Capítulo I
Vivemos numa época notável na História do mundo. O universo
desconhecido e invisível levanta, lentamente, os véus que nos ocultavam os seus
maiores segredos. Forças de uma potência incalculável foram reveladas, e o
homem, com sucesso crescente, trabalha para a sua aplicação.
Citemos, inicialmente, a eletricidade. Há meio século,
ela era ainda uma curiosidade científica, como cita o general Ferrié[i] em
artigo reproduzido em várias revistas. E, eis que ela se tornou um dos
elementos essenciais do progresso e não saberíamos mais viver sem ela, sob as
formas diversas que apresenta no seu uso industrial e nas mil necessidades da
vida diária: corrente contínua, corrente alternada, eletricidade estática,
ondas hertzianas, raios catódicos, etc.
O general Ferrié enumera os diversos modos de transmissão
do pensamento humano através do Espaço; a telegrafia com fio chegou, com o
auxílio dos aparelhos Baudot, a transmitir 10.000 palavras em uma hora e por
linha. Os cabos submarinos, que transmitem 100.000 palavras por dia, vão
aumentar o seu consumo, por processos novos, de tal modo que as tarifas poderão
ser bastante diminuídas.
Da telefonia com fio, que permite comunicar a 6.000 km de
distância, passemos aos procedimentos sem fio.[ii]
Neste campo já se pode dizer que a França é, atualmente, a maior potência do
mundo dotada de postos de T.S.F. O de Croix-d’Hinx, próximo de Bordeaux, é
chamado de Estação Lafayette e pode ser ouvido de todos os pontos do globo.
Logo será ultrapassado pelo de Sainte-Assise em vias de acabamento.
No momento, estuda-se o meio de transmitir por T.S.F.
desenhos fotografados, escritas, isto é, cartas inteiras, com os documentos
anexados.
A eletricidade das ondas hertzianas nos reserva outras
surpresas. E, entretanto, conclui o general Ferrié, apesar de todas as
pesquisas e de nossos trabalhos, ignoramos ainda a verdadeira natureza dessa
força maravilhosa, fato este constatado várias vezes por homens de valor.
No decorrer de palestras espiritualistas e, sobretudo,
no final de certas palestras contraditórias, várias vezes apresentaram-me essa
questão: “O que é a energia nas formas diversas sobre as quais ela atua e que
se nos tornaram familiares?” Graças aos ensinos de nossos guias espirituais,
estamos em condição de responder: “A energia decorre dessa corrente imensa de
forças que percorre o Espaço, regula a marcha dos astros e alimenta a vida de
todos os seres nos planetas”.
A eletricidade, as ondas hertzianas e todas as forças radiantes,
cuja existência constatamos hoje, são apenas emanações derivadas, e poderíamos
até dizer parcelas, dessa poderosa corrente de força e de vida que anima o
Universo e cuja fonte está em Deus.
A energia ou movimento representa a ação mais sensível
do ser universal, no tempo e no Espaço. Deus é a fonte da vida e a vida se
manifesta pelo movimento.
Duração, Espaço e Movimento formam, na sua reunião, a unidade
que se manifesta: Deus!
–– 0 ––
Desde Galvani, a atenção do homem se encaminhou para a
eletricidade, mas é somente a partir dos trabalhos de William Crookes sobre os
estados sutis da matéria[iii]
que começamos a perceber a extensão, a calcular a potência das forças
invisíveis. Sabe-se que as experiências desse ilustre sábio, com os médiuns
Home e Florence Cook, foram o ponto inicial de grandes descobertas que se
sucederam e revolucionaram a Física. Certamente, antes dele, Allan kardec e a
Escola Espírita tinham estabelecido a existência do mundo dos fluidos, mas foi
Crookes o primeiro que conseguiu captar as forças radioativas e armazená-las,
de modo a torná-las úteis para a Ciência humana. As suas análises sutis da
força psíquica estão descritas no seu livro Recherches
sur le Spiritualisme (Pesquisas dos Fenômenos Espíritas).
Talvez observem que não se deve confundir as radiações
do Espaço com o fluido humano. Mas sabemos que uma relação íntima os religa e
que todas as forças terrestres, celestes e humanas se relacionam a um princípio
comum.
A matéria, sob seus diversos aspectos, constitui um imenso
reservatório de energia. Na realidade, ela é apenas força condensada: os
sólidos se transformam em líquidos, os líquidos em gases, os gases em fluidos,
e estes, à medida que se tornam mais sutis, mais quintessenciados, recuperam as
suas propriedades primitivas e parecem se impregnar de inteligência. Pelo menos
é o que parece resultar de certas manifestações do raio.[iv]
Num grau superior, a força parece se identificar com o espírito e se torna um
de seus atributos.
Toda matéria concreta é apenas, portanto, a energia capturada.
O químico Fabre calculou que um quilo de carvão concentra 23 bilhões de
calorias, que liberadas, bastariam, diz ele, para acionar uma rede de linhas de
estrada de ferro, durante dois anos. Ora, apenas liberamos, atualmente, um número
proporcionalmente insignificante. No dia em que se souber desintegrar, liberar
todas as partículas da matéria, estaremos de posse de uma força incalculável.
Mas, tais progressos, nos dizem os espíritos, são medidos
pelo valor moral da Humanidade. Deus não permite que certas revelações ou
descobertas se realizem antes que o homem tenha atingido uma consciência mais
completa de seus deveres e de suas responsabilidades. Vimos, na recente guerra,[v] o
uso que os alemães fizeram dos progressos da Química. Que farão eles, em uma
outra guerra, das energias formidáveis que adormecem no íntimo da matéria?
Ao menos, a Ciência chegou a reconhecer a harmonia que
liga as teorias da eletricidade à lei universal da gravidade. Essa não regula
somente a marcha dos corpos celestes, sob seus dois aspectos, atração e
repulsão; ela regula todos os movimentos da matéria, desde as suas mais ínfimas
partículas até os astros gigantescos do Espaço. Todas as moléculas químicas,
todas as parcelas da força elétrica, como os íons e elétrons, representam
sistemas completos, análogos aos sistemas estelares. As mesmas radiações as
penetram e as mesmas correntes as animam. A Natureza vibra, do infinitamente
pequeno ao infinitamente grande.
A formação de um astro, diz Max Frank,[vi] é
idêntica, sob o ponto de vista do mecanismo das forças ativas, à formação de
uma molécula simples. Pode-se constatar, desde agora, por escalonamento das
forças conhecidas, que o abismo intransponível, que outrora parecia separar a
matéria do espírito, acha-se ultrapassado. A cadeia de vida se desenvolve
grandiosamente, sem solução de continuidade, desde o átomo até o astro, do
homem, em todos os graus da hierarquia espiritual, até Deus.
–– 0 ––
É sobretudo em nós mesmos que é preciso estudar a união
íntima da força e do espírito; cada alma é um centro de força e vida, cujas
radiações variam ao infinito, conforme o valor moral e o estado de evolução do
ser. Essas radiações criam, em torno de nós, uma espécie de atmosfera fluídica,
cuja análise poderia dar a medida exata de nosso valor psíquico, de nossa saúde
do corpo e do espírito, a indicação precisa de nossa situação, com respeito à
escala dos seres; em uma palavra, sobre nosso grau de evolução.
É pelo aspecto dessas radiações que os espíritos se reconhecem
e se julgam na vida do Além. O seu brilho e a sua intensidade aumentam ou
diminuem pela determinação do pensamento e da vontade. Elas escapam aos nossos
sentidos, no seu estado normal, mas certos médiuns as percebem, as descrevem e
pode-se provar a sua existência por meio de chapas fotográficas.
Colocando-se a ponta dos dedos sobre uma chapa fotográfica,
no banho revelador, ao fim de certo tempo de exposição, vê-se emitir, de cada
um dos dedos, como de tantos outros focos, eflúvios que se estendem na forma de
espirais, com mais ou menos intensidade, conforme as pessoas. Em geral, o
resultado é fraco. Mas, fazendo intervir a vontade, com a força do pensamento
sob um impulso da alma, de um apelo ou de uma prece, as radiações aumentam e se
transformam numa forte corrente que cobre toda a placa e toma uma direção
retilínea.
Tenho muitos exemplares e muitas reproduções desse
gênero que são bastante demonstrativos. Podem-se obter os mesmos resultados
colocando-se as placas a uma distância próxima da fronte. As experiências dos
doutores Joire e Baraduc e os cuidados minuciosos de que se cercaram, provaram,
de modo exaustivo, que não se pode atribuí-los ao calor dos dedos, nem a
qualquer outra causa, a não ser às radiações psíquicas.[vii]
Essas constatações têm uma grande importância e é necessário
nisso insistir, a fim de se compreender o que ocorre nas reuniões espíritas e o
papel que têm os nossos pensamentos e as nossas radiações na produção dos
fenômenos. Sabe-se que, nas reuniões em que intervêm os espíritos, estes só
podem agir conforme os recursos que lhes são fornecidos pelos assistentes: as
forças psíquicas e as faculdades mediúnicas.
Os resultados dependem, então, em grande parte, do
ambiente criado pelos próprios experimentadores. A primeira condição é que suas
radiações concordem e se harmonizem entre si, com as dos médiuns e as dos
espíritos. A proteção de uma entidade elevada é indispensável para se obter
belos fenômenos intelectuais e, até mesmo, para dirigir e manter os espíritos
produtores de fenômenos físicos que, geralmente, pertencem a uma ordem mais
inferior.
Sem essa proteção, as reuniões se acham sujeitas a influências
más, contraditórias, às vezes cheias de mistificações. Quanto mais o espírito
for superior, mais o andamento da sessão será digno, sério e expressivo, os
conselhos e os ensinos serão mais elevados, os fatos convincentes, mais claros
e precisos, assim como as provas de identidade.
Ora, para tornar essa proteção possível é preciso apresentar,
ao espírito presente, condições que facilitem a sua ação, isto é, fluidos e
sentimentos que reflitam a sua própria natureza e o fim moralizador a que se
propõe.
A prática do Espiritismo não deve somente nos proporcionar
as lições do Além, a solução dos graves problemas da vida e da morte; ela pode
também nos ensinar a pôr as nossas próprias radiações em harmonia com a
vibração eterna e divina, a dirigi-las e a discipliná-las. Não esqueçamos de
que é por um exercício psíquico gradual, por uma aplicação metódica de nossas
forças, de nossos fluidos, de nossos pensamentos e de nossas aspirações que
preparamos nosso papel e nosso futuro no mundo invisível; a atuação e o porvir
que serão maiores e melhores à medida que conseguirmos fazer de nossa alma um
foco mais radiante de forças, de sabedoria e de amor.
Inicialmente, é preciso vencer o mal em si, para
tornar-se apto a combatê-lo e a vencê-lo na ordem universal. É preciso
tornar-se um espírito radiante e puro, para assimilar as forças superiores e
aprender a utilizá-las.
É somente nessas condições que o ser se eleva, de degrau
em degrau, até as alturas espirituais onde resplandece a glória divina, onde o
ritmo da vida embala, nas suas ondas poderosas, a obra eterna e infinita.
Léon Denis
O Espiritismo e as Forças Radiantes
[i]
Gustave, A. Ferrié, sábio francês (1868-1932); segundo o Petit Larousse, ed. 1954.
[ii]
Telégraphie Sans Fil (Telegrafia sem fio).
[iii]
Os raios catódicos de sua ampola; William Crookes (1832-1919), químico, físico
e vulto espírita inglês.
[iv]
Ver Camille Flammarion A Morte e o Seu
mistério, vol. II. Notemos, todavia, que certos espíritos elevados crêem
que esses fenômenos constituem uma ação reflexa.
[v]
1914-1918: 1ª Grande Guerra.
[vi]
Max Frank, A Lei de Newton é a Lei Única.
[vii]
Citemos, também, na mesma ordem experimental: o dinamômetro do Dr. Planat, que
permite medir as emanações fluídicas de um corpo qualquer, o magnetômetro do
abade Fortin e o aparelho do Sr. de Tromelin e o do Eng. Prichnowski, de
Lemberg (Ucrânia) que conseguiu isolar o éter e transformá-lo numa força ativa.
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