quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Espiritismo e as Forças Radiantes



 

Capítulo I

Vivemos numa época notável na História do mundo. O universo desconhecido e invisível levanta, lentamente, os véus que nos ocultavam os seus maiores segredos. Forças de uma potência incalculável foram reveladas, e o homem, com sucesso crescente, trabalha para a sua aplicação.
Citemos, inicialmente, a eletricidade. Há meio século, ela era ainda uma curiosidade científica, como cita o general Ferrié[i] em artigo reproduzido em várias revistas. E, eis que ela se tornou um dos elementos essenciais do progresso e não saberíamos mais viver sem ela, sob as formas diversas que apresenta no seu uso industrial e nas mil necessidades da vida diária: corrente contínua, corrente alternada, eletricidade estática, ondas hertzianas, raios catódicos, etc.
O general Ferrié enumera os diversos modos de transmissão do pensamento humano através do Espaço; a telegrafia com fio chegou, com o auxílio dos aparelhos Baudot, a transmitir 10.000 palavras em uma hora e por linha. Os cabos submarinos, que transmitem 100.000 palavras por dia, vão aumentar o seu consumo, por processos novos, de tal modo que as tarifas poderão ser bastante diminuídas.
Da telefonia com fio, que permite comunicar a 6.000 km de distância, passemos aos procedimentos sem fio.[ii] Neste campo já se pode dizer que a França é, atualmente, a maior potência do mundo dotada de postos de T.S.F. O de Croix-d’Hinx, próximo de Bordeaux, é chamado de Estação Lafayette e pode ser ouvido de todos os pontos do globo. Logo será ultrapassado pelo de Sainte-Assise em vias de acabamento.
No momento, estuda-se o meio de transmitir por T.S.F. desenhos fotografados, escritas, isto é, cartas inteiras, com os documentos anexados.
A eletricidade das ondas hertzianas nos reserva outras surpresas. E, entretanto, conclui o general Ferrié, apesar de todas as pesquisas e de nossos trabalhos, ignoramos ainda a verdadeira natureza dessa força maravilhosa, fato este constatado várias vezes por homens de valor.
No decorrer de palestras espiritualistas e, sobretudo, no final de certas palestras contraditórias, várias vezes apresentaram-me essa questão: “O que é a energia nas formas diversas sobre as quais ela atua e que se nos tornaram familiares?” Graças aos ensinos de nossos guias espirituais, estamos em condição de responder: “A energia decorre dessa corrente imensa de forças que percorre o Espaço, regula a marcha dos astros e alimenta a vida de todos os seres nos planetas”.
A eletricidade, as ondas hertzianas e todas as forças radiantes, cuja existência constatamos hoje, são apenas emanações derivadas, e poderíamos até dizer parcelas, dessa poderosa corrente de força e de vida que anima o Universo e cuja fonte está em Deus.
A energia ou movimento representa a ação mais sensível do ser universal, no tempo e no Espaço. Deus é a fonte da vida e a vida se manifesta pelo movimento.
Duração, Espaço e Movimento formam, na sua reunião, a unidade que se manifesta: Deus!
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Desde Galvani, a atenção do homem se encaminhou para a eletricidade, mas é somente a partir dos trabalhos de William Crookes sobre os estados sutis da matéria[iii] que começamos a perceber a extensão, a calcular a potência das forças invisíveis. Sabe-se que as experiências desse ilustre sábio, com os médiuns Home e Florence Cook, foram o ponto inicial de grandes descobertas que se sucederam e revolucionaram a Física. Certamente, antes dele, Allan kardec e a Escola Espírita tinham estabelecido a existência do mundo dos fluidos, mas foi Crookes o primeiro que conseguiu captar as forças radioativas e armazená-las, de modo a torná-las úteis para a Ciência humana. As suas análises sutis da força psíquica estão descritas no seu livro Recherches sur le Spiritualisme (Pesquisas dos Fenômenos Espíritas).
Talvez observem que não se deve confundir as radiações do Espaço com o fluido humano. Mas sabemos que uma relação íntima os religa e que todas as forças terrestres, celestes e humanas se relacionam a um princípio comum.
A matéria, sob seus diversos aspectos, constitui um imenso reservatório de energia. Na realidade, ela é apenas força condensada: os sólidos se transformam em líquidos, os líquidos em gases, os gases em fluidos, e estes, à medida que se tornam mais sutis, mais quintessenciados, recuperam as suas propriedades primitivas e parecem se impregnar de inteligência. Pelo menos é o que parece resultar de certas manifestações do raio.[iv] Num grau superior, a força parece se identificar com o espírito e se torna um de seus atributos.
Toda matéria concreta é apenas, portanto, a energia capturada. O químico Fabre calculou que um quilo de carvão concentra 23 bilhões de calorias, que liberadas, bastariam, diz ele, para acionar uma rede de linhas de estrada de ferro, durante dois anos. Ora, apenas liberamos, atualmente, um número proporcionalmente insignificante. No dia em que se souber desintegrar, liberar todas as partículas da matéria, estaremos de posse de uma força incalculável.
Mas, tais progressos, nos dizem os espíritos, são medidos pelo valor moral da Humanidade. Deus não permite que certas revelações ou descobertas se realizem antes que o homem tenha atingido uma consciência mais completa de seus deveres e de suas responsabilidades. Vimos, na recente guerra,[v] o uso que os alemães fizeram dos progressos da Química. Que farão eles, em uma outra guerra, das energias formidáveis que adormecem no íntimo da matéria?
Ao menos, a Ciência chegou a reconhecer a harmonia que liga as teorias da eletricidade à lei universal da gravidade. Essa não regula somente a marcha dos corpos celestes, sob seus dois aspectos, atração e repulsão; ela regula todos os movimentos da matéria, desde as suas mais ínfimas partículas até os astros gigantescos do Espaço. Todas as moléculas químicas, todas as parcelas da força elétrica, como os íons e elétrons, representam sistemas completos, análogos aos sistemas estelares. As mesmas radiações as penetram e as mesmas correntes as animam. A Natureza vibra, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande.
A formação de um astro, diz Max Frank,[vi] é idêntica, sob o ponto de vista do mecanismo das forças ativas, à formação de uma molécula simples. Pode-se constatar, desde agora, por escalonamento das forças conhecidas, que o abismo intransponível, que outrora parecia separar a matéria do espírito, acha-se ultrapassado. A cadeia de vida se desenvolve grandiosamente, sem solução de continuidade, desde o átomo até o astro, do homem, em todos os graus da hierarquia espiritual, até Deus.
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É sobretudo em nós mesmos que é preciso estudar a união íntima da força e do espírito; cada alma é um centro de força e vida, cujas radiações variam ao infinito, conforme o valor moral e o estado de evolução do ser. Essas radiações criam, em torno de nós, uma espécie de atmosfera fluídica, cuja análise poderia dar a medida exata de nosso valor psíquico, de nossa saúde do corpo e do espírito, a indicação precisa de nossa situação, com respeito à escala dos seres; em uma palavra, sobre nosso grau de evolução.
É pelo aspecto dessas radiações que os espíritos se reconhecem e se julgam na vida do Além. O seu brilho e a sua intensidade aumentam ou diminuem pela determinação do pensamento e da vontade. Elas escapam aos nossos sentidos, no seu estado normal, mas certos médiuns as percebem, as descrevem e pode-se provar a sua existência por meio de chapas fotográficas.
Colocando-se a ponta dos dedos sobre uma chapa fotográfica, no banho revelador, ao fim de certo tempo de exposição, vê-se emitir, de cada um dos dedos, como de tantos outros focos, eflúvios que se estendem na forma de espirais, com mais ou menos intensidade, conforme as pessoas. Em geral, o resultado é fraco. Mas, fazendo intervir a vontade, com a força do pensamento sob um impulso da alma, de um apelo ou de uma prece, as radiações aumentam e se transformam numa forte corrente que cobre toda a placa e toma uma direção retilínea.
Tenho muitos exemplares e muitas reproduções desse gênero que são bastante demonstrativos. Podem-se obter os mesmos resultados colocando-se as placas a uma distância próxima da fronte. As experiências dos doutores Joire e Baraduc e os cuidados minuciosos de que se cercaram, provaram, de modo exaustivo, que não se pode atribuí-los ao calor dos dedos, nem a qualquer outra causa, a não ser às radiações psíquicas.[vii]
Essas constatações têm uma grande importância e é necessário nisso insistir, a fim de se compreender o que ocorre nas reuniões espíritas e o papel que têm os nossos pensamentos e as nossas radiações na produção dos fenômenos. Sabe-se que, nas reuniões em que intervêm os espíritos, estes só podem agir conforme os recursos que lhes são fornecidos pelos assistentes: as forças psíquicas e as faculdades mediúnicas.
Os resultados dependem, então, em grande parte, do ambiente criado pelos próprios experimentadores. A primeira condição é que suas radiações concordem e se harmonizem entre si, com as dos médiuns e as dos espíritos. A proteção de uma entidade elevada é indispensável para se obter belos fenômenos intelectuais e, até mesmo, para dirigir e manter os espíritos produtores de fenômenos físicos que, geralmente, pertencem a uma ordem mais inferior.
Sem essa proteção, as reuniões se acham sujeitas a influências más, contraditórias, às vezes cheias de mistificações. Quanto mais o espírito for superior, mais o andamento da sessão será digno, sério e expressivo, os conselhos e os ensinos serão mais elevados, os fatos convincentes, mais claros e precisos, assim como as provas de identidade.
Ora, para tornar essa proteção possível é preciso apresentar, ao espírito presente, condições que facilitem a sua ação, isto é, fluidos e sentimentos que reflitam a sua própria natureza e o fim moralizador a que se propõe.
A prática do Espiritismo não deve somente nos proporcionar as lições do Além, a solução dos graves problemas da vida e da morte; ela pode também nos ensinar a pôr as nossas próprias radiações em harmonia com a vibração eterna e divina, a dirigi-las e a discipliná-las. Não esqueçamos de que é por um exercício psíquico gradual, por uma aplicação metódica de nossas forças, de nossos fluidos, de nossos pensamentos e de nossas aspirações que preparamos nosso papel e nosso futuro no mundo invisível; a atuação e o porvir que serão maiores e melhores à medida que conseguirmos fazer de nossa alma um foco mais radiante de forças, de sabedoria e de amor.
Inicialmente, é preciso vencer o mal em si, para tornar-se apto a combatê-lo e a vencê-lo na ordem universal. É preciso tornar-se um espírito radiante e puro, para assimilar as forças superiores e aprender a utilizá-las.
É somente nessas condições que o ser se eleva, de degrau em degrau, até as alturas espirituais onde resplandece a glória divina, onde o ritmo da vida embala, nas suas ondas poderosas, a obra eterna e infinita.



Léon Denis

O Espiritismo e as Forças Radiantes

 



[i] Gustave, A. Ferrié, sábio francês (1868-1932); segundo o Petit Larousse, ed. 1954.
[ii] Telégraphie Sans Fil (Telegrafia sem fio).
[iii] Os raios catódicos de sua ampola; William Crookes (1832-1919), químico, físico e vulto espírita inglês.
[iv] Ver Camille Flammarion A Morte e o Seu mistério, vol. II. Notemos, todavia, que certos espíritos elevados crêem que esses fenômenos constituem uma ação reflexa.
[v] 1914-1918: 1ª Grande Guerra.
[vi] Max Frank, A Lei de Newton é a Lei Única.
[vii] Citemos, também, na mesma ordem experimental: o dinamômetro do Dr. Planat, que permite medir as emanações fluídicas de um corpo qualquer, o magnetômetro do abade Fortin e o aparelho do Sr. de Tromelin e o do Eng. Prichnowski, de Lemberg (Ucrânia) que conseguiu isolar o éter e transformá-lo numa força ativa.

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