Depois da Morte é a primeira obra abrangente de
Léon Denis. Como todas as outras, já foi traduzida em várias línguas.
No Congresso de 1889, Léon Denis foi nomeado Presidente da Comissão de
Propaganda. Ele tomou como secretário, Henri Sausse; este lhe aconselhou fazer
uma síntese do ensino espírita e um resumo da obra de Allan Kardec.
Léon Denis pensou no conselho e escreveu Depois da Morte, verdadeira obra-prima, tanto do ponto de vista
literário puro como no que concerne à exposição de nossa Doutrina.
Publicada em 25 de dezembro de 1890, Depois
da Morte foi bem acolhido pela crítica.
G. d’Hailly escreveu, na Revue des
Livres Nouveaux:
“Entre as obras que li nesta semana, não encontrei uma com maior soma de
condições morais que esta de Léon Denis: Depois
da Morte.
Ainda não conhecia obra mais bem pensada, nem livro escrito em um estilo
mais correto, mais elevado.
Talvez eu seja um pouco céptico em relação ao Espiritismo, embora haja
razões que me inclinem a uma aceitação. Entretanto, não conheço doutrina mais
consoladora, mais reconfortante, mais digna de respeito.
O belo livro de Léon Denis nos pretende dar a solução científica e
racional dos problemas da vida e da morte, da natureza e do destino do ser
humano e nos demonstra a existência e a razão das vidas sucessivas.
Li e reli seu livro, que encheu minha alma de alegria, e se as coisas
são assim, só posso louvar a Providência Divina.”
Pode-se ler em Le Temps:
“Esse volume é realmente notável, possui todas as qualidades que lhe
podem garantir o sucesso. Embora eminentemente clássico, profundo e sério, suas
páginas brilham com uma luz viva e são impregnadas de uma ardorosa eloquência.
Como seu título indica, trata do formidável problema do destino humano,
dando uma solução para essa questão bastante controvertida durante todos os
tempos: o porquê da vida.
Problema árduo, em verdade, porém tratado com um tal encanto de estilo e
de evolução que, em todo o livro, não se encontra uma página sequer com uma
leitura fatigante ou desprovida de interesse.”
Dando, em Le Journal, sua
apreciação sobre esse livro, Alex Hepp se exprimia assim, em 26 de janeiro de
1899:
“Há um homem que escreveu o mais belo, o mais nobre e o mais precioso
livro que jamais li. Seu nome é Léon Denis e seu livro intitula-se Depois da Morte.
Leiam-no e uma grande piedade, porém, libertadora e fecunda, virá
bruscamente de nossas manifestações de tristezas, de nosso medo da morte e de
nosso grande pesar por aqueles que supomos perdidos.”
Em Depois da Morte, o leitor
encontra, notadamente, a história das religiões, o estudo dos grandes problemas
o do mundo invisível, a maneira pela qual, segundo as comunicações, podemos ter
uma idéia da vida no Além, o reto caminho, etc.
Desejando fazer um resumo do Espiritismo, o autor estudou como os homens
conheceram nossa doutrina e quais podem ser suas consequências: [i]
“Dessas buscas, desses estudos, dessas descobertas se destacam uma
concepção do mundo e da vida, um conhecimento das leis superiores, uma
afirmação da justiça e da ordem universais, bem-feitas para despertar no
coração do homem, com uma fé mais segura e mais esclarecida do futuro, um
sentimento profundo de seus deveres, um interesse real por seus semelhantes,
capazes de transformar a face das sociedades.”
Esse livro, escrito sem nenhuma pretensão pessoal de sucesso, é destinado
aos que estão cansados de viver na cegueira, aos filhos e às filhas do povo.
O único objetivo de Léon Denis é prestar serviço aos humildes e aos
infelizes. Ele se revolta que ainda se possa, atualmente, morrer de frio e de
miséria; e prova que as bases de nossa doutrina são unicamente o testemunho dos
sentidos e a experiência da razão.
Para comprovar a antiguidade do Espiritismo, que apresenta uma nova
aparição de fenômenos existentes desde o começo da Terra, ele faz um resumo bem
nítido, rápido, porém completo, da história das religiões.
As religiões são muitas, em nosso globo, nas suas formas e aparências,
mas, quando se vai ao fundo das coisas, percebe-se que seu esoterismo, isto é,
a parte reservada só aos iniciados, comporta uma doutrina única, superior e
imutável, sempre a mesma em todas as latitudes.
Léon Denis consagra à morte muitas páginas, esparsas em sua obra.
Que é, realmente, a morte? Na introdução, o autor já propõe a questão:
“Esse problema interessa a todos, pois todos estamos sujeitos à lei.
Importa-nos saber se, nessa hora, tudo acabou, se a morte é apenas um
calmo repouso no aniquilamento ou, ao contrário, a entrada em uma outra esfera
de sensações...
A morte é o ponto de interrogação, incessantemente posto diante de nós,
a primeira das questões à qual se ligam inúmeras questões, cujo exame faz a
preocupação, o desespero das idades, a razão de ser de uma multidão de sistemas
filosóficos.”
Muitos não querem ouvir falar da morte.
Pode-se viver sem preocupações, quando se tem a chance aparente de ser rico, mas isso não basta
para impedir que a morte venha, no momento certo.
Dizendo: “Todas essas questões são macabras, não quero me ocupar dessas
coisas”, podemos nos distanciar de uma segunda chegada da morte? Se a morte é
uma coisa terrível, não é melhor, entretanto, conhecê-la?
Quando o estado de saúde de uma criança é bastante mau, para necessitar,
na aparência, de uma intervenção cirúrgica, a responsabilidade dos pais é tanto
mais séria quanto o pequeno venha a sofrer com esta decisão, sem poder opinar;
antes de aceitarem a operação, o pai e a mãe se encontram diante desta questão
angustiante: “Qual resultado vamos obter? Convém ou não operar?”
Com efeito, a morte pode ser comparada a uma operação, porém uma operação
que será obrigatória, num momento desconhecido.
É, portanto, indispensável conhecer, antes, o que é o destino de todos os
humanos; convém, pois, estar sempre preparado para enfrentá-la, quando
aparecer.
Diz-nos Léon Denis:[ii]
“A morte não é outra coisa que uma transformação necessária, uma
renovação. Em realidade, nada morre. A morte é aparente. Somente a forma
exterior muda; o princípio da vida, a alma, continua em sua unidade permanente,
indestrutível. Ela se encontra no além-túmulo, ela e seu corpo fluídico, na
plenitude de suas faculdades, com todas as aquisições; luzes, aspirações,
virtudes, poderes de que se enriqueceu durante suas existências terrenas.
Eis os bens imperecíveis de que fala o Evangelho, quando diz: “Nem os
vermes, nem a ferrugem os consumirão e nem os ladrões os roubarão.” São as
únicas riquezas que podemos levar conosco, para utilizar na vida futura.
(...)
A morte é a grande reveladora. Nas horas de provações, quando escurece
em nosso derredor, por vezes perguntamos: “Por que existo? Por que não
permaneci na noite profunda, onde nada se sente, não se sofre, onde se dorme o
sono eterno?”
E, nessas horas de dúvida, de agonia, de desânimo, uma voz subia até nós
e dizia: Sofra para crescer e para resgatar! Saiba que o destino é grandioso.
Esta fria Terra não será o seu sepulcro. Os mundos que brilham no fundo
dos céus são suas futuras moradas, a herança que Deus lhe reserva.
Você é, para sempre, cidadão do Universo, pertencendo aos séculos
futuros como aos séculos passados e, no presente, prepara sua evolução.
Suporte, pois, com calma os sofrimentos que você mesmo escolheu.
Semeie, na dor e nas lágrimas, o grão que brotará em suas próximas
vidas; semeie também para os outros, como os outros semearam para você!
Espírito imortal, avance com passo firme para as alturas de onde o
futuro lhe aparecerá sem véus.
A subida é rude e o suor inundará muitas vezes seu rosto, porém do alto
verá despontar a grande luz, verá brilhar no horizonte o sol da verdade e da
justiça!”
Os leitores da obra de Léon Denis conhecem, pois, exatamente, a morte;
não mais temem as manifestações espontâneas dos fantasmas. Eles não se
assemelharão ao herói de um conto de Guy de Maupassant, intitulado Apparition.[iii]
Eis a análise:
Cinquenta e seis anos após uma aventura contada por ele a alguns amigos,
o Marquês de la Tour Samuel tremia ainda com a idéia do que se produziu uma só
vez no curso de sua vida. Ele guardou desse acontecimento uma lembrança do medo
e, todavia, como oficial de carreira, teve muitas vezes de demonstrar sua
bravura.
Na guarnição de Rouen, ele havia encontrado um amigo de juventude e ficou
surpreso com sua aparência envelhecida: demonstrava em seu rosto traços
indeléveis de grande sofrimento causado pela morte de sua esposa. Tendo
encontrado nela a felicidade perfeita, tivera a tristeza de perdê-la
subitamente, e não podia consolar-se. Jamais tivera a coragem de retornar a uma
propriedade onde vivera com a esposa, nas cercanias de Rouen.
Encantado em reencontrar um velho colega em quem depositava plena
confiança, o desesperado lhe disse:
– Não posso mais voltar àquele lugar, isso me faz sofrer. Você quer ir
lá? Não é longe. Você irá ao meu quarto, abrirá a secretária – aqui tem a chave
– e apanhará os papéis de que tenho necessidade. Para você é um passeio a
cavalo, de apenas alguns quilômetros. Pode me prestar esse favor?
O marquês aceitou e se dirigiu à propriedade de seu amigo; quando lá
chegou, o caseiro ficou espantado com a decisão do marquês de entrar na peça
designada. O oficial não atribuiu importância à admiração do vigia da
propriedade, mas a verdade é que, quando penetrou no quarto, que exalava o odor
característico dos lugares abandonados pelos vivos, sentiu uma emoção
incompreensível.
Estando sentado diante da secretária para dali apanhar os papéis pedidos
por seu amigo, teve a sensação de que andavam atrás dele; voltou-se e viu uma mulher,
um fantasma. Apesar de sua bravura, tremeu. Tinha a impressão de que essa morta
ia lhe falar, tocá-lo, lhe pedir alguma coisa. Teve forças para apanhar
rapidamente os documentos, depois se livrou desse lugar mal-assombrado.[iv]
Para retornar a Rouen, galopou como um louco.
Diante do amigo, tomou consciência de si mesmo e tirou sua túnica de
oficial, mas teve a surpresa de nela ver enrolados, em volta de um botão,
alguns longos fios de cabelos.
Se o herói de Guy de Maupassant tivesse conhecido o Espiritismo, teria
fugido? Não, pelo contrário, ele tentaria saber os motivos dessa manifestação
e, sem dúvida alguma, teria podido prestar um bom serviço, porque o Espiritismo
é maravilhoso. Não somente permite dar consolo aos vivos, mas ainda estende aos
mortos benefícios numerosos.
No entanto, o Marquês de la Tour Samuel não conheceu nossa Doutrina.
Assim, aos 82 anos, 56 anos após sua trágica aventura, apesar das provas dos
cabelos enrolados num botão de seu uniforme, ele ainda considerava o fato como
uma crise de loucura, um “segredo vergonhoso, uma lamentável fraqueza” que
somente sua idade lhe permitia revelar a seus amigos.
Lendo Depois da Morte,
aprendemos coisas bem importantes; citarei, por exemplo, o que é magnetismo,
como podemos nos servir de seu fluido, quais os sábios e quais os grandes
homens que aceitaram o Espiritismo; quais objeções são feitas e as respostas
que permitem mostrar aos contraditores quanto eles estão errados.
Coisa interessante: todas as vezes que se trata de refutar objeções, Léon
Denis emprega argumentos; jamais utiliza insultos.
Os franceses gostam de ler jornais que têm por objetivo fazer polêmica
entre uns e outros. Quando se trata de choques de idéias, está certo;
infelizmente, há com frequência choques de pessoas.
De minha parte, abandono sistematicamente todo artigo e toda obra nos
quais alguém, para demonstrar a realidade de sua tese, insulta os que pensam
diferente.
Quando se procura transmitir suas convicções aos outros, é bom ter à sua
disposição argumentos, fatos e experiências, e não injúrias.
Em Depois da Morte a teoria da
reencarnação só é esquematizada. Ela será estudada profundamente em outras
obras, particularmente em O Problema do
Ser e do Destino.
Lendo Depois da Morte,
aprendemos igualmente como se pode adquirir vontade e dela se utilizar para
sermos felizes neste mundo.
Léon Denis não receia atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos
do Espiritismo, que, de resto, podem parecer um pouco bizarros, mas existem. A
esse respeito, lembro-me de uma pequena história:
Certa vez, na sala de Geografia, numa reunião da Phalange, veio a mim um homem, aparentando uns 40 anos. Em
lágrimas, ele me diz:
– Ah, se o senhor soubesse que desgraça; meu filho morreu! Desde sua
morte, temos em mãos uma pequena brochura que trata de como fazer girar as
mesas. Desde a morte de meu filho, minha mulher deseja estar certa de que ele
não está verdadeiramente morto. Ela quis colocar as mãos sobre a mesa e
conseguiu movimento, porém, depois pareceu louca. Não se pode deixá-la sozinha,
porque quer se jogar pela janela, pois acha que escuta vozes que lhe ordenam se
matar.
Eu vi, logo, de que se tratava: ou era auto-sugestão, ou um envolvimento,
por obsessão de um mau espírito.
Pedi a esse homem para levar sua esposa à minha casa, sem preveni-la de
que eu estava sabendo de seu estado. Isso me permitiu estudá-la à vontade. Pude
diagnosticar bem claramente uma obsessão.
Esse homem tinha grande confiança em mim e me pediu para tentar curar sua
esposa.[v]
Em três semanas consegui restituir àquela mulher toda a sua razão, e
desembaraçá-la daquela obsessão.
Para obter esse resultado não usei gestos ou palavras rudes, porque é
pela persuasão que se consegue esclarecer os espíritos obsessores sobre aquilo
em que estão errados. É preciso também explicar aos obsidiados a necessidade de
perdoar seus perseguidores invisíveis e pedir a proteção de seus guias. Este é
um ponto bem delicado.
Os perigos da prática do Espiritismo são reais.
Leitores, se vocês tiverem a intenção de praticar em nossa doutrina, não
se atrevam a fazer experiências sem terem antes estudado o Espiritismo.
Quando são discutidas essas questões, eu faço frequentemente uma
comparação que me parece de natureza a bem impressionar a imaginação de meu
interlocutor.
Primeiramente, levo-o a imaginar que ele teria obtido, em tempos
passados, algumas vagas noções de Física e Química, esquecidas depois que as
exigências da vida o afastaram dos estudos.
Em seguida eu o conduzo a ver comigo, pela imaginação, uma usina de
explosivos. Essa usina é bem interessante e também curiosa: mistura-se um pouco
de pólvora, um pouco de outro produto, coloca-se isso num pequeno tubo e,
quando há um choque, obtém-se a explosão destruidora.
Meu interlocutor está cativado; ele decide experimentar fazer o mesmo.
Antes de entrar em casa, vai a um droguista.
Sua memória lhe permite lembrar-se que é preciso colocar um pouco de tal
produto, um pouco mais daquele outro, porém ele não se lembra mais de todas as
medidas e é precisamente isto o essencial. Que arrisca ele realizando a
experiência?
Ou não produzirá o explosivo e terá perdido seu tempo, ou então
conseguirá um explosivo perigoso que não saberá controlar, com o qual poderá
provocar uma catástrofe, matar seus vizinhos, semear a ruína e o pânico em seu
derredor.
Sem dúvida, seria difícil encontrar uma criatura bastante imprudente para
querer fazer um explosivo sem ter antes estudado a fundo essa matéria, porque
aí há um perigo bem aparente. Infelizmente não acontece o mesmo com o Espiritismo.
Quantas pessoas tenho encontrado que me dizem:
– Ah, você se ocupa com essas coisas! Eu também me divirto fazendo as
mesas girarem.
Tais divertimentos são perigosos; por ser invisível e desconhecido da
maioria, o perigo da experimentação psíquica realizada sem preocupações não é
menos real.
Aos olhos de Léon Denis, essa questão dos perigos do Espiritismo é muito
séria. Ele julgou necessário, em sua primeira obra, indicá-los muito
claramente, consagrando um capítulo especial a esse problema.[vi] Ele havia compreendido a
necessidade absoluta de atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos de
uma experimentação irresponsável.
Assinalo, igualmente, um possível inconveniente: as pesquisas nesse
domínio são atraentes, mas é preciso não se entregar sem reservas à
experimentação. Não se deve abandonar a vida normal, material, para se
consagrar unicamente a questões que não devem ser um meio de ganho.
Portanto, não convém experimentar antes de se estar suficientemente
preparado para fazê-lo sem imprudência.
Quando se experimenta, deve-se guardar todo o senso crítico. Nunca se
deve aceitar um fenômeno como uma emanação do além, sem ter tentado encontrar
uma explicação humana.
Para se entregar seriamente a pesquisas espíritas e psíquicas, é
indispensável experimentar com perseverança, tenacidade e regularidade.
Se se quer constituir um grupo, é preciso que ele se reúna em dia e hora
certos, no mesmo local, sempre com o mesmo número de pessoas, não se permitindo
estranhos em suas reuniões.
Tenho dado frequentemente o conselho de Allan Kardec para a criação do
que ele chama de grupo familiar.
Meu excelente amigo Marty, colega da Comissão da União Espírita Francesa,
também pensa assim e temos ambos obtido notáveis resultados.
Dedico uma particular importância ao capítulo da provação.[vii] Constantemente ouço confidências
de desesperados, aliás, são numerosas as pessoas acossadas pelos males físicos,
materiais ou morais.
Sempre aconselhei meus interlocutores e meus correspondentes a lerem ou
relerem as páginas consagradas por Léon Denis a explicar por que sofremos neste
mundo.
Muitas são, em meus arquivos, as cartas daqueles para os quais essa
medicina moral foi eficaz.
Em 23 de outubro de 1927, eu realizava, na Sala de Geografia, na União
Espiritual, uma conferência sobre a obra de Léon Denis e aconselhava meus
ouvintes a adquirirem logo Depois da
Morte, dizendo-lhes finalmente:
“Meus amigos, desejo que todos sejam bem felizes, para não terem nunca
necessidade da consolação pregada pelo Espiritismo.
Alguns de vocês estão de luto. Eu gostaria de ter podido, no momento da
cruel separação física, oferecer-lhes uma valiosa consolação em nossa doutrina.
Se, atualmente, estão felizes, talvez não o estejam numa outra ocasião.
Pensem com Léon Denis, logo não deixem de ler Depois da Morte e aproveitar essa preciosidade.
Uma dona de casa previdente tem sempre em sua dispensa algumas conservas
que lhe permitam improvisar uma refeição, se alguns amigos aparecerem de
surpresa. Uma mulher prevenida tem sempre em sua farmácia doméstica os
medicamentos que possibilitem os primeiros socorros, em caso de acidente ou de
doença.
Imitem essas pessoas prudentes e tenham sempre ao alcance da mão esse
livro que contém todas as possibilidades de torná-los felizes.”
Dois dias depois, eu recebia uma nova comprovação do poder dessa obra:
“As livrarias, ontem à noite, estavam fechadas, escreveram-me, e só na
manhã seguinte pude seguir seu conselho. Li e reli a página 174 e as seguintes.
É bem verdade! Quando uma profunda tristeza e um sofrimento bem vivo nos
tenham dominado, essas linhas sublimes nos devolvem o gosto de viver.”
Dificuldades de toda sorte não me têm poupado. Por vezes, a luta parece
tornar-se impossível, com tudo sombrio em meu derredor, e fico tentado em me
deixar abater. Então releio o capítulo que Léon Denis consagrou às provações e
tudo volta ao normal.
Em 1923, eu acabara de sofrer um choque moral espantoso que me permitiu
constatar, por mim mesmo, a eficácia dos remédios que aconselho aos outros. As
exigências do jornalismo me haviam obrigado a ir ao Havre e, aproveitando uma
hora de folga, fui me isolar numa praia, tendo comigo Depois da Morte e também Les
Grands Initiés, de meu eminente amigo Edouard Schuré, que eu não tinha
ainda a alegria de conhecer pessoalmente.
Eu estava realmente deprimido e lamentava não ter o direito de me
destruir, como pensava quando era materialista.
Abatido ao extremo, não podia afastar meu pensamento do assunto de minha
profunda depressão, envolvia-me na desgraça, tudo era sombrio em minha volta. Pressentia
todas as catástrofes e a vida me parecia para sempre terminada. Todavia o
hábito de cultivar minha vontade me ajudou a ter a necessária energia para
retomar contato com Léon Denis e Edouard Schuré.
Quando pude livrar-me de minhas preocupações, seguindo o pensamento do
autor espírita, estava salvo.
Recobrei confiança, senti o auxílio de meus amigos invisíveis e me
lembrei de que o único meio de ser realmente feliz é esquecer-se de si mesmo
para trabalhar pela felicidade dos outros.
Léon Denis se alegra em repetir que todas as suas obras foram inspiradas
pelos espíritos:[viii]
“Uma única ambição nos anima: desejamos que, quando nosso corpo já gasto
retornar à terra, nosso espírito imortal possa afirmar: minha passagem no mundo
não foi estéril, se pude contribuir em pacificar uma única dor, em esclarecer
uma única inteligência em busca da Verdade e em reconfortar uma alma
cambaleante e triste.”
Quando traçava essas linhas, o defensor do Espiritismo teve a intuição da
sua brilhante carreira de escritor?
Pouco importa se ele era bastante modesto para não se ocupar com essas
contingências terrestres. Antes de tudo, ele queria o bem de seus leitores.
Seu desejo foi amplamente atendido e ele teve a imensa alegria, durante
sua vida, de ter inúmeros testemunhos da feliz eficácia de suas obras.
Bem hábil seria o estatístico que conseguisse obter o número dos que,
graças a Depois da Morte, puderam ser
consolados.
O patriarca do Espiritismo retornou à espiritualidade e, durante sua
longa trajetória, conheceu todas as provações, sem jamais se deixar abater.
Seus despojos, bem gastos por 81 anos de vida terrena, se decompuseram,
lentamente, no solo de Tours, porém seu espírito [ix] plana nas altas esferas.
Denis deve continuar sua missão, pois, durante sua recente encarnação, se
esmerou em provar que a morte é uma simples evolução e que continuamos nosso
trabalho, qualquer que seja o lado em que nos encontremos.
Pouco tempo depois de sua morte, Léon Denis teria se manifestado em
Rochefort-sur-Mer, no círculo Allan Kardec. Em Annales du Spiritisme,[x] o casal Luce, de Tours, amigos
íntimos do mestre, e Claire Baumard, secretária, declararam, formalmente, ter
reconhecido suas maneiras familiares, sua linguagem brilhante, impossível de
imitar, mesmo que se decorassem certas passagens de suas obras.
Houve uma manifestação verdadeira? Nada sei, porém o casal Luce confirmou
a sua autenticidade.
Conheço pessoalmente a Srta. Brasseaud, médium do Círculo Allan Kardec;
em 1912, ela produziu a escrita direta em ardósia, sob minucioso controle.[xi]
Se a comunicação de Léon Denis é autêntica, tanto melhor, porque é uma
prova formal de que o grande apóstolo não estava enganado em suas afirmativas;
se não se trata de uma manifestação de Léon Denis, fato bem possível, tanto
pior, porém isso não impede que nos arquivos mundiais do Espiritismo se
encontrem muitos exemplos bem controlados de manifestações de mortos, na hora
prevista por eles em vida e nas condições que haviam indicado.
Para ser conciliatório em relação àqueles que não participam de nossas
idéias, eu aceitaria, a rigor, admitir que os espíritas estão errados.
Quando vemos o exemplo de Léon Denis, de Gabriel Delanne e de tantos
outros, quando constatamos o bem que eles fizeram à humanidade, às numerosas
criaturas que consolaram, temos o direito de pensar: se eles se enganaram,
tanto pior; mais vale esse erro que o de outros teóricos, cujo ensino produz a
dúvida e gera o sofrimento.
Nossa doutrina ajuda aqueles que têm a oportunidade de conhecê-la e de
aplicar os seus ensinamentos, a viver bem. Isso não é o mais importante?
Léon Denis: Livro: Depois da Morte
Fonte: www.autoresespiritasclassicos.com
[i] Léon Denis – Depois da Morte, “Introdução”.
[ii] Léon Denis – Depois da Morte, 2ª parte, “As provas e a morte”.
[iii] Guy de Maupassant – Clair de Lune, Editora Flammarion.
[iv] Esse fenômeno está bem estudado em O Livro dos Médiuns, capítulo IX, de
Allan Kardec. (N.E.)
[v] Todas as vezes em que me ocupo de
tratamento psíquico, que se trata de sofrimentos físicos, de obsessões, de
possessões, eu recuso qualquer retribuição; trato com total desinteresse.
[vi] Léon Denis – Depois da Morte, 3ª parte, “Perigos do Espiritismo”.
[vii] Léon Denis – Depois da Morte, 2ª parte, “As provas e a morte”.
[viii] Léon Denis – Depois da Morte, “Introdução”.
[ix] Em O Problema do Ser e do Destino, Léon Denis escreve: “Denominamos
espírito a alma revestida de seu corpo sutil.” Emprego o termo espírito no mesmo sentido.
[x] Ver Annales du Spiritisme, Rua Guesdon nº 32, Rochefort-sur-Mer,
setembro de 1927.
[xi] A escrita direta é um fenômeno bem
comprovável. Eis uma das maneiras como pode produzir-se: – Duas ardósias, com
molduras de madeira, são colocadas uma sobre a outra, pondo-se um lápis entre
elas antes de lacrá-las. Sem qualquer contato humano, o médium impõe as mãos
sobre as ardósias e, quando são abertas, nelas são encontradas frases escritas
por um espírito ou pelo fantasma de um vivo.
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