Tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.
Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos, e
era rico. Este procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão,
porque era de pequena estatura. Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro
(figueira) para vê-lo, já que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou
àquele lugar, olhou para cima, e disse-lhe: Zaqueu desce depressa. Hoje me
convém pousar em tua casa. Apressando-se, desceu e o recebeu com alegria. Todos
os que viram isto murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem
pecador. Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: Senhor olha, eu dou aos
pobres metades de meus bens, e se em alguma coisa defraudei alguém, o restituo
quadruplicado. Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, porque também
este é filho de Abraão. Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que havia
se perdido. Lucas 19:1-10. Aqueles eram tempos
difíceis. As dificuldades íntimas refletiam na sociedade daquela época as
mesmas angústias e temores que hoje caracterizam as massas humanas. Conflitos
sociais ou conflitos psicológicos geravam as mesmas insatisfações que hoje
perseguem o homem moderno. Soava pelas planícies da Judéia a voz suave e
melodiosa da mensagem do Mestre, convidando a todos para os tempos de
renovação. Mas também naqueles tempos reinava o desespero em muitos corações e,
como reflexo das imperfeições humanas, o desconforto que o preconceito velado
ou ostensivo trazia. Publicanos e fariseus, cobradores de impostos do templo ou
representantes de César eram considerados por muitos como representantes de
classes que deveriam ser evitadas. Os publicanos, naturalmente, devido a sua
história envolta nas brumas das realizações inferiores, despertavam o desprezo
e a discriminação geral. A história de Zaqueu não era diferente da história e
dos dramas de muitos homens. Proveniente de um passado comprometido tanto com a
lei divina quanto com a legislação humana, o publicano da história evangélica
encontrava-se na encruzilhada da vida. Enriquecera-se ilicitamente com o
comércio espúrio que realizava desde a mocidade. O matrimônio era campo de
confronto constante, e a mulher demandava-lhe imensa cota de sacrifícios, a fim
de corresponder-lhe às mais diversas expectativas. As exigências e obrigações
sociais faziam-no desdobrar-se de tal maneira, consumindo-lhe a vitalidade
orgânica, que ocasionaram seu envelhecimento precoce. Por certo que a família
refletia as suas próprias angústias íntimas, e, assim, o desequilíbrio era
marca sempre presente em sua vida doméstica. Intimamente, desejava mudar, mas
era preciso que algo ou alguma força externa pudesse impulsioná-lo rumo à
renovação tão necessária. Naquela tarde, tudo contribuiria para que o publicano
encontrasse o caminho da renovação. Uma multidão acompanhava certo homem,
alguém que se dizia rabi. Era um homem diferente. Não apenas falava a respeito
de certo reino, mas vivia-o em sua vida, exemplificando nas experiências aquilo
que era o objeto de suas pregações. De longe, Zaqueu, o publicano, resolveu
observar mais detidamente. De estatura menor que a maioria de seus
contemporâneos, recorreu ao extremo recurso a fim de poder, pelo menos, ver
aquele que se apresentava como o filho de Deus. Desejava algo em seu íntimo,
mas não saberia precisar exatamente o que queria. Subiu num sicômoro, árvore
cuja presença era habitual naqueles sítios; de lá, poderia observar a presença
daquele cujo amor e cujos feitos ganhavam repercussão por toda a Judéia e
Samaria. O rabi andava no meio da multidão de almas desgarradas e esfaimadas.
Seus caminhos não passavam pelos mesmos caminhos dos reis e soberanos
terrestres. Preferia as estradas da vida onde mais se faziam necessárias as suas
palavras e os seus exemplos de compaixão, sabedoria e amor. Assim é que
usualmente se encontrava acompanhado das prostitutas e daquela gente
considerada de má vida. Dos leprosos da alma aos sedentos de justiça, dos
injustiçados e oprimidos aos infelizes da Terra, além de certos personagens
conhecidos como antigos perseguidores do povo - essas eram as companhias do
peregrino nazareno. Como hoje, o preconceito exercia intenso domínio nos
corações humanos despreparados para a realidade da vida eterna. O Mestre
deteve-se ante o sicômoro (figueira), cujos galhos sustentavam o corpo de
Zaqueu, o publicano. Fixou longamente os olhos do homem infeliz e desejoso de
renovação. Olhos nos olhos, o médico das almas penetrou profundamente naquela
alma desgarrada do redil e então pronunciou as seguintes palavras: Zaqueu! -
chamou o Mestre. - Hoje convém que eu esteja contigo em tua casa. Ante a oferta do Mestre de todos os mestres, Zaqueu não poderia titubear. Para
todo homem, em algum momento, chega a hora da transformação. Surge
na ampulheta do tempo a hora exata do encontro com a vida. Assim, para Zaqueu,
também resplandecia o raiar de um novo dia. A Estrela Polar do Evangelho,
Jesus, brilhava intensamente em sua vida, no céu de seu destino. Os seguidores
do Nazareno observavam a atitude do Mestre com espanto, e também eles a
recriminaram, pois não compreendiam que Ele, o médico divino, viera exatamente
para aqueles que mais necessitavam. De médico só precisa quem se encontra
enfermo; aquele que se sente sadio não necessita lançar mão dos recursos sejam
da medicina terrestre como da espiritual. Mas quem poderá saber o que vai ao
sentimento humano? Mesmo aqueles que se dizem apologistas da verdade ainda têm
muito a aprender e muito ainda a reaprender no campo da vida universal. Jesus
deixou-se conduzir pelo impulso do amor, do amor ágape. As dificuldades humanas
levam os indivíduos a desenvolver a incompreensão, a intolerância e as demais
características antagônicas à virtude, as quais imperam nos corações ainda
distantes do bem e do amor. Jesus dirigiu-se à casa de Zaqueu como se dirige à
casa mental de cada ser, assim que se apresente a necessidade de renovação
interior. É preciso aguardar o momento certo em que o espírito amadureça para a
vida, e há que se desenvolver sensibilidade para perceber tal ocasião. Da mesma
forma como os publicanos inspiravam o preconceito naqueles de sua época, também
hoje o preconceito ainda domina os corações humanos. Contudo, Jesus e os
espíritos superiores não se submetem às convenções humanas. Se algo ou alguma
situação não se sintoniza conosco ou com nossos conceitos da verdade, é bom que
possamos nos observar mais detidamente. As coisas espirituais estão acima das
questões humanas. O preconceito é filho do orgulho e irmão do egoísmo. Todo tipo
de preconceito deve ser combatido com o exercício do amor incondicional. Os
Zaqueus modernos são chamados a abrir as portas de seus corações para o
encontro com a eternidade. Os preconceituosos são igualmente chamados para o
encontro consigo mesmos. São chamados a estudar suas vidas, analisando-as de
acordo com a ótica espiritual. Considerem-se como realmente o são: imperfeitos
e ainda em fase de evolução. Todos estão no caminho do aprendizado e por isso
não há lugar para preconceitos em nossas vidas. A lição do Evangelho é de pura
fraternidade. A mensagem é de caridade e de amor...
Repassando...Muita paz no caminhar com nosso
irmão Maior Jesus...
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