quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Perturbação da Morte

                                                  XIII
                                Perturbação da Morte
Toda transformação ocasiona uma perturbação; uma
simples mudança, seja de uma cidade para outra, seja
unicamente de residência, não deixa de causar uma
desorganização psíquica que só cessa com a adaptação ao
novo meio.
A personalidade não mudou, nada perdeu, continua a ser
a mesma, mas sofreu a sua desagregação do meio em que se
achava e lutou para se acostumar e poder agir no meio para
onde se transferiu.
Naturalmente, nesses trâmites por que passou a pessoa
teve contrariedades e sofreu.
Pensemos agora na transição provocada pela morte e
façamos uma idéia em relação incomparavelmente superior
às insignificantes mudanças - seja de residência, seja de
cidade ou de país. Acrescente-se ainda a desagregação do
corpo físico e poder-se-á ter uma idéia do que seja a
perturbação da morte: 1.° - mudança de meio; 2.° - mudança
de condições de vida; 3.° - mudança de meio de ação.
Entretanto, apesar de todas essas mudanças, a
individualidade permanece, como permaneceu a mesma
individualidade durante todas as mudanças que fez - de casa
em casa; de cidade em cidade; de um para outro país. O
homem é imperecível nas trocas que faz de residência, nas
suas transferências de um país para outro; o Espírito, que é a
individualidade permanente, é imortal na sua transformação
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e passamento para o Outro Mundo, tendo unicamente o
trabalho de se adaptar a uma vida nova, muito diferente
daquela vivida na Terra e ainda com o acréscimo de não
mais possuir um corpo denso, material, que "não podia"
dispensar para agir neste mundo, e lhe servia de instrumento
para desempenhar a tarefa que veio realizar, ou exercício do
cargo que veio desempenhar.
Ora, todos sabem, perfeitamente, como é difícil
abandonar hábitos enraizados, e a morte vem suprimir, de
uma hora para outra, os hábitos costumeiros, dando lugar à
aquisição de outros costumes, visto serem diferentes as
condições do meio para o qual somos trasladados.
Está claro que tudo é relativo, e o progresso, em todas as
coisas, age gradativamente, sem saltos bruscos, de modo
que, na outra esfera da vida, teremos um complemento de
vida, como meio de transição para um estado melhor, assim
como certamente haverá uma esfera de seguimento à fase
física do indivíduo, para que ele se adapte à Vida Superior
sem uma transição brusca.
E isto que nos dizem os Espíritos, cônscios do seu
estado, e que já passaram pelos trâmites que se seguem à
morte e chegaram à Imortalidade.
Por isso, o Mundo Espiritual é provido de meios que
fornecem à vida de além-túmulo as condições indispensáveis
para a transição. Por exemplo, dizem as entidades do Espaço
que lá existem hospitais onde são tratados aqueles que
passam por longa enfermidade, e os quais, por suas
condições de atraso, não percebem o Mundo dos Espíritos
em sua realidade. Aí são curados, e, depois, instruídos sobre
a nova situação até que se adaptem ao meio em que se
acham.
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Os Espíritos dos que morrem quando crianças, são
acolhidos carinhosamente por missionários, que se dedicam
a essa tarefa, e são igualmente instruídos até que se lhes
desponte a consciência integral? desapareça deles o traço
infantil gravado na "consciência pessoal".
Assim também sucede com a alimentação. Aos entes
muito materializados, que chegam ao Mundo Espiritual sem
compreenderem a transformação porque passaram, e têm
ainda sensação de fome e sede, lhes são ministrados
alimentos em instalações especiais, até que, adaptados ao
meio em que iniciaram a nova vida, compreendam que não
têm mais necessidades desses alimentos, que julgavam
precisos para sua manutenção. Naturalmente, os alimentos
assemelham-se muito aos que lhes eram usuais na Terra, mas
são feitos de matéria peculiar ao Mundo dos Espíritos e de
acordo com o corpo fluídico, ou seja, o organismo
perispiritual de cada um.
Não podíamos deixar de narrar todas essas
particularidades do Mundo Espiritual, que não deixam de ser
lógica, de acordo com a lei da evolução, que não admite
bruscas transições e que proporciona, sempre, períodos
intermediários para suavizar as mudanças que ocasionam
grande abalo, e maior perturbação ainda ocasionariam, se
fossem excluídos os meios precisos para essas transições.
Isto tudo demonstra que o Mundo Espiritual não é uma
concepção abstrata, uma miragem, um vácuo inconcebível,
sem sanção da inteligência, mas, sim, um meio concreto,
onde se encontram as condições indispensáveis para as
adaptações e o progresso do Espírito.
Já havíamos recebido essas revelações há muitos anos;
contudo, tínhamo-las conservado como lição de caráter
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puramente familiar, e sujeita, portanto, à observação: é
sabido que as revelações da Verdade têm caráter coletivo; se,
de fato, a nossa procedesse dessa fonte, outros também
recebê-la-iam em todo o mundo. Se isso acontecesse,
julgaríamos essas revelações transcendentais realmente
dignas de atenção e até de experimentações novas, com
outros médiuns, para sua melhor confirmação.
Com efeito, em diversas obras inglesas, norte-americanas
é francesas, vemos, hoje, a reprodução detalhada dessas
mensagens! O Plano Espiritual desenterra o oculto e
concorre para que conheçamos o futuro que nos espera,
assim como nos dá a conhecer, desde já, em que consiste a
outra vida e quais os meios facultados, nessas regiões, aos
entes que nos são caros, para a aquisição de uma felicidade
duradoura e de um progresso crescente para a Luz e a
Verdade.
E, com estes dados, mal apanhados pela imperfeição dos
nossos sentidos, dados fornecidos pelos Espíritos que
habitam o Além e passaram, mais ou menos, por essas
peripécias, podemos, hoje, fazer uma idéia mais aproximada
das condições desse Outro Mundo e em que consiste a
perturbação da morte e os meios aplicados para suavizá-la.
Com a leitura das obras espíritas, especialmente O Céu e
o Inferno, de Allan Kardec, e A Crise da Morte, de Ernesto
Bozzano, muito se aprende sobre a perturbação que ocasiona
a passagem de uma a outra vida.
www.autoresespiritasclassicos.com
  Caibar Schutel
1932
Livro: A vida no outro mundo
Willian Turner          

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