícios, eles se elevarão, novamente, a um planeta que esteja em relação com a
perfeição de suas almas.
(2)
- Ezequiel XXXIII, 11.
Não
nos deteremos em outras considerações filosóficas. Entretanto, como falamos da
Paz, será bom lembrar que ela não se fará por ajustes internacionais, porque
nos parece inevitável que as classes oprimidas, depois da conflagração mundial,
ou a guerra das nações, farão predominar, com as armas que lhes foram agora
postas nas mãos, as suas pretensões, os seus direitos sonegados, o que dará
lugar às agitações internas em todos os países até que a Palavra do Alto se
pronuncie com Poder.
Os
bem avisados que procurem guiar-se pelo Espírito do Evangelho, porque a luta
será tremenda, como não houve outra igual, e aquele que estiver sob o abrigo da
Árvore da Vida não perecerá.
Cairbar
Schutel: Interpretação Sintética do
Apocalipse (1918)
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